Segunda-feira, 21 de Março de 2011

O triunfo dos derrotados – por Carlos Loures

 

Lendo o discurso que, no passado dia 15 de Março, o presidente da República pronunciou na cerimónia de homenagem aos combatentes por ocasião da passagem do 50º aniversário da Guerra Colonial, acto realizado no Forte do bom Sucesso, e passando por alto o estilo cinzento, não pude deixar de notar que sempre se referiu ao conflito como «guerra do Ultramar» e que deixou um conselho para a «geração à rasca»: Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do País com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar».

 

E pensei como é incómodo, após uma revolução em que teoricamente banimos o Estado Corporativo, o fantasma do salazarismo nos surja pela boca do mais alto magistrado da República. Mas , pensando bem, nada tem de estranho – a genealogia do P.S.D. passa pela União Nacional e pela Acção Nacional Popular – Os fundadores, Sá Carneiro, Magalhães Mota e Pinto Balsemão, Miller Guerra, Mota Amaral, eram homens do regime salazarista – queriam modernizar o Estado Novo, reformá-lo a partir do interior, adequá-lo á nova realidade europeia onde os autoritarismos davam mau aspecto.

 

 A designação que o partido que continuou a UN/ANP após o 25 de Abril, adoptou era aceitável – Partido Popular Democrático, pois “popular” e “democrático” são adjectivos tão usados da extrema-direita à extrema-esquerda que perderam todo o sentido, Aquela com que foi rebaptizada - Partido Social-Democrata só pode nascer de duas coisas – ignorância ou má-fé (desejo deliberado de enganar) – e não acredito que tenha sido por ignorância.

 

Sabe-se que a social democracia, definida em poucas palavras, é a ideologia marxista que propugna a transição do capitalismo para o socialismo através de uma evolução gradual do sistema, por oposição aos que defendem a imprescindibilidade de uma revolução para que tal transformação se produza. A Internacional Socialista elegeu a social-democracia como forma ideal de atingir a sociedade socialista, privilegiando a acção política em detrimento da tese do marxismo ortodoxo que confiava em que a degradação do capitalismo conduziria à Revolução Socialista, liderada pelo proletariado.

 

Em suma, teoricamente, o Partido Socialista é social-democrata. De facto, no PS há ainda uma elite de defensores da social-democracia. Porém, como sabemos, o partido está dominado por uma clique sem ideologia que usa a palavra socialismo de forma litúrgica, vazia de qualquer sentido verdadeiramente social-democrata. A última coisa que essa gente quer, seja através de Marx ou Lenine, ou do «revisionismo burguês» de Bernstein e Kautsky, é o advento do socialismo. Mas considerar que gente vinda do salazarismo pode ser designada por social-democrata é para rir (ou para chorar).

 

Ter um presidente da República Portuguesa como Aníbal Cavaco Silva, que nem sequer esconde a matriz ultra-conservadora do seu pensamento é uma consequência da promiscuidade que reina na classe política. Podendo acontecer que em próximas eleições legislativas, antecipadas ou não, este partido que vem na sequência da União Nacional e da Acção Nacional Popular, forme governo.

 

Salazar e Caetano podiam perfeitamente ter concedido a «democracia» ao povo português. Podiam perder algumas eleições, mas acabariam por chegar ao poder. Uma parte relevante das oposições não queria igualdade, justiça social, abolição de privilégios e tudo o que caracteriza uma sociedade socialista. Apenas queriam o direito de livre expressão. Sem polícia política, sem organizações patrioteiras, sem o mau aspecto que tudo isso dá, aí os temos espalhados pelo leque partidário.

 

Mais uma vez, alguma coisa mudou para que tudo ficasse na mesma.

 

 

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 13:00
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Terça-feira, 1 de Fevereiro de 2011

A Social-Democracia , vítima inesperada da crise - por Frédéric Lemaître

(Enviado por Júlio Marques Mota)

Tal como o crime, o teorema era quase perfeito. A direita é o campo do capital, ou seja, do capitalismo. Dado que este está em crise, a direita está igualmente em crise. A esquerda só podia, por conseguinte, ganhar as eleições europeias. Problema: em toda a União, os eleitores votaram com o seu boletim de voto contra a esquerda social-democrata. Será porque os 21 governos de direita não gerem a crise assim tão mal como isso? Sem dúvida. Mas isto não explica tudo, dado que na Alemanha, onde os dois partidos estão no poder, a CDU obtém uma votação bem superior à do SPD. É assim, porque a esquerda não é credível. Quer porque, feito o balanço, este não está a seu favor, quer porque não encarna o futuro. Duas hipóteses que se reforçam, mais do que se excluem.

A primeira é apenas demasiado evidente: a esquerda não gere melhor que a direita. Prova-o a situação catastrófica da Espanha, da Grã-Bretanha e de Portugal, dirigida por socialistas. Sobretudo, o facto de os partidos conservadores serem a emanação política das teses liberais não poderá ocultar que a social-democracia, por oportunismo ou contradição intelectual , não deixou, nestas últimas décadas, de se adaptar à famosa “ lei do mercado”.

É certo: temos o exemplo britânico, que ninguém encarna melhor do que Gordon Brown, principal artesão da desregulação durante os seus dez anos passados no Ministério das Finanças. Hoje o sistema está a romper pelas costuras. Ver os membros do Parlamento outrora mais respeitado do mundo a sujar as mãos no dinheiro como vulgares escroques da City ilustra até à caricatura a deriva dos anos Blair.

A esquerda anglo-saxónica não é a única a ter-se deixado seduzir pelas sirenes liberais. Mesmo os alemães caíram na mesma situação. Como o mostram os votos na Die Linke (a Esquerda – novo partido alemão – com 7,5% dos votos) e no do SPD (20,8%), a mais baixa votação desde a Segunda Guerra mundial, a esquerda alemã nem sempre fez o balanço dos anos Schröder. Deve ela felicitar-se com a ideia de que a política liberal do antecessor socialista de Angela Merkel voltou a dar  à Alemanha a sua competitividade de outrora ou, pelo contrário, deve julgar demasiado pesado o preço pago: desenvolvimento do trabalho precário e emergência de trabalhadores pobres a Ocidente? O SPD não se distinguiu melhor que o seu homólogo francês.

No entanto, o PS dispõe de uma declaração de princípios, adoptada em Junho de 2008. Um documento importante, dado que o partido só se deu a este tipo de exercício por cinco vezes desde 1905. Pode ler-se aí que «ser socialista, é não se satisfazer com o mundo tal como ele é». Ou ainda que «os socialistas fazem uma crítica histórica do capitalismo, inventor das desigualdades, portador de irracionalidade , factor de crises». Mas este documento foi redigido bastante à pressa, em três reuniões. Resultado: tão depressa foi publicado, tão depressa foi esquecido.

Sobretudo, como não sublinhar as contradições do texto e certas reformas conduzidas pelos socialistas? Quem liberalizou os mercados de capitais? Pierre Bérégovoy, ministro das Finanças de François Mitterrand de 1988 à 1991. Quem tornou mais atractiva a fiscalidade sobre as stock-options? Dominique Strauss-Kahn, titular da mesma pasta dez anos depois. Quem, em 2000, julgava que era necessário reduzir o imposto sobre o rendimento, mesmo sobre o dos mais ricos «a fim de evitar a fuga ou a desmotivação dos contribuintes de rendimentos mais elevados»? Laurent Fabius, nas mesmas funções. Que pensa o PS destas reformas? Que elas contribuíram para o sucesso internacional dos grupos franceses e por conseguinte para a grandeza do país? Que são necessários compromissos com o capitalismo que nos rodeia? Que elas participaram nos excessos da finança e no crescimento das desigualdades? Ninguém o sabe. A relação da esquerda com o dinheiro permanece no domínio do ainda não questionado, do não reflectido. Daí a indisposição de numerosos eleitores e militantes. Como por toda a parte na Europa.

Felizmente para ela, a esquerda francesa não conheceu escândalo comparável ao do SPD, quando Schröder passou a ser um (dos ricos) dirigentes de Gazprom, menos de um mês depois de ter deixado o poder. Apesar de tudo, certos percursos individuais de ministros ou de seus conselheiros que estão à cabeça de grandes organismos internacionais ou de grandes empresas privadas (Capgemini, Casino, Cetelem, Lazard, amanhã França Telecom…) baralham as fronteiras entre a esquerda e a direita e desestabilizam a opinião pública.

Tendo em conta o comportamento «de cada um para si» que reina no Partido Socialista, francês, como não pensar que, para numerosos líderes socialistas, o exercício do poder é vivido mais como um acelerador de carreira pessoal do que como uma missão recebida de eleitores preocupados com as mudanças colectivas? Não é por acaso se, apesar dos limites evidentes do simpático apoio, numerosos eleitores de esquerda deram o seu apoio a uma lista conduzida por um eterno rebelde que não ambicionará a chefia do Governo e a um magistrado símbolo da luta contra o dinheiro louco.

Durante vinte anos (1988-2008), a social-democracia pôde, em nome da construção europeia e do euro, fazer aceitar o liberalismo em nome do federalismo. O menos Estado mas mais Europa. Este ciclo conclui-se e, como o prova o empenhamento de certos socialistas em defesa de José Manuel Barroso, a esquerda europeia já não tem nem líder nem programa credível. E nada indica que o rosa e o verde se combinem harmoniosamente.

(LE MONDE | 16.06.09 )

publicado por Carlos Loures às 20:00

editado por Luis Moreira em 31/01/2011 às 21:12
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Quarta-feira, 17 de Novembro de 2010

Um vazio intelectual chamado PSD ou Muito barulho por nada

Carlos Loures


Much ado about nothing, é, como se sabe, o título de uma peça do divino Shakespeare. Vi-a há uns bons vinte anos muito bem encenada e representada no Teatro da Cornucópia, dirigido pelo excelente Luís Miguel Cintra. Para o que quero dizer hoje, a história que a peça conta não interessa; aliás nestes últimos dias, talvez influenciado pela realização do Congresso realizado em Viana do Castelo, tenho procurado no teatro a inspiração para as minhas crónicas. Hoje fui buscá-la ao mestre William.

Penso que a cada facto da actualidade deve ser dada a importância que ele realmente tem e para mim (e se fosse só para mim, não valeria a pena escrever este post). Pois o tema que vou abordar é completamente irrelevante. É o tema dos políticos descartáveis, como são agora as fraldas a que o Eça aludia e cuja substituição aconselhava a bem da higiene.

Diz-se (ou melhor há quem garanta) que Passos Coelho será o futuro primeiro-ministro de Portugal. Será ou não será, mas, mesmo que seja, o que irá isso mudar nas nossas vidas? Passos Coelho é um rapaz emproado, muito convencido da própria importância, a quem nunca ouvi uma frase que merecesse a pena reter. Daquela cabeça nunca sairá uma ideia que se aproveite, vaticino eu. Mas, na sua insignificância intelectual, é um dos tais políticos descartáveisque fazem muito jeito a quem, de facto, manda. Quanto mais ideias tivesse, mais empatava o negócio. Essa gente que decide deve estar hesitante entre um Sócrates que já deu boas provas e um outro que demonstra ter aptidão para o cargo. Os eleitores talvez estejam receptivos a mudar, mas há aquela de que em equipa que ganha não se mexe. E Sócrates já provou aos patrões que é um ganhador. Quando decidirem, dão corda aos papagaios da comunicação social e vai disto.
Os eleitores quando forem votar "livremente"´, já estarão devidamente esclarecidos. Porque isto não é uma questão em que entrem as ideias. Os interesses é que interessam. Os deles. Falemos um pouco desse partido que se autodesigna "social-democrata" e de alguns das suas figuras mais mediáticas.

Do Partido Social Democrata, ou do seu antecessor PPD, nunca saiu uma palavra, um conceito, uma ideia. Marcelo Rebelo de Sousa é um comentador arguto, mas previsível. Pacheco Pereira é um homem de cultura, mas que se perde em labirintos que ele próprio constrói. Intelectualmente, Pedro Passos Coelho, fica muito atrás de qualquer deles. Em suma, o PSD é um deserto de ideias. Dirão, e o PS- Perguntarei qual deles? Aquele onde milita Eduardo Lourenço? O de Soares? O de Sócrates? Sobre cada uma destas sensibilidades, tenho uma opinião diferente. Mas o PS foi ontem – hoje estou a falar do PSD.

Sá Carneiro, a figura de proa do partido, o que disse ele de importante? Este discurso de que o vídeo abaixo se refere, é um exemplo de demagogia acabada, palavras de circunstância ditas numa altura em que usar gravata nos transportes públicos dava direito imediato ao apodo de fascista. É apesar de tudo elucidativo sobre o vácuo que já por ali existia - para comunicar tinham de recorrer à linguagem corrente,com frases que tanto podiam vir da esquerda como da direita - nada de próprio, de original. Do CDS e do PPD à extrema-esquerda quem não abrisse uma intervenção com palavras deste género perdia o direito ao uso da palavra. Onde está a genialidade que nos obriga a suportar o nome deste senhor em avenidas e praças de todo o País?

Comícios aparte, citem-me uma frase lapidar (já nem peço um discurso, um livro, porque não gosto de pedir coisas impossíveis). Lugares comuns, frases de sentido banal e de moralidade óbvia na melhor das hipóteses. Um deserto de ideias, repito, o PSD e o pensamento de Sá Carneiro. Nunca percebi a razão do culto. A única explicação reside na sua morte trágica. Hagiograficamente terá valor, mas é pouco em termos de filosofia política.

Por favor, não extraiam desta apreciação negativa elogios aos outros partidos – estou apenas a falar do PSD, não se infira o que não digo. Embora desde já possa dizer o que toda a gente sabe – o PS tem na sua origem algumas bases de filosofia política (o pior é a prática), o PCP também e é mesmo o mais ortodoxo, o BE é a manta de retalhos que tudo cobre – Enver Hodja, Trotsky, Mao, Greenpeace e os touros de morte de Salvaterra; o CDS… O CDS existe fora dos mercados em época eleitoral? Mas estou só a falar do PSD.

Deliberadamente, não me refiro à personalidade do Passos Coelho. Não me interessa. Dará um primeiro-ministro? Claro que sim. Nem bom nem mau, antes pelo contrário – Pedro Sócrates ou José Passos Coelho - mais um para no dia seguinte ao da sua eleição começar a ser atacado por partidos da oposição, sindicatos, professores, médicos, bombeiros voluntários… Os atletas do tiro ao alvo gostam de mudar a fotografia com que exercitam a pontaria. Já aqui tenho por diversas vezes afirmado o desfasamento evidente entre as designações dos partidos, as suas bases programáticas e a sua prática política. Quando eu era pequeno, havia uns brinquedos, creio que da Majora, com rectângulos de madeira – cabeças, troncos e membros que se tinham de colocar no devido lugar para formar as figuras certas. Pois os nossos partidos parecem o resultado desse jogo feito por uma criança estúpida ou maliciosa – a cabeça de um polícia, o tronco de um crocodilo e as pernas de uma bailarina – ou vice versa.

A propósito do pensamento de Alain Touraine sobre o socialismo, falei sobre a discrepância entre a filosofia política do socialismo e a prática política dos partidos europeus que usurparam esse nome. Falando da social-democracia, eu diria que esta (numa definição sintética de enciclopédia) é uma ideologia política de esquerda surgida, como quase todas elas, no século XIX, como eco da grande revolução de 1789 e na sequência do socialismo utópico que afirmava o princípio da igualdade, da fraternidade e da liberdade, mas não encontrara o caminho para atingir tais objectivos.

A social-democracia surgiu da necessidade de encontrar uma transição pacífica da feroz sociedade capitalista da época, com crianças de cinco anos e mulheres grávidas a trabalhar nas fábricas, para uma sociedade socialista, igualitária, fraterna e livre. Era gente marxista, mas que lutava por uma evolução pacífica, democrática e sem traumas, para o socialismo. O berlinense Eduard Bernstein (1850 - 1932) foi o grande pensador revisionista do marxismo e talvez o principal teórico da social-democracia.

Façamos uma pausa e reconheçamos que este desiderato corresponde ao melhor do objectivo fundacional do PS. Mário Soares e companhia eram, pois, teoricamente, pelo menos, social-democratas. A praxis social-democrata diverge da marxista por defender o primado da luta política, sobrepondo-a à igualitarização social e à imposição de reformas económicas bruscas e traumáticas. Uma transição gradual do capitalismo para o socialismo, portanto. Uma espécie de quadratura do ciclo.

O que li na (quanto a mim paupérrima) obra política de Sá Carneiro não foi nada disto, mas sim a defesa de conceitos neo-liberais, a recusa da luta de classes. A recusa da revolução, portanto. Estou a referir-me a Por uma Social-Democracia Portuguesa (1975) que li há mais de 30 anos.

Tudo seria muito bonito, se o capitalismo não fosse um animal feroz, cioso dos seus interesses, ao ponto de destruir cidades com bombas nucleares para os defender. O reformismo gradual preconizado pela social-democracia, o tal socialismo de rosto humano, é uma coisa bonita como o milagre das rosas, mas impraticável. Porém, o que este partido soit disant social-democrático preconiza nem sequer é isso – defende pura e simplesmente o princípio neo-liberal do cada um que se amanhe, nasces pobre, mas amanhã podes ser milionário e por aí fora.

O que acontece ao PSD não me interessa e só o digo por saber que, verdadeiramente, só interessa a quem faz da política carreira profissional. Porque se o PSD ganhar as próximas legislativas nada de importante mudará nas nossas vidas – o novo governo não voltará atrás com nenhuma das medidas erradas que o actual assumiu e acrescentar-lhes-á outras igualmente lesivas dos nossos interesses. O PSD, diga-se, nada tem a ver com a social-democracia. Os social-democratas, os genuínos, queriam atingir o comunismo sem revolução, através de reformas sucessivas que iriam tornando o capitalismo cada vez menos malévolo. Os social-democratas portugueses não querem nada disso – talvez atingir um welfare state democrático, com um mínimo de perturbações sociais (isto para os mais revolucionários).

Muito barulho para nada.

A seguir: A Visita da Velha Senhora


publicado por Carlos Loures às 12:00
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Terça-feira, 10 de Agosto de 2010

O Risco



Carlos Mesquita

Lendo uma conferência de Anthony Gidens num ciclo da BBC em 1999, descobri algo curioso sobre o “risco”, diz ele que a palavra é portuguesa, inventada durante a nossa História Trágico-Marítima.

Gidens é o teórico da “terceira via” que pretendeu reformar a social-democracia, convencido da prosperidade capitalista e numa globalização solidária; nessa via já se despistaram muitos casmurros que não viram que seguiam por um caminho de cabras, que corria em paralelo com a esburacada auto-estrada do neo-liberalismo, com as mesmas portagens e destino.

O risco está associado à ideia de empresa, ao investimento, à possibilidade de o calculado lucro não vir a existir e até o valor investido se perder. Com mar agitado só pescadores muito necessitados se fazem à faina, e mesmo assim avaliando o perigo.

Na época de maior sucesso empresarial da nossa história, minimizaram-se as percas fazendo embarcar à força condenados, enquadrados por aventureiros e corsários cujo risco se dividia entre o perdão a fama e a riqueza ou perecer. Quem mais lucrava com a empresa ficava seguro em terra firme, e as perdas em material e vidas humanas tinham a falta de importância que têm hoje o encerramento de empresas e o desemprego.

Era o ciclo económico do Império, e os efeitos da globalização à portuguesa. 
 
Hoje que a globalização já não é à portuguesa nem social-democrata de via alguma, mas imperialista e especulativa, o risco é diferente; não há como investir com garantia, não há costa à vista nem vigia a bombordo.

O sistema financeiro sempre protegido não sabe onde meter o dinheiro sem risco, segura-o no Estado.

Em Portugal o capital está historicamente concentrado, antes em algumas famílias, com as nacionalizações, no Estado, com as privatizações em poucos financeiros portugueses e cada dia mais em mãos de estrangeiros.

História à parte têm feito pessoas com expediente e profissionais qualificados, que, ou porque descobrem um nicho de mercado, ou se julgam tão capazes como os patrões, se lançaram a criar empresas; e foram tantos que constituem hoje os maiores empregadores. Pois são esses que o Estado persegue de tempos a tempos, para lhes lembrar que além do risco natural dos seus empreendimentos, têm de contar com a desconfiança da máquina que alimentam. O fisco só procura quem conhece, quem algum dia se inscreveu nos seus cadernos de presença. O Estado sabe que a parte do leão da fuga ao fisco é de quem está na economia informal, mas essa é paralela, vive na twilight zone, e o crepúsculo não convida a visitas. Talvez para encontrar a razão para não haver crescimento económico há dez anos, fizesse sentido ir ver quantos daqueles que abandonaram a produção de riqueza, por razões conjunturais, voltaram a cometer o erro de arriscar.
publicado por Carlos Loures às 11:00
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Segunda-feira, 12 de Julho de 2010

A URSS implodiu porquê?

Luís Moreira

António Vilarigues é um cronista do Público que sempre leio.Ele é comunista, eu sou social-democrata,o que não impede de estar muitas vezes de acordo com o que escreve.O mesmo acontece com a sua crónica de ontem.

Que a URSS esteve na vanguarda das conquistas dos trabalhadores, que muitas das políticas que levaram ao Estado - Providência, nasceram nos países comunistas. Que foi nessa dialéctica,entre a força do capitalismo e das respectivas classes dominantes e do medo que estas tinham da força dos trabalhadores, que nasceram as maiores conquistas do Estado-Providência.

Concordo e subscrevo que esse equilibrio mundial em muito contribuiu para que os liberalismos glutões e sem regras refreassem os seus apetites, e que ao seu desaparecimento corresponda a cavalgada sem freio do capitalismo que nos atirou para um mundo pior e mais injusto.

Mas então,cabe perguntar,porque ruíram esses países ? O autor não chega a essa pergunta que se impõe fazer no seu texto, porque a resposta seria muito dolorosa para um comunista convicto. Se o sistema tinha tão grandes méritos porque não teve o povo a defende-lo? Os povos a defenderem um sistema amigo, não seria o normal?

A minha resposta, que vale o que vale,(nasce de uma convicção e do que aconteceu) é que o ser humano,logo que tenha as suas necessidades básicas satisfeitas, exige o exercício da liberdade. Liberdade de expressão,liberdade de escolher os seus representantes,liberdade de escolher os caminhos da sua vida e da sua família.

A liberdade é parte integrante do ser humano!Nenhuma ditadura se aguenta muito tempo sem o suporte da repressão e aí começa o seu fim!

À direita e à esquerda não há alternativa para mais e melhor democracia!
publicado por Luis Moreira às 11:00
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Segunda-feira, 31 de Maio de 2010

Social-Democracia . O que há de melhor?

Luís Moreira

O liberalismo que se afunda em desigualdades e que defende a "lei da selva" a lei do mais forte? Cada um por si? Ou o socialismo, aprisionado em Estados omnipresentes e omnipotentes, criadores de elites que se perpetuam no aparelho de Estado e que não consegue responder às justificadas ambições de melhor níveis de vida das populaçõs?

A social democracia não representa o futuro ideal se calhar nem o passado ideal mas não conhecemos nada que se lhe aproxime.O consenso social do após guerra representa o maior avanço social a que o mundo já assistiu, pela mão da democracia cristã, pelo conservadorismo britânico e alemão e a social democracia nórdica.Nunca a história assistiu a tamanho progresso, nunca tantos experimentaram tantas oportunidades de vida.

Mas o perigo espreita, com a admiração acrítica do mercado livre, o desdém pelo sector público a ilusão pelo crescimento eterno. Até aos anos 70 todas as sociedades europeias se tornaram menos desiguais, graças aos impostos progressivos, aos subsídios dos governos aos mais pobres os extremos de pobreza foram-se apagando.Nos últimos 30 anos deitamos tudo isso fora.

Adam Smith volta a ser citado: " nenhuma sociedade será verdadeiramente florescente e feliz se uma grande parte dos seus cidadãos for pobre e miserável" Sem segurança, sem confiança, as sociedades ocidentais ameaçam ruir. A insegurança alimenta o medo.E o medo -da mudança,medo do declínio, medo do desconhecido- corrói a confiança e a indepedência nas quais assentam as sociedades civis do Ocidente.

Essa rede de segurança social contra a insegurança foi uma das maioras conquistas do sistema, restaurando o orgulho dos perdedores do sistema, trazendo-os para dentro dele e não virando-lhe as costas.Então o que falhou? A esquerda moderada continua a criticar, nostálgica das revoltas dos anos 60, sem apresentar qualquer alternativa consistente, abrindo brechas por onde entraram o individualismo feroz,a proletarização e fragmentação do colarinho branco. As maiores críticas à social democracia, que teve como maior vitória a igualdade, a liberdade e uma maior prosperidade,são comprovadamente falsas, como se verifica pela capacidade revelada em sustentar economicamente todo o sistema.
PS: com Tony Judt - o regresso ao estado providência.
publicado por Luis Moreira às 11:00
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Sábado, 29 de Maio de 2010

A Social - Democracia Europeia

Luís Moreira

Há muita gente na Europa que critica o sistema em que vive, vendo nele um conjunto de erros e injustiças sem cuidar de ver as suas qualidades.

A primeira qualidade é que nunca houve antes um sistema que tenha mantido por tanto tempo, tantos milhões de pessoas a viverem em paz, em democracia e com um modelo de apoio tão eficaz à família, à doença e à velhice.

A primeira causa,para este resultado, é que este sistema tem assegurado um nível sustentado de criação de riqueza que mais nenhum outro sistema conseguiu. Ora, este nível de criação de riqueza tem permitido que todos os cidadãos, melhorem o seu nível de vida, embora com profundos desequilibrios. Mas, no essencial, a vida das pessoas tem melhorado mais nos últimos cincoenta anos que nos dois séculos anteriores.

Este sistema, conseguiu criar uma rede de segurança social que abarca milhões de pessoas, os mais desprotegidos; uma rede pública universal de escolas que assegura a educação básica para milhões de seres humanos;e, providenciou, uma rede universal de cuidados médicos que assegura a saúde a milhões de pessoas que há cincoenta anos morriam por não terem água tratada.


Imperfeito, injusto e sem conseguir criar igualdade de oportunidades para todos, o sistema capitalista, como forma de criar riqueza, não tem paralelo, pelo que enquanto não aparecer um modelo de sociedade que consiga manter este nível de vida, nunca será substituído. Pode e deve ser aperfeiçoado, mas não pode ser substituído, pelo simples facto que ninguem está disposto a regredir no seu nível de vida. É uma falácia dizer que bastaria uma melhor repartição da riqueza para que a pobreza fosse erradicada.Aqui, já estamos a falar de homens melhores, mais generosos, mas que sistema nenhum,só por si, consegue criar.

Sou reformista, no sentido que quero partir de uma base sólida para um patamar mais elevado, à custa de mais e melhor justiça social, mas dentro de um quadro onde coexistam o Estado de Direito, a economia social de mercado e a democracia de tipo parlamentar.

Todas as experiências assentes em sistemas diferentes ruiram ou foram incapazes de provar melhor.




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publicado por Luis Moreira às 18:00
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