Mobilização Social: Oportunidades, desafios, possibilidades
E tendo em conta a recente onda de mobilização social verificada em Portugal, pretende-se reflectir sobre possíveis formas de organização e estratégias. Tendo como referência as oportunidades e desafios enfrentados em recentes experiências de activismo social, irá discutir-se a viabilidade e as possíveis vantagens que poderão advir da criação de organizações destinadas a apoiar os movimentos sociais e promover a sua convergência num projecto comum de transformação social, ao mesmo tempo que se respeita e promove a especificidade de cada um deles. Este diálogo será baseado na apresentação e análise da experiência de organizações várias que, através da pesquisa-acção, educação cívica, democratização do conhecimento técnico, apoio à dinamização de grupos activistas de base, nomeadamente através da valorização do seu conhecimento tácito e apoio à imprensa e "media" alternativos, contribuíram para promover a sustentabilidade e capacidade de intervenção de movimentos sociais.
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Cinvidamo-vos a participar na Mesa Redonda, que terá o seguinte programa:
Abertura
Vasco Lourenço
Presidente da Direcção da Associação 25 de Abril
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"Oportunidades e desafios encontrados na mobilização para o 12 de Março e período posterior"
Raquel Freire do M12M
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ANIMAR (a confirmar)
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“Movimentos sociais, resistência social e produção de alternativas”
Henrique de Sousa
Activista social. Membro da ATTAC Portugal, da Comissão Nacional de Apoio ao Tribunal Russell sobre a Palestina e doutras organizações sociais e cívicas. Investigador e doutorando em Ciência Política. Estuda a interacção do movimento sindical e dos movimentos sociais com a qualidade da democracia e com a formação das políticas públicas. Subscritor do manifesto contra a escalada neoliberal, por uma nova agenda sindical” que reúne meia centena de investigadores sociais e sindicalistas e que tem em marcha um projecto de reflexão sobre o sindicalismo, que terá uma primeira expressão organizativa num Seminário internacional no próximo dia 18 de Junho
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"Mobilização Social: Oportunidades, desafios, possibilidades"
Ana Margarida Esteves
Investigadora e docente universitária. Doutoura em Sociologia pela Universidade de Brown, EUA. Especialista em Sociologia Política e do Desenvolvimento Económico e Social. Autora da tese "Mobilização de base, co-produção de políticas públicas e a promoção da Democracia Participativa pelo Movimento Brasileiro de Economia Solidária" (a publicar), assim como de vários artigos sobre o papel da educação cívica, relações estado/sociedade civil e democratização do conhecimento em processos de mobilização por movimentos sociais.
Moderador
Pedro Lauret
Membro da Direcção da Associação 25 de Abril
Contamos convosco, para o debate que se seguirá às intervenções programadas.
Até lá,
Cordiais saudações
Vasco Lourenço
Afinal o artigo do Pedro Pezarat Correia acabou por ser publicado pelo "Diário de Notícias", logo no dia seguinte à sua não aceitação.
Fica assim claro que não houve censura, nem, quero acreditar, qualquer das atitudes sobre as quais me interroguei ontem.
Como foi esclarecido pelos responsáveis do DN, tudo se ficou a dever a um conjunto de mal entendidos, a uma deficiente comunicação, no seio do próprio jornal, que levaram à decisão de que o artigo em causa não justificava a sua publicação.
Manifesto, por tudo isso, a minha satisfação pela publicação do artigo e felicito a direcção do "Diário de Notícias", pela atitude assumida e pela celeridade com que actuou (isto, embora considere que aquilo a que o jornal chama de equívocos que ontem circularam na internet, e a que se diz completamente alheio, tenha influenciado decisivamente a alteração da decisão). Quero continuar a acreditar que o DN se manterá como um elemento importante para que em Portugal exista liberdade de expressão, resistindo-se, o melhor possível, às enormes pressões que os diversos poderes, nomeadamente o económico e o político, exercem sobre os agentes e os órgãos da comunicação social.
Publicado o artigo, importa realçar o seu conteúdo, onde Pezarat Correia demonstra inequivocamente como e porquê Paulo Portas não deveria ser ministro da República.
Mas, num País de onde a ética desapareceu, levando consigo a capacidade de os responsáveis se envergonharem, um mínimo que seja, num País onde a corrupção campeia, num País onde não há qualquer responsabilização, criminal ou política, dos actores políticos, por maiores que sejam as arbitriaridades e os desmandos cometidos, que poderíamos nós esperar?
Porque não nos conformamos, porque teimamos em continuar a luta por um Portugal mais livre, mais democrático, mais justo e solidário, não desistimos.
Em 25 de Abril de 1974, assumimos responsabilidades, perante as portuguesas e os portugueses.
Por mais desilusões, por mais traições que apareçam, por maiores que pareçam as dificuldades, não desistimos. Estamos convictos que a maioria das portuguesas e dos portugueses comungam dos nossos ideais, estão connosco. Precisamos de os convencer a não ficarem em casa, a não abdicarem dos seus ideais, a lutarem pelos seus valores, pelos seus interesses!
Porque contamos que conseguiremos, contem connosco!
Vasco Lourenço
6. Informamos que o gen Pezarat vai estar hoje na TV 24, às 22.00, para falar sobre o conteúdo do seu artigo.
Cordiais saudações
Vasco Lourenço
Cara(o)s amiga(o)s
Mais uma vez dizemos presente, na evocação do “dia inicial inteiro e limpo”, como afirmou Sophia de Mello Breyner.
Mais uma vez dizemos presente, para reafirmar a nossa alegria, pelas “portas que Abril abriu”, como disse Ary dos Santos.
Estamos aqui, para reafirmar a nossa convicção de que valeu a pena! Para reafirmar, se ainda é necessário, que não estamos arrependidos!
Sim, não nos confundamos! Não permitamos que nos confundam!
Como é possível haver quem diga que hoje estamos pior que antes do 25 de Abril? Apesar das enormes dificuldades que atravessamos, apesar de Portugal se afastar cada vez mais do que sonhámos em 1974, o país que hoje temos é incomparavelmente melhor do que o que tínhamos há 37 anos.
A responsabilidade do actual estado de coisas, da situação de crise que Portugal atravessa não é do 25 de Abril!
Não é no acto fundador da democracia – onde a Liberdade e a Paz deram as mãos para terminar com a repressão e a guerra, para abrir as portas ao desenvolvimento e à independência de novos países – que estão as causas dos males de hoje!
Não é devido ao 25 de Abril que nos confrontamos com uma lógica de facilitismo e de benefício do interesse privado, em detrimento do interesse público.
Não foi o 25 de Abril que promoveu o individualismo e a especulação, que não combateu eficazmente a corrupção e a evasão fiscal, permitindo a transferência de activos do sistema público para o sistema privado.
Não foi o 25 de Abril que permitiu que o poder económico capturasse a maioria dos dirigentes políticos, permitindo a promiscuidade entre o público e o privado, sempre em detrimento do que era público.
Não foi o 25 de Abril que permitiu ao poder económico a aquisição e o controlo da comunicação social.
Não foi o 25 de Abril que permitiu a captura da democracia política e a estagnação da crítica, o que só favorece o crescente fosso social, entre os que mais têm e os que são cada vez mais pobres e desfavorecidos.
Não foi o 25 de Abril que provocou a colonização do estado e das empresas públicas pelos aparelhos partidários do chamado arco do poder.
Não está no 25 de Abril a origem do falhanço estrondoso da nossa classe dirigente e dos principais políticos, que continuam a dar um triste espectáculo de guerrilhas internas e ataques mútuos, incapazes de equacionar os reais problemas do país e de mobilizar os cidadãos para uma resposta adequada.
Não, não podemos culpabilizar o 25 de Abril pela contínua atitude dos responsáveis políticos que, com a sua acção desbarataram a nossa confiança, destruíram esse bem precioso e vêm demonstrando não estar à altura das funções para que foram escolhidos.
O que nos coloca numa situação verdadeiramente dramática: a perda de confiança dos cidadãos nos seus dirigentes é bem mais perniciosa do que a dívida pública!
Que, como primeira consequência provoca o alheamento dos cidadãos da vida pública.
A responsabilidade dessa situação não pode ser atribuída ao 25 de Abril.
Essa responsabilidade cabe-nos a todos, pois temos sido nós que, pela acção ou pela abstenção, temos escolhido os responsáveis políticos que nos trouxeram a este estado de coisas.
Por isso, para ultrapassarmos a actual crise, temos de ser capazes de alterar as nossas atitudes. Todos, e cada um de nós, somos responsáveis, cabendo-nos participar no encontrar de soluções!
Se aos dirigentes é exigível que sejam exemplo de competência e de dedicação à causa pública, homens e mulheres respeitados e de mãos e passados limpos – sem autoridade moral não é possível a mobilização de vontades – a cada um de nós é exigível o nosso não alheamento.
A nossa História, de quase mil anos, diz-nos que em tempos de crise somos capazes de encontrar soluções. Confio que, mais uma vez, vamos conseguir!
Há 37 anos, se fosse hoje, poderíamos dizer que estávamos à rasca: enfrentávamos a ditadura, a guerra sem solução à vista, o atraso atávico.
Pelo Presidente da Associação 25 de Abril, coronel Vasco Lourenço, foi-nos enviada uma carta, a qual, devido à sua extensão, publicaremos durante os próximos dias sempre neste horário.
continuação de 12, 13 e 14 a esta mesma hora
9. Saída de Rocha Vieira de CEME e de Vasco Lourenço de GML
Neste ponto remeto-o para as pág. 554 e 555 de Do Interior da Revolução.
Não vou acrescentar muito mais, salientando apenas dois pontos:
Rocha Vieira enviou uma carta a Eanes, onde colocava a questão de “ou ele, ou eu”, mas fez publicar essa carta no jornal de direita O Dia, de forma que quando Eanes recebeu a carta, ela já era pública.
Para quem apregoou lealdade de procedimentos, não está mal…
O Presidente da República demitiu o CEME e só no dia seguinte, já com a participação do novo CEME, propôs ao Conselho da Revolução a substituição do GML.
10. Vasco Lourenço e a carreira militar
Contrariamente ao que afirma Rocha Vieira, Vasco Lourenço não resolveu, logo a seguir ao fim do período de transição, a não continuação da sua carreira militar.
Com efeito, decidi continuar no Exército, no Serviço de Reconhecimento das Transmissões, onde estivera antes do 25 de Abril, e só em 1987 pediria a minha passagem à situação de reserva. Com um pormenor: quando, poucos meses depois do fim do período de transição é aprovada legislação que permitia aos conselheiros da Revolução a passagem à situação de reserva, contando o tempo por inteiro independentemente do tempo de serviço prestado, desde que utilizassem essa possibilidade no prazo de seis meses, decidi não usufruir da mesma. Isto, porque considerei que essa legislação era feita à minha medida, para me obrigar a passar à reserva. Decidi, então, que só sairia quando eu próprio o quisesse fazer (viria a passar à reserva, a meu pedido, apenas quatro anos e meio depois, em Abril de 1987), daí resultando que me tornei no único conselheiro da Revolução que estava na reserva, com pensão reduzida. No meu caso, 29/36. Situação que durou até que, ao abrigo da Lei 43/99, fui promovido a coronel.
Por agora, fico-me por aqui: gostaria de ver Rocha Vieira clarificar as distorções feitas por mim, seja em anteriores situações, seja neste texto.
Melhores cumprimentos
Vasco Lourenço
P.S. Como certamente compreenderá, não considero esta carta reservada, pelo que lhe darei a divulgação que entender…
Pelo Presidente da Associação 25 de Abril, coronel Vasco Lourenço, foi-nos enviada uma carta, a qual, devido à sua extensão, publicaremos durante os próximos dias sempre neste horário.
continuação de 12 e 13 a esta mesma hora
6. As armas entregues a Edmundo Pedro
Cá temos um episódio bem triste, bem demonstrativo da traição, da falta de lealdade, de que fui vítima.
A páginas 515 e seguintes, conto em Do Interior da Revolução o meu não papel, a sonegação de que fui alvo, neste assunto. Acrescentarei que, nós militares, sabemos bem que não é o facto de uma acção estar prevista, como possível, no plano de operações que ela se efectua mesmo. Para que isso se verifique, durante a conduta há que decidir sobre a sua efectivação e dar ordem nesse sentido. Deixem de justificar o que se passou com o facto de, na alínea “Forças Amigas, Partidos Políticos”, do plano de operações estar “preparar para, em caso de necessidade, receber armas para ajudar na ocupação de pontos sensíveis”…
Mas o livro de Pedro Vieira vem-me esclarecer mais alguns pormenores sobre a forma ignominiosa como Edmundo Pedro foi tratado, quando em Janeiro de 1978 foi preso…
Ao analisar o conteúdo do livro de Pedro Vieira, constato que, afinal, não era eu o único que devia saber e não sabia do “affaire” das armas. Rocha Vieira também nada sabia, afinal Eanes também nada lhe contara…
Mas, sendo assim, a quem Edmundo Pedro entregara já trinta e uma armas, como é contado na pág. 122? Que fora ao EME é um facto, mas a quem e quando? Durante a chefia do EME de Eanes, ou durante a chefia de Rocha Vieira?
Deliciosa é também a revelação atribuída a Eanes, da sua conversa com Mário Soares e das posições de cada um…
O facto é que a forma como tudo foi conduzido valeu a Edmundo Pedro seis meses de prisão preventiva, até ser totalmente ilibado pelo juiz que organizou o seu processo…
Sobre este assunto, Rocha Vieira escamoteia totalmente a sua mais que reprovável atitude para comigo, no dia da prisão de Edmundo Pedro. (A propósito não foi Luís Cabral que nos visitou nesse dia, mas sim Kenneth Kaunda…)
Para seu conhecimento e para refrescar a memória de Rocha Vieira, envio-lhe a carta confidencial – pessoal que, no dia 18 de Janeiro de 1978, como conto na pág. 517 de Do Interior da Revolução, o governador Militar de Lisboa enviou ao chefe de Estado-Maior do Exército (anexo A)
7. O CAAC, ou o caso dos vinte e nove capitães de Mafra
Rocha Vieira dá um tratamento especial a este assunto, na pág. 128 e ss., dedicando-lhe mesmo um capítulo intitulado “Diferendo com Vasco Lourenço”.
Por mim, porque o caso se passou já no período que não trato especificamente em Do Interior da Revolução, limitei-me a fazer-lhe uma pequena referência na pág. 553.
Porque Rocha Vieira utiliza este caso, relatando-o à sua maneira, escamoteando muitos pormenores e deturpando outros, decidi enviar-lhe seis documentos, então produzidos: o meu despacho de envio ao CEME, por avocação (Anexo B); despacho do instrutor para encerramento e seu envio ao CEME (Anexo C); meu despacho de análise ao despacho do CEME, de recusa de avocação (Anexo D); relatório final do instrutor (conclusões) (Anexo E); meu despacho final (Anexo F); relatório de informações (Anexo G), que então distribui por várias entidades, nomeadamente os conselheiros da Revolução e os comandantes das Regiões Militares (do Exército).
Apesar de considerar que tudo fica claro, com a leitura desses documentos, gostaria de salientar:
A enorme responsabilidade da Direcção de Instrução do Exército em todo este processo. Responsabilidade essa que teve total cobertura do CEME. Com efeito, apesar de lhe ter proposto que usasse a sua competência disciplinar para punir os que eu considerava principais responsáveis, dado eu não o poder fazer por não estarem sob a minha alçada disciplinar, nada fez…
Sobre a atitude do DDI, general Altino de Magalhães no processo, relembro aqui um pequeno episódio:
Quando na reunião feita no gabinete do vice-CEME, general Melo Egídio, acuso Altino de Magalhães de nada ter ligado ao processo, nem sequer ligando a uma delegação dos capitães, na audiência que lhes concedeu, o mesmo reagiu: “Não lhes liguei nenhuma? Lembro-me que isso se passou no dia de São Martinho, convidei-os para comerem umas castanhas que tinha mandado assar, e diz-me que não lhes liguei nenhuma?! Injusto!”
“Pois é, o problema é que eles não lhe pediram audiência para virem comer castanhas”, retorqui-lhe, então.
O facto de Rocha Vieira me ter pressionado fortemente para acelerar o processo, mesmo que não se procedesse a todas as diligências necessárias, e aplicar a cada capitão a pena de três ou cinco dias de prisão disciplinar.
A este respeito recordo apenas a cena final, passada em pleno palco do ginásio do Instituto de Odivelas.
Rocha Vieira diz-me que lera o meu despacho, não concorda, rematando: “Eu não engulo isso!”
“Tens bom remédio, deita fora!”, respondi-lhe, acrescentando: “Eu usei a minha competência disciplinar, tu podes usar a tua, mantendo, anulando ou agravando. Se tiveres coragem para isso, agrava!”
O autor afirma que “o curso seria depois retomado, os capitães fizeram testes, identificaram-nos e tiveram as respectivas notas (…) (pág. 130).
Sobre isto há a esclarecer:
O curso que foi interrompido nunca foi retomado. Os capitães que o frequentaram, não fizeram qualquer outro curso semelhante.
Se voltou a ser ministrado um outro CAAC, nos moldes referidos, isso já foi feito sem o Rocha Vieira como CEME e sem mim como GML.
8. A promoção de Vasco Lourenço a major
Aqui estamos perante uma das situações mais caricatas, mais kafkianas que enfrentei na vida.
Sendo capitão, fora nomeado comandante da Região Militar de Lisboa, porque se considerava que no Exército não havia mais nenhum oficial que pudesse desempenhar esse cargo; passados mais de oito meses, criara-se uma situação especial que permitisse a minha continuação como comandante dessa Região Militar, dando origem mesmo a uma situação única de comando de Região Militar por um conselheiro da Revolução, pois se continuava a considerar que era o único oficial do Exército que podia desempenhar o cargo; passados mais um ano e sete meses, apesar de por várias vezes ter levantado a questão da minha substituição no cargo, continuava a considerar-se não haver quem me pudesse substituir, mantendo-me, portanto, no comando da RML; a minha acção, directamente responsável pela recuperação da disciplina e da operacionalidade da RML e, em consequência disso, de todo o Exército, fazia com que Rocha Vieira, como CEME, me manifestasse, por várias vezes, que me considerava o seu melhor comandante das Regiões Militares.
Pois bem, de repente sou surpreendido com a homologação, por parte do CEME, de proposta do Conselho da Arma de Infantaria, das promoções por escolha de dois capitães mais modernos que eu, que assim me ultrapassariam.
Averiguando o que estivera por detrás disso, sei que o director dessa Arma, general Imaginário Egreja, afirmara na discussão da minha apreciação “que não podia pronunciar-se, pois não conhecia o capitão Vasco Lourenço, mas apenas o general Vasco Lourenço”.
Fortemente surpreendido, tomo conhecimento que o CEME, na informação periódica que fizera sobre mim, me atribuíra uma nota não positiva, no que se refere ao aprumo, ainda que considerasse que eu devia ser promovido por escolha.
Confrontei, de imediato Rocha Vieira com essa situação, dizendo-lhe que não o considerava mais aprumado que eu, perguntando-lhe como podia não ter aprumo quem aprumou uma região militar, acabando com a bagunça existente. Justificou-se, metendo as mãos pelos pés, com o argumento de que se tinha pronunciado pela minha promoção por escolha…
Muito naturalmente, coloquei o assunto no Conselho da Revolução: se for ultrapassado na promoção a major, por qualquer oficial mais moderno que eu, deixo as
chaves do gabinete em cima da secretária e abandono de imediato o comando do Governo Militar de Lisboa.
O Conselho decidiu promover-me, de forma a não ser ultrapassado…
Pelo Presidente da Associação 25 de Abril, coronel Vasco Lourenço, foi-nos enviada uma carta, a qual, devido à sua extensão, publicaremos durante os próximos dias sempre neste horário.
continuação de ontem
1. 25 de Novembro de 1975
Na página 95, Rocha Vieira afirma que no dia 25 de Novembro, na reunião com Costa Gomes, é Melo Antunes que passa a palavra ao coordenador do Grupo Militar, Eanes, para que este faça a exposição sobre a situação e a forma de lhe dar resposta.
Eu compreendo que Melo Antunes, com toda a sua qualidade e importância, mas também com a pouca apetência para as questões operacionais, lhes seja útil para menorizar o papel de Vasco Lourenço nos acontecimentos. Por isso, não hesitam em atribuir a Melo Antunes um papel que todos sabemos não lhe ter pertencido. Tem, aliás, sido essa a tónica das intervenções de Ramalho Eanes e ela volta nas declarações de Rocha Vieira neste livro.
Pois bem, na qualidade de responsável operacional, perante quem Eanes, como coordenador do Grupo Militar, respondia, fui eu, que, depois de dizer a Costa Gomes que tínhamos solução para o que se passava, passei a palavra ao Eanes, a quem pedi que explicasse como. Recordo-me bem que o Moura de Carvalho, da Força Aérea, a certa altura me disse: “Hoje, estás a intervir pouco”, ao que respondi: “Não é preciso, depois de passar a palavra ao Eanes, ele está a portar-se bem…”
2. Comando das operações
Na página 97, Rocha Vieira afirma que “Eanes era o chefe do grupo Militar e era nas mãos dele que os seus camaradas queriam pôr a delegação de Costa Gomes para dirigir as operações de resposta à situação gerada pela sublevação dos pára-quedistas. Só que Eanes não tinha nenhuma função militar, daí que tenha aparecido na linha institucional como ‘assessor’ de Vasco Lourenço que, enquanto conselheiro da Revolução, já nomeado comandante da Região Militar de Lisboa, detinha uma posição institucional. Foi uma maneira de transferir para Eanes a autoridade para dar ordens às unidades. E quem de facto as deu foi ele.”
Se já tinha a sensação de ter sido traído por aqueles em quem confiava, essa traição está aqui, bem “preto no branco”.
Este é um assunto que trato, com relativo pormenor, em Do Interior da Revolução. Veja-se, nomeadamente, a sua pág. 562.
Não deixa de ter graça a preocupação de Rocha Vieira em realçar a questão institucional. Com isso, foge ao cerne da questão: a única opção viável para comandar a RML, naquele momento e naquelas condições, era Vasco Lourenço, o que aliás levara Melo Antunes, Eanes e Loureiro dos Santos a tentarem e a conseguirem convencê-lo a aceitar substituir Otelo Saraiva de Carvalho no comando dessa RML.
Agora, para quem é do Estado-Maior, gostaria que me explicassem se a cadeia de comando desaparece, só porque o comandante do posto principal não está no posto avançado?
Como gostaria que me desmentissem as afirmações que faço no livro sobre o efectivo e real funcionamento dessa cadeia de comando, nomeadamente na subordinação de Eanes a Vasco Lourenço, durante os dias 25 e 26 de Novembro de 1975.
3. Ataque ao Regimento de Polícia Militar
A páginas 519 do livro Do Interior da Revolução, conto o que se passou, nomeadamente a intervenção de Rocha Vieira.
Apesar de habituado a certas afirmações, não deixei de me surpreender com o que é dito sobre Rocha Vieira, na pág. 99 do seu livro: “Ainda cedo, depois de um sono breve no Palácio de Belém, acordou com o estampido de tiros vindos da Calçada da Ajuda. Liga de imediato pelo telefone civil para o comandante do Regimento de Polícia Militar (Lanceiros 2), major Campos Andrada, que era do seu curso de entrada na Escola do Exército e que ingressara na Arma de Cavalaria”!
Para além de reafirmar tudo o que está em Do Interior da Revolução (nomeadamente o meu pedido, antes dos tiros, a Rocha Vieira para contactar o Eanes via rádio), acrescento apenas que durante essa noite não consegui sequer um sono breve e que, quando os tiros se desencadearam, o Campos Andrada estava a falar ao telefone comigo!
Haja decoro!
4. Prisões militares
Ao ler o que Rocha Vieira conta na pág. 101 do seu livro, compreendo a razão de ser do episódio que conto em Do Interior da Revolução, pág. 516, onde intervenho para anular a ordem que o Posto de Comando avançado enviara para a PSP de Lisboa, para se prenderem uma série de oficiais.
Aliás, para além do episódio do dia 27 no COPCON, onde apesar de tudo acabei por participar, penso que todas as outras prisões de oficiais foram por mim sancionadas, tendo na maioria das situações sido eu próprio a comunicar-lhes a sua prisão.
5. Mais conselheiro da Revolução que comandante da Região Militar de Lisboa
Aqui estamos perante uma afirmação que assenta fundamentalmente numa opinião de quem a profere.
Não irei dar-lhe muito troco, no entanto, dado o orgulho que tenho, na forma como comandei a Região Militar de Lisboa, em circunstâncias bastante difíceis; na forma como recuperei a disciplina nas unidades dessa grande unidade; na forma como consegui impor-me a todos os meus comandados, não poderei deixar de tecer alguns comentários.
Não o fiz sozinho, pois tive a colaboração de um conjunto de militares que funcionou em equipa, mas não aceito que digam que o mérito foi da equipa e não meu!
Pois se fui eu que escolhi e coordenei a equipa! Os bons resultados desta só me envaidecem!
Aliás, Rocha Vieira, se fizer um esforço de memória lembrar-se-á que, durante os anos de 1976 e 1977, como chefe de Estado-Maior do Exército me afirmou várias vezes que eu era, sem dúvida, o seu melhor comandante de Região Militar. Depois, quando começaram as divergências entre nós, terá mudado de ideias. Mas, disso falaremos mais à frente…
6. As armas entregues a Edmundo Pedro
Cá temos um episódio bem triste, bem demonstrativo da traição, da falta de lealdade, de que fui vítima.
A páginas 515 e seguintes, conto em Do Interior da Revolução o meu não papel, a sonegação de que fui alvo, neste assunto. Acrescentarei que, nós militares, sabemos bem que não é o facto de uma acção estar prevista, como possível, no plano de operações que ela se efectua mesmo. Para que isso se verifique, durante a conduta há que decidir sobre a sua efectivação e dar ordem nesse sentido. Deixem de justificar o que se passou com o facto de, na alínea “Forças Amigas, Partidos Políticos”, do plano de operações estar “preparar para, em caso de necessidade, receber armas para ajudar na ocupação de pontos sensíveis”…
Pelo Presidente da Associação 25 de Abril, coronel Vasco Lourenço, foi-nos enviada uma carta, a qual, devido à sua extensão, publicaremos durante os próximos dias sempre neste horário.
Lisboa, 8 de Abril de 2011
Caro Pedro Vieira
Não daria grande importância ao livro Todos os portos a que cheguei – Vasco Rocha Vieira sobre a vida de Vasco Rocha Vieira, se o mesmo não contivesse uma série de inverdades e de afirmações falsas sobre mim, na generalidade atribuídas por si ao próprio Rocha Vieira.
No livro, porque me chamaram a atenção para isso, apenas me interessei por ler o que comigo se relaciona, onde encontrei inúmeras deturpações factuais e de interpretação, que me levam a esta carta.
Vejamos:
A página 135, cita, entre aspas, afirmações que atribui a Rocha Vieira: “Vasco Lourenço deu a cara pela Revolução e eu dou-lhe valor por isso. Mas isso não lhe dá o direito de, em muitos e variados momentos fazer a história à medida dos seus desejos e sentimentos, distorcendo a verdade dos factos e o papel dos intervenientes.”
Se não se soubesse que o livro é uma biografia autorizada, dir-lhe-ia que não compreendo que, para a escrever, me não tivesse ouvido. Não concordando, percebe-se que só tivesse ouvido os amigos do biografado e houvesse pessoas colocadas num index. É certamente esse o meu caso. Como não deve ter lido, ou pelo menos tido em consideração, o livro Do Interior da Revolução, onde é publicada uma entrevista minha a Maria Manuela Cruzeiro. Se o tivesse feito, leria na dedicatória que faço ao meu neto a seguinte afirmação: “Uma coisa te quero garantir Vicente: o teu avô procurou ser honesto, falar verdade e não fugir às questões (…) Haverá outras verdades. Não duvido, pois nunca tive a presunção de ter o seu exclusivo. Mas, de uma coisa podes estar certo: não inventei nem exagerei, mesmo que às vezes custe a acreditar que as coisas se tenham passado como as conto (…)”
E, uma coisa quero afirmar-lhe, a si, Pedro Vieira: fui educado, desde criança, a não mentir, prezo-me de o ter conseguido, na minha vida de 68 anos, não seria agora que o iria fazer, numa carta dirigida ao meu neto, que adoro e gostaria de ajudar a educar, segundo as regras da ética, da justiça, da verdade, da hombridade e da honestidade, que julgo me são reconhecidas pela generalidade dos que me conhecem.
Por isso, quero pedir-lhe que solicite ao general Vasco Rocha Vieira que concretize as suas acusações. Isto é, que esclareça onde e quando fiz a história à medida dos meus desejos e sentimentos, onde e quando distorci a verdade dos factos e o papel dos intervenientes?
Isto, porque admitindo que possa haver discordância de opiniões, sejam sobre actuações globais (não deixa de ser sintomático que Rocha Vieira se limite a afirmar, sobre o meu envolvimento em todo o processo do 25 de Abril, que eu dei a cara pela Revolução…), sejam sobre acontecimentos concretos, factos são factose, aí gostaria que me fosse apontado algum que terei inventado ou distorcido.
Quero acreditar que Rocha Vieira, ao fazer a afirmação que referi, estará a pensar na discrepância que existe na sua forma de contar alguns episódios onde interviemos os dois e a forma como eu os relato no livro Do Interior da Revolução.
Tentarei, portanto, para além do que ali afirmo, dar-lhe mais alguns elementos, para melhor compreensão sobre quem faz a História à medida dos seus desejos e sentimentos, sobre quem distorce a verdade dos factos e o papel dos intervenientes.
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