Quinta-feira, 17 de Março de 2011

Vinho: Com Ele Me Deleito VIII - Clara Castilho

 

 

 

Almada  Negreiros

 

 

RUBAYAT

O fim do longo, inútil dia ensombra.

A mesmasp’rança que não deu se escombra,

Prolixa… A vida é um mendigo bêbado

Que estende a mão à sua própria sombra.

 

Dormimos o universo. A extensa massa

Da confusão das cousas nos enlaa,

Sonhos; e ébria confluência humana

Vazia ecoa-se de raça em raça.

 

Ao gozo segue a for, e o gozo a esta.

Ora o vinho bebemos porque é festa,

Ora o vinho bebemos porque há dor,

Mas de um e de outro vinho nada resta.

 

Fernando Pessoa- Ficções do Interlúdio

 

 

 

 

Toulouse Lautrec

 

Dá-me vinho antes do amanhecer
Com o cálice a transbordar
Banha-me nele até que embriagada
Eu seja o vinho que agora bebes.
Inventa o amanhã e será sempre dia
Inventa a noite e será sempre agora
Inventa quem és e serás sempre nada
Inventa até não mais inventar
E nada terás inventado.


Ethel Feldman

 

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Terça-feira, 15 de Março de 2011

Vinho: Com Ele Me Deleito VII - Clara Castilho

 

 

 

Retrato  de "Baco" como Deus do Vinho,  de Caravaggio.

 

 

Entra pela boca o vinho

e pelo olho o amor:

esta verdade só a saberemos

ao envelhecer, ao morrer.

Aproximo o copo de minha boca 

E te contemplo e suspiro.

 

W.B.Yeats – canção de brindis.

 

 

 

 

 

Nesta tela chamada «Autunno» , Giuseppe Arcimboldo que nasceu na Itália, provavelmente em 1527 e morreu em 1593  as uvas representaram os cabelos, a cabeça coroada lembra antigas representações de Baco e o busto é representado por uma barrica.

 

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Domingo, 13 de Março de 2011

Vinho: Com Ele Me Deleito VI - Clara Castilho

 

 

 

OS COPOS

 

Eram pesados os copos

mas quando se encheram de vinho puro

Quase que voaram    da mesma forma

Que os corpos voam com os espíritos.

 

IBRIS BEM-AL-YAMAN, Andaluzia, séc. XI d.c.

 

 

 

UMA ÂNFORA

 

Nascido como eu sob o consulado de Manlius

no teu ventre transportas o lamento e o riso as disputas e os loucos amores

Retirada da adega num dia feliz

porque Corvinus reclama um vinho que o tempo tornou mais doce

A sua austeridade não desdenhará de ti

por demais imbuído que esteja da filosofia socrática

Não se diz que por vezes o vinho reanima o velho Catão?...

Com doçura atormentas os espíritos insensíveis

tiras o véu às inquietações dos sábios e aos seus mais secretos pensamentos

Devolves a esperança aos corações ansiosos

Tornas audazes os pobres. Quando bebem

olham sem temor os diademas dos reis irados e as armas dos soldados

Baco    Vénus    se ela assim o consentir     as inseparáveis Graças

e os perenes archotes

far-te-ão resistir até ao momento em que o regresso de Febo

Ponha as estrelas em fuga

Ode nº 2 – HORÁCIO, Roma, séc. I a.C.


Um pouco de história:

 

 

 

Chegamos à Idade Média, época em que a Igreja Católica passa a ser a detentora das verdades humanas e divinas. Felizmente, o simbolismo do vinho na liturgia católica faz com que a Igreja desempenhe, nessa época, o papel mais importante do renascimento, desenvolvimento e aprimoramento dos vinhedos e do vinho. Assim, nos séculos que se seguiram, a Igreja foi proprietária de inúmeros vinhedos nos mosteiros das principais ordens religiosas da época, como os franciscanos, beneditinos e cistercienses (ordem de São Bernardo), que se espalharam por toda Europa, levando consigo a sabedoria da elaboração do vinho.


Os hospitais também foram centros de produção e distribuição de vinhos e, à época, cuidavam não apenas dos doentes, mas também recebiam pobres, viajantes, estudantes e peregrinos.


Também as universidades tiveram seu papel na divulgação e no consumo do vinho durante a Idade Média. É interessante observar que é da idade média, por volta do ano de 1.300, o primeiro livro impresso sobre o vinho:"Liber de Vinis". Escrito pelo espanhol ou catalão Arnaldus de Villanova, médico e professor da Universidade de Montpellier.


(Trechos extraídos da obra de Hugh Johnson "The Story of Wine" da editora Mitchell-Beazley, Londres, 1989).


 

 

 

Iluminura com "A Vindima" e fabrico do vinho , do Códice do séc. XII (1198) conhecido por Apocalipse do Lourvão. O mais antigo documento iconográfico português de temática vinária, encontrado no velho manuscrito insólito do Mosteiro do Lourvão

 

 

O Apocalipse do Lorvão é um manuscrito iluminado produzido no fim do século XII, possivelmente no Mosteiro do Lorvão, em Portugal. Actualmente está preservado na Torre do Tombo. Possui 112 folhas em pergaminho com diversas ilustrações em estilo românico-moçárabe, e é uma das raras obras em seu género sobreviventes da Idade Média portuguesa.

 

 

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Sexta-feira, 11 de Março de 2011

Vinho: Com Ele Me Deleito V - Clara Castilho

 

 

Vindima e colheita do vinho, segundo uma pintura tumular egípcia do túmulo de Nakt, da XVIII dinastia, cerca de 1400 a.C.

 

BEBE DESTE VINHO

 

Bebe deste vinho

originário das vinhas de Taigeto

que o velho Teotimo    favorito dos deuses

plantou nas colinas

e  regou com a água fresca de um ribeiro

Bebendo-o afugentarás as tristezas

e armado de uma couraça de vinho

sentir-te-ás mais leve

 

TEÓGNIS, Grécia (Megara), séc. VI a.c.               

 

 

 

FOGO SOBRE FOGO

 

O vinho torna os corações receptivos ao amor

Com as libações frequentes desvanecem-se as rugas da fronte e as

dores

Sobrevém  então o riso      o pobre torna-se afoito

A franqueza tão rara nos tempos que correm apodera-se dos espíritos

 

Baco repele os artifício

Os corações dos jovens deixam-se cativar pela beleza

Depois do vinho    Vénus é fogo sobre fogo

 

OVÍDIO, ROMA, SEC. I D.C.

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Quarta-feira, 9 de Março de 2011

Vinho: Com Ele Me Deleito IV - Clara Castilho

 

 

 

 

 

 

Historia de Bayad e Riyad

 

QUANTO MAIS CLARO O VINHO

 

Quanto mais claro o vinho     mais fácil se torna beber dois copos

Quanto mais fina a capa    mais fácil se torna dobrá-la

A beleza e a fealdade opõem-se     o vinho as assemelha

À mulher honrada e à concubida    a velhice as iguala

Escuta o meu conselho: esconde-te se queres ser tu mesmo

Evita a Sala Imperial das Audiências     a Câma de Leste

A poeira do tempo     o vento da Garganta do Norte

Cem anos são muitos anos     mas também eles se esgotam

Que importa ser um cadáver rico ou um cadáver pobre

Jóias de pérola e jade na boca dos mortos ilustres

Dentro de mil anos serão mais ricos os ladrões de sepulturas

A poesia é a única recompensa do poeta

É a poesia que enfada o ignorante ávido de honras

O justo é o pior inimigo de si mesmo

e o vinho a melhor recompensa do mérito

Bem e Mal    Tristeza e Alegria: rostos do vazio

 

Su Dong Po, China, séc. XI d.c.

 

A ESTRELA DO VINHO

 

Se ao céu e à terra fosse indiferente

Não haveria no céu a estrela do vinho

Nem o vinho brotaria de uma nascente

Amá-lo é pois digno dos deuses

 

Incomparáveis as virtudes do vinho

Puro ou terno como os homens e o seu coração

Com três copos conquistamos a felicidade

Mais três copos: temos o universos  na mão.

 

LI BAI, China, séc. VIII d.c.

 

 

Um pouco de história:

Uma lenda antiga, persa, fala sobre Jamshid,  um rei persa semi-mitológico que parece estar relacionado a Noé, pois teria construído um grande muro para salvar os animais do dilúvio. Na sua  corte, as uvas eram mantidas em jarras para serem comidas fora da estação. Certa vez, uma das jarras estava cheia de suco e as uvas espumavam e exalavam um cheiro estranho sendo deixadas de lado por serem inapropriadas para comer e eventual veneno, pelo que alguém se tentou matar bebendo aquele suco. Para grande espanto, o resultado foi a alegria e um agradável sono. O rei com esta informação mandou que uma grande quantidade de vinho fosse feita e esta nova bebida começou a fazer parte dos seus hábitos.

 

 

 “ E começou Noé a lavrar a terra e plantou uma vinha. E bebeu o vinho e se embriagou, e ficou nu na sua tenda - E Cham, pai de Canaán viu a nudez de seu pai e chamou os seus irmãos para que a vissem…”

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