Quarta-feira, 16 de Março de 2011

Aleluia, Tudo Vai Mudar Para Melhor

AGORA É QUE VAI SER

 

O PEC 4 não vai passar.

Está iminente a queda do governo.
O senhor José vai-se embora.
O senhor Presidente da República vai ficar com uma batata quente nas mãos, e nós bem sabemos o quanto ele detesta queimar-se, ou mesmo chamuscar-se, por pouco que seja. De qualquer das formas, vamos ficar, dentro de dias, a saber se temos ou não um Presidente à altura dos acontecimentos.
O senhor Silva vai ter de decidir se quer um governo de sua iniciativa, se quer tentar um bloco central ou se vai partir para eleições.
Neste último caso, qualquer um pode ganhar, seja ele o actual partido do poder ou o outro que quer ir para o lugar dele, já que os outros são pequeninos demais para que se equacionem.
Depois disso, e de se saber quem irá ganhar, precisa, o senhor Presidente, de decidir quem vai governar.
Poderá ser o actual partido da oposição, com ou sem a muleta do senhor Portas, caso os votos do povo cheguem para que, juntos, façam uma maioria.
Poderá de novo equacionar-se a hipótese de um 'bloco central', se os votos de cada um não chegarem para nada.
Poderá ainda ser o actual nosso Primeiro a ganhar.
E se for assim, se o senhor voltar a ganhar, como vai ser? Voltamos à estaca zero?
Se o actual governo cair, de uma coisa poderemos todos ter a certezinha absoluta. Seja qual for a solução encontrada pelo senhor Presidente, e sejam quais forem os resultados que se obtenham, Portugal vai mudar. E vai mudar para melhor, claro. E, se forem outros diferentes dos actuais governar o nosso País, a mudança vai ser mais rápida e 'mais melhor'.
Se calhar vamos ter o FMI ou outro qualquer organismo a ajudar a acabar com esta chuchadeira, mas isso não será mal algum já que rapidamente iremos verificar que o desemprego começa a desaparecer, os ordenados a subir, a inflação a descer, a Justiça a funcionar, a Saúde de vento em popa, e as desigualdades a desaparecerem. Em muito pouco tempo, dias até, tudo vai mudar, e vamos voltar a ser felizes.
 
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publicado por atributosestrolabio às 18:00
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Segunda-feira, 31 de Janeiro de 2011

Carta aberta ao Presidente da República - por Júlio Marques Mota

Coimbra, 28 de Janeiro de 2011

 

 

Ex.mo Senhor Presidente da República

 

Com conhecimento: ao Primeiro-Ministro, ao Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, à Ministra do Trabalho e aos líderes parlamentares.

 

Carta Aberta

 

A propósito de silêncios

 

Senhor Presidente, como cidadão e como profissional uma carta aberta sobre o caso BPN e sobre o ensino superior em Portugal lhe escrevi, mas nenhuma resposta, nenhum sinal sequer de recepção alguma vez recebi, o que já não aconteceu, sublinhe-se, com os seus segundos destinatários, por respeito institucional, como o Primeiro-ministro José Sócrates e com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago.

 

Senhor Presidente, o tempo das eleições terminou, e desse tempo a luz dos holofotes sobre os candidatos, essa, por mais quatro anos, se apagou. Do resto, o que ficou? Um Presidente a 25 por cento dos votos possíveis, mas é o nosso Presidente e é esse facto que a história já registou. E dessa noite, também, uma sensação amarga nos ficou, com o discurso que ouvimos, pois uma vez eleito, o Presidente de todos nós, portugueses, para todos nós não falou, porque uma linguagem de concórdia entre os portugueses bem esperada, não foi essa a que utilizou.

Nessa noite de eleições, a diferença entre o discurso esperado e o discurso proferido foi tal que um analista na televisão chegou ao ponto mesmo de encontrar uma equivalência, uma espécie de noite das facas longas, mas felizmente, muito felizmente mesmo, estamos longe, longe da barbárie a que a noção de equivalência remetia. Distracção do jornalista. Nessa noite de um tempo de renovação de mandato e numa altura de crise tão violenta que todos queremos ver passada, nessa noite, era uma linguagem de futuro que a todos cabia ouvir porque cada um de nós se sente assustado sem um futuro poder minimamente garantir.

 

Senhor Presidente, nessa noite, foi a linguagem da discórdia que falou mais alto, foi esta que se fez entender, tomando como ponto de partida a situação do BPN, tomando como ponto de chegada aquilo que ninguém de bom senso pode alguma vez entender: que as eleições foram em si a prova de que o que foi dito à volta do BPN é uma questão pelo povo eleitor a dever esquecer, uma vez que as respostas tinham sido dadas a quem as quis entender. Não, senhor Presidente, uma coisa é votar em si como candidato, outra coisa é não compreender o que se passou, em termos de transparência de valores que cada um de nós no seu Presidente gostaria de reconhecer. Que não se confundam os planos, é essa a nossa sugestão.

 

Senhor Presidente, uma coisa se sabe, uma transacção de títulos efectuada fora de mercado, como tantas se fazem, como se fizeram recentemente com a Goldman Sachs e Facebook, é uma das operações que se fazem todos os dias, se bem que esta última tem na sua peugada a polícia, porque exactamente feita fora da bolsa e dos mecanismos de transparência que esta garante ou é presumível garantir, e já agora ninguém pode levar a mal, sem nenhuma má intenção, que o mais comum dos mortais que todos nós somos entenda que esta transacção é especial pelas suas duas contrapartes envolvidas: a primeira, a entidade compradora pela parte do BPN, está presa e vai ser julgada, a segunda, essa, era o candidato que é agora, de novo, o Presidente de todos os portugueses. Dessa transacção que transparente não pode ser chamada houve mais-valias pagas por um Banco falido, agora nacionalizado, a um seu amigo pessoal, hoje Presidente de todos nós, que as recebeu como mais-valias geradas pelo mercado (qual?) mas em que agora se sabe terem sido menos-valias transformadas em custos que seremos todos nós, os contribuintes portugueses, que as iremos afinal pagar. Não, senhor Presidente, não podemos lamentar que o mais simples dos contribuintes não perceba que estas mesmas mais-valias não possam ser devolvidas ao erário público, ao Banco donde saíram, porque caso contrário, será cada um dos mais simples contribuintes que somos todos nós que as iremos repor, e isto não é, nunca foi, dizer mal de ninguém. Esta é apenas a lógica da realidade imposta a posteriori, é certo, a exigir, uma outra atitude sua, creio, também ela necessariamente a posteriori, depois de conhecida a realidade de agora do BPN, realidade que então desconhecia, como é suposto admitir. É apenas a lógica da moralidade ao longo do tempo.

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira às 11:12
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Terça-feira, 25 de Janeiro de 2011

O homem é de Boliqueime

Luis Moreira

 

É um pecado original, o homem nasceu no meio das hortas e no cheiro da gasolina. Ia todos os dias de comboio para a escola, passava o dia fora de casa, ao primeiro chumbo o pai meteu-lhe nas mãos uma enxada, passava as férias numa praia ali perto, diz um dos amigos que, com ele, partilhou as viagens de comboio.

 

Não teve amas, nem tios brasonados, nem tias professoras de liceu que lhe aguçassem o prazer da leitura, trabalhou que nem um danado para tirar médias muito altas no curso e no doutoramento em York ( cidade medieval linda e bem conservada), não teve tempo para ler Thomas Mann nem os Lusíadas, ou leu-os a correr porque tinha muitos livros técnicos  para ler e para escrever ( foi editado várias vezes em Inglaterra e nos US).

 

Isto, num país de "snobeira" é coisa que não se perdoa, pode lá ser, não é letrado, não lê os "grandes", fala mal, é tímido, tem dificuldade em se relacionar. Os "nossos" que frequentaram Paris, Argélia, com ancestrais ingleses, duques e marqueses, com biblioteca lá em casa que o avô lhes abriu de par em par, professores que alargaram horizontes, tios políticos da República, amas para levar o "menino" à escola, isso sim é que é gente preparada para ser Presidente da República.

 

Convencidos que é isto que faz da Presidência da República uma coisa sua, não estiveram com meias, o BPN, a "Coelheira", para mostrar que ele também é  suspeito, é  como os "nossos", não está acima da podridão , campanhas negras para todos é democrático.

 

E, como responde este povo que não sabe distinguir entre um "labrego de Boliqueime" e um gajo com pergaminhos, sangue azul?

 

Dá-lhe a maioria à primeira volta!

 

O inculto de Boliqueime tem as deficiências de quem teve que subir a vida a pulso? Tem os horizontes afunilados por uma matéria académica que estudou quase em exclusivo? E isso vê-se? Pois vê! Mas o que me afasta dele ( que me afastou) não foram as suas evidentes dificuldades de discurso e sua óbvia impreparação no mundo da cultura, das artes, da música, da história, da literatura. Foi o seu evidente caracter conservador . Não é capaz de tirar as ilações dos principios e práticas que nos levaram a esta crise, nem fará nada para mudar aquilo que está, obviamente, mal. Bem pior do que acreditar nos mercados, nos efeitos das dívidas, dos déficites e de tudo o que enforma a economia de mercado, Cavaco, acha que não há cenários alternativos, que tudo o que acontece é uma espécie de "mal divino" e que não vale a pena lutar contra isso, porque o que temos apesar das crises e dos pobres e desempregados, é o caminho certo .

 

Ora, isso não é verdade, nem a presente faze da evolução da humanidade é a última , bem pelo contrário, há muito caminho a percorrer, com fé e esperança. Cavaco Silva, acha que não, que vai ser assim para todo o sempre! É, essa, componente conservadora do seu caracter  que considero muito nefasta,mais do que ser ideologicamente de direita..

 

Há muita gente conservadora, considerando-se ideologicamente de esquerda. O melhor exemplo são os que perante o colapso dos estados literalmente de cócoras diante dos poderosos com dinheiro, continuam a tudo remeter para um estatismo serôdio que esmaga a sociedade civil.

 

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2010

Carta aberta ao Presidente da República

Coimbra, 15 de Dezembro de 2010


Ex.mo Senhor Presidente da República


Com conhecimento: ao Primeiro-Ministro, ao Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e aos líderes parlamentares.


Senhor Presidente, tomo a liberdade de lhe escrever esta carta porque, enquanto professor e cidadão, estou altamente preocupado com a erosão do tecido social em Portugal, e na Europa também, fruto não só da terrível situação de crise dita financeira pela qual estamos a passar e que é, sobretudo, o resultado do modelo económico, social e político que lhe está subjacente e preocupado igualmente estou, e muito, com a situação de crise que atravessa a Universidade em Portugal, fruto sobretudo de políticas anteriormente seguidas, fruto sobretudo da reforma de Bolonha, fruto portanto do mesmo modelo de referência que nos levou à situação actual. Uma Universidade em profunda crise e tão grande, na minha opinião, que não posso deixar de colocar aqui e de deixar à sua apreciação as razões do meu descontentamento.


Senhor Presidente, a crise da dívida soberana portuguesa amainou, o espectáculo oferecido pelos políticos dos dois maiores partidos, esse transitoriamente ao mesmo nível ficou, nos grandes bancos o nosso dinheiro, esse se embolsou, e o povo, esse continua a não perceber o que ninguém nunca lhe explicou: porque está a sofrer cada vez mais, a pagar cada vez mais e a dever cada mais e em nome de quê ou porquê? Que terá ele feito de mal para sofrer esta violência, agora? Num mundo e numa sociedade onde impere a honestidade, a justiça, a transparência, numa sociedade de profunda raiz democrática portanto, cada um deve ser responsável pelos seus erros e deve saber assumi-los; mas então que alguém lhes diga, a eles e a nós também, senhor Presidente, quais os erros que cada trabalhador desempregado neste sistema cometeu para que agora se deva sentir penalizado, quais os erros que levam a que cada criança com fome nele e dele se possa sentir culpada, quais os erros que cada velho que passou a vida a trabalhar duramente deles se possa sentir responsável para que veja os seus direitos de há muito tempo adquiridos agora fortemente anulados? Que haja alguém que lhes explique, pelo menos a eles, aos desempregados, às crianças com fome e com pobreza garantida como futuro, aos velhos que do passado foram bem enganados, para onde foram os vários milhares de milhões de euros que do bolso de cada um deles e de todos eles foram retirados para no BPN serem aplicados sem que nada tenha sido tocado na Sociedade Lusa de Negócios nem em ninguém que deles muito antes os delapidou e então, aqui, foi a favor de quem? Ninguém, nunca ninguém lhes disse nada, senhor Presidente, e todos nós lamentamos que assim tenha sido.



Um economista moderado, Thomas Piketty, a lembrar um outro intelectual importante dos tempos de Marx, Proudhon, num recente artigo sobre o salvamento da Irlanda, sobre o resgate dos bancos irlandeses, chama a tudo isto um nome. Passo a citar: “Digamo-lo claramente. Deixar que países que se enriqueceram graças ao comércio intra-europeu absorvam em seguida a base fiscal dos seus vizinhos, isto não tem rigorosamente nada a ver com os princípios da economia de mercado ou com o liberalismo. Isto só tem um nome e chama-se: roubo. E ir emprestar dinheiro às pessoas que nos roubaram, sem nada exigir em troca para que isso não se reproduza, a isto chama-se estupidez”.


Senhor Presidente, no país em que o senhor é Presidente, como em toda a Europa aliás, porque a massa da classe política actualmente no poder é toda ela a mesma ao nível das atitudes e dos princípios, é assim que genericamente as pessoas se sentem, isto é, sentem-se materialmente roubadas e intelectualmente de estúpidas consideradas. Um dos muitos exemplos possíveis, vemo-lo agora na Irlanda com o banco Anglo Irish Bank em que, falido, nacionalizado, pelo contribuinte a ser financiado, vem agora declarar que vai dar de bónus este ano 400 milhões de euros. E que responde o Governo de lá? Que vai sobretaxar os bónus do ano que vem! Um outro exemplo vemo-lo aqui e agora, em Portugal, como noutros países e por outros governos socialistas chamados, a permitir-se a antecipação de dividendos para evitar o pagamento de impostos que seriam exigidos para o ano, ou ainda o regime de favor que se criou aos grandes grupos financeiros com a isenção fiscal sobre as mais-valias ganhas com a venda da Vivo pela PT, tudo isto acompanhado por um discurso a nunca esquecer proferido recentemente na nossa Assembleia da República em nome dos grandes accionistas, pelo líder do maior grupo parlamentar, a outros tempos nos fazer lembrados. A lógica é a mesma, o comportamento é o mesmo, e já não é uma questão da direita ou da esquerda que está no poder. Recuando um pouco, na Islândia, enquanto se deixava, como agora na Irlanda, que as grandes fortunas escapassem, defendendo-se a liberdade absoluta dos movimentos de capitais, o governo pedia à Igreja que mantivesse as portas abertas mais tempo, para que as pessoas pudessem pedir auxílio a Deus, chorar, rezar! A lógica é a mesma, o comportamento é o mesmo, e já não é uma questão da direita ou da esquerda que está no poder, é uma questão de quem actualmente está no poder; é, sendo assim, uma crise de valores, uma crise profunda do sistema democrático que está em movimento. Movimento para onde? Lamentável imagem que se dá da democracia. Sobre isso vale a pena lembrar Helmut Schmidt na sua recente entrevista sobre a crise europeia: “Posso dizer que, de uma maneira geral, à Europa faltam dirigentes. Faltam personalidades, à frente dos Estados nacionais ou nas Instituições europeias, que tenham um conhecimento suficiente das questões nacionais e internacionais e que façam prova de uma capacidade de julgamento adequada”.


Senhor Presidente, a crise da dívida soberana portuguesa amainou, o espectáculo oferecido pelos políticos dos dois maiores partidos, esse transitoriamente ao mesmo nível ficou, mas o nosso país, o país de todos nós e que todos nós fazemos, os que trabalham, esse, não parou, nem a roda dentada da História, assim o considerou. Como nos lembra Alice no País das Maravilhas, vai-se sempre para qualquer lado mesmo que para nenhum lado se queira ir. Mas creio, profundamente creio, que eu e que todos nós sabemos que por este caminho que nos estão a impor, o lado nenhum para onde nos estão a empurrar é um verdadeiro desastre nacional onde vai imperar o desemprego e a miséria, senão também a fome e a desestruturação da sociedade portuguesa também.


Senhor Presidente, antes de estalar a crise, dita financeira, esteve toda a Europa sujeita a um tsunami silencioso mas, por definição, poderoso, que é a lógica implacável do neoliberalismo imposta pela classe política no poder e em nome da modernidade. Foram as instituições que durante trinta gloriosos anos animaram o crescimento económico e que eram a base do Estado-Providência que têm sido uma a uma minadas, descaracterizadas, quer ao nível do trabalho, da saúde, da educação, da segurança social, quer da visão global de sociedade e do seu futuro. Foi esse trabalho profundo e subterrâneo que agora nos torna vítima da voragem que os políticos no poder e os grandes financeiros nos querem impor e de que até agora temos sido incapazes, todos nós, de lhes resistirmos e de nos sabermos deles defender.


Senhor Presidente, neste tsunami silencioso que vem de longe, de muito longe como diz o poeta/cantor, nesse tsunami silencioso inscreve-se a reforma de Bolonha do ensino superior, em que com ela, e na minha opinião, a Universidade está lenta mas implacavelmente a ser destruída. Com esta reforma, passámos a considerar as Universidades como o espaço onde não se pode ensinar pouco mais que generalidades e não creio honestamente, por maior que seja o esforço, que neste momento se possa passar para além disso. Onde deixa de haver capacidade de pensar, não pode haver, logicamente, capacidade de se ensinar. Com esta reforma, aí temos a Universidade a transformar-se num deserto de ideias, onde o acto de pensar, reflectir, criticar, argumentar, reconstruir, parece arredado na formação universitária dos jovens; se assim é, ensinar, no verdadeiro sentido da palavra, é agora apenas uma possibilidade virtual. O que desta reforma nos fica é a certeza de que se quer que o ensino represente menos despesas públicas no orçamento do Estado, sacrificando-se com isso a nossa juventude, os nossos filhos e os nossos netos, no altar da redução do défice público. É assim uma luta contra o tempo, é a luta pela compressão do estudo ao tempo mínimo e ao custo mínimo, como se valha mais ter um jovem deficientemente formado e na rua à procura de emprego do que um jovem de profundos conhecimentos capacitado na mesma situação, pois aquele representa um menor desperdício financeiro. Com a reforma de Bolonha, permitiu-se que se generalizasse uma forma de “ensino” mais leve para quem ensina e tem muitas outras ocupações mais rentáveis, mais leve para quem não quer entender que um professor tem a difícil função de apoiar os estudantes na descoberta do mundo que lhes é dado, do mundo que lhes cabe a eles refazer, tem a difícil função de os apoiar a ganharem novas formas de estar e de enfrentar o mundo hostil que lhes estamos a criar, tem a difícil função de estar intelectualmente disponível para os ajudar a que cresçam num profundo espaço de cidadania, a Universidade que desejamos, como cidadãos e como técnicos. Em suma, apoiá-los no seu desejo de transformar o mundo de modo a que a vida lhes confira sentido e, com este, sejam eles a conferir sentido ao mundo que conscientemente desorganizámos! Em vez disto, o que está a ser feito, no reino da facilidade com o processo de Bolonha já instalado, é tornar a vida muito mais leve para aqueles que não ensinamos e não ensinamos agora nem a ler ou a escrever bem nem, muito menos, a estudar bem. Isto é enganá-los, é dar-lhes uma forma de estar na vida pessoal e profissional que esta não comporta. Fornecedora de diplomas de não empregabilidade é o que a Universidade se apresta agora a ser, com o nível de licenciatura, o primeiro ciclo, que fornece.


Passemos um grau acima, passemos aos mestrados. Segundo sinais dos mercados quanto a empregos, e estes sinais valem o que valem, a preferência está a ir para os detentores destes diplomas, a começar pela Assembleia da República. A ser assim, isto significa, com o silêncio e os medos que se estão a abater sobre a sociedade portuguesa, o reconhecimento indirecto mas claro de que as licenciaturas pouco ou nada valem. Simplesmente, sejamos todos honestos. Se não produzimos licenciaturas de qualidade também não poderemos, de modo nenhum, ser capazes de fornecer mestrados de qualidade, porque só se ensina o que os outros são capazes de aprender, e estes, os nossos estudantes, já deixaram de saber o que é profundidade de ensino. Para o fazermos, seria então necessário muito trabalho para contrariar e vencer a redução de capacidades de que a Universidade foi entretanto o produtor exclusivo! A minha ideia e a daqueles que a vão dizendo em surdina é a de que simplesmente muitos dos mestrados estarão a ter um nível inferior ao da própria licenciatura. Não passa de uma ideia, de uma opinião, mas é opinião de quem tem estado desde há muito tempo no terreno, mesmo que esta opinião seja no papel contestada por alguns daqueles que fazem a ciência nos nossos dias e ignorada pela maioria de todos os outros.


A revolução francesa deu-nos uma trilogia: liberdade, fraternidade e igualdade, só conjugáveis duas a duas, o neoliberalismo deu-nos a dualidade, to be or not to be, to have or not to have, e Bolonha, uma reforma organizada no interior do modelo neoliberal, na sua expressão mais forte e mais dura, aplicada à Universidade, leva-nos a uma outra trilogia: to be or not to be, to know or not to know e então to have or not to have. Mas aqui já não se conjugam duas a duas! Vou porém mais longe, quanto ao to know or no to know. Se a dualidade existe, se se verifica esta oposição binária, então garantidamente esta deve-se mais à formação de origem dos nossos alunos do que à qualidade de ensino que as estruturas de Bolonha levaram a ser ensinado, porque com estas estruturas nem elites capazes são possíveis de ser formadas no reino da facilidade agora instalado. Em lado nenhum do mundo as elites podem ser criadas assim e não será agora aqui, com certeza, que se iria operar o milagre. Não o creio. Mas então a pergunta: para que serve esta Universidade? Assim, como a vejo, só lhe vejo um sentido e um muito mau sentido: o de fazer a diferenciação no elevador social pelos diplomas, e a diferenciação nestes pelo dinheiro que se possa ter à partida, ou seja, à nascença. Da licenciatura ao mestrado do mestrado ao doutoramento serão anos a mais e muito mais dinheiro a gastar para exibir esse ticket de modo a poder subir uns andares a mais no referido elevador social que aliás bem mostras tem dado, desde há muito tempo, de estar avariado. Se isto é assim, o que reflecte esta situação? Ou, por outras palavras, o silêncio sobre a sua existência o que representa? A comodidade do nosso silêncio talvez, mas esta deve ser transformada na incomodidade das nossas recusas.


Hoje será a última aula teórica que dou como professor da disciplina de Economia Internacional, na licenciatura em Economia. Vou aposentar-me e não voltarei mais a leccionar estas matérias. Como o disse num outro contexto, saio por opção antes do final do meu contrato, já com anos de trabalho gratuitamente oferecidos ao meu país, saio vencido pela incapacidade de aceitar o que se está a fazer da Universidade e de nem sequer compreender os objectivos de missão que agora lhe estão subjacentes. Sempre me recusei a conviver com o regime de simplificação e de mentalidade que lentamente Bolonha instalou nas nossas vidas e nas nossas próprias subjectividades e não queria deixar esta disciplina sem o sinal de protesto que se me exige como professor, como cidadão, como pai e como avô. Faço-o solicitando que se procure perceber bem o que se passa no nosso ensino superior, faço-o apelando para se que encontrem respostas para os graves problemas da juventude de hoje, e que não seja esta a geração perdida de depois de amanhã, como o assinala a OCDE e o FMI, faço-o para que honestamente se questione que tipo de Universidade é que o país precisa.


Escrevo em má altura, numa altura de fanfarra pelos dados da OCDE, na base de inquéritos feitos em escolas, mas faço-o nesta mesma altura em que é evidente que a maioria dos filhos intelectuais de Sócrates e de Maria de Lurdes Rodrigues que entraram nas Universidades com altas notas a matemática, há três anos, mostram uma pobreza intelectual aflitiva. Dada a identificação pretendida, quer pelo Governo quer pela OCDE, dos resultados de PISA com a política de educação do actual primeiro-ministro, seria de esperar que os alunos que há três anos chegaram às Universidades reflectissem a mesma política de ensino. Mas a ser assim, das três uma: ou a selecção das escolas deformou os resultados, ou os alunos bons foram não sei sequer para onde, pois para as engenharias também não foram, a fazer fé no jornal O Público, que nos diz que uma parcela significativa dos estudantes do IST não faz operações algébricas simples, e nas outras Faculdades ninguém os vê, ou a maioria dos “beneficiados” desta política nunca conseguiram chegar à Universidade a não ser que venham a entrar depois de atingirem 23 anos, e isto mais uma vez de acordo com o espírito de Bolonha e de acordo com legislação aprovada pelo ministro da tutela, Mariano Gago. Independentemente dos resultados e das leituras que sobre estes têm sido feitas, o que se vai vendo, ouvindo e sentindo, é que os alunos de hoje, 2010, não são melhores que os dos anos transactos, dispõem de menos conhecimentos e de uma menor capacidade de aprendizagem, mas vontade de aprender, essa, ainda a têm. Dê-se-lhes tempo e meios e muitos deles poderão ainda vir a ser os técnicos a que socialmente aspiramos. Não os defraudemos, portanto.


Senhor Presidente, nesse sentido lhe deixo aqui, o texto de uma exposição feita em Lisboa sobre a reforma Bolonha, lhe deixo aqui a expressão das minhas angústias quanto ao futuro da Universidade em Portugal. Ironia da história, senhor Presidente, fui seu aluno e nessa época seu crítico fui, na qualidade de estudante, como o foram também Ferro Rodrigues, Augusto Mateus, Carlos Pimenta, Félix Ribeiro, Francisco Soares e tantos outros, com quem se partilhou perspectivas outras de Universidade que a de então mas também necessariamente muito diferentes daquelas com que nos deparamos actualmente. E hoje, de igual modo seu crítico sou, senhor Presidente, por não partilhar da mesma visão do mundo, mas é ao nosso Presidente que agora me dirijo, a si portanto, que venho com esta carta apelar para que se questione seriamente o que é a Universidade de hoje, o que queremos como Universidade de amanhã e, sobretudo, que nos preocupemos seriamente com a nossa juventude. De novo, ironia das ironias, tal como em criança fiz o protesto admissível ao ministro da Educação de então, protesto não divulgável porque estávamos em fascismo, hoje, em democracia, dirijo-me a si, senhor Presidente, fazendo o protesto que me é eticamente exigível , mas agora necessariamente aberto a todas as formas de divulgação que são próprias de quem resiste em nome da cidadania e do desejo de uma sociedade mais justa, mais solidária, mais ambiciosa nos seus projectos, faço-o, porque confio também agora no sistema, confio na Democracia que representa, confio na dignidade do cargo que ocupa e faço-o num momento em que sinto que as Instituições Governamentais estão a ficar de costas voltadas para as grandes missões de interesse público. E nestas está necessariamente, a imposição de não deixarmos que se deixe destruir a juventude de hoje, está a obrigação de tudo fazermos para que esta não se transforme irrecuperavelmente numa lost generation.


Senhor Presidente, parafraseando Thomas Piketty no artigo citado, considero que é urgente que os dirigentes portugueses, assim como todos os dirigentes europeus e todas as Instituições da União Europeia, tenham finalmente a coragem de ter uma visão nacional e europeia solidária e ambiciosa para se sair da crise actual e esta não é só financeira como nos querem fazer crer, esta atinge tudo o que é socialmente significativo na sociedade portuguesa. Comecemos nós por compreender a necessidade da existência dessa coragem.


Consciente de que é necessário perceber a dimensão do desastre que se está a criar e também a dimensão do mal-estar que a muitos docentes está a condicionar, espero, senhor Presidente, que este meu apelo seja entendido e com esta esperança lhe peço que aceite os meus respeitosos cumprimentos.


Júlio Marques Mota
Professor Auxiliar
Faculdade de Economia
Universidade de Coimbra





publicado por Carlos Loures às 22:00
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Quinta-feira, 4 de Novembro de 2010

Não percebo.

Fernando Moreira de Sá


Ele foi o Presidente da República. Ele foi o Primeiro-ministro. Logo, logo o Presidente da Comissão Europeia. A Banca. Os principais “fazedores de opinião”. Todo o cão e gato a quem colocaram um microfone na frente. Directores de jornais. Responsáveis de televisões. Blogues e bloggers. Confesso que foram tantos e tantas que já nem sei se o meu Presidente (estou a falar do FCP) não terá, igualmente, dito o mesmo que a multidão ululante:

“Se o orçamento não é aprovado, estamos tramados, os mercados não nos perdoariam tamanha desfaçatez. Os juros da dívida seriam um “upa, upa”. O caos”.

O PSD fez a vontade, a contragosto, aos seus mais ilustres, aos corporativos, às corporações, à Banca, ao cão e ao gato. Finalmente, o OE2011 foi aprovado. Resultado:

1. Os juros da dívida não param de subir
2. O risco da dívida volta a superar os 400 pontos


Em suma, uns enganadores, é o que é…
publicado por Carlos Loures às 22:30
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Segunda-feira, 24 de Maio de 2010

Petição A Favor da Redução do Número de Deputados na Assembleia da República de 230 para 180


Para:Presidente da República, Assembleia da República, Primeiro MinistroExmo. Senhor Presidente da República
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República
Exmo. Senhor Primeiro Ministro


Assunto: Redução do Número de Deputados na República de 230 para 180 ( a partir da interpretação e aplicação do artigo 148 da Constituição da Republica)


Factos
1 - A Constituição da República Portuguesa, no seu artigo 148 respeitante à Composição da Assembleia da República, Estatuto e Eleição, diz o seguinte: “A Assembleia da República tem o mínimo de cento e oitenta e o máximo de duzentos e trinta Deputados, nos termos da lei eleitoral.”
2 - Na morada da Internet sob responsabilidade do Parlamento Português “http://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/default.aspx”, no primeiro parágrafo, lê-se o seguinte: “A Assembleia da República é actualmente composta por 230 Deputados eleitos por sufrágio universal e directo dos cidadãos eleitores recenseados no território nacional e no estrangeiro.”


Enquadramento e Afirmação Enquanto cidadão com algum sentido de razoabilidade, diz-me a consciência que chegou o momento de expressar o meu desagrado e discordância perante um facto tido como irreversível aos olhos de uma grande parte dos cidadãos portugueses. E esse facto é: a existência de 230 deputados na Assembleia da República.

Sabendo à partida que a lei prevê a possibilidade desse número ser entre 180 e 230 membros, afigura-se difícil de compreender aos olhos da razoabilidade, a razão da opção recair sobre o número máximo possível (230) e não sobre o valor mínimo possível (180), ou sequer sobre um valor intermédio possível (ex. 200). O que se observa, é que o número de deputados está no seu limite legal. Mais um deputado na Assembleia da República, e estaríamos perante uma violação da Constituição Portuguesa.

Assim, o grupo de cidadãos abaixo assinados, vem por este meio requerer o seguinte desejo: ver realizada a redução do número de deputados em funções na Assembleia da República de 230 para 180 deputados. Este pedido deverá ser tomado com toda a urgência e brevidade possível. Se a Constituição o permite, que se execute a acção, se moralize o país e que a imagem de um Portugal politico atento e renovado possa transpor fronteiras quanto antes!

Como cidadão, promotor deste documento, gostaria de clarificar que acho esta “exploração” do quadro legal uma falta de bom senso político, e um oportunismo partidário que só tendem a agravar a péssima imagem que a classe partidária conquistou não só no nosso país, como além fronteiras. Fica-nos a sensação de uma ganância desmesurada e sem pudor, explorando ao máximo os limites legais, que se sabem, criados por ela mesma, classe politica.

Imaginado que a classe partidária sofre de desconhecimento das realidades europeias quanto ao número de deputados em funções nos diversos países, e ainda das condições de trabalho e regalias que esses mesmo países estrangeiros oferecem aos seus deputados, os abaixo assinados recomendam uma análise isenta, consciente e responsável a todos aqueles que têm poder decisivo na orientação deste país, esperando com isso, ver alterada a realidade do nosso Parlamento quanto ao número de deputados em exercício.
Como tantas vezes se afirmou no grupo do Facebook “A Favor da REDUÇÃO DE DEPUTADOS na Assembleia da República, JÁ!”, movimento que deu origem a este grupo de cidadãos, espera-se que a mudança se faça, já que as razões são de urgência nacional. E elas são de natureza económica, de natureza moral e não menos importante, de natureza ética. Lê-se em intermináveis comentários expressos das mais diversas formas, o quão “vergonhosa” é a condição actual do nosso Parlamento. Pessoalmente, a imagem que tenho do nosso parlamento, é a de um lugar onde há gente que se move muito, onde há pessoas muito qualificadas e que se aplicam a fundo nas suas tarefas, mas onde há também muita gente que não faz absolutamente nada. Gostaria de estar só neste meu pensamento, mas como o provam os imensos comentários afixados no “muro” do grupo referido, assim como os abaixo assinados, infelizmente, este sentir, não é um sentir solitário.

Como todos sabemos, uma grande viagem começa sempre por um pequeno passo. É pois em nome desse pequeno passo que os abaixo assinados dão também este pequeno passo, subscrevendo esta Petição.

Alimenta-nos a esperança de que a classe partidária se possa elevar um pouco mais, e seja capaz de se tornar mais amigável na forma como se relaciona entre si, e como se posiciona perante os cidadãos que a elegeram democraticamente.


2 de Maio de 2010
Na expectativa de uma resolução,
atentamente



Os signatários


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publicado por Carlos Loures às 20:00
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