Terça-feira, 7 de Junho de 2011

A eterna questão do livro - 14 - por Carlos Loures

 

(Continuação)

 

Estamos quase a chegar ao fim desta ziguezagueante viagem através do universo do livro e dos seus problemas.

 

Foquei com especial atenção a ameaça do livro electrónico ao futuro do livro impresso. Como puderam ver, as opiniões dividem-se – hoje será o depoimento de Umberto Eco, o ensaísta e escritor italiano, co-autor, com o escritor e actor francês Jean-Claude Carrière(1931), de N'espérez pas vous débarrasser des livres - Não Contem Com o Fim do Livro. Numa entrevista concedida há meses atrás  a  um jornal brasileiro a propósito do lançamento da edição em português, disse coisas interessantes. Como de costume, não transcreverei aqui a entrevista que, aliás, pode ser consultada na net. Farei uma resenha do que, na entrevista, me pareceu mais importante. Porém, Eco não é um observador isento desta questão. O seu amor e apego ao livro impresso são conhecidos - a sua biblioteca tem com cerca de 50 mil volumes. E foi esse amor pelo livro que o levou a aceitar o desafio que o escritor, actor e guionista francês lhe lançou – o de debaterem a perenidade do livro, com vista à publicação de… um livro

 

 O jornalista pergunta-lhe qual diferença existe entre os conteúdos disponíveis na net e numa grande biblioteca: «A diferença básica é que uma biblioteca é como a memória humana, cuja função não é apenas a de conservar, mas também a de filtrar - muito embora Jorge Luis Borges, no seu livro Ficções, tenha criado um personagem, Funes, cuja capacidade de memória era infinita. Já a internet é como esse personagem do escritor argentino, incapaz de seleccionar o que interessa - é possível encontrar lá tanto a Bíblia como Mein Kampf, de Hitler. Esse é o problema básico da internet: depende da capacidade de quem a consulta. Sou capaz de distinguir os sites fiáveis de filosofia, mas não os de física. Imagine então um estudante fazendo uma pesquisa sobre a 2.ª Guerra Mundial: será ele capaz de escolher o site correcto? É trágico, um problema para o futuro, pois não existe ainda uma ciência para resolver isso. Depende apenas da vivência pessoal. Esse será o problema crucial da educação nos próximos anos.»

 

E quando lhe é perguntado se pode existir contracultura na internet, responde «Sim, com certeza, e ela pode manifestar-se tanto de forma revolucionária como conservadora. Veja o que acontece na China, onde a internet é um meio pelo qual é possível se manifestar e reagir contra a censura política. Enquanto aqui as pessoas gastam horas a conversar, na China é a única forma de se manter contacto com o  mundo».  

 

O entrevistador lembra-lhe que num dado trecho de Não Contem Com o Fim do Livro,  Eco e Jean-Claude Carrière discutem a função e preservação da memória - que, como se fosse um músculo, precisa ser exercitada para não atrofiar. «De facto, é importantíssimo esse tipo de exercício, pois estamos perdendo a memória histórica. A minha geração sabia tudo sobre o passado. Eu posso detalhar sobre o que se passava em Itália 20 anos antes do meu nascimento. Se você perguntar hoje a um aluno, ele certamente não saberá nada sobre como era o país duas décadas antes de seu nascimento, pois basta clicar no computador para ter essa informação. Lembro-me de que, na escola, era obrigado a decorar dez versos por dia. Naquele tempo, eu achava uma inutilidade, mas hoje reconheço a sua importância. A cultura alfabética cedeu espaço às fontes visuais, para os computadores que exigem leitura em alta velocidade. Assim, ao mesmo tempo que aprimora uma habilidade, a evolução põe em risco outra, como a memória».

 

«Escrevi muito sobre informação cultural, algo que vem marcando a actual cultura americana que parece questionar a validade de  se conhecer o passado. Veja um exemplo: se você ler a história sobre as guerras da Rússia contra o Afeganistão no século 19, vai descobrir que já era difícil combater uma civilização que conhece todos os segredos de se esconder nas montanhas. Bem, o presidente George Bush, o pai, provavelmente não leu nenhuma obra dessa natureza antes de iniciar a guerra nos anos 1990. Da mesma forma que Hitler devia desconhecer os relatos de Napoleão sobre a impossibilidade de se viajar para Moscovo por terra, vindo da Europa Ocidental, antes da chegada do inverno. Por outro lado, o também presidente americano Roosevelt, durante a 2.ª Guerra, encomendou um detalhado estudo sobre o comportamento dos japoneses para Ruth Benedict, que escreveu um brilhante livro de antropologia cultural, O Crisântemo e a Espada. De uma certa forma, esse livro ajudou os americanos a evitar erros imperdoáveis de conduta com os japoneses, antes e depois da guerra. Conhecer o passado é importante para traçar o futuro».

 

(Continua)

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 06/06/2011 às 22:14
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Quinta-feira, 24 de Março de 2011

O velho livro (crónica de uma morte anunciada) - por Carlos Loures

 

 

Já aqui vos tenho falado da sensação de volúpia  com que pessoas pertencentes às gerações mais antigas, folheiam o livro, aspiram o odor da tinta, apreciam a textura e

a gramagem do papel…É uma relação afectiva, mas é geracional. As novas gerações estarão preparadas para acolher novos suportes de leitura. sem preconceitos - mas

é preciso que esses novos suportes existam. Tudo o que até hoje apareceu não substitui o livro impresso.  Umberto Eco afirma que o livro é uma daquelas invenções consolidadas que, como a roda, como a colher, como o machado, nunca serão substituídas.

 

  

Muitas vezes tem sido anunciada a morte do livro como hoje o conhecemos – lembro-me de uma dessas primeiras ameaças – Foi em 1988 que comprei o texto gravado de O Delfim, de José Cardoso Pires, lido pelo actor Luís Lucas (com a vantagem de poder ser apreciado por invisuais). Ainda tenho essa edição em quatro cassetes. O que não tenho é um leitor onde as cassetes possam ser lidas. Começaram depois a aparecer edições em cassetes de vídeo, primeiro no standard Beta e depois no VHS. Também já não tenho leitores nem para uma coisa nem para outra.  

 

 Agora é o Kindle, havendo autores americanos que, como Dan Brown, começaram a lançar as suas obras simultaneamente em versão impressa e em versão electrónica, no formato e-book. Até quando poderão estes novos «livros» ser consultados? As novas tecnologias vão destronando as menos novas e não aparece uma invenção consolidada, como diz Eco.

 

A verdade é que enquanto estas invenções se vão sucedendo e mutuamente neutralizando,

se tivermos conhecimentos de paleografia, podemos ler um incunábulo com quinhentos

anos ou um códice com mil. Não apareceu ainda invenção que destrone o velho livro. Lê-lo depende do nosso saber e não de qualquer equipamento que poderá ficar obsoleto um ano depois de ter aparecido no mercado.

 

No entanto, o livro electrónico parece estar a pegar – não irá destronar o livro impresso, mas pode criar uma linha de evolução paralela – desde que os computadores do futuro (que já não se chamarão assim) permitam ler a informação produzida hoje em dia.

 

 É um fenómeno a seguir com atenção.

 

 

publicado por Carlos Loures às 12:00
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Terça-feira, 1 de Junho de 2010

O livro na era digital

Carlos Loures


É com uma sensação de volúpia que pessoas pertencentes às gerações mais antigas, como a minha, folheiam o livro, aspiram o seu odor, apreciam a textura e a gramagem do papel. Mas, esta relação afectiva, é uma questão geracional. Daqui por uns anos estes dinossáurios terão desaparecido. E com eles morrerá também a nostalgia do livro impresso. As novas gerações estarão preparadas para acolher novos suportes de leitura. Só é preciso que eles existam. E nada do que existe substitui satisfatoriamente o livro impresso.

Neste conjunto de notas soltas, continuo a reflectir sobre as múltiplas questões que configuram a crise do livro. A ameaça do livro electrónico substituir o livro impresso é apenas uma dessas questões e, por certo, nem será a mais importante. Mas é dela que me estou a ocupar por estes dias.

Muitos anunciam a morte do livro como hoje o conhecemos e a inevitabilidade do triunfo do livro digital. Pudemos ler a opinião de Umberto Eco, segundo a qual o livro é uma daquelas invenções que, como a roda, como a colher, como o machado, nunca serão substituídas – são invenções consolidadas. Acho que tem razão. Em 1489, portanto há quase 521 anos, foi impresso em Chaves o Tratado de Confissom, o primeiro, ou um dos primeiros, incunábulos em português. Trata-se de um manual destinado aos membros do clero, aconselhando-os na missão de ministrar aos fiéis o sacramento da confissão e da penitência. Aborda questões ainda hoje, mais de cinco séculos decorridos, delicadas e polémicas – o adultério, a violação ou estupro, a pedofilia, o incesto, o aborto, a homossexualidade. Descoberto em 1965 pelo Professor José Vitorino de Pina Martins (1920), foi publicado em 1973 em edição diplomática, com um estudo introdutório do investigador.


Se quisermos ler o Tratado de Confissom, isso depende do nosso saber paleográfico e não de qualquer sistema externo ao. Mas se quisermos ler um livro gravado em disquete de há dez anos atrás, teremos problemas. Para que o livro electrónico substitua o livro impresso é indispensável que se produza um sistema standard estabilizado, que não seja destronado quase todos os anos por modelos «mais recentes». Parece-me que essa etapa ainda está distante.

Já por diversas vezes referi, em textos publicados noutros sítios, o receio que por aquela época de transição entre a «Idade Velha» e a «Idade Nova», entre a Idade Média e o Renascimento, de que o livro impresso viesse usurpar o papel até então desempenhado por outros suportes na difusão da palavra divina – a arquitectura e sobretudo a escultura. Temia-se também que a importância dos sacerdotes fosse afectada, as homilias dominicais substituídas pela leitura directa dos textos sagrados. A Igreja de Roma nunca acarinhou a difusão da Bíblia – as escrituras deviam chegar aos fiéis filtradas pela interpretação dos padres. A aposta da Reforma foi outra e o reformismo espalhou-se como fogo em seara seca – cada bíblia impressa e distribuída era como um sacerdote, um missionário – a palavra de Deus levada directamente do produtor ao consumidor. Um avanço tão grande, ou maior, do que aquele que a Internet veio trazer relativamente a anteriores sistemas de informação. Porém, os «papistas», como vemos pelo Tratado de Confisson , temendo o invento de Gutenberg, não desdenharam de o usar na formação dos seus quadros.

Autores americanos, como Dan Brown, começaram a lançar as suas obras simultaneamente em versão impressa e em versão electrónica, no formato e-book. A empresa Netronix, de Taiwan, promete já para o fim deste ano modelos com telas sensíveis a toques. A holandesa Polymer vision projecta um leitor electrónico portátil, com tela que pode ser enrolada. O Kindle, da Amazon, anuncia nova versão ainda mais portátil e com uma capacidade muito superior, podendo ser consultado em qualquer sítio. Não nos podemos deslumbrar com estes novos instrumentos de leitura e de difusão de ideias.

Não se devem deslumbrar os adeptos das novas tecnologias, nem atemorizar os que amam os livros, receando a sua morte. O próprio nome – livro - derivado do latim «liber» contém uma lição a reter, pois significa o entrecasco da árvore. Não remete para a funcionalidade de um instrumento, mas para um material. Em diversas civilizações (entre os maias, por exemplo) o entrecasco da árvore foi utilizado como suporte de escrita, embora não existam dados que permitam assegurar que na Grécia ou em Roma essa utilização tenha existido.

Mais que o liber, foi o «codex», o lenho da árvore, que forneceu material para registos escritos. As tabuinhas de madeira, enceradas ou não, foram utilizadas por um período que vai da Antiguidade até finais da Idade Média. O papiro, um novo suporte, entrou no mundo grego por volta do século VII a.C. O pergaminho, técnica de tratamento dado à pele curtida de animais atribuída à cidade de Pérgamo, terá surgido no século III a.C. e foi utilizado durante bastante mais de um milénio, até que se generalizou o uso do papel.

Contudo, o aparecimento de um suporte não significa o desaparecimento imediato do outro. Tradição e inovação coexistem até que a inovação se transforma, por seu turno, em tradição. Como vemos, os suportes vão sendo alterados por razões pragmáticas - porque um novo suporte supera as limitações do anterior. E alteram-se em função das exigências que a sociedade vai colocando. A tabuinha correspondia a uma cultura de oralidade, era um simples auxiliar da memória, pois era na memória dos rapsodos que se arquivava o conhecimento.

A Internet está-nos a transformar-nos em ciborgues – muito do nosso saber não precisa de ser memorizado, pois em segundos podemos recuperar informação sobre qualquer tema. O computador está a converter-se numa indispensável prótese do cérebro. Não me admiraria que, no futuro, o ensino deixasse de obrigar a acumular conhecimento, passando a habilitar à gestão e utilização do conhecimento armazenado e disponível.

O livro impresso tem a morte anunciada. Nada é eterno, como sabemos. Parece-me, no entanto, ainda não ter nascido um suporte de escrita que o possa substituir integralmente. Em todo o caso, podemos reflectir. Penso, lá mais para diante, organizar uma série de debates aqui no Estrolabio sobre a problemática do livro. Um deles terá este tema central: o livro impresso perante a ameaça das novas tecnologias.
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Segunda-feira, 31 de Maio de 2010

'Não Contem com o Fim do Livro', - diz-nos Umberto Eco

Carlos Loures

Umberto Eco, o ensaísta e escritor italiano deu há dois meses atrás uma entrevista a um jornal brasileiro a propósito do lançamento de uma edição da sua nova obra Não contem com o fim do livro. O apego de Eco ao livro em papel – a sua biblioteca conta com cerca de 50 mil volumes – levaram-no a aceitar o desafio que, Jean-Claude Carrière lhe lançou – o de debaterem a perenidade do livro, com vista à publicação de… um livro Não Contem Com o Fim do Livro. ´(N'espérez pas vous débarrasser des livres).

De modo algum tenciono transcrever a entrevista que está disponível na Internet e foi publicada em numerosos jornais. Vou apenas salientar uma ou outra afirmação do escritor e semiólogo. Contestando a anunciada morte do livro afirmou que o desaparecimento desse suporte de escrita é uma obsessão de jornalistas que lhe fazem a pergunta há 15 anos. «Para mim, o livro é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objecto que, uma vez inventado, não muda. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído. O livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação. Os electrónicos chegaram, mas percebemos que sua vida útil não passa de dez anos» (…) «quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler as antigas disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos?».


O jornalista pergunta-lhe que diferença existe entre os conteúdos disponíveis na net e o de uma grande biblioteca. Eco diz: «A diferença básica é que uma biblioteca é como a memória humana, cuja função não é apenas a de conservar, mas também a de filtrar - muito embora Jorge Luis Borges, no seu livro Ficções, tenha criado um personagem, Funes, cuja capacidade de memória era infinita. Já a internet é como esse personagem do escritor argentino, incapaz de seleccionar o que interessa - é possível encontrar lá tanto a Bíblia como Mein Kampf, de Hitler. Esse é o problema básico da internet: depende da capacidade de quem a consulta. Sou capaz de distinguir os sites fiáveis de filosofia, mas não os de física. Imagine então um estudante fazendo uma pesquisa sobre a 2.ª Guerra Mundial: será ele capaz de escolher o site correcto? É trágico, um problema para o futuro, pois não existe ainda uma ciência para resolver isso. Depende apenas da vivência pessoal. Esse será o problema crucial da educação nos próximos anos.»

E quando lhe pergunta se pode existir contracultura na internet, responde «Sim, com certeza, e ela pode-se manifestar tanto de forma revolucionária como conservadora. Veja o que acontece na China, onde a internet é um meio pelo qual é possível manifestar-se e reagir contra a censura política. Enquanto aqui as pessoas gastam horas conversando, na China é a única forma de se manter em contacto com o resto do mundo».

Num determinado trecho de Não Contem Com o Fim do Livro, Eco e Jean-Claude Carrière discutem a função e preservação da memória - que, como se fosse um músculo, precisa ser exercitada para não atrofiar. «De facto, é importantíssimo esse tipo de exercício, pois estamos perdendo a memória histórica. A minha geração sabia tudo sobre o passado. Eu posso pormenorizar sobre o que se passava em Itália 20 anos antes do meu nascimento. Se se perguntar hoje a um aluno, ele certamente não saberá nada sobre como era o país duas décadas antes de seu nascimento, pois basta clicar no computador para obter essa informação. Lembro-me de que, na escola, era obrigado a decorar dez versos por dia. Naquele tempo, achava uma inutilidade, mas hoje reconheço a sua importância. A cultura alfabética cedeu o lugar às fontes visuais, aos computadores que exigem leitura em alta velocidade. Assim, ao mesmo tempo que aperfeiçoa uma habilidade, a evolução põe em risco outra, como a memória».

Continuaremos a falar deste tema - vai o livro sobreviver ou não? Eco diz-nos para não contarmos com a morte do livro. Acho que tem razão.
publicado por Carlos Loures às 12:00
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