Há figuras do desporto que, embora ligadas a um determinado clube, pertencem a esse clube, mas também a todos os que amam o desporto. Irei aqui homenagear esse tipo de desportistas - Eusébio, Pinga, Pepe, Cosme Damião… Começo esta galeria com Fernando Peyroteo, um jogador excepcional. Nascido em Humpata, Angola, em 1918, chegou a Lisboa em 1937, com 19 anos. Dera a sua palavra ao Sporting, mas não assinara qualquer contrato. Outros clubes (pensa-se que o Benfica e o Porto) assediaram-no, oferecendo-lhe melhores condições. Peyroteo não aceitou – estava comprometido com o Sporting. Outros tempos.
Estreou-se em 12 de Setembro de 1937, num torneio realizado nas Salésias (nessa altura, o único campo relvado de Lisboa). O Sporting defrontou o Benfica e venceu por 5-3, com dois golos de Peyroteo. Nesse ano, o Sporting foi campeão nacional. O contributo de Peyroteo foi decisivo. Durante a sua carreira, Peyroteo contribuiu para a conquista de cinco campeonatos nacionais, quatro Taças de Portugal e sete campeonatos de Lisboa. Os 43 golos que marcou no campeonato nacional de 1947/48 só vieram a ser ultrapassados por outro sportinguista: Hector Yazalde que em 1973/74 marcou 46 golos. Entre 1937 e 1949, jogou no Sporting, terminando a carreira no Belenenses, onde jogou na época 1949-1950.
Com Albano, António Jesus Correia, José Travassos e Vasques (foto abaixo), formou os célebres «Cinco Violinos», uma linha avançada cujos ataques de passes certos e rápidos, eram letais para as equipas adversárias. No meio dos seus companheiros, dos outros quatro violinos, Peyroteo era um autêntico «stradivarius».
Peyroteo, cuja carreira coincidiu com o período de maior esplendor do seu clube, faleceu, vitimado por um ataque cardíaco, em 28 de Novembro de 1978, com 60 anos. Uma glória do Sporting Clube de Portugal e uma grande figura do futebol português. Nunca será esquecido.
Hoje, uma notícia destas causaria alguma celeuma. Os jornais desportivos não deixariam de a colocar na primeira página. Para mais, em dia de confronto entre as equipas de futebol, daria lugar a picardias entre as claques. Pois podem crer que, há cem anos, o facto de um atleta de elevada qualidade ter saído do Benfica e ter ido para o Sporting não perturbou ninguém. Nem sequer foi notícia. Naquele ano de 1910 e seguintes, as preocupações eram outras...
Falemos um pouco sobre Alfredo Camecelha, o protagonista desta sensacional transferência.
Já aqui falei por várias vezes do Jaime Camecelha, um amigo de infância que alguns dos colaboradores do Estrolabio conheceram (era quase impossível conhecer-me e não conhecer o Jaime) e que morreu vai fazer em Dezembro oito anos. Era como um irmão (os meus filhos tratavam-no por tio), sempre andámos pelos mesmos sítios – clubes, cineclubes, partidos… Para onde ia um, ia o outro. Estando eu a trabalhar fora de Lisboa, era raro o mês em que não aparecesse com a mulher e os filhos a visitar-me. Passámos muitas férias juntos - as últimas, em Cabo Verde, Não me lembro de ter tido uma discussão séria com ele – uma ou outra casmurrice de que no dia seguinte nenhum de nós se lembrava.
O seu avô, que conheci, era um homem alegre. Lembro-me dele num aniversário, salvo erro do Rogério, o irmão mais novo do Jaime, em que rodeado de jovens, tocou viola e cantou. Tinha já mais de 70 anos, mas denotava uma energia e uma vivacidade incomuns. Só muito recentemente soube que fora em 1910 recordista nacional no lançamento do peso e que por essa altura saiu do Benfica para o Sporting (segundo diz uma neta, por conseguir ali melhores condições). Chamava-se Alfredo Camecelha
O Benfica comemora por estes dias o seu 107º aniversário. Benfiquista que sou, adiro à comemoração falando deste atleta, o primeiro a ganhar uma competição para o clube. Mesmo sendo um atleta que foi para o nosso rival de estimação, para o Sporting Clube de Portugal, merece ser recordado.
Alfredo Camecelha nasceu em 1880 em Lisboa de uma família de emigrantes galegos, gente oriunda da região de Pontevedra.
O apelido Camecelha, que parece ser um aportuguesamento do galego (castelhanizado) Camasella, é por ali relativamente vulgar.
Entre diversas referêrencias sem interesse a pessoas com esse apelido,na lista dos galegos mortos no campo de extermínio de Mauthausen, entre Agosto de 1940 e Maio de 1945, figura um Agustín Camasella Fernández, de Vigo (Pontevedra), executado em 1 de Novembro de 1941.
Alfredo Camecelha (1880-1956) foi realmente o primeiro atleta a ganhar uma prova nacional para o Benfica. Num torneio realizado em 7 de Fevereiro de 1909, com a participação de dez clubes, lançou o peso (7,250 kg) a 9.30 m. Fez também parte da equipa de luta de tracção no mesmo torneio. Vêmo-lo numa foto cedida pela família lançando o dardo.
Continuo a reunir elementos que me permitam escrever uma pequena biografia deste atleta que há cem anos protagonizou uma transferência que, hoje, daria muito que falar, não deixando de ser explorada pela rapaziada das claques, logo à noite no Estádio da Luz.
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