Passam hoje 50 anos sobre o 4 de Fevereiro de 1961, considerado pelo MPLA o dia do início da luta armada em Angola. Sob o comando de Neves Bendinha, Paiva Domingos da Silva, Domingos Manuel Mateus e Imperial Santana, cerca de duzentos homens, armados com catanas, levaram a cabo em Luanda uma série de acções.
Uma dessas acções foi a emboscada feita a uma patrulha da Polícia Militar. Com as armas e munições dos quatro soldados da patrulha foi feito um ataque à Casa da Reclusão Militar com o objectivo de libertar presos políticos que ali se encontravam detidos. Ataque que não foi bem sucedido. Foram também atacados a cadeia da PIDE, no Bairro de São Paulo, e a cadeia da 7ª Esquadra da PSP, onde havia também alguns presos políticos. Foi tentada a ocupação da «Emissora Oficial de Angola», estação de rádio ao serviço da propaganda do Estado português. Morreram no decurso destas operações quarenta revoltosos, seis homens da polícia e, durante o assalto à Casa da Reclusão, um cabo do Exército Português. Foi assim, em síntese, o 4 de Fevereiro de 1961.
Como se sabe, após estes acontecimentos, outra organização, a UPA – União dos Povos de Angola, que passaria depois a designar-se por FNLA (Frente Nacional de libertação de Angola), em 15 de Março do mesmo ano (1961) desencadeou um ataque no Norte do País, massacrando colonos brancos e trabalhadores negros de outras regiões e etnias. Terá sido este ataque brutal que, da perspectiva do Estado Novo, deu início a uma guerra que estendendo-se depois a Moçambique e à Guiné-Bissau, iria prolongar-se por 13 anos até 25 de Abril de 1974.Ao MPLA, e à FNLA, juntou-se depois, a partir de 1966, UNITA – União Nacional para a independência Total de Angola. Quase um milhão de homens foi, ao longo destes anos, mobilizado para uma guerra de que o 4 de Fevereiro de 1961 foi o primeiro sinal. A Revolução de Abril pôs termo a um conflito em que muitos portugueses, muitos guerrilheiros e populações civis perderam a vida.
No entanto, não tentando, em por sombras, branquear o colonialismo português, tenho a dizer aos irmãos africanos o seguinte – nós, portugueses, causámos muito mal, muita destruição, cometemos crimes inauditos, destruímos, aculturámos… - todos os crimes que as outras potências coloniais fizeram, nós cometemos também. No entanto, logo que conseguimos a nossa libertação, apoiámos a vossa. Viemos para as ruas gritar - «Nem só mais um soldado para as colónias!», oficiais, sargentos e soldados recusaram-se a embarcar e a prosseguir a guerra injusta e suja que travávamos em três frentes.
Ouvi, sobretudo a companheiros angolanos e moçambicanos, o lamento de que se tivessem sido colonizados por britânicos, franceses, belgas ou holandeses, estariam melhor, mais desenvolvidos. Olhando para a realidade africana de hoje, o panorama que se nos depara não confirma essa convicção. Países que estiveram sob a administração dessas ou doutras potências coloniais vivem realidades porventura mais penosas e apresentam níveis de desenvolvimento inferiores aos de Angola e Moçambique. A brasileiros ouvi o mesmo raciocínio, relativamente à Holanda – olhai a Indonésia, onde, como no Brasil, os recursos naturais são abundantes. Teriam os holandeses feito melhor do que nós? Com todos os seus problemas, não é o Brasil um país mais próspero e desenvolvido?
O colonialismo foi criminoso.
Num importante segmento temporal do século XX, Portugal esteve submetido a um regime ditatorial e nós próprios sentimos na pele o que é ser estrangeiro na nossa terra. Em nossa defesa, repito o que disse acima – dar-vos a liberdade foi a nossa primeira preocupação quando nos libertámos. Nem todos os ocupantes de territórios alheios assim procederam e procedem. Até aqui, na Península Ibérica, são mantidas colónias. Mas esse é outro tema.
Hoje celebramos a libertação de Angola. Um grande abraço para Angola. Viva Angola!
OUTUBRO | |
? | - É enviada para Moçambique a Companhia de Fuzileiros Navais nº 2 que fica baseada em Lourenço Marques, enquanto um pelotão era destacado para Metangula, no Niassa. - Franco Nogueira é recebido por John Kennedy. |
1 | Morre em combate 1 militar da CCaç 187. |
5 | Morre em combate 1 militar da CCaç 128. |
7 | Início da operação “Quero Saber”, em Angola, que se prolongou até dia 24, realizada por Pelotão de Reconhecimento de Infantaria. |
9 | - Dec. 44620. Cria em Lisboa o instituto de Estudos Sociais, destinado à investigação e ensino dos princípios informadores da política social no domínio do trabalho, da organização corporativa e da previdência. - Portaria 19425. Cria no Instituto Superior de Estudos Ultramarinos o Centro de Estudos Missionários, com o fim de, em colaboração com a Junta de Investigações do Ultramar, estimular e promover o estudo dos fenómenos missionários. |
10 | A revista alemã Der Spiegel publica um artigo sobre a NATO em que critica o Exército alemão (os escritórios da redacção são ocupados pela Polícia a 16 de Outubro). Três redactores do jornal foram acusados de alta traição. |
16 | - O ministro da Presidência, Correia de Oliveira, trava conversações em Bona sobre o estatuto de Portugal face à CEE. - Cessar-fogo no Congo. |
17 | Morrem em combate 2 militares da CCaç 368. |
20 | Num Despacho, Salazar declara que “os Serviços de Censura dependem exclusivamente da Presidência do Conselho e não recebem ordens de qualquer outro departamento de Estado.” |
22 | - John Kennedy denuncia na televisão a instalação de bases de mísseis soviéticos em Cuba. - Morrem em combate 3 militares do BCav 350. Um alferes e dois soldados. |
23 | Morrem em combate 5 militares da 5ª CCaç. |
24 | Os EUA iniciam o bloqueio a Cuba. |
26 | Kruchtchev propõe a retirada dos mísseis soviéticos de Cuba contra a retirada dos mísseis americanos da Turquia; Kennedy rejeita esta proposta. |
28 | Referendo francês a favor da eleição directa do presidente da República. |
30 | A Assembleia-Geral da ONU rejeita a proposta da URSS de admissão da China Popular. |
31 | - A Assembleia-Geral da ONU pede à Inglaterra que suspenda a entrada em vigor da nova Constituição da Rodésia do Sul (apesar disso a Constituição entra em vigor a 1 de Novembro). - Durante este mês as baixas das forças portuguesas totalizaram 18 mortos. Em acções de combate morreram 12 militares. |
NOVEMBRO | |
2 | - O presidente Kennedy anuncia que a URSS iniciou o desmantelamento das bases de mísseis em Cuba. - Julius Nyerere é eleito presidente do Tanganhica. |
5 | - Port. N.° 19480. Cria na Junta de investigações do Ultramar a Missão Organizadora do Museu do Ultramar, com o fim de recolher, estudar e catalogar todo o material e documentação que deva ser reunido no Museu do Ultramar. - F. J. Strauss é demitido do cargo de ministro da Defesa da Alemanha Ocidental devido ao caso da revista Der Spiegel. |
7 | D. n.° 44672. Aprova o Plano Rodoviário do Arquipélago de Cabo Verde. |
9 | Morre em combate 1 militar da CCav 122. |
12 | D. n.° 44680. Cria as estações Loran NATO de Sagres, de Porto Santo, de Santa Maria e das Flores e define as condições da sua manutenção e funcionamento. |
15 | - Carta de Viriato da Cruz aos elementos do MPLA, manifestando-se contra Agostinho Neto. - Cinco militares da CCav 351 morrem num acidente. |
16 | Morre em combate 1 militar da CCaç 327. |
17 | Morrem em combate 5 militares da CCaç 189. |
20 | A URSS aceita retirar os bombardeiros Ilyushin de Cuba e os EUA anunciam o fim do bloqueio a este país. |
22 | Morre em combate 1 militar da CCav 351. |
23 | Depoimento de Eduardo Mondlane, em nome da FRELIMO, perante o Comité Especial da ONU para os territórios administrados por Portugal. |
24 | Port.° n.° 19521. Determina que o Instituto Superior de Estudos Ultramarinos passe a designar-se Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina. |
26 | Morre em combate 1 militar da CCaç 189. |
30 | - U Thant é eleito secretário-geral das Nações Unidas. - Durante este mês as baixas das forças portuguesas totalizaram 23 mortos. Em acções de combate morreram 9 militares. |
DEZEMBRO | |
? | Declarações de David Mabunda, secretário-geral da FRELIMO, no Cairo, segundo as quais seria inevitável nova guerra, como em Angola, se Portugal não tomasse medidas imediatas para garantir a autodeterminação de Moçambique. |
1 | Início do I Congresso do MPLA em Leopoldville, com Agostinho Neto na presidência e Mário de Andrade na vice-presidência. |
3 | Parte para Angola o BCaç 381. |
4 | - Remodelação ministerial, com a entrada de Manuel Gomes de Araújo para ministro da Defesa, de Luz Cunha para ministro do Exército, de Peixoto Correia para o Ultramar e de Francisco Chagas para secretário de Estado da Aeronáutica. |
5 | - Morrem em combate 3 militares. Um sargento do BCav 350 e dois cabos do BEng 234. - Partem para Angola o BArt 400 e o BCav 399. |
6 | Morrem em combate 4 militares da CCaç 368. Um alferes e três soldados. |
12 | Aprovação de uma moção na ONU recomendando um programa especial de assistência técnica para educação e treino de dirigentes nacionalistas dos territórios sob administração portuguesa. |
13 | Apresentação de Amílcar Cabral na Comissão de Curadorias da ONU como representante do PAIGC. |
14 | Resolução da Assembleia-Geral da ONU sobre Angola, condenando a atitude de Portugal, pedindo o reconhecimento imediato do direito dos povos não autónomos à autodeterminação e independência e a cessação imediata de todos os actos de repressão. |
17 | - Início da Operação “Roda-Viva” na região de Quibaco. Morre em combate um furriel da CCaç 327. |
18 | - Operação “Roda-Viva”. Morrem em combate mais 4 militares da CCaç 327. - Resolução da Assembleia-Geral da ONU, reafirmando o inalienável direito do povo de Angola à autodeterminação e independência, condenando a guerra colonial conduzida por Portugal e requerendo ao Conselho de Segurança as medidas adequadas. |
19 | Início da Conferência das Forças Antifascistas Portuguesas, que funda a Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN). |
24 | - Uma coluna de reabastecimentos da CArt 106 foi emboscada na estrada Quitexe-Aldeia Viçosa, a 2 Km do Quitexe. Ficou ferido o comandante da coluna, um alferes miliciano. - Morre em combate 1 militar do BCaç 3. |
28 | Depoimento de Holden Roberto, líder da UPA, perante a comissão especial da ONU. |
29 | Morre em combate um furriel da CCaç 390. |
31 | - Em 1962 embarcaram para Angola treze Companhias de Caçadores Especiais, cinco para Moçambique e uma para a Guiné. - Morre em combate 1 militar da CCaç 326. - Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 31 mortos. Em acções de combate morreram 15 militares. - Os efectivos das tropas portuguesas no final do ano são 44 925 militares em Angola, 5070 na Guiné e 11 852 em Moçambique, tendo sofrido durante o ano 232 mortos em Angola sendo 126 em combate. |
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