Segunda-feira, 27 de Junho de 2011

Venex e Daflon: uma guerra de placebos - por Octopus*

 

O laboratório farmacêutico Decomed está em   guerra contra o ministério da Saúde e o Infarmed por um dos seus medicamentos   ter perdido a comparticipação, trata-se do Venex.

 

O Venex (diosmina) é utilizado por milhares   de pessoas na insuficiência venosa crónica (varizes). Não existe actualmente  qualquer medicamento eficaz para o seu tratamento. O que existe é o Venex ou   o Daflon (da Servier), que os laboratórios produtores dessas moléculas dizem   estabilizar a parede das veias e assim melhorar a queixas dos doentes.

 

 Os placebos devem ser comparticipados?

 Placebo: (do latim placere,   significando "agradarei") é como se denomina um fármaco ou   procedimento inerte, e que apresenta efeitos terapêuticos devido aos efeitos   fisiológicos da crença do paciente de que está a ser tratado.

 A Decomed exige que a decisão do Tribunal   Administrativo de Sintra, em 2007, de repor a comparticipação do Venex,   seja aplicada. Para isso está na criação do site: www.utenteslesados.com, apesar de  oficialmente este ser da autoria da Associação Portuguesa da Doença Venosa.


 Neste site, é sublinhado que milhões de portugueses estão a ser prejudicados   pela não comparticipação do Venex por parte do Sistema Nacional de   Saúde.  

 A pergunta que deve ser colocada é, se é   normal comparticipar um medicamento que não tem qualquer eficácia clínica   comprovada. Porque quem vai pagar essa comparticipação somos todos nós. Em   outros termos, será normal que eu ou vocês pague uma parte de um medicamento   que não faz nada mas que certas pessoas estão convencidas do contrário   estimuladas pela propaganda farmacêutica. Cada um é livre de ingerir o que
  julga benéfico para si, mas não podem ser os outros a pagar.

 

As "provas".

 Para sustentar a eficácia do Venex, a Decomed   encomendou um ensaio clínico, realizado em Portugal, este pode ser consultado   em: http://www.decomed.pt/VNEspecial.pdf
 

 

Este ensaio foi   realizado com 140 doentes em 11 centros, durante um período de 6 meses. Os   doentes foram divididos em 2 grupos, um deles tomou 2 comprimidos por dia de   Venex Forte o outro tomou um placebo, isto é comprimidos idênticos aos dos de   Venex mas sem qualquer substância activa. 

 

Neste ensaio foram   avaliados vários sintomas: evolução da dor, sensação de pernas pesadas,   cãibras e sensação de prurido. Apesar de pouco significativos, todos estes   sintomas melhoraram com a toma de Venex. Como estes sintomas são extremamente   subjectivos, é interessante analisar o único sinal avaliado neste ensaio: a   medida da circunferência da perna esquerda dos doentes.

 

 

E aqui o que é que   observamos? O valor  95%, com p=0,01).

 

De facto, analisando   os ensaios clínicos mundiais disponíveis, encontramos dois tipos: os que são   encomendados pelos laboratórios farmacêuticos que comercializam as   substâncias e que referem ligeiras melhorias (a maioria baseados em dados   subjectivos) e os ensaios independentes que não referem qualquer melhoria   clínica significativa. 

 

 

 

As causas das varizes.

 
Para perceber melhor o que é a insuficiência venosa crónica, temos do   conhecer as suas causas.

 

Assim, as varizes aparecem devido à deterioração das válvulas que percorrem   as veias e permitem que o sangue que se dirige ao coração não volte a descer.

 

Quando estas válvulas estão danificadas, nenhum medicamentos as fará voltar à   sua função inicial.

Outra causa para as varizes poderá ser uma perda do tónus muscular das   pernas, tónus esse que funciona como uma bomba nas veias profundas e que   ajuda o sangue a subir.

 

Por fim, a perda da   elasticidade da parede venosa e a sua maior permeabilidade poderá também   contribuir para a insuficiência venosa. É nesta última causa que apostam os laboratórios   farmacêuticos, na criação de medicamentos que supostamente alteram a parede   venosa.

 

  Prevenção:

 

Para quem tem uma   predisposição hereditária para a insuficiência venosa, a prevenção não é  fácil. No entanto, mantendo um bom tónus muscular e uma boa forma física, é   possível reduzir o risco do aparecimento de varizes ou atrasar a sua   evolução.

 

Algumas medidas:

 

  - Exercício físico regular. A compressão dos músculos das pernas facilita o   retorno venoso.

- Manter um peso adequado. O excesso de peso é nocivo para o retorno venoso.

 

 

 

 

-
    Evitar a obstipação. Esta obriga a um maior esforço durante a defecação
    aumentando a pressão venosa;

 
 

-
Elevar as pernas, 3 ou 4 vezes por dia, mais alto que o coração.

terna.            

-
    Colocar uma almofada por baixo das pernas, na cama, para dormir.

                

- Evitar
    passar muito tempo seguido sentado ou de pé.

    - Mexer os pés, quando tiver que ficar sentado por longos períodos.

    - Durante viagem prolongadas, por exemplo de avião, levantar-se
    regularmente e caminhar.

    - Colocar água fria nas pernas e evitar o calor como o banho quente,
    sauna ou sol.

    - Evitar meias e sapatos apertados.

    - Evitar sapatos de salto alto.

    - Usar meias de compressão, sobretudo para quem trabalha de pé.

   

     *Octopus é o pseudónimo deste nosso colaborador que é médico de Medicina Interna.             

.

           

 

 

 

 

 

  

publicado por Carlos Loures às 12:00

editado por João Machado em 26/06/2011 às 13:39
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Segunda-feira, 16 de Maio de 2011

Na saúde é a ética e os padrões profissionais que contam - por Luis Moreira

É natural e legítimo o direito à escolha de um hospital, como é legítimo e natural, na escola ? (Areia dos Dias)
 

Pessoalmente julgo que não. A relação do hospital com o doente não pode ser convertida numa relação racional, isto é, na maioria das vezes o doente não está em condições de poder escolher, ou porque está doente, ou porque ficou subitamente doente ou porque é idoso e alguém tem que tomar essa decisão por ele.  Ora, numa situação de livre escolha na saúde, a capacidade de decisão passa em grande parte para as seguradoras e, serão elas, segundo os seus interesses que escolhem.

 

A livre escolha na saúde implica que os cuidados prestados sejam profundamente condicionados pela apólice de seguro de doença que cada cidadão possa assegurar. Se um de nós tiver um plafond elevado a tendência é efectuar exames caros e , na mais das vezes, desnecessários. O contrário também é verdade, não há plafond não há exames, mesmo que necessários.

 

O que se passa nos US é um exemplo que deixa poucas dúvidas, a saúde não é, nem pode ser objecto de comércio. Apesar de os US gastarem bem acima do que gastam os serviços de saúde dos países da UE, as estatísticas internacionais mostram que os cidadãos europeus gozam de padrões de saúde bem melhores que o cidadão comum dos US.

 

O que está em causa na saúde são os valores éticos e os elevados padrões profisssionais que garantam um elevado nível de serviço e, que, ao mesmo tempo, racionalize os custos e torne sustentável a prazo o sistema de serviço público. É, por isso, que o Sistema Nacional de Saúde deve ser

administrado de forma global, quanto ao nível de utilização dos equipamentos, recursos humanos e instalações. Não podemos ter filas de espera de meses numa dada região e na região seguinte essa lista existe mas noutra especialidade .

 

O resultado é que temos listas de espera em todas as especialidades conforme as regiões e , ao mesmo tempo, temos instalações e equipamentos subutilizados. São a ética e os elevados padrões profissionais dos serviços prestados em todos os hospitais que devem influênciar a escolha, por forma a que seja feita segundo os recursos concentrados num determinado hospital que o torna o mais adequado numa dada situação.Mas esse conhecimento não é do domínio público, é e será sempre o sistema a fazer a escolha.

 

A não ser que pelo meio se encontrem os interesses vorazes das seguradoras!

 

Mas as parcerias público-privadas de que é o mais recente exemplo o hospital de Cascais vai abrindo o caminho à privada pela mão de José Sócrates que, no negócio de milhões da saúde, não tem rebuço em o entregar aos interesses do lucro, mas no negócio do ensino ( cem vezes mais reduzido que a saúde) clama contra a liberdade de escolha.

 

A coerência não é o forte desta gente. Definitivamente!

 

PS: a saúde é, a seguir ao negócio de armas, tráfico de drogas e petróleo o mais lucrativo dos negócios.(dito em directo na TV por uma administradora da saúde de um dos grupos privados)

 

 

 

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Quarta-feira, 27 de Abril de 2011

A Saúde mental dos portugueses por Dr. Pedro Afonso

Artigo de Pedro Afonso - Médico psiquiatra
 

saúde mental dos portugueses

Transcrição do artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no
Público, 2010-06-21

Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.

Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da
Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença
psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência,
urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens
infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos
os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária.                                                                                                                 

 

Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos
terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural
que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos,criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100
casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo as crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres
humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade.                                                      

 

Enquanto o legislador se entretém maquinal mente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa,deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família.
Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e
produtividade.                                                                                                                                                                              

 

Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a
casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejada de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão
cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho
presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição
da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual,tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês,
enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e
complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando
já há muito foram dizimados pela praga da miséria.

Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos
números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um
mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência
neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.

E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se
há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

Pedro Afonso
Médico psiquiatra

 
 

publicado por Luis Moreira às 23:00

editado por Augusta Clara em 26/04/2011 às 22:59
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Quinta-feira, 3 de Março de 2011

O Cirurgião Que Foi Entristecendo - Autor desconhecido

(hoje publicamos uma curiosa fábula de autor desconhecido que nos foi enviada pelo Carlos Leça da Veiga e que poderia muito bem ter o título que se segue)

 

 

 

Autor desconhecido  O Cirurgião Que Foi Entristecendo

 

 

 

Todos os dias, um Cirurgião Pediatra chegava cedinho ao seu Hospital...e pegava a sério no seus doentes para operar.

Era feliz e extremamente dedicado em termos cirúrgicos conseguindo excelentes resultados.

 

Com o novo modelo de gestão a nova administração estranhou o facto de este médico trabalhar sem supervisão.

Se ele operava tanto sem supervisão, operaria muito mais se fosse supervisionado.

 

Colocou então um administrador, que preparava belíssimos relatórios e tinha muita experiência, como supervisor de Bloco Operatório.

 

As primeiras preocupações foram de padronizar o horário de entrada e saída, recorrer aos meios de controlo biométricos da assiduidade, efectuar um controle rigorosíssimo dos horários de início e fim de todas as tarefas do pessoal do Bloco Operatório, implementando um bloqueio informático das tarefas seguintes em caso de ausência dos cerca de "DEZ"!!! registos horários informáticos que passaram a ser imprescindíveis.

 

Desde esta altura o desinteresse no referente à qualidade da cirurgia efectuada foi total. Só os números passaram a importar!

 

Foi igualmente vilipendiada a autoridade e responsabilidade do Cirurgião que em algumas funções foi substituído pelo computador e respectivo controlo administrativo "à distancia".

 

Pouco depois, o administrador precisou de um adjunto para ajudar a preparar os relatórios, organizar os arquivos, controlar as cirurgias efectuadas, os pedidos de material, as justificações de anulações de tempos operatórios, as ligações telefónicas, etc. etc. etc.

O administrador ficou encantado com os relatórios do seu adjunto e pediu também gráficos com indicadores e análise das tendências que eram mostradas em reuniões.

 

O adjunto, contratou então uma secretária e comprou um computador com impressora colorida.

 

Nesta altura, o adjunto conseguiu convencer os directores dos serviços a mostrarem também nas suas reuniões a beleza do colorido de tais gráficos.

 

Logo, o Cirurgião produtivo e feliz, começou a lamentar-se da falta e da qualidade do material, de toda aquela movimentação de bloqueios informáticos, papéis e reuniões com gráficos/disparates que pouco ou nada lhe diziam.

 

A administração concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a área onde o Cirurgião, produtivo e feliz, trabalhava.

O cargo de gestora de bloco foi dado a uma senhora que mandou colocar uma carpete no seu escritório e comprar uma cadeira especial.

A nova gestora de bloco precisou de imediato de outro computador e de uma assistente (por acaso sua assistente no partido onde ambas tinham trabalhado) para ajudá-la a preparar um plano estratégico de melhorias e o controlo do orçamento para a área onde trabalhava o Cirurgião, que já não cantarolava e cada vez se notava que ia ficando mais triste.

 

Atendendo às atitudes dos funcionários quando passava pelo Bloco Operatório, a gestora do bloco, então, convenceu o administrador, que era preciso fazer um estudo do grau de satisfação do pessoal.

Mas, o administrador, ao rever as contas, deu-se conta que o Bloco Operatório já não rendia como antes e contratou os serviços de uma prestigiada consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico da situação.

 

O Pessoal da consultora (onde também por acaso já tinha trabalhado o administrador antes de vir para o Hospital) permaneceu três meses nas instalações do Bloco Operatório e emitiu um volumoso relatório, com vários volumes, que concluía: Há muita gente neste Sector!!!

E adivinhe quem o administrador pensou de imediato que devia pedir a demissão?

O Cirurgião, claro, porque andava muito desmotivado e aborrecido.

Já viu este filme antes?

 

Sim mas com formigas, cigarras, besouros, baratas, etc...

 

Percebe agora a causa do enorme "BURACO ORÇAMENTAL" na Saúde?



"Quem tem olhos para ver, que veja;  e quem tem ouvidos para ouvir, que ouça"

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publicado por Augusta Clara às 19:00
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Terça-feira, 11 de Janeiro de 2011

Pequenas memórias da Guerra da Guiné (8) - por Adão Cruz

(Continuação)

A tal história (2)

Dizia o “rádio” enviado pelo comandante da companhia ao Estado-Maior de Bissau, mais ou menos isto, e que era pura verdade: “Companhia com muitos homens incapacitados. Médico desta considera Companhia inoperacional”. Foi ida e volta. De imediato foi recebido pelo capitão um novo rádio que secamente, e em tom que se adivinhava ameaçador dizia, textualmente: “Diga clínico que se exige último esforço”. O capitão olhou-me fixamente nos olhos e eu percebi que ele estava cheio de pena de mim, pela enorme responsabilidade que me obrigara a assumir. Bebemos mais um copo, respiramos fundo, e um sorriso fugaz uniu os nossos rostos, facilitando a decisão.

 

-Escreva, disse eu, “impossível qualquer esforço”.

Ao romper do dia, o meu amigo e Chefe de posto, Olívio Faria, da Administração Civil, veio dizer-me que tinha um telefonema do alferes Pinho. O alferes Pinho era um alferes da nossa Companhia, que, por acaso, se encontrava nesse dia em Bissau. (Apenas um aparte: anos mais tarde este amigo Pinho foi um dos dirigentes do Sindicato dos professores da Zona Sul. Já faleceu.). Dizia ele no telefonema, com voz de circunstância:

 

- Põe-te a pau porque eu soube que vai sair um helicóptero com gente da saúde, para fazer uma inspecção à Companhia de Bigene. Não sei bem o que se passa mas a coisa parece séria.

Comuniquei ao capitão e dirigi-me então às casernas onde mandei reunir todos os soldados. Com voz grave e tão serena quanto pude, disse-lhes:

 

- Recebemos um “rádio” para repetir a saída desta noite, mas eu mandei dizer, o que é verdade, que vocês não estavam em condições de sair, considerando a Companhia inoperacional. Ao início da manhã virá cá uma inspecção do Serviço de Saúde de Bissau, para vos examinar um a um. Os que estiverem doentes queixam-se, contando e mostrando todas as mazelas, especialmente as das pernas, especialmente aquelas que mais vos impedem de caminhar, desde as micoses às feridas e aos problemas ósseos e musculares. Os que estiverem sãos dizem que estão sãos. Não admito aldrabices.

Pouco depois do romper do sol o helicóptero poisou na pista.

Ao centro da fotografia a enfermaria, onde os soldados foram examinados um por um. Atrás, a pista onde poisou o helicóptero.

(continua)

publicado por Carlos Loures às 19:00

editado por Luis Moreira às 12:30
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Quinta-feira, 9 de Setembro de 2010

Boaventura de Sousa Santos no Estrolabio - Os EUA estão doentes


Em sentido metafórico, a sociedade norte-americana está doente por muitas razões. Há mais de trinta de anos passo alguns meses por ano nos EUA e tenho vindo a observar uma acumulação progressiva de “doenças”, mas não é delas que quero escrever hoje. Hoje escrevo sobre doença no sentido literal e faço-o a propósito da reforma do sistema de saúde em discussão final no Congresso. As lições desta reforma para o nosso país são evidentes. Os EUA são o único país do mundo desenvolvido em que a saúde foi transformada em mercadoria e o seu provimento entregue ao mercado privado das seguradoras. Os resultados são assustadores. Gastam por ano duas vezes mais em despesas de saúde que qualquer outro país desenvolvido e, apesar disso, 49 milhões de cidadãos não têm qualquer seguro de saúde e 45 mil morrem por ano por falta dele. Mais, a cada passo surgem notícias aterradoras de pessoas com doenças graves a quem as seguradoras cancelam os seguros, a quem recusam pagar tratamentos que lhes poderiam salvar a vida ou a quem recusam vender o seguro por serem conhecidas as suas “condições pré-existentes”, ou seja, a probabilidade de virem necessitar de cuidados de saúde dispendiosos no futuro.

A perversidade do sistema reside em que os lucros das seguradoras são tanto maiores quanto mais gente da classe média baixa ou trabalhadores de pequenas e médias empresas são excluídos, ou seja, grupos sociais que não aguentam constantes aumentos dos prémios de seguro que nada têm a ver com a inflação. No meio de uma grave crise económica e alta taxa de desemprego, a seguradora Anthem Blue Cross – que no ano passado a declarou um aumento de 56% nos seus lucros – anunciou há semanas uma subida de 39% nos prémios na Califórnia, o que provocaria a perda do seguro a 800.000 pessoas. A medida foi considerada criminosa e escandalosa por alguns membros do Congresso.

Por todas estas razões, há um consenso nos EUA de que é preciso reformar o sistema de saúde, e essa foi uma das promessas centrais da campanha de Barack Obama. A sua proposta assentava em duas medidas principais: criar um sistema público, financiado pelo Estado, que, ainda que residual, pudesse dar uma opção aos que não conseguem pagar os seguros; regular o sector de modo que os aumentos dos prémios não pudessem ser decididos unilateralmente pelas seguradoras. Há um ano que a proposta de lei tramita no Congresso e não é seguro que a lei seja aprovada até à Páscoa, como pede o Presidente. Mas a lei que virá a ser aprovada não contém nenhuma das propostas iniciais de Obama. Pela simples razão de que o lobbying das seguradoras gastou 300 milhões de euros para pagar aos congressistas encarregados de elaborar a lei (para as suas campanhas, para as suas causas e, afinal, para os seus bolsos). Há seis lobbyistas da área de saúde registados por cada membro do Congresso. Lobbying é a forma legal do que no resto do mundo se chama corrupção. A proposta, a ser aprovada, está de tal modo desfigurada que muitos sectores progressistas (ou seja, sectores um pouco menos conservadores) pensam que seria melhor não promulgar a lei. Entre outras coisas, a lei “entrega” às seguradoras cerca de 30 milhões de novos clientes sem qualquer controlo sobre o montante dos prémios. Os EUA estão doentes porque a democracia norte-americana está doente.

Que lições? Primeiro, é um crime social transformar a saúde em mercadoria. Segundo, uma vez dominantes no mercado, as seguradoras mostram uma irresponsabilidade social assustadora. São responsáveis perante os accionistas, não perante os cidadãos. Terceiro, têm armas poderosas para dominar os governos e a opinião pública. Em Portugal, convém-lhes demonizar o SNS só até ao ponto de retirar dele a classe média, mais sensível à falta de qualidade, mas nunca ao ponto de o eliminar pois, doutro modo, deixariam de ter o “caixote do lixo” para onde atirar os doentes que não querem. Os mais ingénuos ficam perplexos perante os prejuízos dos hospitais públicos e os lucros dos privados. Não se deram conta de que os prejuízos dos hospitais públicos, por mais eficientes que sejam, serão sempre a causa dos lucros dos hospitais privados.
 
(Publicado na  revista "Visão" em 11 Março de 2010)


publicado por Carlos Loures às 21:00
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Sábado, 28 de Agosto de 2010

Boaventura de Sousa Santos no Estrolabio - Saúde: do serviço ao negócio



O modo como está a ocorrer a transformação da saúde, de serviço público em negócio lucrativo, é escandaloso, inconstitucional e certamente violador do direito dos cidadãos à saúde. O que se passa é caso único nos países de desenvolvimento comparável ao nosso.

Alguns exemplos bastarão para dar conta da gravidade da situação. Recentemente a Ministra da Saúde convocou todos os directores de serviços públicos de procriação assistida, no sentido de lhes criar as condições financeiras e humanas para aumentar significativamente a oferta pública destes serviços. Todos, excepto um, recusaram a oferta, sob vários pretextos e por uma só razão: todos eles dirigem serviços privados de procriação assistida e não queriam que os serviços públicos lhes fizessem concorrência.

Outro exemplo, ainda mais perturbador. Um determinado hospital público decidiu aumentar a oferta de serviços especializados para corresponder às solicitações crescentes dos cidadãos. Pois viu esta decisão contestada nos tribunais pelo sector empresarial hospitalar com o fundamento de que, ao expandir os serviços públicos, se estavam a pôr em causa as legítimas expectativas do sector privado quanto à sua expansão e lucratividade. Apesar de um tal propósito bradar aos céus, há juristas de renome dispostos a dar pareceres eloquentes a favor dos queixosos e só nos resta esperar que os nossos tribunais façam uma ponderação de interesses à luz do que determina a Constituição e decidam correctamente.

Terceiro exemplo. Contra o parecer da Ministra da Saúde, o Ministro das Finanças autorizou um acordo entre um hospital privado, pertencente ao Grupo Espírito Santo, e a ADSE, com o objectivo de, com o novo fluxo de doentes, viabilizar um hospital em dificuldades. O dinheiro gasto nesse acordo não poderia ter sido aplicado, mais eficazmente, na expansão dos serviços públicos? A ironia da história é que, pouco tempo depois, os jornais anunciavam em primeira página que os utentes da ADSE estavam a ser preteridos no referido hospital por a ADSE pagar pior.

Estes três exemplos são ilustrativos do ataque cerrado que está a ser sujeito o SNS e do poder político que o sector privado já adquiriu entre nós. A actividade empresarial no domínio da saúde é uma actividade legítima, mas deixará de o ser se interferir com o direito à saúde gratuita constitucionalmente consagrada. Imagina-se que a Polícia Judiciária pudesse ser accionada em tribunal por, ao desenvolver os seus serviços de investigação, estar a violar as legítimas expectativas dos detectives particulares.

A destruição do SNS esteve até agora a cargo dos governos do PSD e do Ministro Correia de Campos. Perante o levantamento dos cidadãos, o governo procurou mudar de curso e a actual ministra parece ser uma honesta defensora do SNS. Terá poder? Os sinais não são animadores porque as medidas a tomar são drásticas. Primeiro, os directores de serviços hospitalares devem estar em regime de exclusividade, não só pelo tempo que devem dedicar ao serviço, mas para evitar conflitos de interesses. Até agora, sempre que o Governo tentou, deixou-se atemorizar pelo medo de perder os melhores. Não há que ter esse medo, já que dispomos de muitos profissionais competentes e dedicados. É preciso acabar com a figura do director de serviços que não dirige o serviço e é apenas o chefe dos médicos. Segundo, é urgente repor e valorizar as carreiras médicas para não criar incertezas desmoralizadoras. Terceiro, leva dez anos a formar um médico num sistema público: não faz sentido que, ao fim desses anos, o sistema privado se aproprie de todo esse investimento e o transforme em lucro. Os médicos deveriam ser obrigados a ficar no serviço público por um período razoável. Quarto, devem aprofundar-se as formas de contratualização nos serviços públicos – desde que não passem pelas parasitárias empresas de fornecedores de médicos (onde desaparece a responsabilidade pelo acto médico) – para permitir a redução das listas de espera, como aconteceu recentemente em oftalmologia. Quinto, não há nenhuma razão para que uma lâmpada num sistema de imagiologia leve mais tempo a substituir no sistema público que no sistema privado.

Se, num dado momento, o SNS não tiver condições para garantir a saúde de todos os cidadãos, pode comprar serviços médicos aos serviços privados, mas, no espírito da Constituição, isso só pode ocorrer se não puder expandir os seus próprios serviços públicos. Os casos atrás mencionados mostram que pode e quer. Ainda vamos a tempo?

(Publicado na revista "Visão"  em 28 de Agosto de 2008)
publicado por Carlos Loures às 21:00
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Sexta-feira, 27 de Agosto de 2010

Cuidado com os remédios

Adão Cruz


O consumo de medicamentos é hoje um problema, não só nacional como internacional. Interesses industriais e comerciais convenceram as pessoas de que a saúde se encontra metida em caixinhas e frasquinhos, originando uma autêntica obsessão pelos remédios, não só por parte dos doentes mas também dos médicos. Várias vezes tenho lembrado que há medicamentos úteis, muito úteis e indispensáveis, alguns deles quase “milagrosos”. Outros há que são inúteis, sem qualquer eficácia, por vezes prejudiciais, potencialmente perigosos, cujo lugar deveria ser o lixo. Mas, potencialmente mais perigosos que estes remédios inúteis são os bons remédios, os remédios eficazes, quando prescritos por rotina, sem precisão diagnóstica ou terapêutica, com desconhecimento dos efeitos adversos, das contra-indicações e interacções medicamentosas. A minha experiência tem-me demonstrado que estas receitas “à balda”, sem critério nem critérios, feitas de forma inconsciente, são responsáveis por inúmeras e temíveis consequências, constituindo actos que deveriam pertencer à esfera do crime.

As doenças produzidas pelos remédios e por outros processos de tratamento, criadas pelos médicos e inventadas pelos meios de diagnóstico, são mais do que muitas. São as chamadas doenças iatrogénicas, e constituem um grande capítulo da medicina. Provavelmente dos menos divulgados e investigados, já que colide com poderosos interesses. Daí, a minha convicção, já antiga, de que a saúde não é, muitas vezes, um fim mas um pretexto para atingir outros fins.

Cuidado com os remédios. Sobretudo nas pessoas de idade. O consumo de remédios pelo paciente idoso é um problema actual e de importância crescente. Intencionalmente, foi-se criando a ideia de que a terceira idade é uma doença, o que não é verdade. A terceira idade é uma fase da vida carecendo de atenção específica e de cuidados sociais, humanos e diferenciados. Não é, de forma alguma, uma mina a explorar pelos vendedores de falsa saúde. Muitas vezes tenho dito aos meus pacientes que a cara dos oitenta não é igual à dos vinte, as pernas dos oitenta não são iguais às dos vinte e o coração dos oitenta não é igual ao dos vinte. O coração dos oitenta também tem as suas “engelhas” e também se cansa como as pernas. Mas não é um coração doente e não precisa de quaisquer remédios. Estes, quando prescritos inadvertidamente, podem acabar com ele, dado que a tolerância, a capacidade de adaptação e as margens de manobra e segurança são muito inferiores às de um coração jovem. Há mesmo lesões cardíacas que, a despeito de serem irreversíveis, não alteram fundamentalmente o funcionamento do coração e não são modificáveis por qualquer medicamento. Não passa de perigosa fantasia convencer a pessoa a tratar o que não é tratável, fazendo-a correr riscos sem qualquer contrapartida. A receita, sem observação cuidada e sem uma avaliação responsável do paciente, é um hábito lamentavelmente institucionalizado.

A constante pressão sobre os médicos, por parte dos próprios doentes, e das estonteantes aliciações pseudo-científicas, cria uma tendência e mesmo uma obrigação crescentes de polimedicar e prolongar excessivamente os tratamentos, sem qualquer respeito pela própria dignidade profissional nem pelo cumprimento das regras básicas da farmacologia clínica. Não se têm muitas vezes em linha de conta as alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas próprias do idoso, bem como os seus processos patológicos múltiplos e complexos. Num dos poucos estudos efectuados chegou-se à conclusão de que a iatrogenia medicamentosa era uma importante causa de internamento dos doentes idosos, constituindo uma realidade no dia-a-dia da enfermaria (25%). Um outro estudo recente revelou que um quarto dos americanos com mais de 65 anos toma, por receita médica, medicamentos que nunca lhes deveriam ter sido prescritos. Um simples comprimido pode causar amnésias, confusão mental, desequilíbrios, desmaios, síncopes, hipotensões graves. Um tratamento, ainda que curto, pode ocasionar fadiga, insónias, tosse rebelde, reacções alérgicas difíceis de diagnosticar, vómitos, diarreias, dispepsias duradoiras, lesões tóxicas do rim e do fígado, graves anomalias sanguíneas. Um tratamento mais prolongado, além das consequências atrás descritas, pode originar intoxicações (traduzidas por mal-estar geral, perda de apetite e de forças, náuseas e vómitos), perturbações respiratórias, arritmias ameaçadoras da vida e perigosos bloqueios cardíacos, bem como graves situações de falência cardíaca. Nós médicos, e mesmo os doentes, muitas vezes chegamos ao cúmulo de considerar que os próprios efeitos secundários dos remédios e as suas acções nocivas são sintomas próprios da idade, e zás de aumentar as doses e receitar novas drogas, agravando drasticamente a situação. Tentar apagar o fogo com a própria gasolina.

Apesar de tudo isto, a maneira mais vulgar de terminar uma consulta é passar uma receita. Por vezes, toda a consulta se resume a uma receita. O tempo e a atenção há muito que foram substituídos pelos remédios.

Vale mais não tratar do que tratar mal. Quantas vezes eu prescrevo, com prudência e até algum receio, drogas que vejo receitadas a torto e a direito por dá cá aquela palha. A minha acção, numa boa parte dos pacientes, resume-se a desaconselhar os medicamentos que eles ingerem e que muitas vezes transportam em sacos. A experiência, grande apoio da minha consciência, tem demonstrado que essa é a atitude mais correcta.
publicado por Carlos Loures às 11:00
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Segunda-feira, 16 de Agosto de 2010

HIV - estrela dos palcos infecta!


Luís Moreira


Um caso destes ainda hoje é notícia, porque não se espera que uma estrela dos palcos possa estar infectada o que diz muito do que pensamos acerca dos comportamentos referidos a certas profissões e níveis sociais.

Uma cantora que se relaciona com todo o tipo de gente e numa profissão onde o número de parceiros é elevado, constitui um perigo, porque não se pode esperar que os parceiros saibam e, em qualquer dos casos, a cantora nunca dirá que é seropositiva (corre o risco de ser afastada) e ser notícia arrasadora para a sua carreira,atendendo às expectativas que os seus fãns possam ter.


Esta questão só se levanta porque se trata de uma doença sexualmente transmíssivel e socialmente banida, porque o bom senso aconselharia que, numa profissão destas,onde é muito elevado o risco de múltiplos parceiros os comportamentos fossem prudentes. A prova disso é que há um parceiro que foi mesmo infectado e há outros que se queixam de a cantora não os ter avisado, o que quer dizer que em caso algum houve prevenção.

Será que uma pessoa infectada põe em risco um relacionamento por dizer-se infectada? Sinceramente, não creio, julgo mesmo que uma pessoa emocionalmente envolvida, ou é muito séria e com um caracter forte, ou pura e simplesmente não toma medidas de prevenção .

Há sempre que tomar medidas prudenciais e só depois de um relacionamento seguro e duradouro é que se pode aliviar tais medidas. Trinta anos depois as pessoas continuam a pensar que a festa continua!
publicado por Luis Moreira às 23:30
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Quinta-feira, 29 de Julho de 2010

As asneiras que fazemos, as doenças que temos

Clara Castilho

Temos andado a falar muito sobre velhice, o que acontece nessa altura – Lares, como uma solução nem sempre satisfatória – e, inevitavelmente morte.

E doença que leva à incapacidade ou à morte… Nem de propósito, recebi um email de um médico que foi amigo de família – hoje com 80 e tal anos – e que voltei a encontrar e descobri ser um entusiasta da internet e do envio de emails. Entope-me a caixa de correio… mas uns são engraçados e instrutivos.

É um facto que sabemos o que nos faz mal, o que devemos ou não comer, que o fumar põe a vida em perigo, que devíamos fazer mais exercício físico, andar menos stressados… E continuamos a fazer asneiras!

É, a informação não chega. Temos que acrescentar reflexão, em determinadas circunstâncias. Disto falarei noutra altura e a propósito de outras coisas.

Mas penso que alguns poderão gostar de ver este documentário.


Como resposta proponho: que tal marcarmos uma passeata, a pé, mas para um dia de menos calor?
publicado por Carlos Loures às 11:00
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