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Na passada semana várias rádios se associaram num cometimento que pretendia mudar Portugal: pôr os portugueses a sorrirem à toa. Às 8, 9 e 18 horas. A quem estivesse mais perto. No anúncio ouvíamos cantar – em inglês – um texto que nenhum Carlos T. fora capaz de criar. Apontei a ode: Don’t worry, be happy, a smile on your face. Não sei como os leitores reagem... Eu, quando portugueses comunicam comigo em inglês, não só me inquieto mas também fico furiosa e até faço uma careta.
Acho a iniciativa idiota: não faltam razões para os portugueses andarem de trombas. Não, não me refiro à crise económica e financeira. Portugal não é, ao contrário do que se diz, um país pobre – é, sim, um país complicado. Aqui a mínima operação, seja qual for, exige filas de espera, contestações, argumentações, reclamações... E muitas fotocópias. Para cancelar o telefone da minha mãe, fui três vezes à Portugal Telecom das Picoas, redigi dois requerimentos, deixei duas fotocópias, não só do meu bilhete de identidade como do bilhete de identidade dela... Para regularizar o seguro de casa, fui três vezes a uma companhia e, passados quinze dias, como ainda questionassem, com precauções desconfiadas, por que carga de água não incluía o recheio, mudei para outra – onde, no instante em que ia assinar, descubro que, como já lá tinha um seguro, me transferiam o da primeira para a segunda casa. Dou dois exemplos mas podia dar vinte. Não, isto não resulta das medidas de economia em empresas públicas (ou privadas): mais do que pessoal falta cá o desejo de servir os utentes (ou clientes), o gosto pela eficiência, o prazer do trabalho bem feito, a estética da simplicidade. O utente (ou cliente) é maltratado de diversos pontos de vista: perde tempo, paga impressos, no mínimo, fazem-lhe disparate após disparate, tem que telefonar, tem que voltar inúmeras vezes para corrigir os erros, contestar, argumentar – e ainda ouve comentários. Ninguém lhe defende os direitos. O abuso de poder começa no motorista da Carris que conduz como se transportasse sacos de batatas e chega aos tais administradores de grandes empresas públicas (ou privadas).
(Claro que há excepções. São tão raras que estranhamos. E nos lembramos. Por exemplo: os revisores na linha de Sintra. Ignoro que formação a CP dá – acho-os sempre corteses. Não sou o género de pessoa que apanha o comboio sem bilhete mas parece-me que, se tivesse sido, deixava de ser... Ou os polícias com quem – por desgraça – me relacionei, cheios de gentileza, ideias e coragem, embora eles, sim, desprovidos de meios e apoios.)
Os portugueses são agredidos na rua, no carro, em casa, não têm médicos nem hospital, pagam as creches dos filhos e os lares dos pais, são espoliados se mandam fazer obras... Alguns dias saem de casa para um massacre. Em muitos momentos sentem-se vencidos. Não basta portanto a rádio dizer olha o passarinho para eles sorrirem. (Os poucos que o fizerem, cuidado: prestam-se a todas as manipulações.)
Prefiro uma carranca verdadeira a um sorriso de rádio. Carreguemos o sobrolho sempre que nos apetecer. Mostremos má catadura se nos vier a pintar. Andemos de trombas quando houver razão para isso. (Eu às vezes faço concorrência aos elefantes.) É um direito, não é? Com a condição de não incomodarmos os outros com o nosso mau humor. Os outros já aguentam os seus problemas; não temos o direito de lhes lançar os nossos à cara.
Mas para quê sorrir nos engarrafamentos às seis da tarde? O ar que ali respiro oxigenar-se-á? A auto-estrada transformar-se-á num jardim de delícias? As horas que perco ser-me-ão devolvidas? Não será fingir que faço uma acção positiva para descarregar a consciência das acções negativas que podia ter evitado? Como saberei se não estou a sorrir a qualquer criatura pouco digna disso?
Mais inteligente fora se as rádios incitassem os portugueses a pensar – mas não seriam rádios portuguesas. As rádios em Portugal esvaziam as cabeças através dos 3 T, as taças, o tempo, o tráfico. E a música oca. E as operações sorriso. (Apenas uma escapa a esta mediocridade e seria até excelente, se falasse mais e não se fechasse na torre de marfim: a Antena 2.) Em vez de iniciativas tão vãs como esta, as rádios podiam incitar-nos a tornar este país melhor. Sim... Todos podemos. Sim... Também depende de nós. E só temos a dificuldade da escolha. Podemos recusar as empresas que inquirem: quer com ou sem factura? Podemos, no nosso espaço profissional, ser mais rigorosos e mais eficientes. Podemos apanhar os cocós do nosso bicho de estimação. Podemos participar no Vamos Limpar Portugal. Podemos caminhar, apanhar o metro ou o comboio, sempre que possível – e, se for uma vez por semana, já é melhor do que nunca. Podemos não fazer barulho para não incomodar os vizinhos... Cada um de nós pode muito. Se quiser. A todos os níveis. Os traficantes, os trafulhas, os arrogantes, os aldrabões, os desonestos, os oportunistas só prosperam com a nossa cumplicidade ou a nossa indiferença.
E, sem sorrirmos de maneira cretina, não abdiquemos também, sempre que possível, da boa disposição: a nossa sobrevivência passa pelo sorriso. Mas um sorriso vivo, crítico, criador... Um sorriso possível até, uma ou outra vez, graças à Antena 1. Eu na semana passada atribuí o prémio do anglicismo a dois entrevistados. Declarou uma senhora cujo nome não pude apontar: o servidor da segurança social crashou. (Deve achar decorativos os dourados americanos.) E, no mesmo dia, 1 de Fevereiro, o Dr. Dantas Rodrigues falou de um murder de 2° grau. Ganhou o prémio do neologismo a locutora que inquiriu (Antena Aberta, 3 de Fevereiro) se lhe podiam elencar as várias formas de voluntariado. E o prémio do disparate coube à locutora – outra – que, durante uma tarde inteira, se regalou com o tempo solarengo... Sugiro aos leitores que, quando virem passar um destes monstros, o agarrem com, se possível, a indicação da rádio ou canal, dia, hora e nome do autor. E mandem-mo por via electrónica (manuela.degerine@wanadoo.fr). Sou uma coleccionadora ávida. E sorridente.
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