Ouçamos a leitura de um excerto de "Leaves of Grass", obra capital de Whitman, do qual extraímos o poema que seleccionámos para esta maratona.
MÁQUINA ALGUMA DE POUPAR TRABALHO
eu nada fiz, nada inventei, nem sou capaz de deixar para trás nenhum rico donativo para fundar um hospital ou uma biblioteca, reminiscência alguma de um acto de bravura pela América, nenhum sucesso literário ou intelectual, nem mesmo um livro bom para as estantes — apenas uns poucos cantos vibrando no ar eu deixo aos camaradas e amantes.
(Leaves of Grass)
____________________
Joan Brossa (Barcelona, 1919-1998)
A LA POESIA
Oh Poesia, emmotlla en els avenços l’orgull de poder dir company o pàtria; els rics detalls han envelat les fustes dels brots del cant.
Cada hora modifica’t, Poesia; fes campejar severa fantasia amb l’escalfor de l’esperit del poble del meu país.
L’art del carrer on has estat bastida, l’escultura del ferro que afaiçones, no els vols un quadre mort. De vida intensa forja el record.
Esmena’t de l’afany dels qui et fan fosca, poetes de la mel i la melassa, capells de copa groga i cementiris, productes bords.
Treu-te la cucurulla dels diumenges, posa’t a lloc i reparteix els gustos per al coronament d’un goig estètic amb vida al fons.
Sigues mestressa amb seny en la manera de referir-te als homes i a les coses; constant corrent de brisa, ret justícia a pobres flors.
Torna, amor meu, integra’t a les vides, uneix les fletxes a la senzillesa; deixa de banda els fòssils de les bèsties fets de més tro.
Enrotlla’t al meu cos. Però il•lumina, com el feix lluminós d’una lent clara, la molta empenta d’aquest sol concepte: la Llibertat. __________________________
Carlos Loures
(Lisboa, 1937)
NÓS POETAS
Dizemos Povo cantamos Povo sem que as nossas vozes edifiquem por vezes as traves da palavra as sibilinas trevas do seu som.
A que pedra arrancámos a sua abóbada de mãos erguidas e crispados gritos? Em que mesa compartilhámos a sua fome em que dorso sofremos o seu cansaço e em que lenço enxugámos o seu suor? Em que rosto chorámos as suas lágrimas em que peito acolhemos a sua dor?
Ah companheiros de ofício nem sempre ou quase nunca o Povo dos poemas é aquele que transcorre pelas paisagens em que habita o desespero e espera a morte.
Bandeira será florindo o nosso verso mas Povo no poema é coisa rara que em rosa não cabe a sua sorte
(A Poesia deve ser feita por todos, 1970)
_______________________________
Gastão Cruz (Faro, 1941)
A VIDA DA POESIA
Hoje sei como se exprime a vida da poesia com a sinceridade das emoções linguísticas com que o mundo devasta e enche as nossas vidas
Aprendi a clareza das imagens fictícias recolhidas na luz do corpo nu e vivo entre os golpes orais errante desferidos
(Campânula) _________________________________
Em sendo duas da tarde em ponto, chegarão com Juan Luis Panero, mais três poetas: Boris Vian , Manuel Curros Enríquez e António Aleixo
No dia 31 de Maio de 1819, nasceu Walt Whitman, o poeta que cantou a América do Norte com a emoção e o génio lírico com que outro grande poeta, Pablo Neruda, no século seguinte, cantaria a América Latina. E também cantaria Walt Whitman - YO no recuerdo \a qué edad, \ni dónde, \si en el gran Sur mojado \o en la costa \temible, bajo el breve \grito de las gaviotas, \toqué una mano y era \la mano de Walt Whitman:\pisé la tierra \con los pies desnudos, \anduve sobre el pasto, \sobre el firme rocío \de Walt Whitman.
Não vou perder tempo e gastar espaço com pormenores biográficos que podeis encontrar com abundância. Vou ocupar o meu tempo, o vosso tempo, e o espaço do blogue a transcrever os primeiros versos de uma extensa Saudação a Walt Whitman, de Álvaro de Campos, porque um génio merece ser saudado por outro génio:
Portugal Infinito, onze de junho de mil novecentos e quinze... Hé-lá-á-á-á-á-á-á! De aqui de Portugal, todas as épocas no meu cérebro, Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo, Eu, de monóculo e casaco exageradamente cintado, Não sou indigno de ti, bem o sabes, Walt, Não sou indigno de ti, basta saudar-te para o não ser... Eu tão contíguo à inércia, tão facilmente cheio de tédio, Sou dos teus, tu bem sabes, e compreendo-te e amo-te, E embora te não conhecesse, nascido pelo ano em que morrias, Sei que me amaste também, que me conheceste, e estou contente. Sei que me conheceste, que me contemplaste e me explicaste, Sei que é isso que eu sou, quer em Brooklyn Ferry dez anos antes de eu nascer, Quer pela Rua do Ouro acima pensando em tudo que não é a Rua do Ouro, E conforme tu sentiste tudo, sinto tudo, e cá estamos de mãos dadas, De mãos dadas, Walt, de mãos dadas, dançando o universo na alma.
No dia 31 de Maio de 1930, nasceu outro norte-americano, felizmente ainda vivo e que completa hoje 80 anos – Clint Eastwood. Actor, realizador, produtor, destacou-se nos western spaghetti, de Sergio Leone e no papel do inspector Harry Callahan, em diversos filmes de uma famosa série de acção. Mas creio que não é pelo que fez nos anos 60 a 80 que merece ser saudado. Muito menos pelas suas posições políticas como membro do partido republicano.
Clint Eastwood, quando começou a ficar velho para os papéis de «macho» e para o tipo de filmes que o tornaram famoso, desenvolveu uma série de insuspeitadas aptidões. Como actor, atenuada a agressividade dos seus papéis de juventude e meia-idade, vieram à superfície recursos histriónicos que pareciam não existir. Como realizador (embora dirigisse filmes desde há duas ou três décadas) passou a abordar temas menos superficiais e menos voltados para os imperativos do mercado: lembremo-nos apenas de A Troca (Changeling), 2008, Cartas de Iwo Jima (Letters From Iwo Jima) 2006, e Menina de Ouro (Million Dollar Baby), 2004.
Mais dois norte-americanos que desmentem a generalização em que caímos quando dizemos que «os americanos são uns estúpidos». Tenho ouvido dizer isto de muitas maneiras. Eu já o disse algumas vezes e pensei-o muitas mais. No entanto, em todos os dias do ano nascem pessoas ímpares nos Estados Unidos e todos os dias se podem comemorar nascimentos de norte-americanos excepcionais.
Moral da história: as generalizações é que são estúpidas.