Os gatos que nos aceitam - VII
Clara Castilho
Rá, deus do Sol, sob a forma de um gato
Pintura mural do túmulo em Deir el Medina, c. 1250 a.C.
I)
ODE AO GATO
Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,
a matéria compulsiva dos sentidos.
Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silêncio branco da cinza,
pois nós temos fôlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formarmos o salto
que leva à glória ou à morte,
conforme a harmonia dos astros
e a regra elementar do destino.
José Jorge Letria, in "Animália Odes aos Bichos"
II)
Um dos contos mais famosos que a todos encantou na nossa infância, foi o da Gato das Botas , ora atribuído a Charles Perrault, ora aos irmãos Grimm.
III)
A relação entre o gato e o rato foi levada ao cinema, em 1937, pela imaginação de Wiiliam Hanna e Joseph Barbera, que criaram a dupla Tom e Jerry.
Provérbios
Se o rato está imóvel é porque o gato ainda tem o olho aberto - Provérbio maori
Para o rato, o gato é um tigre; para o tigre, é apenas um rato - Provérbio persa
Quando o garo está ausente, o rato sobe ao trono - Provérbio tibetano
Os Gatos que nos aceitam - V
Clara Castilho
a) Literatura
O GATO
Vem, meu belo gato, ao meu coração apaixonado,
recolhe as unhas da tua pata
e deixa-me mergulhar nos teus belos olhos
onde o metal e a ágata se misturam.
Quando os meus dedos acariciam, vagarosos,
a tua cabeça e o teu dorso elástico
e a minha mão se inebria com o prazer
de afagar o teu corpo eléctrico,
vejo, em espírito, a minha mulher. O seu olhar,
tal como o teu, querido animal,
profundo e frio, fende e trespassa como uma lança,
e, da cabeça aos pés ,
flutuam, em torno da sua figura morena,
um ar subtil e um perfume misterioso.
Charles Baudelaire
Da Vinci
b) Informações
Durante muito tempo julgou-se que o gato via tudo a preto e branco, mas hoje sabe-se que pode distinguir as cores, tendo uma visão nocturna que lhe permite orientar-se.
Tem um sentido de olfacto muito desenvolvido. Para além do nariz possui no céu da boca o órgão de Jacobson. Com os seus bigodes ele pode medir a deslocação do ar, de forma a saber a posição e o contorno de tudo o que o rodeia. Reage a estímulos que somos incapazes de captar. Por isso dá conta, muito antes de nós, de algum perigo iminente – terramoto, erupção vulcânica – demonstrando-o pelo eriçar dos pelos, dilatar das pupilas, arquear das costas., etc.
O seu ronronar transmite contentamento. Respondem a quem fala com eles, numa relação directa com a quantidade de fala que lhe é dirigida.
Renoir
c)Provérbios
Aquele que guarda qualquer coisa para a noite, guarda-a para o gato – Provérbio dinamarquês
Aos olhos de um gato, todas as coisas lhe pertencem – Provérbio inglês
Não há gato que não tenha unhas – Provérbio suiço