Quinta-feira, 17 de Março de 2011

Tempos de crise ou tempos de geração parva? por Denis Fougère

Júlio Marques Mota

 

Entrevista com Denis Fougère, director de investigação em economia do trabalho no CNRS

 

“O CDD não é mais um período à experiência, mas sim  uma variável de ajustamento "

 

LE MONDE ECONOMIA | 21.02.11 |

 

P. A precariedade ficou estrutural?

 

R. Denis Fougère: Nos anos 1980 e 1990, dois fenómenos a priori contraditórios coexistiram.

Por um lado, as passagens para o desemprego (despedimentos e fins de contratos precários) tiveram tendência  para  seguir a curva da actividade económica: quando o ciclo conjuntural melhorava, a probabilidade era maior em  permanecer com um  emprego, e vice-versa.

 

Por outro lado, a proporção de pessoas em situação de “de precariedade  ” conhecia um aumento  regular e tornava-se estrutural. Já não era apenas os indivíduos que passavam pela etapa do contrato com duração determinada (CDD), mas as pessoas que alternavam, durante vários anos, períodos de desemprego e períodos de CDD não conseguindo sequer  arranjar  um contrato de duração indeterminada (CDI).
A sua proporção praticamente quadruplicou, passando de 2% para 3% da população activa em 1982 à quase 10% vinte anos depois . E não diminuiu.

 

Está-se hoje numa situação de dualismo do mercado de trabalho: uma maioria de assalariados vive numa  relativa  protecção, e “um núcleo duro” crescente vive cada vez mais a precarização. Pode-se doravante temer que haja  cada vez mais indivíduos que não acedam, não acederão durante a sua vida profissional, a um emprego estável.

 

Porque é que o crescimento não é suficiente para evitar a precariedade?

 

Isso está em  primeiro lugar  ligado à utilização  crescente das tecnologias. Em numerosos  domínios, as máquinas substituíram os homens. A informatização em  massa altera os dados do problema. A segunda causa é que as empresas francesas enfrentam  uma forte concorrência internacional que tem ainda aumentado . Vivemos num mundo e numa economia mais aberta, com custos da mão-de-obra muito diferentes de um país par o outro  e com os custos de transporte que se reduziram fortemente.

 

Qual é a parte de responsabilidade dos empregadores neste aumento  da precarização ?

 

Constata-se que a possibilidade para os empregadores de recorrer maciçamente aos CDD pode favorecer a precariedade. As empresas não utilizam os contratos temporários como um período probatório mas como uma variável de ajustamento, sem estar a perpetuar as pessoas no emprego.

 

É um cálculo de muito curto termo porque as empresas  não podem construir duravelmente a sua mão-de-obra. Na França, quase cinco em  cada seis contratações fazem-se pois  sobre um emprego dito precário.
As pessoas em contrato temporário têm dificuldade em valorizar  esta experiência profissional. Não podem frequentemente adquirir direitos ao subsídio de desemprego, ou então de  direitos curtos, que lhes não permitem de procurar eficazmente um emprego bem remunerado.

 

A ideia segundo a qual o CDD permite evitar o desemprego é contradita pelo caso espanhol, onde os empregos precários atingem cerca de um  terço  dos trabalhadores assalariados  e onde a taxa de desemprego é uma  das mais elevadas da Europa.
Dito isto,  a precarização é apenas o facto de decisões unilaterais das empresas. A natureza dos empregos, a dos mercados e a concorrência internacional alteraram-se. As sociedades são confrontadas com mercados muito voláteis.  Estas recorrem  ao emprego precário para fazer assim enfrentar essa volatilidade , porque nada lhes permite actuar  sobre mais   nenhuma  outra variável.

 

A criação de contratos ajudados suplementares que foi anunciada a 10 de Fevereiro por Nicolas Sarkozy será eficaz?

 

Sabe-se pelos números que o emprego ajudado é uma das formas de emprego mais “precarizantes”. Os empregos ajudados  só se  finalizam  basicamente em contratos  CDD clássicos sobre um período de desemprego, e muito menos se concluem com  a obtenção de um CDI. Trata-se por conseguinte, em certa medida, de uma arma de  dois gumes  : retiram-se  temporariamente as pessoas do desemprego, para  mais tarde para aí as reenviar, de novo.

 

Vai-se de Charybde em Scylla : as empresas de numerosos sectores, forçadas pelos mercados, não podem fazer crescer o emprego. Favorecendo os empregos ajudados, o governo presta-lhes uma ajuda, mas favorece uma certa forma de precariedade. Isso não significa que o Estado não deva intervir, mas os contratos ajudados não resolvem o problema.

 

Afirmações recolhidas por  Pauline Turuban

 

publicado por Luis Moreira às 20:00
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Quinta-feira, 3 de Março de 2011

873.000 precários na função pública - França

Enviado por Júlio Marques Mota

 

Nota

 

Assistimos a uma espécie de limpeza quanto ás responsabilidades a assumir perante à  terrível situação das gerações actuais em situação  de precariedade , colocando agora, inclusive,  nas costas de cada jovem a responsabilidade de não encontrar emprego, limpeza esta levada a cabo pelos media, pelas instâncias universitárias, como o Director da Faculdade de Economia da Universidade Nova, por exemplo, ou pelos  jornalistas que apelidam a juventude de geração parva. Muito haveria a dizer sobre o tema. Como primeiro de uma série de textos que colocaremos aos olhos atentes dos leitores de  Estrolábio, aqui mostrámos como é que a imprensa francesa, neste caso o Le Monde, trata o mesmo tema.

Denunciámos com testemunhos de alunos à procura de emprego a selva em  que o mercado de trabalho se transformou, com o silêncio de muita gente e a responsabilidade de muita mais. O neoliberalismo está de facto para durar e as  nossas elites mostram que não sabem pensar  para além desse mesmo modelo  e, se assim é, a juventude face à crise actual  terá a obrigação de perguntar quem é que afinal está a ser parvo..

 

Júlio Mota

 

 

 

Em França, a precariedade é um mal endémico na função pública. Os dois  precedentes planos de regularização - o de 1996 e depois o plano  de 2000 - que tinham  permitido integrar entre 60.000 e 100.000, acabaram, finalmente por não ter mudado nada .
Em 2008, estes são  873 000 postos da administração do Estado, hospitais e as autarquias que eram ocupados por pessoas com contratos precários, ou seja, um pouco  mais de 16,5% dos efectivos  na função pública, num total de  5.200.000 agentes. Há dez anos, o seu número ascendia a 664.000. O fenómeno por conseguinte não deixou de ter estado sucessivamente a aumentar.

 

Questionado aquando  de uma emissão televisiva  em Janeiro de 2010, o  presidente da República, Nicolas Sarkozy, tinha-se comprometido a apresentar  propostas para tentar enfrentar  esta situação.
Um ano depois, as negociações  encetadas entre o ministro do orçamento, François Baroin, o secretário de Estado da  pública, Georges Tron, e as organizações sindicais deveriam dar-se por concluídas  entre o 23 de Fevereiro e o dia 7 de Março. O governo tenciona apresentar um projecto de lei na Primavera. De acordo com os sindicatos, para estes o seu objectivo é o de alargar as condições de acesso à integração dos pessoais não titulares e sobretudo, a montante, de limitar este tipo de contratos precários.
Mas, do lado dos empregadores públicos, o recurso aos contratos precários não é não somente uma solução de facilidade para “contornar” o estatuto da função pública ou de  paliativo à  escassez de candidatos sobre postos definidos. A fórmula é assim muito frequentemente  utilizada para empregos específicos que não estão ocupados  de acordo com a fileira clássica do recrutamento por concurso.

 

UMA VERDADEIRA “CALAMIDADE”

 

Os assistentes de educação, os professores e os investigadores substitutos fornecem assim o essencial dos não titulares da educação nacional. Para além dos membros dos gabinetes dos executivos locais, as autarquias locais empregam igualmente de modo  maciço. São nomeadamente assistentes de apoio às situações de maternidade,  pessoal de restauração,  animadores desportivos e culturais.
O governo teria desejado instituir contratos de projectos para missões de  duração definida, como nos sectores privados da cultura ou da informática. Mas defrontou-se com o veto dos sindicatos, que temem a generalização de uma prática que, de acordo com eles, faria apenas agravar “a calamidade” da precariedade.

 

 

e Fevereiro de 2011

publicado por Luis Moreira às 20:00
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