De bom grado eu passaria a tarde de Carnaval em casa, esquecendo que é Carnaval, e aproveitando somente o dia livre, mas quando se tem filhos pequenos é preciso alinhar num quantos programas muito atractivos para eles e um tanto penosos para nós. Tinha-me constado que a autarquia da minha cidade preparara um programa de festejos pensado em particular para as crianças, e apesar da minha desconfiança em relação a tudo aquilo que vem com o selo “Porto Lazer”, lá fui eu, com a minha criança, disposta a dar o benefício da dúvida à autarquia de que eu desconfio sempre tanto.
Quando chegámos, debaixo de uma chuvinha miúda que conferia aos Aliados um tom pardacento condizente com a animação dos festejos, deparamo-nos com um palco onde uma cantora, sozinha com a sua viola, e sem telhado que a protegesse da chuva, se esforçava por animar os foliões. Era um concerto unplugged, e menos mal, porque a chuva não estava para parar e a coisa ainda podia acabar mal.
Uma senhora atirava serpentinas às outras, que não respondiam, ou fingiam não ver, como quem tenta soprar a centelha da alegria numa fogueira apagada. As crianças olhavam em silêncio para o palco, muito sérias, enquanto a cantora dedilhava a viola e introduzia a próxima canção.
“Sozinho na noite
Um barco ruma, para onde vai?
Uma luz no escuro brilha a direito
Ofusca as demais”
A Branca de Neve, o Zorro, o Homem-Aranha e uma pequenita sevilhana mantinham-se quietas, os olhinhos redondos fixos no palco. Que diabo, eu também não aprecio o samba brasileiro metido à pressão, mas desde quando é que o “Homem do Leme” é uma canção de Carnaval?
“No fundo do mar
Jazem os outros, os que lá ficaram.
Em dias cinzentos
Descanso eterno lá encontraram.”
Já nem as serpentinas voam na praça. As crianças murcham entre as pernas dos pais. Os adultos abrem o guarda-chuva e chegam ao pescoço as golas dos casacos. A praça afunda-se numa tristeza sem fim. É a História Trágico-Marítima a tolher-nos a alegria carnavalesca, é esta maldição de ser português. E chega o refrão, como uma bátega de água gelada que o mar nos cospe na cara:
“E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
A vida é sempre a perder…”
É então que eu percebo a piada e desato à gargalhada, para espanto de quem está à minha volta. É uma partida, claro! Começar um concerto de Carnaval para crianças com o “Homem do Leme” só pode ser uma partida. E agora sim, virá o “Balancé, balancé” e o “Fungagá da Bicharada” ou outra coisa semelhante.
Foi com o 'Baile dos Vampiros' que encerrou, no passado Sábado à noite, o Fantasporto deste ano.
Ao longo da noite, Adolfo Luxúria Canibal, letrista e música dos 'Mão Morta', foi o mestre de cerimónias, apresentando os convidados musicais, sempre num tom agradavelmente literário.
O baile teve a presença de inúmeras figuras do cinema, muitas delas mascaradas e caracterizadas. Algumas pessoas, de entre o público anónimo, entravam já mascaradas mas muitos aguardavam pinturas ou caracterização.
O 31º Fantasporto teve mais espectadores que o do ano passado. Foram exibidos 307 filmes, sendo 233 curtas-metragens e 74 longas de entre os quais 90 eram Portugueses, sendo que estiveram em competição119.
Foram apresentados 242 filmes inéditos em Portugal. A maior parte dos filmes apresentados eram Europeus e cerca de 10% eram asiáticos. Os filmes norte-americanos foram em número residual.
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O vencedor da secção oficial de Cinema Fantástico do Fantasporto 2011, foi o filme "Two Eyes Staring" do Holandês Elbert Van Strien, um thriller psicológico que retrata a história de uma menina de 9 anos visitada pelo suposto fantasma da sua tia materna.
Na 21ª Semana dos Realizadores - prémio Manoel de Oliveira, o prémio para o melhor filme foi para "The Housermaid" do Sul-Coreano Im Sang-soo, filme que também arrecadou os prémios para melhor actor e melhor actriz.
O prémio Orient Express, foi ganho pelo filme "I Saw The Devil" do também Sul-Coreano Kim Jeewoon. Este filme também teve o prémio de melhor realização.
O Prémio da Crítica foi para "Rabies" dos Isrealitas Aharon Keshales e Navot Papushdo.
O Prémio do Público foi ganho por "The Extraordinary Adventures of Adèle Blanc" do realizador Francês Luc Besson.
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Para o próximo ano, há mais.
Mário Dorminsky já pensa em 2012.
Em declarações aos jornalistas lamentou o desenvestimento que o estado fez, que se traduziu em cerca de 120 mil euros, e pediu desculpas em tom irónico, a alguns meios de comunicação social, pelo facto de não ter havido incêndios no Rivoli, com mortos, ambulâncias do Inem ou sangue a correr nas ruas do Porto.
Manifestou a esperança de que os políticos pensem, discutam e arranjem soluções, mas teme as palavras actuais dos responsáveis pelo nosso País, que só falam de crise e praticam o centralismo, bem assim como a ausência de voz que o Norte cada vez mais, tem.
Rui de Oliveira
Na Terça 1/3 : No programa "Arte, Política, Globalização" da Fundação Serralves, o Seminário intitulado "Uma Arte Revolucionária" é com Emory Douglas que dedicou a sua vida à luta pela justiça social, sendo "talvez o mais prolífico agitador gráfico do movimento negro de libertação".
Dentro do mesmo programa, às 18h30m será exibido o filme "In the Land of the Free" de Jean Vadim (2010) em torno da história dos Black Panthers.
No Teatro Helena Sá e Costa,às 21h30m, tocam os Minnemann Blues com Wolfram Minnemann (voz, piano), António Mão de Ferro (guitarra eléctrica), Rui Azul (saxofone, percussão), Manuzé (baixo eléctrico), Rui “Cenoura” Ferraz (bateria) reproduzindo o seu album Blues 88.
Na Quarta 2/3 : Na Casa da Música (Sala Suggia, às 22h), actua um grupo crucial na história do jazz português, o Quarteto António Pinho Vargas com António Pinho Vargas (piano), José Nogueira (saxofone), Pedro Barreiros (contrabaixo) e Mário Barreiros (bateria).
Na Quinta 3/3 : Na Casa da Música (Sala Suggia, às 19h30m), Nicolai Luganski *interpretará ao piano de Robert Schumann Carnaval de Viena op.26, de Johannes Brahms 6 Peças para piano op.118 e de Sergei Rachmaninoff Sonata nº 1, op.28 onde este "considerado o herdeiro por excelência da melhor tradição da Escola Russa na actualidade" será "o pianista ideal para dar expressão à obra do seu compatriota".
É projectado no Teatro Carlos Alberto (TNSJ) o Filme do Desassossego de João Botelho (2010), baseado no "Livro do Desassossego" de Bernardo Soares. Congrega um impressivo elenco (Cláudio da Silva, Alexandra Lencastre, Ana Moreira, André Gomes, António Pedro Cerdeira, Catarina Wallenstein, Manuel João Vieira, Margarida Vila-Nova, Miguel Guilherme, entre outros) e arrisca integrar uma ópera de Eurico Carrapatoso encenada na floresta, uma festa no Lux, um monólogo num bar de alterne, participações musicais de Lula Pena, Carminho, Caetano Veloso e Ricardo Ribeiro. (às 21h30m de 3/3 a 5/3 e também 15h de4/3)
Na Fundação Serralves (Auditório, 21h30m-23h), dentro do ciclo de conferências “O Imaterial: Novos Paradigmas da Contemporaneidade” (comissariado por Artur Castro Neves), Ismael Augusto, especialista em serviços avançados de comunicações, falará sobre "Uma Sociedade em Alta Definição"."A transformação do modo de difusão broadcast, em distribuição de conteúdos para acesso individual, suportado em múltiplas plataformas (“wired” ou “wireless”) e para modos de recepção livres ou condicionados, induz uma profunda mudança na natureza dos conceitos e práticas associados a toda a cadeia do negócio dos sectores da convergência digital. Poderão o broadband ou o broader-casting, ser o fim do broadcast?"
Na Sexta 4/3 : Na Casa da Música (Sala Suggia, às 22h), o Mário Laginha Trio, composto por Mário Laginha (piano), Bernardo Moreira (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria), "apropria-se de uma série de composições de Chopin e devolve-as profundamente marcadas pelo seu universo pessoal" no disco recente Mongrel Chopin .
No Sábado 5/3 : No Auditório de Serralves (às 22h), integrado no programa artístico da exposição "Às Artes, Cidadãos", a encenadora Lina Saneh apresenta, com o artista e cúmplice Rabih Mroué, “Appendice”, peça que aborda a problemática do direito ao uso e destino do corpo individual na cultura islâmica. Sempre procurando novas relações com elementos e linguagens distintas, Saneh e Mroué questionam as definições teatrais, a relação entre o espaço e a estrutura performativa e consequentemente, as relações com a audiência, através de um teatro assumidamente documental.
Na Casa da Música (Sala 2, às 11h e 16h) a companhia mexicana Triciclo Rojo apresenta o espectáculo poético para crianças e adultos Poeta de Lavabo em colaboração com a Escola Profissional de Música de Espinho.
Na Casa das Artes de Famalicão representa-se às 21h30m a peça para maiores de 10 anos "Anaquim - As Vidas dos Outros" de José Rebola.
No Teatro Sá da Bandeira, como já é tradição de 5 para 6 de Março acontece o “Baile dos Vampiros”, a festa de encerramento do Fantasporto que, este ano, coincide com a noite de Carnaval e promete grande animação. Aproveita-se para lembrar que ao longo de toda a semana ocorreram, quer no Rivoli Teatro Municipal, quer no Teatro Sá da Bandeira, as sessões de exibição de filmes concorrentes ao FANTAS'2011 - 31º Festival Internacional de Cinema do Porto.
No Domingo 6/3 : Na Casa da Música (Sala Suggia, às 12h e 18h), a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, dirigida por Joseph Young, no programa "O Faroeste" tocará Os Sete Magníficos de Elmer Bernstein, Shindig de Don Gillis, Billy the Kid: Duelo e Celebração de Aaron Copland, Danças com Lobos de John Barry, Hiawatha (abertura) de Samuel Coleridge-Taylor, Black Rattle (de Ghost Ranch) de Michael Daugherty e Mavis in Las Vegas de Peter Maxwell.
No Auditório de Serralves, ainda no programa artístico da exposição "Às Artes, Cidadãos", serão exibidos às 16h os filmes "FACE A, FACE B", Rabih Mroué (2002), "WITH SOUL, WITH BLOOD", Rabih Mroué (2003), "I, THE UNDERSIGNED", Rabih Mroué (2003), "ON THREE POSTERS", Rabih Mroué (2004), "OLD HOUSE", Rabih Mroué (2006), "I HAD A DREAM, MOM", Lina Saneh (2006). Às 21h30m projectar-se-á o "Filme Socialisme" de Jean-Luc Godard (2010).
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