De onde viemos? Quando? Para onde vamos? Estamos acompanhados? Como é que matéria inorgânica, sem vida, se transformou em seres vivos? Perguntas sem respostas até ao fim dos tempos.
Andava a choramingar, a sair de uma paixão da terra à cova, jurava a mim mesmo que nunca mais, os livros estavam à minha espera, ia voltar ao desporto, às viagens, ver museus, conhecer aquelas mulheres em terras distantes que são substituídas na paragem seguinte. Uma estação de um comboio é um lugar mágico, dá para sonhar, chegou e partiu e, quem tiver talento deixa-se levar para um caminho desconhecido que se larga na estação seguinte.
Mas, naquela altura não era assim, era uma moínha, uma dor a contradizer a certeza que nunca mais, era tudo o que não queria, não fazia parte da minha vida, não era o que queria, repetia mil vezes nos passeios solitários que fazia, "não, nem sequer aguentava viver naquele equilíbrio que lhe servia, mas para o qual eu não tenho o mínimo de aptidões" convencia-me a mim próprio.
Uma angústia que repartia com um psiquiatra e com uma psicóloga, que me diziam vezes sem conta " não evite nada, não fuja, enfrente, de outra forma é para toda a vida" e, eu, com a minha certeza que nada me faria voltar, nada.
Fechei-me para o mundo embora não o percebesse, andei anos a evitar, tudo me parecia não valer a pena, num processo autofágico de emoções e sentimentos, agarrado à vida profissional como se esta me protegesse do mundo. Não protegeu, foi mesmo ela que me levou ao encontro do que andava a fugir, e continuei a fugir, mesmo depois de tudo poder dar certo, fugir, fugir sempre, como dizem os médicos, "processo de evitamento", é como um tapete voador, transporta-nos sem barulho, cumpre a sua função mas quando poisamos percebemos que estamos no mesmo sítio, com a "moínha" que nos angustia.
Hoje só penso nela, foi a que não tive, tornei a cair no alçapão, tenho um nó permanente na garganta, não tanto pela cobardia que ela reconheceu em mim, mas porque lhe desejo os "cantinhos" da boca quando se ria, as rugas dos olhos lindos por olharem de frente, perdi a frescura das manhãs amando cedo, as brisas do mar, tardes com o sol a morrer, madrugadas acordado a ouvir a chuva a bater sem piedade , perdi o calor enroscado no seu corpo generoso ...
Já a encontrei, sei onde vive, mas tudo pode voltar a ser como podia ter sido, posso recuperar a vida que não vivi ? Vou levar para o seio da terra mãe esta interrogação.
A cobardia mata mais que a coragem, mata mil vezes, sempre que temos medo de viver mata, da maneira mais lancinante, morremos aos bocadinhos, primeiro a alegria, depois cimentamos uma nostalgia dolorosa que nunca mais nos abandona...
Há tanta coisa boa na minha vida, repito todos os dias, tentando convencer-me.
Os nossos "beligerantes" Adão e Carlos têm que ver este fime, tão simples, tão belo, com meia dúzia de personagens e um diálogo tão rico e imagens tão belas.
Vês este quadro, até há 50 anos atrás milhares de pessoas vieram vê-lo, uma obra prima que arrancava emoções profundas nos visitantes do museu. Agora descobriu-se que é uma cópia, ou melhor, descobriu-se o original,será que a cópia deixou de arrancar emoções aos visitantes? Qual é a obra de arte? É o que está ali no quadro ou o que cada um de nós vê nela? Vês aquela estátua ali defronte, um homem e uma mulher abraçados, ela com um sorriso de felicidade a inundar-lhe o rosto enquanto repousa a cabeça, docemente, no ombro do homem? Pergunta aqui a este casal que ainda agora tão bem descrevia a cena. Bem, não foi bem isso que disse, recorde, foi mesmo agora, o que vê na estátua? Pois, diz , a força convincente do homem que oferece abrigo....
É tudo tão simples e nós tornamos tudo tão complexo, uma criança diz "vamos todos morrer mais tarde ou mais cedo" e, todos nós, o mandamos calar, mas se for um filósofo a dizer a mesma frase, colocamos uma lápide no seu sepulcro. É tudo tão simples...
Foste tu que casaste comigo há quinze anos e foste embora, estás ausente das nossas vidas, ou és tu que sempre faltaste, que deverias ter sido o pai do meu filho? Só quero que me abraces, vais ver que tudo volta a ser simples, a vida é dos simples, de quem se contenta com tudo o que gosta e que luta para ter tudo o que gosta...sim, eu sei, tu só te queres a ti, o teu comboio parte às 9 horas...
E, eu, não seria tudo tão simples, se ao entardecer comprasse o bilhete, me emociona-se com um filme tão belo e não vie-se de lá com um aperto no coração por causa da Juliette Binoche?
Torre de Moncorvo (muitas vezes chamada simplesmente Moncorvo) é uma vila no Distrito de Bragança, com cerca de 3 000 habitantes.
O seu ex-libris é sem dúvida a Igreja Matriz, cuja construção se iniciou na primeira metade do século XVI e terminou cerca de 100 anos depois.
É de salientar, na fachada o belo pórtico em estilo renascença. O interior ostenta um grandioso retábulo setecentista e uma das mais notáveis obras de arte – o tríptico de Sant'Ana, de origem flamenga. Está classificada como Monumento Nacional por Decreto n.º 16/6/1910.
Nesta vila viveu a minha irmã desde 1978, até falecer em Novembro de 2009. Durante esta minha estadia não pude deixar de me questionar de novo, sobre os motivos que terão levado a minha irmã (que na altura já tinha um filho) a esta emigração que ainda hoje considero insólita.
Nasceu na cidade de Castelo Branco, fez o curso de medecina em Lisboa e depois não lhe faltaram oportunidades para se realizar e evoluir profissionalmente, no que era o seu sonho desde menina – o estudo e a prática da medicina de que tanto gostava. Perguntei-lhe várias vezes mas nunca me deu uma resposta convincente. Respondia sempre da mesma maneira: estou bem onde estou. Considero que terá pesado bastante a decisão do marido (advogado) querer exercer a sua actividade na terra onde nasceu. Mas aquela resposta: “estou bem onde estou”, continuava para mim sem entendimento. Perguntava-me : Terá sido por submissão à decisão do marido? Terá sido o espírito de missão? Terá sido o destino!
O que move o ser humano? A sua mentalidade? O interesse individual? As regras da sociedade?! A missão? A Submissão? O Destino!
A minha irmã para além do casamento natural que tinha com a prática da medicina, cantava fado, escreveu dois livros e pintava.
Num dos quartos da sua casa encontrei agora, entre várias das suas telas, um testemunho escrito (Momentografia) de alguém que esteve numa das suas exposições de pintura e que, pela observação das mesmas, escreveu o seguinte:
MOMENTOGRAFIA Dedicado a Rocha Girão
Talvez hoje os caminhos rudes fiquem desbravados pela foice suave de alguns passos que chamam sentidos.
Talvez amanhã não se vejam pegadas
Mas o caminho, esse tomou a força de um trajecto que se fez.
Talvez depois de amanhã o caminho traga pendurado destinos embrulhados em caixas de sorrisos.
É VIDA em Seiva que percorre a sua alma. A vida que rompe sentidos. Uma palavra aqui cria caminhos. Mas só as telas indicam o verdadeiro Caminho.
Dos Caminhos que se cruzam nasce este tempo sob a forma de pintura que se cola aos seres para poder ser-se em delicadeza.
Talvez depois do depois de amanhã se reescreva no seu texto íntimo o que sonhou em silêncio.
A vida quis ensiná-la a ter cada vez mais e mais caminhos a ter cada vez mais vozes a ter cada vez mais palavras e mais sinceridade
E mais Intensidade no quadrante emotivo e estético.
Rocha Girão pinta saltando trampolins temporais Para além do futuro só o passado Para além do passado Só o presente
E depois?
O tempo escrito em esfinge Em círculos mágicos Onde deixa transparecer a mulher.
Com as suas nuances Rocha Girão salta cordas de palavras e espaços… Seduz o tempo físico. Não se apega a modelos. Afirma a sua melodia numa orquestra nas suas paisagens interiores.
Sem estar no tempo Eleva Castelos de Cores Alimenta outros olhares colocando o seu a nu.