enviado por Júlio Marques Mota
Albert Einstein terá um dia declarado que a loucura consistia em fazer e refazer a mesma coisa e com isso esperar obter resultados diferentes.
Na base deste critério, o acordo que está quase concluído com a Grécia parece insensato. A sua única justificação é que se tem necessidade de ganhar tempo. É uma má estratégia. É necessário tomar medidas mais radicais.
A questão que é necessário colocar-se a respeito da Grécia não é tanto saber se vai assumir uma situação de incumprimento mas sim de saber se esta situação quando se der será suficiente para voltar a dar uma saúde razoável à economia grega. Duvido fortemente. O país parece demasiado pouco competitivo para que isto lhe sirva como resposta. A situação de incumprimento é uma condição necessária mas não suficiente para um regresso à boa saúde económica.
Os resultados na Grécia e no âmbito do programa concluído em Maio de 2010 com o Fundo Monetário Internacional (FMI) é extraordinariamente impressionante. Mas não teve êxito em tornar país de novo solvente.
O “spread” (desvio de taxas) entre as obrigações gregas e as alemãs com a maturidade de dez anos passou de 460 pontos base (4,6 pontos de percentagem), depois do programa ter sido anunciado, para 1.460 pontos de base, ou seja, 14,6%.
A mesma coisa para a Irlanda e para Portugal
A mesma coisa, ou quase , se passou com a Irlanda e Portugal. Mais perigoso ainda, mesmo os spreads espanhóis atingiram 270 pontos base. A Grécia, a Irlanda e Portugal não têm nenhuma possibilidade de poder, num futuro próximo, conseguir contrair empréstimos nos mercados a taxas suportáveis.
O que há de particularmente deprimente no caso da Grécia é que este alargar dos spreads se verificou apesar de desempenhos satisfatórios.
O programa original partia da hipótese que o produto interno bruto (PIB) grego cairia 4 % em 2010, seguidamente de 2,6% em 2011.
De acordo com o balanço publicado em Março, os números reais revelaram-se apenas ligeiramente superiores, ou seja respectivamente 4,5% e 3%.
O défice público estava previsto à partida à 8,1% do PIB para 2010 e 7,6% para 2011. De acordo com este mesmo balanço de Março de 2011, o défice atingiu apenas 9,6% em 2010 e 7,5% em 2011.
INSUFICIENTE POR QUATRO RAZÕES
Mesmo no que diz respeito ao défice das contas correntes, os 10,5% registados em 2010 e os 8,2% previstos para 2011 no balanço de Março passado são dificilmente piores que as previsões iniciais, respectivamente de 8,4% e 7,1%. Infelizmente, está muito longe de ser suficiente, por quatro razões.
Em primeiro lugar, o perfil da dívida, que era já de loucos , ainda se agravou: o programa inicial previa que o rácio da dívida bruta em relação ao PIB atingiria um PICO de 149% do PIB em 2012. Ora, de acordo com o balanço de Março passado, já terá atingido 159%.
Além disso, a economia grega parece extraordinariamente não competitiva. O indicador mais impressionante é a combinação de um défice ainda enorme das contas - correntes e uma profunda recessão. Este défice externo já não pode continuar a ser financiado pelo mercado.
Em terceiro lugar, constata-se que as perspectivas relativas ao défice das contas - correntes degradam-se claramente: à partida, o FMI previa que o défice se estabeleceria em 2,8% do PIB em 2014; no seu balanço de Março de 2011, fixa-o agora em 5,5% do PIB.
Em quarto lugar, e por último, sem um forte aumento das exportações, será impossível à Grécia renovar com um crescimento sustentado. Ora tal aumento exigirá uma forte redução dos custos nominais.
Ainda que isto seja possível, o que eu duvido, desta hipótese resultaria então um novo aumento do rácio da dívida em relação ao PIB.
O cepticismo do mercado quanto à capacidade da Grécia voltar a ser solvente é justificado. Este assenta sobre a tomada em consideração de dois factos: a dívida maciça e a falta de competitividade.
O facto de que o povo grego não queira suportar as consequências dolorosas torna completamente inconcebível o que era já pouco provável.
Neste caso, o que é que justifica que se seja fortemente teimoso em atribuir novos empréstimos se, ao fazê-lo, se faz deslocar uma parte crescente das dívidas do governo grego sobre as contas do sector público? Vejo quatro argumentos.
AJUDA-SE OS SEUS PRÓPRIOS BANCOS
O primeiro é que esta estratégia esconde a situação dos credores privados. É muito menos embaraçoso declarar que se ajuda a Grécia enquanto que realmente se está a ajudar os seus próprios bancos. Se os credores privados dispuserem de suficientemente tempo, poderão vender os seus empréstimos ao sector público ou registá-los como perdas e lucros sem injecções de capitais por parte dos Estados.
O segundo argumento é que a estratégia de estar a retardar permite a outros países de se colocarem eles-próprios em ordem antes de uma declaração de incumprimento grego e, talvez, de uma saída em catástrofe da zona euro. Se estes acontecimentos se produzissem agora, teme-se, assistir a um desfazer maciço da dívida soberana e a uma corrida sobre os bancos nos países frágeis, com efeitos devastadores.
O terceiro argumento é o de que é possível que a Grécia se livre ainda. Atribuir o máximo de apoio ao país torna pelo menos essa hipótese praticável.
O quarto argumento é que o FMI considera que a Grécia registará um défice orçamental primário (sem o pagamento dos encargos, os juros, da dívida) de 0,9% do PIB este ano. Assim a transferência líquida de recursos far-se-á com vantagem para o sector público grego. Tanto quanto for assim, e é por agora assim, uma situação de incumprimento não tem nenhum sentido.
Em termos aproximados, estes argumentos são convincentes de acordo com uma ordem crescente.
O primeiro argumento foi utilizado para justificar a política da recusa que precipitou a América Latina na sua “década perdida” dos anos 80. O argumento parecia imoral à época e ainda o parece hoje . As perdas devem ser reconhecidas e os bancos devem ser recapitalizados.
O segundo argumento parte da hipótese que a posição grega continua a ser misteriosa. É no entanto evidente que a desobrigação em relação a outras jurisdições frágeis está já a ser feito.
O terceiro argumento não é ridículo, mas uma tal saída feliz parece improvável tendo em conta a situação na qual se encontra a Grécia.
O último argumento é justo. Mas vale para uma curta suspensão, não para uma batalha prolongada.
No caso grego, a saída parece inevitável. Não vejo qual a vantagem que haveria em que a Grécia declarasse a situação de incumprimento no que diz respeito ao seu sector público ao fim de anos longos de grandes esforços em vez de o fazer face ao seu sector privado nos próximos meses.
O melhor seria agir de maneira preventiva. Um dos aspectos desta prevenção consistiria em consolidar os outros membros e sistemas financeiros frágeis da zona euro. Num caso pelo menos, o da Irlanda, isso deverá sem dúvida passar por uma reestruturação da dívida. Mas isso exigirá também que se progrida para um sistema financeiro único para o conjunto da zona euro, com um apoio orçamental correspondente.
Mas a principal exigência do momento é a de reconhecer a desagradável realidade.
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Chegou a hora de obrigatoriamente reconhecer a dura realidade a que a Grécia está a ser sujeita e de agir imediatamente sobre as consequências que terá para os seus parceiros.
Martin Wolf, Grèce : l'Europe joue la montre, LE MONDE ECONOMIE | 27 de Junho de 2011
(texto enviado e traduzido por Júlio Marques Mota)
Dívida grega: a União Europeia e o FMI querem esmagar a resistência dos povos indignados
A União Europeia e o FMI puseram o cutelo sobre o pescoço do Parlamento grego : devem votar urgentemente o terceiro plano de austeridade e de privatizações de um ano, mais draconiano ainda que os precedentes, ou então cortar-se-ão os víveres à Grécia que assim deixará de poder pagar aos seus funcionários.
A mensagem é clara: a finança europeia não tem nenhuma intenção de ceder face aos movimentos sociais que se desenvolvem na Europa do Sul e que estão na origem das manifestações espectaculares deste fim de semana na Espanha e na Grécia. Os governos grego, espanhol ou português são intimados a esmagar sob uma austeridade implacável as suas populações que contra estas politicas se indignam. É necessário fazer da Grécia um exemplo para dissuadir os outros países de levantarem a cabeça.
Cada um sabe no entanto que a dívida pública da Grécia é insustentável: todos os observadores, e mesmo os economistas dos bancos, o reconhecem e o afirmam. As políticas de austeridade colocam a Grécia - mas também a Espanha, a Irlanda e Portugal… - face a uma crise social dramática sem lhes estar a oferecer nenhuma perspectiva de estabilização económica. Os sucessivos cortes orçamentais não permitem de modo nenhum reduzir o défice, porque mais as despesas públicas se reduzem mais as receitas se reduzem-se elas também devido ao agravamento da recessão.
É por isso que “as elites” européias estão divididas. O governo alemão é pressionado por uma opinião pública que não compreende porque só os contribuintes europeus são solicitados a pagar. Esta quer que os credores privados da Grécia - geralmente os bancos europeus - assumam uma parte do custo. Um tal reescalonamento parcial da dívida não procuraria poupar o povo grego; mas antes teria a função de tornar “ duradoura” a cura de austeridade que lhe é imposta, evitando um desmoronamento a curto prazo.
Mas, sob as ordens de Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu e de John Lipsky, o Director Geral adjunto do FMI, a União Europeia vetou este modesto empurrão proposto por Berlim. Lipsky repreendeu os dirigentes alemães, tratando como “criancices improdutivas ” as discussões em redor de uma contribuição do sector privado. Nicolas Sarkozy apoiou sem condições a linha dura do BCE e do FMI que consiste em impôr imediatamente uma prova de força contra os movimentos de resistência. Esta escolha, se for confirmada, empurraria a Grécia para a situação de incumprrimento e tornaria inevitável uma grande crise bancária e financeira a curto prazo. Cegueira dogmática ou bluff cínico? Trata-se talvez e sobretudo de uma verdadeira declaração de guerra feita pela finança ao Estado social na Europa, onde a Grécia é o primeiro elo da cadeia.
Perante esta declaração de guerra, os movimentos sociais europeus devem organizar uma mobilização geral em apoio ao povo grego. Para além da solidariedade internacional, trata-se de uma causa imediatamente comum: a derrota do povo grego tornaria mais difícil a resistência espanhola e abriria o caminho à generalização dos planos de hyper-austeridade que quer impôr o pacto para o Euro e, destes, os seus principais instrumentos serão votados ma quinta-feira no Parlamento Europeu.
Attac France, com a rede Attac da Europa com quem se reuniu na Grécia a 18 e 19 de Junho, exprime o seu apoio e a sua solidariedade com os movimentos sociais e os cidadãos indignados da Europa. Com eles, Attac exige a criação de mecanismos de auditoria do cidadão sobre as dívidas públicas, que mostrará o carácter ilegítimo de uma larga parte destas dívidas e abrirá o caminho à sua denúncia. As populações não têm que pagar a falência da finança. Attac France organiza esta quinta-feira em Paris uma reunião pública com representantes dos partidos políticos de esquerda presentes no Parlamento Europeu, para denunciar o pacto para o Euro e debater as alternativas para a hiper-austeridade e a ditadura da finança.
Attac França,
Paris , 21 de Junho de 2011
Aos leitores de estrolábio, um texto aqui vos deixo.
Tal como o FMI organizou a queda da Argentina em 2001, está agora a caber a vez ao país berço da nossa democracia, a Grécia . Andam ladrões à solta, andam muitos criados ao serviço destes ladrões pelos bolsos de todos nós a sacar, andam polícias a demitirem-se das sua funções de zeladores da coisa pública para se transformarem em guardas públicos da coisa privada e assim os capitais continuam a fugir da Grécia até esta cair completamente exangue, mas há liberdade de capitais, claro! E até, pasme-se, o Financial Times vem protestar contra o facto de que "na sua "grande sabedoria ", a zona euro tenha decidido que as perdas dos credores do sector privado tenham que ser socializadas ... e o fardo final tenha de ser assumido pelos contribuintes dos países deficitários. " Liberdade de uns receberem, obrigação de outros pagarem, liberdade de uns se movimentarem, os capitais, obrigação de outros se fixarem, os contribuintes, é esta a liberdade da Eurolândia, são estas as características do seu reino por um incompetente dirigido que dá pelo nome de ser português.
Nada vai bem na zona euro. A Grécia está na berlinda um ano depois de ter sido salva pelo programa imaginado pelo FMI e pela Comissão Europeia. A Espanha está numa corda bamba e a Itália foi colocada sob vigilância pela Standard and Poor’s . Os deputados do CDU estão em rebelião contra Angela Merkel, que sofre derrota eleitoral após derrota eleitoral. O seu ministro das Finanças, que tinha agitado os mercados financeiros evocando publicamente um reescalonamento da dívida grega, acaba de mudar de opinião. Jean-Claude Trichet reage agressivamente contra Jean-Claude Juncker que defendia a hipótese “re-perfilar ” a dívida grega e o BCE ameaça mesmo vir a deixar de alimentar os bancos gregos. Um responsável deste país indica que, neste caso, seria necessário deixar a zona euro. Eis pois, aproximadamente, o estado das coisas que resultam da notável solidariedade europeia prometida por Angela Merkel e por Nicolas Sarkozy. Há então sérias razões para nos questionarmos.
Porque é que o défice grego não se reabsorve?
A Comissão prevê um défice de 9,5% do PIB em 2011 e de 9,3% em 2012 depois de 10,4% em 2010. Não é por falta de esforços pela parte do governo. De acordo com a última avaliação dos progressos conduzida pelo FMI datada de Março último, lê-se : “ A economia evoluiu como previsto, com uma baixa de 4,5% do PIB em 2010, uma taxa de inflação que continua a ser fraca, e com custos unitários do trabalho que começam a descer . Face a estes ventos contrários, as autoridades terminaram com um ajustamento orçamental de 5,75% em 2010. ” Explicação destes cálculos em aparência contraditórios: o governo apertou fortemente a tarraxa ( os 5,75%), mas a recessão é profunda (os -4,5%) e sem fim, precisamente, devido a este ajustamento precipitado. De repente, as receitas orçamentais reduzem-se e… o défice realmente não se reabsorve (- 9,5%).
O que fazer agora?
Para o FMI e para a Comissão, é necessário fazer mais e ainda melhor . “A Grécia progrediu em direcção dos seus objectivos [os que lhe foram impostos como condição do empréstimo], e as reformas orçamentais e estruturais necessárias são levadas a efeito gradualmente . Contudo, reformas essenciais devem ainda ser preparadas e levadas a prática para construir a massa crítica necessária à sustentabilidade orçamental e à retoma económica. ” Por outras palavras, é necessário ainda continuar a apertar a tarraxa ou o cinto, o que é equivalente. Mas se as medidas do ano passado prolongam a recessão e não permitem de modo nenhum reduzir o défice, como previsto pela Comissão, o que fará a Grécia num ano? Apertar ainda mais o cinto. Continua-se a aplicar um remédio que enfraquece ainda mais o doente já de si muito fraco.
Porque é que os Alemães quebraram o tabu da reestruturação de dívida?
Como o défice não se reabsorve e porque o governo grego não pode mais vir a contrair empréstimos nos mercados financeiros internacionais, é necessário que o FMI e a Europa continuem a conceder empréstimos. A Alemanha, sendo o primeiro mutuante dos fundos em questão, daí que uma surda inquietação comece a aparecer além-Reno (mas não em França onde, aparentemente, a opinião pública não se preocupa com o montante destes empréstimos). Uma reestruturação reduziria o montante dos empréstimos suplementares a realizar, o que aliviaria a pressão sobre Merkel.
O que é uma reestruturação?
Incumprimento, reescalonamento, diminuição de dívida, etc. são diversos meios para reduzir uma dívida. Como um país não pode ser colocado na prisão, pode decidir de maneira unilateral não reembolsar a totalidade da sua dívida pública. É ilegal mas é um facto de príncipe. Os seus credores têm poucos recursos de oposição e a sua melhor opção é, em geral, negociar o que irão perder - “ haircut ” como se diz deliciosamente em inglês ou a tesourada como se diz em bom português. Que isto assuma a forma de pagamentos diferidos, uma baixa da taxa de juro ou uma redução directa da soma devida, há incumprimento desde que os termos iniciais sejam unilateralmente alterados. Certos responsáveis políticos falaram de reescalonamento “ voluntário e bem organizado”. É uma pura ficção. Os credores, e há dezenas dos milhares ou mesmo muito mais, nunca serão voluntários e alguns batem-se com energia negociando de forma muito dura e recorrendo aos tribunais. De repente, o procedimento é desordenado, longo e complicado.
Que pensam os mercados financeiros?
A opinião geral, mas não unânime, é a de que a Grécia não escapará a uma reestruturação. Os mercados são habituados a estes acontecimentos e preparam-se. Uma parte dos bancos e os investidores que detinham a dívida grega desfizeram-se dela , frequentemente a sofrerem perdas moderadas; agora estão posicionados para ganharem dinheiro quando isso se produzir. Outros quiseram evitar perdas a revender e estão agora inquietos. Ninguém duvida que estes mantêm a angústia dos governos de modo a que o contribuinte os venha salvar da sua aposta. Ganham-se hábitos.
Porque é que a França se opõe a uma reestruturação?
Segundo a linguagem oficial afirma a Europa não é a América Latina, a solidariedade não é uma palavra vã e o remédio corre o risco de ser pior que o mal porque existe um risco de contágio. O contágio é possível, com efeito. Resta uma outra interpretação, perfeitamente hipotética. Os bancos franceses (e alemães) parecem deter uma parte da dívida grega e poderiam vir a ter grandes prejuízos . Se estes bancos estão menos sólidos do que o que se pensa , poderiam ficar ainda mais seriamente destabilizados , e ainda mais se houvesse contágio. Mas a informação sobre estas questões não está disponível, pode-se apenas imaginar o pior.
Porque é que o BCE é violentamente contra uma reestruturação?
O BCE está em dificuldades e por muito tempo, sobre esta questão . Às advertências sucedem as ameaças. Como toda gente, o BCE teme o contágio. Este também avisou que o sistema bancário grego se desmoronaria, o que é possível, mas não seria dramático. Com efeito, se o governo reduz a sua dívida, digamos, de 50% do PIB e que deve então situar-se sobre a linha de água , ou seja (nacionalizar ) o sistema bancário por um custo de aproximadamente 20% do PIB, o ganho fica então de 30% do PIB, uma bela operação financeira.
As angústias do BCE podem estar num outro lugar. Desde Maio de 2010, sob uma pressão intensa dos governos, comprou muitos títulos das diferentes dívidas públicas. Cuidadoso, aplicou um haircut da ordem de 20% mas os incumprimentos em série deixá-lo-iam com perdas muito substanciais. Certamente seria recapitalizado pelos governos, mas o Banco Central Europeu teme uma perda vertiginosa do seu prestígio, já colocado em maus lençóis pelas suas compras não muito voluntárias de dívidas, e mais geralmente, por um aumento do cepticismo no que diz respeito à moeda única. As suas advertências soam como um sinal de pânico, dando a ideia de que terá com o dedo imprudentemente accionado uma engrenagem que não controla.
Quem decide ?
A Grécia é um país soberano e é ela que decidirá. Desde o início da crise, os seus parceiros europeus ditam-lhe o caminho a seguir e esta aceita estas injunções na esperança evidente de vir a ser ajudada, ainda que as ajudas não sejam dons, é necessário recordá-lo, mas sim empréstimos que aumentam a sua dívida. Como todos os outros, o governo grego pesa os prós e os contras das suas opções. Uma declaração de incumprimento dar-lhe- -ia para respirar um momento e permitir-lhe-ia aliviar a pressão sobre a sua população. Mas a decisão poderia tornar-se inevitável se os Gregos acelerassem o movimento, de momento lento, de retirada de fundos dos bancos, informados que estes estão pelo BCE que o sistema bancário pode desmoronar. O voluntarismo político quebra-se frequentemente contra o rochedo da dura realidade
A propósito dos cenários da Standard & Poors- um comentário
De que falamos nós? De que nos fala este texto. Dos testes de resistência ao sistema bancário, à economia, à Europa , no caso de, no caso de haver uma drástica menor apetência por títulos soberanos europeus, no caso de se dar um forte aumento de taxas de juro para captar esses mesmos fundos renitentes a serem investidos na Europa, na Europa trancada pelas Instituições Europeias, pelos Durão Barroso, pelos Herman van Rompuy, presidente da União Europeia, pelos Jean-Claude Juncker, actual presidente do Eurogrupo mas que mais parece o representante de um paraíso fiscal bem determinado, o Luxemburgo que, fruto da globalização, trocou a dureza de produzir aço por cofres fortes, mesmo que virtuais, os cofres de um verdadeiro paraíso fiscal.
Testes de resistência ao sistema bancário. Crises da dívida soberana, crise do sector imobiliário, recessão económica, forte desvalorização do dólar, trata-se de simular a introdução destes factores de risco sobre o sistema bancário e ao nível da simulação observar como é que ele resiste ou onde é que estão os pontos fracos do sistema. Mas também é preciso ser-se sério e não nos parece que nem o sistema nem a estrutura dos testes o tenha sido. Basta-nos ver o que aconteceu com a Irlanda. Depois dos bons resultados dos testes serem publicados, os bancos irlandeses eram ultrapassados pela crise do imobiliário! Um desastre que a transparência que os testes assegurariam não permitiu prever, e mesmo para mau entendedor, basta. Nos casos que agora se irão passar, a Autoridade Bancária Europeia, EBA, vai estudar o impacto de uma redução na taxa de crescimento de 0,5 por cento na zona Euro, 0,2 em 2012, Considerarão uma queda do valor das acções em 15 por cento e nestas simulações o dólar cairá de 4. Admitir-se-á uma depreciação ( haircuts ) da dívida grega e irlandesa e actualmente a EBA debate-se com um problema curioso mas extraordinariamente importante:, que é saber o que é deve ser considerado como capital. Até a este nível o neoliberalismo descapitalizou as nossas cabeças, as deles, pelo menos.
No caso presente dos testes deste texto, a Standard é clara:
“Na nossa análise de cenários, que se estende por um período de cinco anos, de 2011 a 2015, um choque em três fases. Na primeira fase, a taxa de rentabilidade financeira aumentará para níveis equivalentes aos das aflitivas taxas que se observaram sobre os devedores que eram considerados como sendo os de maior risco desde que o Lehman entrou em situação declarada de falência em Setembro de 2008, na sequência do fluxo de notícias negativas persistentes vindas das economias da UE. Na segunda fase, o acesso ao refinanciamento deteriorar-se-á ainda mais, especialmente na periferia da zona euro e para os países mais vulneráveis. A terceira fase deste cenário hipotético assume que as economias da Europa Ocidental – mais especificamente, Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha - são atingidas por uma recessão muito severa.”
E continuam:
Aos visitantes do estrolábio
Depois de ter lido as declarações do Ministro finlandês das Finanças, Jyrki Katainen, que passamos a reproduzir : “ se fizermos o nosso trabalho como deve ser com Portugal, o risco com a Espanha tornar-se-á ainda menor”, lembrei-me de um texto escrito para o estrolábio sobre a Europa em 2013 igual à de 2011. Ao apresentar o referido texto aos meus alunos, pedi-lhes publicamente desculpa por um ou outro apontamento político que saía da esfera estritamente académica, mas o texto tinha sido concebido para um blog e eu não estava disponível para academicamente o censurar. Foi assim. Não imaginava, depois, que o senhor ministro finlandês validava, com as afirmações acima, o rigor cientifico do texto citado e ai, não só anulava a razão para o meu pedido de desculpas como invertia a situação: o texto pecava como ser politicamente limitado, por não ir ao fundo político da questão. Declarações como as do ministro acima nada têm a ver com a democracia, com o respeito pela soberania dos povos. Têm a ver com o quê?
Depois de ter lido o comunicado do Eurogrupo e dos ministros de Ecofina onde claramente se mostra que as Instituições Europeias viram as costas à democracia ou fazem dela apenas um espantalho para os pardais verem, sublinho pequenos excertos desse comunicado:
“deverão (…) chegar a um acordo entre partidos garantindo que um programa de ajustamento pode ser adoptado em meados de Maio e aplicado rapidamente a seguir às eleições”. Então eleições para quê, se o programa político é imposto antes.
“ um ajustamento orçamental ambicioso deve restaurar a sustentabilidade orçamental”
“Reformas que estimulem o crescimento e a competitividade através da superação da rigidez nos mercados de produtos e do mercado de trabalho”
“Isto deve incluir um ambicioso programa de privatizações” como na Grécia, talvez. Pelos vistos quer-se também cá, quer-se Portugal à venda e possivelmente em saldo, dada a urgência e a escassez de recursos..
Depois de ler tudo isto, fui ler Pacheco Pereira, intelectual que muito prezo, excepto quanto às questões da guerra contra o Iraque ou do seu apoio explícito à destruição do ensino secundário em Portugal, operado pelo governo de Sócrates sob a batuta de Maria de Lurdes Rodrigues, e esse artigo tinha como título: Vergonha.
Pensava que Pacheco Pereira se ia envergonhar deste espectáculo que as Instituições Europeias estavam a dar e a impor a toda a Europa. Mas não, Pacheco Pereira, também ele passava ao lado do fundamental da crise e, para nós, esta crise e a forma como as Instituições Europeias lidam com ela, mostra-nos os ministros mais como altos funcionários de um qualquer Governo estabelecido pelas grandes instituições financeiras privadas do que ministros saídos de governos democraticamente eleitos. Disso, eu sinto vergonha. Mas afinal, de vergonha falamos, mas não falamos da mesma coisa.
Depois de ter lido Pacheco Pereira, proponho aos leitores de Estrolábio um documento que se posiciona exactamente no centro das questões fundamentais da crise e das vias para dela sair. Fala-nos da crise da Europa, da crise do seu modelo, da crise das suas Instituições, que assim nos leva a considerar que é a própria democracia que se pode sentir ameaçada. Um documento de Dominique Plihon, dos Economistas Aterrados, já participante na Iniciativa Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC, e normalmente um dos conselheiros da referida iniciativa. Um texto sobre a necessidade da reestruturação das dívidas soberanas a apresentar segunda e terça-feira, no estrolábio.
Coimbra 10 de Abril de 2011.
Júlio Marques Mota
PS: ler documento de Dominique Plihon (23 horas de hoje)
Enviado por Julio Marques Mota
A senhora Merkel disse na conferência de imprensa da Cimeira que a sua única concessão — a de que o MEE pudesse comprar dívida soberana no mercado primário — não alteraria muito as coisas. Tem completamente razão. O mecanismo de apoio financeiro como foi agora concebido é um serviço de apoio e nada mais. No sábado de manhã do dia 12 de Março, na União Europeia obteve-se um acordo que a coloca num verdadeiro purgatório entre o resgate financeiro e o incumprimento, enquanto ela vive mergulhada na confusão e na desordem, numa crise sem fim, nós caminhamos para uma situação talvez equivalente à da República de Weimar, para o período que antecedeu o crescendo de diversos ismos na Europa que ninguém deseja ver repetir. Estamos longe é certo, estamos a tempo de a todos eles impedir. Façamo-lo, então.
A terminar este pequeno trabalho sobre esta Europa, confundida, perdida, pelos mercados impelida, e que à beira do abismo se encontra bem sentida, vem-me à memória ecos do século XIX do que são os mercados à solta, à solta como agora. Uma nesga, um descuido, a miragem de lucros, e como na finança, sublinhe-se o que Cavaco Silva não quer perceber como economista, não se geram lucros, confiscam-se, usurpam-se, roubam-se aqueles que com o seu trabalho o rendimento criam. Uma nesga, um descuido, uma desregulação e aí estão os mercados ao assalto da economia real, na absorção do rendimento que nesta é criado. Um roubo, é simples, é assim a alta finança, a alta especulação, é uma transferência, dirá o prémio Nobel Joseph Stiglitz com alguma ironia. Não terá sido também assim com o BPN da nossa recente memória, onde houve gente que muito dinheiro ganhou mas que afinal se descobriu depois que foi apenas dinheiro que alguém embolsou e que dessa maneira foi todo um povo que se ludibriou? Claro que foi assim.
Uma história que tomo a liberdade de contar.
A 6 de Outubro de 1871 deu-se em Chicago o grande incêndio, “the Chicago Great Fire”, que destruiu entre outras coisas o centro dos mercados da cidade e dos Estados Unidos, o Chicago Board of Trade, cuja capacidade de armazenagem terá passado de 8 milhões de unidades de medida — o alqueire — para 5 milhões. Isto encorajou um especulador John Lyon, um importante comerciante de cereais, a lançar um corner, “prática que consiste em compras de contratos seguidas de acções que impedem estes contratos de serem realizados pelo lado dos vendedores, com a finalidade de lhes extorquir dinheiro”. Lyon associou-se a Hug Maher, negociante de madeiras e depois grande operador no imobiliário, e a F. J. Diamond, um dos maiores corretores do CBOT em cuja lista de clientes estava Munn & Scott, um dos maiores armazenistas de cereais.
Na Primavera de 1872, começaram os contratos de compra de trigo no mercado dito físico, por oposição ao virtual, que é o mercado dos contratos. Começaram-se igualmente a negociar contratos com data de conclusão ou de fecho em Agosto. Em Julho, o preço estava em 1.16-1.18 USD para acabar no final do mês a 1.35 USD. Esta alta do trigo trouxe enormes descarregamentos de trigo a Chicago, da colheita de 1871. Estes descarregamentos atingiam a 15.000 alqueires por dia. A partir de 15 de Julho atingiam 20.000 por dia e esses descarregamentos diários foram aumentando até atingir 27.000 alqueires no princípio de Agosto.
A 5 de Agosto é destruído um outro silo, Iowa elevator, por um incêndio. E por aqui já passava um conflito jurídico com Hugh Maher. Ao mesmo tempo circulavam rumores de que a colheita de 1972 estava atrasada. Os cereais sobem tanto no mercado físico e também a prazo onde certos vendedores de contratos tentam sair das suas posições, anulando-as com novas compras, agora suas, para compensar. O preço atinge em Agosto 1,65 USD. Esta subida dos cereais acelerou o ritmo das colheitas com destino a Chicago. Os agricultores queriam aproveitar-se do preço excepcionalmente elevado do trigo e para isso aumentaram a cadência das colheitas. Conta-se que houve comboios carregados de lanternas para a região a fim de se iluminar à noite os campos de cereais, as searas, para facilitar a colheita, mesmo durante a noite! Imagine-se este espectáculo. Nessa sequência, aumentaram as quantidades de trigo enviadas para Chicago.
Na segunda semana de Agosto, os descarregamentos de trigo alcançaram os 75.000 alqueires por dia para atingir o recorde a 19 de Agosto, com descarregamentos na ordem dos 172.000 alqueires. Refizeram-se inclusive novas rotas de transporte do trigo que passou a ir de Chicago para outros destinos.
Enviado por Júlio marques Mota (continuação de ontem às 20 horas)
Veja-se nesta linha a análise que faz o FMI no seu relatório sobre a Irlanda:
“Os riscos de transmissão específicos para cada país a partir da Irlanda são significativos. A Irlanda tem fortes ligações financeiras com o resto do mundo e a ameaça de contágio da Irlanda pode ser assim importante. Dadas as percepções havidas pelos mercados, os efeitos colaterais para as outras economias periféricas da zona euro podem ser grandes. A Grécia, Portugal e Espanha são os mais vulneráveis à volatilidade da transmissão de um acontecimento na Irlanda. A probabilidade estimada condicional quanto ao perigo sobre pelo menos um outro banco europeu, dado a situação de perigo nos bancos irlandeses, é superior a mais de dois terços. Isto seria em particular o caso dos bancos gregos e portugueses.
Para uma ideia do roubo a que se referem os irlandeses, e palavra utilizada foi exactamente essa, vejamos a tabela dos CDS soberanos aplicados a 15 de Março de 2011:
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Olhe-se para os prémios de risco, a títulos a 5 anos, que se exige a Portugal em 2009 e agora, faça-se o mesmo exercíco para a Grécia e outros. O prémio de risco, apenas esse, é um múltiplo da taxa de crescimento. Se estes valores de CDS não representam um roubo, então que representam eles? Mas se são um roubo, punidos devem ser aqueles que o realizam e sobretudo aqueles que o consentem, e os que o consentem são, primeiro que tudo, as Instituições Europeias e o FMI. O quadro dispensa mais comentários. A ilustração gráfica deste sistema, em que no topo temos os grandes bancos americanos e as agências de rating:
Com esta máquina, com este sistema, assim a hemorragia continua e continuará até que o permitirmos[4]. Impedir estes mecanismos de extorsão aos países mais frágeis é uma necessidade urgente, mas esta é a via para uma outra Europa, a que a Comissão Europeia, as suas instituições regionais e asInstituições Internacionais como o FMI não querem, esta é a via para uma Europa de um outro modelo que não é o de estarem os países uns contra os outros, até mesmo no financiamento da dívida soberana, é a via para a Europa dos cidadãos e não para Europa dos mercados. A opção de uns, a dos nossos políticos, essa está feita, os seus resultados estão bem à vista. Cabe-nos agora a nós, cidadãos fazer a nossa, a de uma outra arquitectura para a União Europeia face aos resultados que desta Europa queremos verdadeiramente esperar e para a qual todos nós, com o que pudermos fazer, teremos muito que contribuir. E o tempo, esse urge.
[4] Nesse sentido, sugiro que se leiam os recentes artigos de Paul Farrel, Tax the Super Rich now or face a revolution e Super-Rich Super-Rich CEOs are killing your retirement.
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continua....
Texto do Professor Mário Nuti
Zona euro, colapso? Muito pouco provável
"Seria tecnicamente possível para um Estado membro sair da zona do euro, mas, politicamente, é tão provável acontecer como é provável um meteorito atingir a Eurotower em Frankfurt" - afirma Barry Eichengreen com bom humor.
Em parte, porque há custos significativos de desintegração monetária. Estes eram enormes na transição pós-socialista da década de 1990, quando o COMECON e a sua moeda, o rublo transferível, se desintegraram , com a URSS e a divisão da área do rublo em 15 países e moedas, com a República Checa e Eslováquia, a abandonarem a República CFSR, acontecendo o mesmo na Jugoslávia, que se dividiu em várias e mais peças do que as cinco iniciais da sua anterior formação de um só país. A devastadora, profunda e prolongada recessão que se seguiu , embora, justiça seja feita, isto se deveu somente a tais processos de desintegração económica e monetária, mas também ao movimento geral através do qual esses países passaram de transacções comerciais estabelecidas no quadro dos respectivos planos económicos a preços previamente estabelecidos para a situação de estarem sujeitos a uma súbita exposição às operações no mercado a preços mundiais e com os pagamentos em moedas estrangeira .
Aqui , as vantagens da divisão da zona do euro seria altamente questionáveis. Os países mais fracos a deixarem a zona do euro e com a correspondente re-introdução de uma moeda nacional não poderiam aliviar o peso da sua dívida nacional, que continuará a ser denominada e paga em euros ou noutras moedas estrangeiras. Estes países podem ou não melhorar a sua competitividade comercial através da desvalorização das suas recém-introduzidas moedas nacionais - além do facto de que a competitividade pode ser melhorada por muitas outras maneiras, se é isto que um país deseja ("desvalorização interna" via contenção salarial, a realização de investimentos que aumentem a produtividade, maior concorrência, etcetera). Também não haveria aqui nenhuma vantagem para os países membros mais fortes, tais como a Alemanha.
Num um artigo para o German Council on Foreign Relations Adam Posen argumenta que a Alemanha tem um interesse intrínseco e directo na prosperidade da zona euro. Alemanha a beneficia em termos de senhoriagem, de redução de custos de transacção, das menores taxas de juros reais possíveis para as suas empresas, de uma influência global reforçada e uma melhorada absorção de choques externos. Esses benefícios aumentam com a dimensão e a diversidade da zona euro, e a chanceler alemã, Angela Merkel, não deve fazer um "pacto de competitividade" dos países da zona euro como sendo a condição para continuar o apoio alemão ao euro.
Na mesma linha, ao longo do ano passado, a perspectiva de desintegração da área euro tem sido um tema frequentemente, embora de forma intermitente, objecto de discussão. O título de um livro de 2010 escrito por Hans-Olaf Henkel, ex-IBM e ex-euro-entusiasta, expressa um sentimento generalizado na Alemanha de hoje: Rettet Unser Geld! (Voltemos à nossa moeda!). Marshall Auerback também explora esta possibilidade num artigo recente, "O que acontece se a Alemanha sai da zona euro?", publicadoo na Levy Economics Institute of Bard College, em janeiro de 2011, em que termina com uma avaliação de advertência não uma recomendação.
"Pelo lado positivo, dada a reputação histórica da Alemanha para a solidez das finanças, o país teria mais possibilidades em aparecer com um Deutschmark forte, um " porto seguro " global para os especuladores em divisas, interessados em encontrar uma moeda que lhes sirva de reserva de valor.
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