(Continuação)
O interessante é saber porque é que ao falar de resiliência, o autor fala dos “vilões pequenos patos”. Penso que a ideia não é difícil. Primeiro, vilões por serem capazes de se desenvolver a partir do “agarrar-se” a uma feliz memória pessoal ou da sua cultura. Pequenos patos, porque são capazes de nadar apesar de essa corrente ser tão forte dentro da sua cultura ou processo de interacção social. Hoje em dia tem vindo a público, factos de abuso de menores que, já faz tempo acontecem, mas apenas hoje se defende e se fala, do colo que a sociedade dá aos mais novos por se terem envolvido adultos que organizam o poder de uma nação. É evidente que nem todas as culturas têm este problema, bem ao contrário: muito embora o incesto seja um tabu universal, a pedofilia é definida de forma diferente nas diversas culturas, algumas até a praticam como parte do crescimento dos mais novos. Mas, este conceito é para outro capítulo. O que me interessa ver neste capítulo, é a prevenção que os sabidos homens da religião têm organizado para defender les petits canards de actividades que ou não são rituais, ou, se são rituais, saiam da estrutura organizada, como processo criminoso para novos e velhos, como tenho referido noutros textos. O capital, a nossa relação social, deixa-nos com a ilusão de sermos pais para passar a guardiães dos nossos pequenos e de vigiar os adultos que andam por perto.
De facto um pequeno parágrafo do capítulo II do Catecismo Católico Romano de 1992, como o de Lutero de 1529, vai directo ao ponto do que hoje em dia, apenas, denominamos traumatismo. É esse traumatismo e como ele é causado, o que diz respeito ao final desta primeira parte deste tão difícil texto, mas tão necessário pela sua actualidade e incompreensão cultural.
Esse pequeno parágrafo parece referir o segundo conceito deste número, a culpa, tal como acontece com o Catecismo de Lutero[1], com o Alcorão[2] e o Torah[3] ou Dez Mandamentos e os Comentários Rabínicos de los Diez Mandamientos, textos que orientam o comportamento do povo judeu. Todos eles referem o mesmo tipo de comportamento, em referência à culpa, denominada pecado. Penso que devia começar pela última frase do parágrafo referido.
O parágrafo referido acaba com uma frase que diz: “Portanto, a caridade é o pleno cumprimento da lei” (Epístola de Paulo de Tarso aos Romanos, 13, 8-10)[4]. O que está a querer dizer Paulo de Tarso aos Romanos ao falar de que é obrigação de todo cidadão cumprir a lei, e que cumprir a lei é caridade? Primeiro, está a referir-se à subordinação de todo ser humano aos poderes políticos: “Todos hábeis de estar sometidos a las autoridades superiores, que no hay autoridad sino por Dios, y las que hay, por Dios han sido ordenadas”[5]. Como cidadão romano, está a escrever aos seus compatriotas sobre um tema que era desconhecido, como hoje em dia acontece muito, a caridade. Este conceito, extremamente usado nos textos que fundamentam a nossa cultura, tem um significado não definido, mas muito adjectivado, na época em que se procura a igualdade entre os seres humanos. Não podemos esquecer que no começo deste texto, referimos a hierarquia entre os romanos: cidadãos, submetidos ou sujeitos à autoridade do Pater Familias, escravos, povos colonizados, é dizer, pessoas com manu, etc. A palavra caridade, ao longo do tempo, faz parte da cultura ou costumes dos povos que hoje em dia conhecemos e podemos procurar uma definição ética: Caridade. [...] S.f. 1. (Ética) No vocabulário cristão, o amor que move a vontade à busca efectiva do bem de outrem [...]. 2. Benevolência, complacência, compaixão. 3. Beneficência, benefício, esmola, definição retirada de um texto do ano 2000[6]. Das três alternativas o texto comentado está, a meu ver, a usar o primeiro sentido. Muito embora ao longo dos textos denominados sagrados e que são ensinados às crianças desde muito cedo na sua vida – desde o Século III da nossa era até o dia de hoje, todo ser humano mais novo aprende primeiro as formas de interacção, que na nossa legislação actual denominamos bem comum ou garantia dos bens materiais em igualdade para todos, o princípio representado no artigo 9º da Constituição da República Portuguesa[7]e ao longo do texto constitucional, especialmente no Título III, sobre Direitos e deveres económicos, sociais e culturais, artigos58 a 79.
(Continuação)
A essência do recalcamento consiste em afastar uma determinada coisa do consciente, mantendo-a à distância (1915, livro 11, p. 60 na ed. bras.). A repressão afasta da consciência um evento, ideia ou percepção potencialmente provocadores de ansiedade e impede, dessa forma, qualquer manipulação possível desse material. Entretanto, o material reprimido continua fazendo parte da psique, apesar de inconsciente, e que continua causando problemas.
Segundo Freud, a repressão nunca é realizada apenas uma vez e definitivamente: exige um continuado consumo de energia psíquica e neuronal, para manter o material nocivo, reprimido. Para ele os sintomas histéricos com frequência têm sua origem em alguma antiga repressão. Algumas doenças psicossomáticas, tais como asma, artrite e úlcera, também poderiam estar relacionadas com a repressão. Também é possível que o cansaço excessivo, as fobias e a impotência ou a frigidez derivem de sentimentos reprimidos[1].
A libido é-me mais importante de analisar, por causa da confusão que causa no saber cultural do conceito. É definido e usado no livro de Moisés e Monoteísmo, da forma seguinte: “Segundo Freud, no ser humano, cada um dos instintos gerais teria uma fonte de energia separadamente. Libido (palavra latina para "desejo" ou "anseio") seria a energia aproveitável para os instintos de vida. "Sua produção, aumento ou diminuição, distribuição e deslocamento devem propiciar-nos possibilidades de explicar os fenómenos psicossexuais observados" (1905a, livro 2, p. 113 na ed. bras.). Outra característica importante da Libido é sua mobilidade, ou a facilidade com que pode passar de uma área de atenção para outra.
A energia do instinto de agressão ou de morte não tem um nome especial, como tem o instinto da vida (Libido). Ela supostamente apresenta as mesmas propriedades gerais que a Libido, embora Freud não tenha elucidado este aspecto.[2]”
(Continuação)
Parecia-me necessário entender certos conceitos, antes de entrar pelas duas temáticas que explicam a incompreensão entre adulto e criança. Especialmente, por estarem baseadas em ideias religiosas da vida pessoal dos autores, todos eles israelitas. O Édipo e o ante Édipo ou Jesus; e o comportamento erótico da infância. Por outras palavras, as ideias psicanalistas não são conceitos inventados, são retirados dos aspectos punitivos do que denominamos religião, definido por mim em textos anteriores como a lógica da cultura e a lógica da história, é dizer, o que orienta, define, incentiva e proíbe comportamentos entre seres humanos cuja base de agir é a felicidade e o desejo que leva à reprodução, à concorrência, ao lucro, à mais-valia. Conceitos todos já definidos nos textos denominados sagrados das várias culturas e invocados por mim em páginas anteriores. No entanto, a melhor definição de religião é proporcionada por Durkheim, conceito que contribui para o entendimento da terapia e as suas técnicas adaptativas ao comportamento definido pela Divindade, que os psicanalistas não denominam histeria nem neuroses, apenas alienação. Durkheim considera a religião como a representação sagrada que o povo tem de si próprio e define-a assim: “Uma religião é um sistema unificado de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, ou seja, retiradas da sociedade e proibidas – crenças e práticas que unificam numa única comunidade moral chamada Igreja todos aqueles que a ela aderem. O segundo elemento que encontra assim lugar na nossa definição não é menos essencial do que o primeiro; porque mostrando que a ideia de religião é inseparável da de Igreja, torna claro que a religião deve ser um facto eminentemente colectivo”[1] Esta definição que tenho usado, na língua original noutros textos, porque define, praticamente, o que os terapeutas procuram: a sociedade e a interacção individual e dentro do grupo. Durkheim, ateu mas pertencente à religião judaica, procura o mesmo tipo de análise de comportamento que Freud e discípulos: uma análise ajustada a uma lógica exógama, não incestuosa, a reconhecer a realidade da libido e de todos os outros conceitos que defini antes. Conceitos entre os quais se encontra o Quarto Mandamento comum às religiões referidas em páginas anteriores: o amor aos ancestrais e o respeito, do qual nasce um conceito que já quase não é usado, o de Édipo, e que Freud analisa no seu texto sobre religião, a partir das seguinte tábuas:
http://www.youtube.com/watch?v=MBW5a77wINQ
Bellini Norma Casta Diva Maria Callas
IV
Quarta lição
O começo da teoria analítica. Entender.
Entre outros motivos da não percepção, está a formação diferente, quanto a imaginário, entre adultos e crianças. O conjunto de adultos que procura entender a criança, vive de forma pragmática e pensa de forma material. O caso mais conhecido, é o do fundador da psicanálise, Sigmund Freud[1]. Como diz Storr, biógrafo de Freud, “Sigmund Freud is part of a group of thinkers who have reacted against religion in its formal expression (E.g. Church, liturgy, the belief that God lives in the heavens etc.), but at the same time seeks to internalise key religious concepts and then relate them to the human psyche. However, unlike modern non-realists who see value in religion as a means for promoting certain social and moral values in society (see God as the Sum of our Highest Ideals), Freud is more akin with the likes of Karl Marx who saw religion as an immediate expression of some deeper human problem which needed to be 'cured' (see Marxism). Although Freud was Jewish, he never practiced his religion and in fact he believed that all religion was an illusion which had developed to suppress certain neurotic symptoms in humans” e acrescenta uma frase do autor: “ [Religion] must exorcise the terrors of nature, [Religion] must reconcile men to the cruelty of fate, particularly as it is shown in death, and [Religion] must compensate them for the sufferings which a civilized life in common has imposed on them”.[2] Formas de pensar que dizem respeito ao pragmatismo usado pelos analistas, que retiram das suas formas de pensar, o pensamento simbólico criado pela mente humana entre a natureza e a crença na existência de uma outra vida. Acrescenta o autor da biografia de Sigmund Freud: “In the end Freud believed, as Marx did that the religious instinct in people was curable (even childish), and so at some point in the future could be abandoned. This would happen once people left behind their psychological illusions and live as restored people in a world of scientifically authenticated knowledge. Yet despite this negative assessment of religion Freud's theory can open up other possibilities for explaining why humans have the religious instinct”[3]. Ideias que Freud desenvolve nos seus textos sobre Moisés[4]para comparar uma ideia fundamental da sua teoria: 'If the relation of a human father to his children is, as the Judaic-Christian tradition teaches, analogous to God's relationship to humanity, it is not surprising that human beings should think of God as their heavenly Father and should come to know God through the infant's experience of utter dependence and the growing child's experience of utter dependence and the growing child's experience of being loved, cared for, and disciplined within a family”[5]
Ontem escrevi sobre o dever da heresia, por causa de vários políticos andarem a correr para o cargo de Presidente da República. Não há texto em que eu não tenha escrito sobre o debate da hecatombe que deveria percorrer todo o país. Fala-se de tudo, vive-se como se entende, gastam-se as poupanças em divertimentos, o crédito é o rei do dia-a-dia, os debates são sempre entre candidatos e pela televisão que vemos e ouvimos calmamente desde a cama. Não há comícios nem desfiles para apoiar o candidato preferido. Ninguém fala das suas preferências: resultaria num sortilégio, como cumprimentar alguém antes do seu aniversário, dá má sorte…O que pretendemos do próximo Presidente, é apenas debatido na Assembleia da República ou nas reuniões de pessoas do mesmo partido. Do que se fala, é de louvar os candidatos. É raro que, esse pretendente à mais alta magistratura da Nação, sai à rua para esclarecer pontos obscuros do seu programa. Portugal é infantil: não debate, aguarda e espera sem saber qual o programa do candidato da sua preferência, normalmente um programa retirado da ideologia do fechado partido político que apenas admite debates entre os seus membros. Não tenho visto nem ouvido palestras ideológicas públicas: ou não há tempo, ou não há interesse. A maioria dos candidatos tem partidos que os apoiam à porta fechada, apenas entre eles.
Convicções que ninguém pode mudar. Não sabemos, não entendemos, os discursos de 1985 são os mesmos do dia de hoje. A crise económica que sofremos, iniciada por um dos candidatos que não soube gerir os bens nacionais nem tomar conta do entesourar das arcas do estado, continua a usar as mesmas palavras de 1985, do tempo em que era 1º ministro.
Não sabemos quem diz a verdade, quem se interessa pelo povo, quem pode representar à sua soberania. Todas as palavras, programas, ideologias, não têm mudado, excepto a que nos mata: retirar ao povo o montante das dívidas que os nossos governantes não souberam pagar. Os governantes, procuram na nossa pobreza, a luz da sua escuridão de líderes que não convencem porque não souberam governar.
Será que voltaremos a viver os tempos antes do 25 de Abril de 1974? Perante esta incógnita, penso apenas em mim e tento fugir das manifestações dos que nada dizem e tudo prometem. Pelo que, dentro deste texto, faço uma viragem de tema, que também corresponde ao título do ensaio. E que os candidatos deviam ler.
Esta é a minha ironia para os governantes que apenas se orientam pelas suas ideias, regalias, sem fazerem um pacto de união que salve o país da crise financeira.
Esta é a minha irónica mensagem para os que dizem resolver os problemas da nação, mas não conseguem, especialmente endereçada ao candidato que preside actualmente à República e pensa numa divindade, em estreito contacto com a que diz existir:
Sem saber como, nascemos. Nascemos sem saber muito bem porquê. Somos resultado da paixão dos nossos adultos.
Essa paixão que não permite pensar, apenas agir. Essa paixão que tem, quase sempre como consequência, dar vida. O caminho ao Gólgota, como o nosso com os candidatos, começa mal nasce a pessoa[1].
Dizer que viver não custa e, depois, referir o caminho do calvário, parece uma contradição. No entanto, não o é. Dizer que viver não custa é já definir esse caminho semeado de espinhos dos preços, dos horários de trabalho prolongados, das esperas imensas de transportes lotados. De lutar contra a doença, porque o dinheiro descontado, no parco salário, faz falta. Desconto feito pelos mais poderosos que apenas querem continuar a acumular riquezas com a força do trabalho dos outros. Estes espinhos são inevitáveis. A vida ensina como somos matéria e que essa matéria se cansa, se aborrece ou nem sabe como se entreter. Não é em vão que Alice Miller comenta o que está na citação de nota de rodapé[2]. Criança isolada para ser bem dotada.
É por meio destas ideias de Alice Miller, do abuso que as crianças e os adultos sofrem com os políticos, ao serem sempre consideradas pessoas cuja dotação intelectual é inferior ao normal, que entendemos finalmente, que viver não custa, o que custa é ensinar a saber viver. Viver não custa desde que se saiba escapar às doenças, entender de economia e gerir o corpo e a inteligência, com diligência e com informação, como os pretensos candidatos deviam fazer.
Os mais novos aprendem estas ideias e outras, pelo real calvário dos seus pais com os líderes da República, esses adultos que são a força de trabalho de uma nação, como já advertia Marcel Mauss em 1924[3].
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