Sábado, 24 de Julho de 2010
Luís MoreiraPara quem gosta de uma boa história, com bons actores, um argumento que nos deixa na dúvida se estamos ou não a falar da realidade ( Tony Blair), um thriler que nos agarra do principio ao fim.
Alguem que tem que escrever uma história a partir de um manuscrito, enfrenta-se com a verdadeira história que o manuscrito esconde, numa encruzilhada onde o que parece se funde com a realidade.
É a política e os seus cenários, como se chega a primeiro ministro, quem verdadeiramente decide, quem maneja os cordelinhos do poder,quem exige, na devida altura, o pagamento. E aí de quem falhe...
Polanski no seu melhor!
Sexta-feira, 18 de Junho de 2010
Rolf DamherEm 07.06.2010 o Prof. Dr. Dres h.c. Paul Kirchof*, ex-juiz no Supremo Tribunal Constitucional Federal alemão e actual professor catedrático da Faculdade de Direito Fiscal da Universidade de Heidelberg, deu uma entrevista à SPIEGEL ONLINE. Na entrevista voltou a apresentar a sua proposta de 2005 para uma taxa plana (flat tax) de 25 por cento para todos, como um importante contributo para a saída da crise. Ontem escrevi-lhe uma cartinha que abaixo passo a traduzir.Quem apelar à fantasia e à mente do homem,vencerá aquele que tenta apenas influir sobre a razão. Frederico II (O Grande) da Prússia
Exmo. Sr. Kirchhof,
Senti uma grande alegria quando li recentemente em SPIEGEL ONLINE que não desarmou e que continua a postos com a sua excelente e prometedora proposta de uma flat tax. A postos, para o momento quando aos nossos protagonistas de políticos e administradores de declínio se lhes acabar de vez a esperteza. Não deverá faltar muito até isso acontecer, a não ser que se tente ir até ao fim amargo, arriscando mesmo que o poder caia na rua. Neste caso será o caos.
Em 09.02.2005 tinha mencionado o seu modelo fiscal prometedor, com estofo para um grande efeito libertador, no meu artigo „Como sair da crise — uma abordagem diferente“, publicado no „Semanário Económico“. Precisamente como parte de uma estratégia sistémica-holística – princípio de solução de problema – que poderá contribuir de forma decisiva para que os nossos sistemas sociais – Alemanha, UE, etc. – voltem a ficar com os pés na terra. Aqui um pequeno excerto:
“(...) Para elucidar a situação, vejamos o exemplo do Prof.Paul Kirchhof que foi designado para futuro ministro das finanças pelo CDU/CSU alemão, caso este partido venha a ganhar as eleições antecipadas de 18 de Setembro. Ele identificou o tal "factor central" a eliminar, no actual estatismo pululante, em combinação om uma legislação fiscal asfixiante. Consequentemente, postula, além de uma radical simplificação do IRS/IRC, a introdução de uma "flat tax" de apenas 25% para todos, a par do corte de todos os subsídios e esquemas legais de fuga ao fisco. Assim,segundo Kirchhof, serão libertadas as energias sociais que hoje nos faltam (...).
Sobre isso e no sentido de um efeito estratégico verdadeiramente eficaz e sustentável, ainda gostaria de expor, como segue.
A Alemanha e os seus parceiros da União Europeia são actualmente desafiados por um enorme “estrangulamento”, o qual não pode ser superado com meios materiais mecanicistas-monetários. A solução só será possível colocando a alavanca nas causas imateriais- psíquicas e espirituais do problema. A título de dica passo a citar as seguintes palavras de Friedrich von Schiller:
„Não o que se faz anunciar com vitalidade e vigor é o terrível e perigoso. É o vulgar,o eternamente de ontem, o que sempre foi e sempre volta, valendo amanhã porque foi verdade hoje ! Wallenstein em „A Morte de Wallenstein“ I, 4, de Friedrich von Schiller.
Com outras palavras: as pessoas sentem o crescente vazio de sentido e a insensatez dos seus actos e estão simplesmente fartas. E este estado de espírito não poderá sustentavelmente ser alterado com mais dinheiro, viagens de férias de longo curso, carros de luxo, práticas de “hedonismo de algibeira” e a substituição repetida e sistemática das respectivas caras metades. O sentido e a verdade terão que voltar a fazer parte do sistema. Isto só é possível fazendo-se – extrovertida e sóciocentricamente – algo para o próximo e recebendo-se algo em troca.
Todavia, em todos os „estrangulamentos“ (problemas centrais que impedem o desenvolvimento) existem sempre dois factores a considerar para conseguir uma solução sustentável: o determinante “factor de estrangulamento externo” – primazia! – considera os problemas ‘candentes’ de um determinado grupo-alvo que com as suas necessidades se encontra de frente da Alemanha e da UE.
Se o respectivo grupo-alvo for identificado, primeiro aproximadamente e mais tarde com maior precisão, e se seguidamente o “estrangulamento” do mesmo for resolvido, então são libertadas enormes energias de desenvolvimento – em grande escala. Esse “factor de estrangulamento externo” descrevi no meu esboço estratégico “New Deal”. Trata-se de nada menos do que permitir a cerca de 3000 milhões de pessoas no terceiro mundo, que de recebedores crónicos de esmolas cada vez mais pobres e doentes se tornem nossos parceiros de trocas e clientes – sob exclusão das entidades estatais para Cooperação e Desenvolvimento e da “indústria dos bons samaritanos” que tanto dano têm causado a essas pessoas nas últimas décadas. (Não falo da ajuda humanitária de emergência). E também não podem entrar em jogo para o propósito descrito no meu esboço, milhares de milhões de euros ou dólares, pois neste caso voltariam a aparecer os “abutres” de costume e estes fundos mudariam de meio para um fim para um fim em si mesmo – com os necessitados continuando a ver navios. (Diga-se de passagem que o Prof. Dr. Dr. Franz-Josef Radermacher, da Universidade de Ulm, membro do Club of Rome e co-fundador da iniciativa Global Marshall Plan, com o qual estou em contacto, persegue uma estratégia semelhante).
Quanto ao “factor de estrangulamento interno”, este visa a questão: o que a Alemanha e/ou a UE devem fazer ou que conhecimentos devem adquirir para ficarem aptos para a solução do “factor de estrangulamento externo”, isto é, o do seu respectivo grupo-alvo? E aí começam as dificuldades. Com efeito: “Se penso durante a noite na Alemanha não posso conciliar o sono”, já escrevia o nosso grande poeta Heinrich Heine há mais de 150 anos. E se penso nos nossos compatriotas de hoje apenas vejo , apesar das aparências diversas, uma “tropa” medrosa, introvertida, egocêntrica, sem norte e liderança, a qual já vencida em espírito vai deslizando para o declínio, na vaga esperança de que os gigantescos problemas desapareçam por si próprias.
No entanto, existe sempre uma saída. Pelo menos enquanto o poder não tiver caído na rua e os invisible hands em contra-mão não nos obriguem implacavelmente àquilo contra o que actualmente ainda nos opomos em vão pela via linear: à mudança. Neste sentido estou convencido que chegará uma nova visão do mundo, logo que os actuais líderes políticos e económicos ou ganhem juizo ou sejam varridos pelos acontecimentos. Mais provável é a segunda hipótese. Então seremos obrigados de novo – tal como em Maio 1945 – a fazer o mais indicado, seguindo a divisa: quem precisa urgentemente o quê e o que preciso eu para satisfazer essas necessidades?
Resumindo: podemos ter a certeza que a estratégia acima descrita, isto é, uma nova orientação de introvertido-egocêntrico para extrovertido-sóciocêntrico, se ela for aplicada, rapidamente travará a espiral negativa, transformando-a numa espiral positiva. Irá decorrer uma enorme reacção em cadeia social e no fim teremos novo crescimento orgânico e uma nova ordem superior. E isto terá lugar em todos os casos, com ou sem explosões sociais porventura intercaladas. Sou incondicionalmente pela segunda hipótese, pois é, ainda, perfeitamente possível dar a volta por cima às coisas. E se os parceiros da UE não quiserem alinhar? Não há problema, a Alemanha será capaz de dar exemplo sozinha e todos os restantes seguirão – o bom velho dilema funciona sempre, pois baseia-se nas leis naturais.
Por favor,continue a manter-se atento. Com a crescente pressão, aqueles que definem a vida apenas em números e por centos, não vendo a parte determinante imaterial, perderão o poder. Assim, já muito em breve procurar-se-á desesperadamente soluções efectivamente capazes. E então, antes que no seu desespero e na sua ignorância se aceite um qualquer método obscuro de “borras de café”, porque não experimentar a "flat tax" de profundos e surpreendentes efeitos cibernéticos?
Com os melhores cumprimentos do Estoril / Portugal
Rolf Dahmer
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http://www.bcsdportugal.org/files/518.pdf pág.23
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Domingo, 23 de Maio de 2010
Carlos Leça da Veiga
Se na Constituição da Primeira República o assunto das alianças com o exterior não era versado, na da Segunda – a de agora – bom grado, por expresso, aponte aversão à inclusão do país em pactos político-militares inclusive avance com uma afirmação sobre a sua necessária desarticulação (Artigo 7º, ponto dois), apesar de tudo isso – é uma repetição intencional – Portugal, o governo português, com a integração na OTAN, não só prossegue numa prática política semelhante à do tempo do salazarismo como, para cúmulo, à semelhança dos erros da Primeira República, excede-se na subserviência ao exterior e facilita contingentes militares expedicionários tudo sob o pretexto ardiloso da defesa e da promoção da paz em estados independentes com cujos problemas internos e, em muitíssimo especial, com os de política externa nada há em comum, senão mesmo, até só haja inconvenientes demasiado sérios, por evento, politicamente irreparáveis.
É incompreensível haver-se consentido na imposição alienígena que obriga Portugal a caminhar para uma rarefacção dos relacionamentos bilaterais com quem, países, não temos qualquer litígio, tudo em favor de oferecer-se alguma ajuda à potência que no mundo, desde sempre, mais atenta contra a Paz.
Como se esta força comandada pelos EUAN – a OTAN – já não bastasse como instrumento de dominação política e militar a recair sobre Portugal, os estados continentais do centro da Europa – mais uma vez – sob pretextos de ordem vária, a económica para começar, acabaram por conseguir arregimentar um número crescente de Estados europeus cuja dominação, desde há muito, mantêm benquista, à custa da atribuição generosa de subsídios financeiros, uma particularidade muito do agrado do parasitismo dos vários possidentes dos mais variados estados.
Das Comunidades Europeias Económicas para a União Europeia, prosseguiu-se a marcha dum sonho político milenar protagonizado, sucessivamente, ao longo dos tempos, pelo ancestral Império de Roma, pela Igreja Romana, por Napoleão, pelo Kaiser germânico e, por último, pelo nazismo do III Reich. Depois do final da Segunda Grande Guerra, os estados francês e germânico, reconhecida a incapacidade de cada qual, só por si conseguir fazer vingar os seus eternos propósitos – os EUAN, não lho permitiriam – encontraram aquilo que têm imaginado ser uma boa solução para o ressurgimento duma sua nova preponderância internacional com a edificação da União Europeia – uma nova potência mundial – mantida sob o seu comando real, que não o aparente – até que um deles consiga diminuir o outro – e, afinal, o passo preliminar fundamental para a criação dum estado europeu suposto, por fantasia, ignorância e ambição imperialista, como a entidade capaz de ter força bastante para enfrentar o poderio tanto dos EUAN como, também, de cada um e de todos os estados economicamente “emergentes”, por desígnio o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul (BRICAS).
Na autenticidade das coisas tudo está a passar-se muito à semelhança de quanto, séculos atrás, em modalidades de rapina diferentes mas não menos condenáveis, foi feito a partir de Castela para inventar o estado espanhol, da Inglaterra para produzir o reino unido, da pequena França dos Francos (sempre à custa da espada, dizia De Gaulle) para o estado francês, da Prússia para o estado alemão, do Piemonte para o estado italiano e do modesto Grão-Ducado da Moscóvia, tal como era no século XV, para o apogeu, no décimo nono, da Rússia imperial, depois URSS ou, como agora, Federação Russa.
O pecado da dependência nacional portuguesa, no mais essencial, manda dever dizer-se que se uma ligação de submissão político-económica a qualquer ou a quaisquer estados – por exemplo, à União Europeia (UE) – só obscurece o futuro nacional, uma ligação de obediência político-militar – por exemplo, à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) – da mesma maneira, nada de bom augura.
Como é manifesto, sob pretextos dum reforço do equilíbrio ou da harmonização do desenvolvimento sustentável do espaço europeu (dito doutro modo e como deve ser, dos interesses políticos e económicos franco-germânicos) em boa verdade, nessa União Europeia nada mais é pretendido fazer que não seja colocar Portugal – à semelhança de quanto acontece com outros estados – como um seu comprador líquido e sistemático mas, também, sujeitar Portugal a ter de facilitar-lhe domínio da sua especialíssima posição estratégica de estado marítimo, por exacto, aquela que advém da fachada atlântica portuguesa e do seu imenso espaço marítimo, uma particularidade ímpar, extremamente valiosa, capaz de proporcionar, indevidamente, aos continentais do centro europeu um retorno estratégico muito promitente, porém, completamente indevido. Com esta ajuda suplementar tão preciosa – mas não só – a União Europeia (quem nela manda) pode abalançar-se, com uma muito maior facilidade, a tentar conseguir o reforço da sua posição estratégica face aos EUAN e à Rússia como, também, à construção da sua sonhada oposição – e da sua tradicional sobranceria euro centrista – face aos poderios reais de ordem vária, assentes e em crescendo, como é um seu direito inteiramente legítimo, nos outros vários Continentes. Portugal que não tem animosidade para com quaisquer desses Estados, com cujos interesses estratégicos os Estados do centro europeu entendem – mas mal – dever competir, senão mesmo conflituar, terá de concluir pela existência duma vontade determinada, por parte dos hegemónicos da União Europeia, de quererem ver Portugal envolvido em atritos completamente alheios ao pulsar do seu percurso histórico e dos seus interesses estratégicos mais verdadeiros.
Se da União Europeia, ao contrário do propalado, o futuro, na continuidade duma crise económica sem fim possível, nada de bom trará, da OTAN só pode dizer-se ser obrigatório eliminá-la porquanto já basta de envolvimento em agressões contrárias ao direito internacional e à Paz mundial. Para poder dar-se o maior crédito ao que deve dizer-se da OTAN terá de chamar-se à colação as afirmações peremptórias do Professor Doutor Vitorino Magalhães Godinho, que em Novembro de 2007, declarou ao «Jornal de Negócios», “É costume em política adoptar palavras adocicadas para evitar interpretações pouco convenientes, mas eu acho que é preciso dizer que a NATO tem de desaparecer ……..” .
A OTAN, esta herança do salazarismo de má memória, para Portugal, desde o 25 de Abril, já não tem razão para perdurar e se isso ainda acontece é por, de facto, não haver uma Democracia digna desse nome que, entre outras deficiências, aceita a submissão a outros estados. O regime constitucional português, para infelicidade nacional, caminha sob a aceitação, pelos sucessivos governos portugueses, dum envolvimento em procedimentos de política internacional só classificáveis como delituosos e, sobretudo, como um erro estratégico irrecuperável. Com efeito, mercê de tal erro, Portugal está obrigado a demonstrar-se contra a evolução política e económica mundial cuja força decisória está centrada, cada vez mais, fora da Europa; é um erro que, no futuro, terá de pagar-se.
É preciso saber aceitar, como a História está a mostrar, que chegou a vez de outros Estados não europeus ascenderem, no plano internacional, a um protagonismo privilegiado e, como assim, nas circunstâncias actuais, compete aos europeus, com tacto político e dignidade, terem o bom senso e a coragem meritória de abandonarem a proverbial pesporrência comportamental do seu eurocentrismo inconsequente, já completamente desacreditado, senão deslocado e saberem administrar uma retirada para novas posições compatíveis com quanto de admirável, único no concerto das civilizações, ao longo dos séculos, foi conquistado pelos e para os seus patrimónios filosóficos, humanísticos, artísticos, científicos, técnicos, sociais e políticos que, estes sim – isso é inquestionável – não podem perder-se por serem ímpares e irrecusáveis, tanto na sua própria grandeza como no seu vastíssimo contributo civilizacional para toda a Humanidade.
Na realidade, à Europa, de sobremaneira à ocidental, ficam a dever-se as tais “maravilhas completamente diferentes das pirâmides egípcias, dos aquedutos romanos e das catedrais góticas” como assim Karl Marx, deixou expresso no seu «Manifesto Comunista» a quando da exaltação dos constantes sucessos económicos da burguesia europeia.
Portugal tem obrigação de lutar pela defesa intransigente dessas riquezas patrimoniais, quanto mais não seja, por não poder esquecer-se, nem deixar que outros esqueçam, a sua contribuição preciosíssima para o inicio da era Moderna em que foi determinante o mérito inovador e altamente diferenciado da ciência náutica dos portugueses que, afinal, pelo seu saber, inovação científica e determinação política, terem podido consubstanciar o autentico pioneirismo da globalização com que, de facto – isso é irrecusável – deram ao mundo, novos mundos.
(Continua)
Sábado, 22 de Maio de 2010
Carlos Leça da Veiga
A dependência nacional portuguesa é uma realidade
Portugal, face ao exterior, está, ou não, a viver numa situação de dependência política e económica?
A presença portuguesa na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é, ou não, uma imposição política e militar dos Estados Unidos da América do Norte (EUAN)?
A integração de Portugal nas Comunidades Económicas Europeias (CEE) e, depois, na União Europeia (UE) foi, ou não, um acto de submissão económica e política a um projecto federalista europeu hegemonizado por uma parceria franco-germânica e com vista a tentar acrescentar, ao conjunto destes dois estados, algum poder estratégico face aos EUAN e às economias emergentes?
Num caso e noutro, os portugueses não foram consultados antes, porém, foi-lhes dito e repetido que, ou estavam a ajudar a salvar a civilização ocidental e a suster o inimigo de Leste ou, então, que estavam a contribuir activamente para construir um estado europeu de natureza federal capaz de eternizar as características socioeconómicas neoliberais de aquisição recente e, também, como insistem sem vestígios de pudor, antes sim, com falsidade absoluta, a dar origem a um verdadeiro paradigma da democracia. Que verdades por detrás de tanta idealização, senão, apenas, simples confabulações para melhor ludibriar.
A questão de saber-se se um estado está, ou não, nessa situação de dependência, indo-se ao ponto de poder depreender-se se, na verdade, vive numa condição capaz de remetê-lo para a categoria de país colonizado, tem de ser observada por intermédio daquelas suas formas de ligação a quaisquer estados, ou a organizações internacionais, cujos poderes estatuídos, ou as suas capacidades efectivas de imiscuição, permitam estabelecer, com a evidência bastante, uma relação política que, dalgum modo, com maior ou menor visibilidade mas, sempre, por imposição unilateral, limite o exercício completo da autonomia e da soberania do estado em causa quer decorra, entre as partes, um relacionamento bilateral ou o envolvimento opere em ambiente multilateral.
Um estado está colonizado quando as suas decisões políticas, por sistema, são decorrentes de qualquer imposição duma vontade alheia. Se a interdependência dos Estados é uma aquisição notável para a harmonia e o desenvolvimento das relações internacionais e, também, um contributo potencialmente favorável à busca e à manutenção dum clima de Paz mundial, quaisquer formas de hegemonização ou de imiscuição por parte de qualquer Estado, ou dum grupo de Estados, sobre outro, ou outros, tem de ser vivamente condenada inclusive apresente-se, ela mesma, revestida de quaisquer formalismos de aparência democrática.
A Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (AGONU) – uma vez recusada, em definitivo, a anomalia ditatorial do veto no Conselho de Segurança – deve ser reconhecida como a única organização internacional com capacidade de, por deliberação maioritária da sua Assembleia-Geral, poder fazer sentir poder político sobre qualquer Estado. O respeito estrito pelas Soberanias Nacionais – as Nacionalidades devem ser livres de ascender a Estados independentes – tem de obrigar, sem evasivas, a que a prática política corrente nas relações internacionais não deva fugir à regra fundamental de todos os seus entendimentos não deverem ser forjados, nem deverem ser subscritos à margem da AGONU.
Nos dias que correm já não é possível entender-se o fenómeno da colonização dum estado sobre outro tão-somente pelo pressuposto evidente de haver uma manifestação de dominação política mais ou menos expressiva e alicerçada, ou na ocupação territorial do segundo ou duma forte ameaça – uma chantagem – de, a todo o momento, isso poder acontecer. Não podem deixar de considerar-se como demonstrações de colonização a asfixia económica; a imposição de determinações uni ou multilaterais mesmo que proclamadas como legais; a tentativa (já acontecida na Europa) da aplicação a vários Estados duma lei fundamental não sufragada pelo universo eleitoral; a obrigatoriedade duma política multilateral de conluios internacionais; a fixação de inimizades internacionais ou a obrigação da prática de actos militares conforme invocação dum interesse multilateral e, ainda, muito importante, uma declarada distorção cultural – uma aculturação – consequente à invasão massiva e seleccionada duma desinformação alienante. Quaisquer destas circunstâncias constituem-se bastantes para poder afirmar-se que há, de facto, um estatuto de colonização ou de submissão. H. Marcuse, no seu «Homem Unidimensional», exemplifica-o ao afirmar que “a dominação pelo mercado e pelo consumo que, na sua aparência niveladora, não cessa de paliar a condição dos dominados, extermina «in ovo» toda a possibilidade de oposição”.
O Pacto de Varsóvia, de memória triste, teorizou sobre o que chamou de “soberanias limitadas” para que a URSS melhor estribasse a brutalidade das suas prepotências sobre os estados do Leste europeu os quais, como aconteceu, conseguiu reduzir ao estatuto de suas verdadeiras colónias. A OTAN, mais antiga que a sua comparsa de Leste e, não haja dúvida, não menos exigente é, um instrumento militar ao serviço dos interesses dos EUAN que foi criado, bem sabido, sob o pretexto falacioso, vindo ao mundo nos anos quarenta do século passado, duma suposta agressão soviética (tão suposta como, mais tarde, o foram as armas de destruição maciça do Iraque) que colocou sob as suas diatribes políticas todo o Oeste europeu, nele incluído Portugal, uma circunstância que, então, só deu rejúbilo ao imperante salazarismo.
(Continua)
Sexta-feira, 14 de Maio de 2010
Carta aberta à Chanceler da República
Federal da Alemanha, Dra. Angela Merkel
“A estratégia sem táctica é o caminho mais lento para a vitória.Táctica sem estratégia é o ruído antes da derrota.”
Sun Tzu (544 – 496 A.C. – General chinês e um dos maiores estrategas militares de todos os tempos e autor de “A arte da guerra”)
Cara Sra. Merkel,
A situação no país, na União Europeia e no mundo, torna-se cada vez mais
confusa. As velhas regras deixam de estar em vigor e as novas ainda não
nasceram. A ameaça de que as coisas fiquem fora de controlo é cada vez maior e a
perda de poder da Pax Americana – god’s own country and his partners in
misleadership, a UE, nós – torna-se cada vez mais óbvia. Basta pensarmos como
há pouco, em Copenhaga, os líderes do sistema de líderança da Pax Americana,
incluindo o Presidente Obama, foram afrontados e humilhados. Um acontecimento
ultrajante que, no futuro, deverá repetir-se cada vez com mais frequência – se não
agirmos.
E não é só pelo país fora que isto se sente. Também pelo aspecto cansado da
senhora se pode notar que luta, cada vez mais em vão, contra os mecanismos de
correcção cibernéticos da natureza – invisible hands de sinais contrários –, contra
os quais não pode ganhar. Sobretudo se continuar a dispersar-se perdidamente e a
atacar todos os problemas materializados individualmente, em vez de identificar e
resolver o problema central – com a “espada” e não mais com os “dedos”.
Aumentar a quantidade das suas queridas mensagens sms? Esqueça, isto só iria
piorar a situação ainda mais.
Que tal se experimentasse quebrar finalmente o seu tabu férreo e tentasse uma
simples mudança de estratégia?
Em 26 de Agosto 2007 escrevi-lhe – e ao mesmo tempo ao Sr. Barroso – sob o
assunto “Um “New Deal” para o Terceiro Mundo, a União Europeia e a Alemanha
― três grandes objectivos que se excluem?”, uma carta pessoal na qual, entre
outros, lhe chamei a atenção para o seguinte problema central: a estratégia linear,
e por isso errada, da União Europeia e, naturalmente, a dos seus mandantes nas
capitais europeias – sem os quais o Sr. Barroso não dá nenhum passo para a frente
e prefere concentrar-se em coisas tão importantes como a poibição de venda de
lâmpadas incandescentes e foscas.
Acerca do referido problema central que faz estagnar a UE, escrevi-lhe:
“Para isso, é preciso admitir primeiro, com toda a sinceridade, que o objectivo da
agenda de Lisboa de Março 2000 ―“tornar a UE no espaço económico mais
dinâmico e competitivo do mundo, baseado no conhecimento e capaz de garantir
um crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos e maior
coesão social” ― está errado. Errado, porque constitui um objectivo primariamente
introvertido e egocêntrico, cuja perseguição conduz a efeitos e resultados errados,
por não ser recompensado pelo meio envolvente em que a Europa se insere.” Com
efeito: "Se o objectivo principal for de definição errada, também todos os
posteriores passos dirigidos na direcção daquele objectivo o são, mesmo que
fossem correctos se dirigidos na direcção de um objectivo diverso. O facto de se
poder alcançar sucessos passageiros com o consequente uso de vistas curtas, não
altera nada na sua nocividade a longo prazo", ensinou-me o meu professor, o
investigador de sistemas Prof. h.c. Wolfgang Mewes, criador da “Teoria da Gestão
Cibernética (EKS)”E depois o princípio de aproximação à solução do problema: „... O novo objectivo poderia ser: “...tornar-se (a UE), através dos seus Estados membros, de perfis e de know how social e técnico diversos e multíplices, (tal como um canivete suiço multifunções), a preferencial parceira e solucionadora de problemas para os países do mundo menos desenvolvidos, contribuindo para desenvolvê-los sistematicamente em virtude de um New Deal...“
Infelizmente a minha carta caiu, juntamente com o meu esboço estratégico – New
Deal –, nas mãos de um dos seus assesores na Chancelaria, o qual não foi capaz de
distinguir uma matéria de importância para o patrão, de um assunto de chacha.
Talvez na altura a hora ainda não tivesse chegado, mas com a rapidez com que as
coisas actualmente se precipitam, muito em breve até propostas de solução de
problemas totalmente disparatadas e descabeladas – talvez um qualquer „metodo
de borras do café“ !? – poderão passar o referido „filtro“.
E tinhamos ainda a Europa, a Europa dos objectivos sublimes e nobres de outrora,
que eu conhecia na minha juventude e defendia com fervor, recomendando-a
também desde 1964 aos meus amigos na minha segunda pátria – Portugal. Que
aconteceu com esta Europa? Ora, depois de três décadas de comportamento linear
e de crescente falta de liderança, o sistema se encontra de candeias às avessas.
Em vez de avançar com o topo da pirâmide, tenta avançar com a base, através de
esforços cada vez mais sobrehumanos e vãos. E depois dos europeus – os seus
líderes impotentes e sem rumo agarraram-se ferreamente ao comportamento linear
– terem perdido a capacidade de superar a unidade polar entre espírito e matéria,
indispensável para garantir o equilíbrio do sistema, o espírito esgueirou-se. O que
restou foi mera matéria – dinheiro! “O espírito que se dane, venha cá o “cacau” de
Bruxelas ou a Alemanha e o resto é conversa”, é o que hoje porventura pensa a
maioria do povo. É por isso que agora o “cacau” começa a mirrar.
Foi já desde o início dos anos 90 que adverti os meus amigos portugueses, e não
só, contra as consequências dessa falta de estratégia, em cartas, conversas, mails
e artigos de jornal, reafirmando sempre de novo: “... quando uma União Europeia
às avessas, que de outrora extrovertida e alterocêntrica virou introvertida e
egocêntrica, chegar ao fim da linha, serão os seus subsistemas menos
desenvolvidos os primeiros que terão que passar pelas armas”. A título de
prevenção – de Bruxelas, já na altura sem perfil nem liderança – não vieram sinais
nenhuns, já então recomendava aos portugueses no meu artigo de 1997 “Porque
vale a pena apostar em África” , que criassem, finalmente, um claro perfil sócio-
económico de país solucionador de problemas para um determinado grupo-alvo no
mundo e que desenvolvessem e executassem neste sentido uma estatégia,
independentemente de Bruxelas. Eles um dia viriam a precisar disto urgentemente.
Todavia, as minhas repetidas advertências e os meus postulados não foram
percebidos nem seguidos. Pois é, tal como já sabia Friedrich von Schiller é “contra
os subsídios que até os próprios Deuses lutam em vão” – ou terá dito “contra a
estupidez?”
Infelizmente o meu vaticínio cumpriu-se e a primeira vítima, Grécia, já se encontra
no trampolim de dez metros, debaixo de si uma piscina sem água. E Portugal já
vestiu o calção de banho, também a Espanha já anda à procura dele, na esperança
desesperada de não precisar dele. Who is next?
Diga-me, cara senhora Merkel, já alguma vez reparou que também a Alemanha,
um dos principais co-responsáveis desta marcha sem rumo, se encontra na mesma
fila, só um pouco mais atrás? Já reparou que nos encontramos à beira de uma
negativa reacção social em cadeia, capaz de pôr fim a toda esta fantochada? Como
física doutorada, certamente tem conhecimentos de cibernética – pequenas causas,
grandes efeitos. Mas sabia que também em sóciosistemas valem essas mesmas leis
da natureza? Já teve a ideia de que em todos os sistemas naturais é sempre a
estratégia que determina tudo – “Structure follows strategy”- S.C.Chandler – e que
a actual estratégia, a nível supranacional da UE e aos níveis nacionais, pode estar
totalmente errada?
Seria bom que pensasse sobre estas coisas. E particularmente sobre o facto de que
a senhora é, em Berlim, a responsável principial e em Bruxelas a principal co-
responsável, por um sóciosistema outrora aberto e bem sucedido que pouco a
pouco se transformou num sistema fechado, já não receptivo a sinais externos e
em vias de fracasso, que só funciona quando alguém entra com um cheque sempre
que a crise aperta?
Com efeito, não são a Grécia, Portugal e outros os responsáveis pelo desastre que
se vislumbra. Pelo contrário, os responsáveis são aqueles que durante décadas
perderam oportunidades de efectuar mudanças de estratégias eficazes em
Bruxelas, ou mesmo as impediram por motivos egocêntricos e delegaram o governo
em gente medíocre. Ambos os referidos países, e outros, puderam fazer o que
fizeram porque tiveram o poder para tal, precisamente porque Bruxelas anda sem
liderança e sem rumo. Ora, os referidos países naturalmente são co-responsáveis,
pois houve certamente uma altura em que tiveram a oportunidade de criar, eles
próprios, e mediante uma mudança de estratégia auto-responsável, aquilo que o
Prof. Hans-Werner Sinn, Director do ifo-Institut de Munich, numa recente entrevista
em SPIEGEL-Online designou de um “modelo de negócios” (inexistente). É pena,
pois em caso de sucesso até poderiam ter emitido um sinal positivo a nível da UE,
promovendo uma mudança.
A senhora, a não ser que queira demitir-se, agora tem – do ponto de vista linear –
duas hipóteses: 1) Insiste na sua estratégia, que na realidade não passa de mera
táctica, até ao fim amargo. 2) Insiste, face ao desastre que cada vez mais se
aproxima, numa reforma da UE não baseada em princípios sistémicos-holísticos,
que na realidade não passaria de uma pseudo-reforma (combate aos problemas
singulares que agora surgem em catadupa, com meios materiais-mecanicistas,
continuando a não considerar as suas causas imateriais-psíquicas).
Todavia, ainda existe uma terceira hipótese, a não linear, dinâmica: a senhora
finalmente deixa de brincar às tácticas e começa a introduzir estratégia, a par com
a arte de liderança cibernética. Isto poderá ter lugar reconhecendo primeiro que a
sua estratégia é inexistente ou errada. Seguidamente, começa a planear uma
realização de grande impacto, a qual já em 2005 acariciou (Prof. Kirchhof!?). Na
actual situação, porém, terá que tratar-se de vender algo aos alemães e à UE que
tenha como consequência uma grande realização libertadora: a reorientação da UE
e da Alemanha para objectivos novos, extrovertidos e alterocêntricos no sentido do
meu esboço estratégico do qual, a pedido, lhe poderei enviar um novo exemplar.
Isto seria o “factor mínimo” externo, o decisivo por dizer respeito a necessidades
“candentes” de um determinado grupo-alvo. Lembro, pois, que se trata de eliminar
a armadilha da pobreza do 3º mundo pela qual a UE é uma das principais co-
responsáveis, fazendo com que cerca de 3 mil milhões de recebedores de esmolas
no mundo se tornem os nossos parceiros de trocas e clientes (cf. “New Deal” ).
Que gigantesco desafio para a os povos da UE e que grande oportunidade para todos nós, que hoje só olhamos para os nossos botões, voltarmos a ser úteis. A nossa aconteceria – esta é a notícia menos boa – de maneira tão dura e drástica e no meio de graves turbulências sociais – insurreição! – que a senhora entraria na
história como administradora de declínio, mal sucedida, da Alemanha e da Europa.
Porém, se estiver disposta e na posição de enveredar pelo caminho sistémico-
holístico do são juizo humano, transformando assim o actual sistema fechado
novamente num sistema aberto, criando ainda novo crescimento orgânico, então
causará – repito – nova confiança, fé, entusiasmo e motivação, a par com uma
vibrante atmosfera de alvoroço e de abalada para novos horizontes. O sublime e
nobre espirito europeu, indispensável para o equilíbrio do sistema, então voltaria
retomando a sua acção benéfica de outrora. Tanto a nível da UE, como em Berlim,
Paris, Londres, Madrid, Lisboa, etc. e no mundo.
Cara senhora Merkel, ponha um fim ao „tempo do adiamento, das meias medidas,
dos expedientes apaziguadores e frustrantes, dos atrasos“ – cf. abaixo – dos
últimos anos. Deixe para trás os lugares comuns e palavras ocas, em que já
ninguém acredita. Deixe de reagir e comece finalmente a agir. Pense, face à actual
situação mais que desesperada, no famoso discurso de Sir Winston Churchill de
1936 sobre o appeasement: “O tempo do adiamento, das meias medidas, dos
expedientes apaziguadores e frustrantes, dos atrasos, está a chegar ao fim. No seu
lugar, estamos a entrar num período de consequências.” Está a reconhecer o seu
perfil no discurso? Contudo, pense também, como sinal de esperança, nas palavras
do nosso grande Rei da Prússia, Frederico II: "Quem apelar à fantasia e à mente do
homem, vencerá aquele que tenta apenas influir sobre a razão".
Aja, senhora Merkel! Se agir terá uma boa hipótese de dar a volta por cima às
coisas na última da hora, tornando-se Líder de Renovação bem sucedida – na
Alemanha, na UE e com impactos benéficos em todo o mundo. A decisão é sua –
ainda.
Com os melhores cumprimentos de Estoril / Portugal
Rolf Dahmer