Almada Negreiros
RUBAYAT
O fim do longo, inútil dia ensombra.
A mesmasp’rança que não deu se escombra,
Prolixa… A vida é um mendigo bêbado
Que estende a mão à sua própria sombra.
Dormimos o universo. A extensa massa
Da confusão das cousas nos enlaa,
Sonhos; e ébria confluência humana
Vazia ecoa-se de raça em raça.
Ao gozo segue a for, e o gozo a esta.
Ora o vinho bebemos porque é festa,
Ora o vinho bebemos porque há dor,
Mas de um e de outro vinho nada resta.
Fernando Pessoa- Ficções do Interlúdio
Toulouse Lautrec
Dá-me vinho antes do amanhecer
Com o cálice a transbordar
Banha-me nele até que embriagada
Eu seja o vinho que agora bebes.
Inventa o amanhã e será sempre dia
Inventa a noite e será sempre agora
Inventa quem és e serás sempre nada
Inventa até não mais inventar
E nada terás inventado.
Retrato de "Baco" como Deus do Vinho, de Caravaggio.
Entra pela boca o vinho
e pelo olho o amor:
esta verdade só a saberemos
ao envelhecer, ao morrer.
Aproximo o copo de minha boca
E te contemplo e suspiro.
W.B.Yeats – canção de brindis.
Nesta tela chamada «Autunno» , Giuseppe Arcimboldo que nasceu na Itália, provavelmente em 1527 e morreu em 1593 as uvas representaram os cabelos, a cabeça coroada lembra antigas representações de Baco e o busto é representado por uma barrica.
OS COPOS
Eram pesados os copos
mas quando se encheram de vinho puro
Quase que voaram da mesma forma
Que os corpos voam com os espíritos.
IBRIS BEM-AL-YAMAN, Andaluzia, séc. XI d.c.
UMA ÂNFORA
Nascido como eu sob o consulado de Manlius
no teu ventre transportas o lamento e o riso as disputas e os loucos amores
Retirada da adega num dia feliz
porque Corvinus reclama um vinho que o tempo tornou mais doce
A sua austeridade não desdenhará de ti
por demais imbuído que esteja da filosofia socrática
Não se diz que por vezes o vinho reanima o velho Catão?...
Com doçura atormentas os espíritos insensíveis
tiras o véu às inquietações dos sábios e aos seus mais secretos pensamentos
Devolves a esperança aos corações ansiosos
Tornas audazes os pobres. Quando bebem
olham sem temor os diademas dos reis irados e as armas dos soldados
Baco Vénus se ela assim o consentir as inseparáveis Graças
e os perenes archotes
far-te-ão resistir até ao momento em que o regresso de Febo
Ponha as estrelas em fuga
Ode nº 2 – HORÁCIO, Roma, séc. I a.C.
Um pouco de história:
Chegamos à Idade Média, época em que a Igreja Católica passa a ser a detentora das verdades humanas e divinas. Felizmente, o simbolismo do vinho na liturgia católica faz com que a Igreja desempenhe, nessa época, o papel mais importante do renascimento, desenvolvimento e aprimoramento dos vinhedos e do vinho. Assim, nos séculos que se seguiram, a Igreja foi proprietária de inúmeros vinhedos nos mosteiros das principais ordens religiosas da época, como os franciscanos, beneditinos e cistercienses (ordem de São Bernardo), que se espalharam por toda Europa, levando consigo a sabedoria da elaboração do vinho.
Os hospitais também foram centros de produção e distribuição de vinhos e, à época, cuidavam não apenas dos doentes, mas também recebiam pobres, viajantes, estudantes e peregrinos.
Também as universidades tiveram seu papel na divulgação e no consumo do vinho durante a Idade Média. É interessante observar que é da idade média, por volta do ano de 1.300, o primeiro livro impresso sobre o vinho:"Liber de Vinis". Escrito pelo espanhol ou catalão Arnaldus de Villanova, médico e professor da Universidade de Montpellier.
(Trechos extraídos da obra de Hugh Johnson "The Story of Wine" da editora Mitchell-Beazley, Londres, 1989).
Iluminura com "A Vindima" e fabrico do vinho , do Códice do séc. XII (1198) conhecido por Apocalipse do Lourvão. O mais antigo documento iconográfico português de temática vinária, encontrado no velho manuscrito insólito do Mosteiro do Lourvão
O Apocalipse do Lorvão é um manuscrito iluminado produzido no fim do século XII, possivelmente no Mosteiro do Lorvão, em Portugal. Actualmente está preservado na Torre do Tombo. Possui 112 folhas em pergaminho com diversas ilustrações em estilo românico-moçárabe, e é uma das raras obras em seu género sobreviventes da Idade Média portuguesa.
Vindima e colheita do vinho, segundo uma pintura tumular egípcia do túmulo de Nakt, da XVIII dinastia, cerca de 1400 a.C.
BEBE DESTE VINHO
Bebe deste vinho
originário das vinhas de Taigeto
que o velho Teotimo favorito dos deuses
plantou nas colinas
e regou com a água fresca de um ribeiro
Bebendo-o afugentarás as tristezas
e armado de uma couraça de vinho
sentir-te-ás mais leve
TEÓGNIS, Grécia (Megara), séc. VI a.c.
FOGO SOBRE FOGO
O vinho torna os corações receptivos ao amor
Com as libações frequentes desvanecem-se as rugas da fronte e as
dores
Sobrevém então o riso o pobre torna-se afoito
A franqueza tão rara nos tempos que correm apodera-se dos espíritos
Baco repele os artifício
Os corações dos jovens deixam-se cativar pela beleza
Depois do vinho Vénus é fogo sobre fogo
OVÍDIO, ROMA, SEC. I D.C.
Historia de Bayad e Riyad
QUANTO MAIS CLARO O VINHO
Quanto mais claro o vinho mais fácil se torna beber dois copos
Quanto mais fina a capa mais fácil se torna dobrá-la
A beleza e a fealdade opõem-se o vinho as assemelha
À mulher honrada e à concubida a velhice as iguala
Escuta o meu conselho: esconde-te se queres ser tu mesmo
Evita a Sala Imperial das Audiências a Câma de Leste
A poeira do tempo o vento da Garganta do Norte
Cem anos são muitos anos mas também eles se esgotam
Que importa ser um cadáver rico ou um cadáver pobre
Jóias de pérola e jade na boca dos mortos ilustres
Dentro de mil anos serão mais ricos os ladrões de sepulturas
A poesia é a única recompensa do poeta
É a poesia que enfada o ignorante ávido de honras
O justo é o pior inimigo de si mesmo
e o vinho a melhor recompensa do mérito
Bem e Mal Tristeza e Alegria: rostos do vazio
Su Dong Po, China, séc. XI d.c.
A ESTRELA DO VINHO
Se ao céu e à terra fosse indiferente
Não haveria no céu a estrela do vinho
Nem o vinho brotaria de uma nascente
Amá-lo é pois digno dos deuses
Incomparáveis as virtudes do vinho
Puro ou terno como os homens e o seu coração
Com três copos conquistamos a felicidade
Mais três copos: temos o universos na mão.
LI BAI, China, séc. VIII d.c.
Um pouco de história:
Uma lenda antiga, persa, fala sobre Jamshid, um rei persa semi-mitológico que parece estar relacionado a Noé, pois teria construído um grande muro para salvar os animais do dilúvio. Na sua corte, as uvas eram mantidas em jarras para serem comidas fora da estação. Certa vez, uma das jarras estava cheia de suco e as uvas espumavam e exalavam um cheiro estranho sendo deixadas de lado por serem inapropriadas para comer e eventual veneno, pelo que alguém se tentou matar bebendo aquele suco. Para grande espanto, o resultado foi a alegria e um agradável sono. O rei com esta informação mandou que uma grande quantidade de vinho fosse feita e esta nova bebida começou a fazer parte dos seus hábitos.
“ E começou Noé a lavrar a terra e plantou uma vinha. E bebeu o vinho e se embriagou, e ficou nu na sua tenda - E Cham, pai de Canaán viu a nudez de seu pai e chamou os seus irmãos para que a vissem…”
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