A Verdade Sobre Afonso Costa
Alberto Guimarães
Lisboa, 1935
«Almocei e jantei bem. Provavelmente, venho a sair da prisão ainda mais gordo, e sobretudo com maior abdómen, do que tinha quando cá entrei.»
Muito mais engordaria ele depois da proclamação da República.
Mas é notar a sua insistência no problema alimentar. Não há um único dia de cativeiro em que tal preocupação não se apresente ao seu espírito. Até ao oitavo e último dia da sua detenção ele exprime o seu contentamento ante a boa mesa, anotando no seu canhenho:
«Esta manhã, depois de um bom almoço de linguado, bife de vitela, queijo da serra, fruta e doce…
O estilo é o homem... Este estilo que resume gulodice, que deixa desvendar em embrião o homem que à frente de um bando voraz havia de roer o Pais até aos ossos, só podia ter saído da mão pesada e papuda de Afonso Costa.
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Vermelhos, Brancos e Azuis
Rocha Martins
Lisboa, 1948
Julgo não ser lícito ocultar o que se sabe quando a verdade pode servir de exemplo, de incentivo ou de aviso para não se repetirem erros, delitos e até crimes.
Não manifesto opiniões; apresento factos à semelhança do que fiz nos meus livros anteriores do mesmo género, desde João Franco e o seu Tempo a D. Carlos, História do seu Reinado e de D. Manuel II às Memórias sobre Sidónio Pais.
São testemunhos sinceros. Já que o destino me colocou em situação de, por vezes, lidar com personagens históricos, aqui os apresento como os considerei, sem paixão nem parcialidade.
Eram meus amigos esses portugueses ilustres; mas a sua amizade não me leva a enaltecê-los. Joeirei tudo na peneira do tempo. Ficou só o grão; voou a poeira, a que ainda podia cegar-me.
Rocha Martins
Sidónio Pais
Ídolo e Mártir da República
Rocha Martins
Bonecos Rebeldes, 2008
Na redacção da Luta, pelas noites quentes de Agosto, o senhor Brito Camacho jogava o bluff no jardim coberto, e pela sua frente, em cumprimentos respeitosos, passavam oficiais, de todas as Armas, alguns fardados, que iam conspirar com Sidónio Pais. O chefe unionista, fingindo-se atento às cartas, enviesava o olhar para essa gente nova que chegava, cheia de fé, e num furor mal contido contra o Governo democrático.
Desde 1913 que se amontoavam revoltas, se excitavam ânimos, se soltavam cóleras, se faziam envolvimentos, de todos os partidos, sempre fracassados, o que enchia de orgulhosa força os detentores do Poder e os fazia aguardar, desdenhosos e audazes, as explosões da rua, para as dominar aumentando o seu prestígio.
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O Sidonismo e o Movimento Operário Português
António José Telo
Ulmeiro, 1977
É inútil realçar a importância dos anos de 1917-1919 a nível da história mundial. Já na história portuguesa, contudo, a sua importância é geralmente desprezada, apesar de os acontecimentos então vividos terem então marcado profundamente todo o século XX português.
Em Dezembro de 1917, Sidónio Pais, oficial do exército praticamente desconhecido, é levado por um golpe militar vitorioso ao lugar cimeiro da política portuguesa, apoiado num amplo bloco de classes possuidoras, e mesmo no proletariado durante os primeiros meses. O que parecia ser mais um vulgar golpe militar não tarda muito em transformar-se numa experiência politica única e insólita em Portugal e mesmo no mundo, cujo total alcance só poderia ser compreendido a posteriori.
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Responsabilidades Históricas – II
Teixeira de Sousa
Coimbra, 1917
Julgo haver nisto um grande equívoco o uma grave injustiça: equivoco no tocante ao apego que Júlio de Vilhena tinha ao júri nos delitos por abuso de liberdade de imprensa; injustiça, reduzindo a obra colossal de Lopo Vaz ao simples facto de meter os delitos de imprensa no julgamento correccional. Júlio de Vilhena saíra da pasta da Justiça, como saíram das demais pastas todos os outros ministros pela demissão do gabinete. Organizado o novo governo, não tomou parte nele porque, sendo Lopo Vaz a figura de maior destaque e de maior influência no partido regenerador depois do Fontes, tendo por isso de ser ouvido acerca da constituição do gabinete, desde que ele aceitasse a pasta da Justiça nenhum outro partidário poderia ser chamado a geri-la.
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A Revolução de 5 de Outubro de 1910
Rocha Martins/Lopes D’Oliveira
Lisboa, s. d.
O grupo de Machado Santos chega à porta das armas de Infantaria 16, e encontra-a fechada. Aos vivas que ergue, de dentro do quartel ninguém responde. E ficam esperando, em concentrado silêncio.
Mas um vulto se aproxima: é um cabo do 16, Pedro da Cruz, que estava de guarda em Vale do Pereiro, e acaba de abandonar o serviço: conhecedor do quartel, leva Machado Santos porta duma arrecadação, que ele próprio arromba à coronhada.
Sobem uma pequena escada, forçam um alçapão, e entram na parada, recebidos por aclamações de soldados insurreccionados.
À 1 hora menos 15 o cabo Manuel António Correia soltara, da sua caserna, um forte e prolongado assobio. Era o sinal combinado. Os soldados que estavam na conjura, e se tinham deitado vestidos, correm à parada, soltando vivas à República.
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D. Manuel II
História do Seu Reinado e da Implantação da República
Rocha Martins
Lisboa, 1931
D. Manuel II, quase abandonado, tendo consigo apenas os destroços da realeza, a sua família, uma dúzia de fiéis e alguns condicionais, ainda confiava.
A menos dum mês da revolução, um jornal monárquico – O Liberal – no fragor da sua política; declarava:
«O Senhor D. Manuel deixou de ser Rei!»
É por tudo isto que o troar dos canhões mais parecia de salvas à monarquia agónica do que o fragor duma grande guerra com os regimentos de todo o país em batalhas heróicas.
Mas como sucedeu que, em menos de sessenta horas, se derrocasse uma Instituição de séculos? Eis o que vou ensaiar descrever com a serenidade de quem, conhecendo os personagens e vivendo no seu âmbito, os pode evocar, ao cabo de mais de vinte anos de república.
ROCHA MARTINS.
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A Dupla Face do Franquismo
na Crise da Monarquia
José Miguel Sardica
Cosmos, 1994
O franquismo, se assim quisermos chamar à obra política de João Franco como ministro do reino, dissidente regenerador, chefe do Partido Regenerador Liberal e, finalmente, Presidente do Conselho, foi até há pouco tempo, na nossa historiografia contemporânea, um fenómeno demasiado obscurecido pela projecção das polémicas ideológicas que na sua época suscitou.
Não será, seguramente, a isso alheio o facto de a ditadura franquista (1907-1908) ter sido o mais conturbado período do fim da monarquia, marcado pelo vigor do assalto republicano ao poder e pela resposta desesperada de um sistema agonizante, tudo culminando no regicídio de Fevereiro de 1908.
As críticas ferozes que o republicanismo e boa parte dos monárquicos dirigiram à governação franquista, viriam, assim, a ser largamente recebidas numa historiografia ainda muito marcada pelos moralismos jacobino e conservador.
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