Carlos MesquitaFoi aqui publicado no dia 4 do corrente, um meu artigo titulado “Portugal Telecom. Projecto VIVO ou morto” onde falava sobre o interesse relevante para a PT e Portugal em manter a sua presença no mercado das telecomunicações do Brasil. Não vou repetir argumentos, no início do mês essa presença era com a VIVO. As razões porque defendia que o governo usasse a Golden Share também estão nesse artigo, e hoje é patente que todas as partes envolvidas no negócio, excepto os espanhóis, concordam (alguns só agora) com a medida de Sócrates. Convém realçar que a proposta de aquisição da telefónica exigia que a PT deixasse o Brasil, portanto sem intervenção do governo, para satisfação imediata dos accionistas receosos e dos crentes da Teologia do Mercado, a PT já tinha saído do Brasil. Não saiu, os accionistas (que vão receber mais dinheiro) estão satisfeitos, o governo brasileiro também, ficou Passos Coelho a falar sozinho, ou se quisermos ser mauzinhos a carpir com os espanhóis. A Telefónica ganhou a VIVO embora por um preço que alguns especialistas dizem exagerado, mas isso é o que menos importa a nós portugueses, como também interessa pouco que se tenha endividado demais ou descido do ranking das empresas de telecomunicações mundiais de 1ª no fim do ano passado para 5ª agora, é um problema deles. Para os portugueses o que conta é que o negócio com a Oi permite continuar no Brasil, foi defendido o interesse estratégico nacional. Apesar da complexidade do negócio sabe-se que a Portugal Telecom, que passa a ser o maior accionista individual da Oi, terá poderes especiais na estrutura accionista e participadas, e poder de veto sobre as decisões dos principais accionistas privados. A PT não vai só injectar dinheiro na Oi, vai levar capacidade de gestão e know how nacional de engenharia e tecnologia de telecomunicações, vai permitir manter os empregos criados em Portugal e gerar mais condições para o apoio à formação e pesquisa tecnológica, da actividade económica de ponta que é o sector das telecomunicações; esse é o principal interesse estratégico para o país, ganhos em investigação e desenvolvimento.
Zeinal Bava presidente da PT, prometeu reduzir o preço que os portugueses pagam pelas telecomunicações, ficamos à espera, como também aguardamos que uma empresa com a dimensão actual da Portugal Telecom, deixe de usar trabalhadores contratados a empresas de trabalho temporário, nas suas actividades normais.
Uma palavra para Lula da Silva, que escolheu os portugueses para parceiros no projecto de levar banda larga a todo o Brasil, e de criar uma Telecom de vocação global não só para os países de língua oficial portuguesa, como para a América Latina.
A internacionalização da PT é inevitável e fundamental, está num mercado infinito como o brasileiro, escapa à crise europeia e satisfaz a necessidade de desenvolvimento dum país emergente em crescimento; há muito trabalho pela frente mas isso, fazemos bem.
Deste negócio da PT há lições a retirar; não cedendo à pressão dos poderosos na primeira ameaça, há compensações. A Telefónica comprou a VIVO por 7,5 mil milhões (que Belmiro venderia por 2 mil milhões há 4 anos) depois de ter oferecido 6,5 há três meses e 7,15 na Assembleia da PT. A diferença entre 7,15 e 7,5 milhões é como uma multa que teve de pagar por esquecer, na sua soberba, o accionista Estado. Com Passos Coelho no governo a VIVO era mais barata para os espanhóis e a PT tinha saído do Brasil, o resto é politiquice.
Luís MoreiraA cambalhota do governo é pura propaganda, dá como uma grande vitória ter conseguido entrar na
OI e manter-se no Brasil.Mas alguma vez esteve impedida de o fazer?
O que se passou foi que a Telefónica pagou o que os accionistas não podiam deixar de aceitar, e a telefónica, agora que a
VIVO está a começar a dar dinheiro, comprou-a como foi sempre seu objectivo. Comprou-a e fez o melhor negócio do mundo,porque rapidamente vai recuperar o investimento e pagá-lo com o "pêlo do mesmo cão".
O pagamento vai ser às pinguinhas, só com a actualização a uma taxa parecida como a que a VIVO libertava, uma grande tranche fica nas mãos da Telefónica. Como 68% dos accionistas são estrangeiros, ficam cá em Portugal uns milhões, o que é uma miséria , comparado com o que se apregoa.
A "golden share" não tem nada de estratégico, serviu para sacar mais ulguns tostões e, como se viu, não impediu nada. Como não impede a privatização da EDP e da GALP, que tambem têm a figurinha...