Este espaço diário passou a ser uma praça, onde os meus amigos vão montando banca. Manterei a minha, mas o produto que vendo já é demasiado conhecido. Depois do Carlos Mesquita, do Luís Moreira, do Manuel Simões, do Raúl Iturra, trago hoje ao "pretérito" Elísio Amaral Neves. Homem de acção, grande animador cultural ligado ao Grémio Literário Vila-Realense. As «passadeiras de flores», que pude apreciar em 1962, constituem uma tradição religiosa da capital de Trás-os-Montes que ultrapassa as fronteiras do sagrado, invadindo o território do profano, como, aliás, acontece com tantas outras tradições. Pela sua extensão, o estudo etnográfico de Elísio Amaral Neves, recentemente publicado em volume dos "Cadernos culturais" (editados pelo Grémio em colaboração com o Município), será dividido em dois posts. Amanhã sairá o segundo - peço a vossa atenção para Elísio Amaral Neves. CL
O IV Concílio de Latrão, no séc. XIII, estabeleceu para os católicos os preceitos religiosos, aliás impostos pelos 2.º e 3.º Mandamentos da Igreja, relativos
à obrigação de se confessarem e comungarem na época da Páscoa, podendo os enfermos fazê-lo em casa e até no leito.
Nesta última circunstância, os familiares dos enfermos solicitavam aos párocos da sua área a deslocação a suas casas, ocorrendo esta deslocação na maior parte das vezes sem qualquer manifestação exterior. No entanto, a visita a casa dos enfermos e entrevados podia igualmente acontecer com acompanhamento, habitualmente denominado Sagrado Viático (originariamente esta expressão só se aplicava à Eucaristia ministrada aos que se encontravam prestes a morrer), Procissão do Senhor aos Enfermos, Procissão do Senhor aos Doentes ou Procissão do Senhor aos Entrevados, expressões que designam o grupo de pessoas que acompanham o sacerdote, com as funções de segurar o pálio, tocar a campainha, transportar círios e ajudar na distribuição da comunhão.
Em Vila Real, encontramos este costume já vulgarizado na década de 1870[i] (admitimos que, à semelhança do que aconteceu noutras regiões do país, se tenha estabelecido alguns séculos antes), numa manifestação que ocorre em simultâneo com procedimento idêntico para com os presos da Cadeia Civil, numa altura em que estes já não tinham possibilidade de ouvir a missa semanal na Capela da Senhora dos Cativos, capela particular do séc. XVII, situada em frente da cadeia e desde 1815, e após prolongado abandono, convertida em casa da guarda dos soldados que serviam no estabelecimento prisional.
Em nossa opinião, o Sagrado Viático em Vila Real enquadra também desde o início os reclusos, fazendo por isso todo o sentido a tradição de que o mesmo teve origem na Paróquia de S. Dinis, local onde se situavam a Cadeia Civil e o Aljube (cadeia eclesiástica). Só posteriormente terá sido estendido aos enfermos, numa atitude que, estamos certos, deve ter revestido uma forma menos exuberante, já que a visita à Cadeia configurava por vezes uma caridade um pouco ostentosa. Por essa altura, as artérias da vila, assim como a Cadeia, eram enfeitadas por comissões que se organizavam por rua, com palmeiras cruzadas em arco, mastros com bandeiras, colgaduras, colchas e vasos com flores nas varandas e janelas. Arbustos e rosmaninho assinalavam as portas dos enfermos e entrevados, objecto da visita do pároco para efeitos de ministrar a Santa Eucaristia.
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