Desde que tive conhecimento do texto Testamento de Maurice Allais, o único prémio Nobel que a França teve, publicado por Marianne 2 que procurei obter a versão integral do referido texto. Um amigo meu. Jean-Paul Girard trouxe-me uma fotocópia de Marianne 2 mas em letra tão pequena que não era legível para um velho como eu. Desisti, até que anteontem, ao procurar de novo o documento para utilizar longamente num texto que estou a escrever, tive acesso via Internet, ao referido documento. Traduzi-o, disponibilizei-o aos meus estudantes e pedi que o mesmo fosse feito aos visitantes de estrolábio.
Conheci Maurice Allais de vários dos seus últimos livros, é um homem do mundo liberal, e eu era um dos que o confundia como sendo um neoliberal. Quis o acaso que eu há muitos anos ter tido a sorte de ler uma crónica sobre uma sua conferência feita num Grande École comercial em que o autor com uma lucidez extrema criticava as teorias em que se fundamentam os ideólogos da globalização e a sua posição crítica estava tão perto das que eu defendia que me espantei , como é que um neoliberal estava tão próximo das correntes mais à esquerda nesta matéria disponíveis aos estudantes de Economia, antes de Bolonha, antes das Universidades à Mariano Gago, claro. Daí a minha curiosidade e estas suas obras a seguir bem li e muitos extractos traduzi para colocar nos meus pontos de exame tal era a actualidade das ideias expostas, estas obras eu continuo a recomendar face à prática da ignorância que se faz de ontem, de hoje e de amanhã certamente , obras estas que vêm citadas no final do seu testamento. Se puderem, olhem por e para elas e não darão o tempo por perdido,
Aliás nesta Europa de ideias folgadas, dizem, mas bem condicionadas, garanto eu, ainda me lembro de um assistente alemão de nascimento e de profissão, ou seja, professor na Alemanha, entenda-se, ter dito mais ou menos o seguinte ao professor nessa referida conferência: Professor Maurice Allais, se eu tivesse a coragem de dizer no meu país o que o senhor aqui disse, eu não veria o meu contrato renovado! A sua exposição tinha sido uma crítica demolidora das teorias dominantes do comércio internacional e do seu teorema de base: o teorema das vantagens comparadas, o teorema de Ricardo, de que muitos dos meus alunos terão má lembrança, por não terem sido por este teorema ajudados no seu desejo de passagem na disciplina. Uma questão de vantagens, ou desvantagens, mas aqui de aprender, e houve quem com este teorema ficasse de facto a perder..
E boa leitura do testamento de Maurice Allais vos desejo. A sua riqueza é tal, a sua actualidade será lamentavelmente ainda a de amanhã como será igualmente ainda a de depois de amanhã, que dispensa todo e qualquer comentário. Deixemos apenas um lateral sobre o texto em questão. A Troika, aqui, em Atenas, na Irlanda e amanhã num outro país qualquer desta Europa agora pela incompetência amordaçada , procura rapar do tacho que dá pelo nome de PIB a comida com que a ganância dos grandes capitais há-de calar. Mas o tacho é mágico : quando mais se mete dentro dele mais ele fica a dilatar, porque com o investimento a aumentar, uma parcela do PIB, o emprego aumenta, a riqueza a distribuir igualmente, e o tacho fica a crescer e fica a engordar, a aumentar de volume. Mas tragédia, se aumenta por si só quando o fazem inicialmente aumentar, o movimento inverso é porém ainda mais rápido e extraordinariamente perigoso, pois o tacho diminui, por si só, em altura e em diâmetro quando dele o seu volume ficam a querer diminuir . Se dele tiram receitas para os capitais no mundo outras coisas poderem comprar , campos de golfe, casas no Dubai ou noutras coisas semelhantes poderem continuar a especular, é a procura interna que fica a cair, é a produção que depois fica a diminuir, é a receita do Estado que fica a regredir, é o desemprego a tudo poder fazer explodir . E, quando assim é, são depois os juros da dívida pública que ficam a subir, é a Troika a mais do tacho exigir quando ele já está a diminuír, e são os nossos liberais, esses sim neoliberais, de esquerda ou de direita chamados, a gritar pelas exportações para se procurarem salvar. Falta de memória, esqueceram-se que desarticularam as trocas internacionais com a sua estúpida desregulação global, com a sua assassina noção de concorrência mundial que nada mais é do uma bomba atirada ao tecido produtivo dos países europeus. Leia-se pois o texto de Maurice Allais para tudo isso se poder bem compreender. E à incompetência ele chama monstruosa, até mesmo assassina.
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