Dia Mundial da Poesia
(ilustração de Adão Cruz)
Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa) Autopsicografia
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração
Dia Mundial da Poesia
(ilustração de Adão Cruz)
Omar Khayyam Poesia persa
(selecção e notas intercalares explicativas de Carlos Loures)
Vinho! O meu coração enfermo quer este remédio!
Vinho de perfume almiscarado! Vinho cor de rosas!
Vinho, para extinguir o incêndio da minha tristeza!
Vinho e o teu alaúde de cordas de seda, ó minha bem-amada!
Foi Omar Khayyam quem disse. E também disse estas palavras que, hoje, lhe podiam valer uma fatwa:
Alcorão, o livro supremo, pode ser lido às vezes,
mas ninguém se deleita sempre em suas páginas.
No copo de vinho está gravado um texto de adorável
sabedoria que a boca lê, a cada vez com mais delícia.
E disse ainda:
Eu estava com sono e a Sabedoria me disse:
A rosa da felicidade não se abre para quem dorme;
por quê te entregares a esse irmão da morte?
Bebe vinho; tens tantos séculos para dormir
Dia Mundial da Poesia
(ilustração de Adão Cruz)
Homero Odisseia
Assim falou Euríloco; e os outros companheiros concordaram.
De imediato levaram dali de perto as melhores vacas do Sol,
pois não longe da nau de escura proa pastavam
as belas vacas de chifres recurvos e de ampla fronte.
Posicionaram-se em torno delas e rezaram aos deuses,
colhendo as tenras folhas de um alto carvalho, pois
branca cevada já não havia na nau bem construída.
Depois de terem rezado, degolado e esfolado,
cortaram as coxas e cobriram-nas com dupla camada
de gordura e sobre elas colocaram pedaços de carne crua.
Não tinham vinho para derramar sobre o sacrifício flamejante:
verteram água e assaram todas as vísceras no lume.
Queimadas as coxas, provaram as vísceras
e cortaram o resto, fazendo espetadas com os pedaços.
Foi então que dos meus olhos fugiu o sono suave,
e caminhei para a nau veloz, para a orla do mar.
Quando já estava bastante perto da nau recurva,
cercou-me o doce aroma a gordura quente.
Gemendo, assim gritei aos deuses imortais:
'Zeus pai, e vós outros deuses que sois para sempre!
Para minha ruína me adormecestes com sono desapiedado,
ficando os companheiros a cometer um acto tremendo.'
Dia Mundial da Poesia
(ilustração de Adão Cruz)
Carlos Drummond de Andrade ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU
Além da terra, além do céu |
Dia Mundial da Poesia
(ilustração de Adão Cruz)
William Shakespear A rose by any other name would smell as sweet
(Romeo and Juliet )
Juliet:
'Tis but thy name that is my enemy;
Thou art thyself, though not a Montague.
What's Montague? it is nor hand, nor foot,
Nor arm, nor face, nor any other part
Belonging to a man. O, be some other name!
What's in a name? that which we call a rose
By any other name would smell as sweet;
So Romeo would, were he not Romeo call'd,
Retain that dear perfection which he owes
Without that title. Romeo, doff thy name,
And for that name which is no part of thee
Take all myself
Dia Mundial da Poesia
(ilustração de Adão Cruz)
Pablo Neruda Puedo Escribir Los Versos Más Tristes Esta Noche
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos."
El viento de la noche gira en el cielo y canta.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.
En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.
Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.
Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.
Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.
Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.
Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.
La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.
Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.
De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.
Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.
Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
Mi alma no se contenta con haberla perdido.
Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.
Dia Mundial da Poesia
(ilustração de Adão Cruz)
Paul Verlaine Art Poétique
De la musique avant toute chose,
Et pour cela préfère l'Impair
Plus vague et plus soluble dans l'air,
Sans rien en lui qui pèse ou qui pose.
Il faut aussi que tu n'ailles point
Choisir tes mots sans quelque méprise:
Rien de plus cher que la chanson grise
Où l'Indécis au Précis se joint.
C'est des beaux yeux derrière des voiles,
C'est le grand jour tremblant de midi,
C'est, par un ciel d'automne attiédi,
Le bleu fouillis des claires étoiles!
Car nous voulons la Nuance encor,
Pas la Couleur, rien que la nuance!
Oh! la nuance seule fiance
Le rêve au rêve et la flûte au cor!
Fuis du plus loin la Pointe assassine,
L'Esprit cruel et le Rire impur,
Qui font pleurer les yeux de l'Azur,
Et tout cet ail de basse cuisine!
Prends l'éloquence et tords-lui son cou!
Tu feras bien, en train d'énergie,
De rendre un peu la Rime assagie.
Si l'on n'y veille, elle ira jusqu'où?
O qui dira les torts de la Rime?
Quel enfant sourd ou quel nègre fou
Nous a forgé ce bijou d'un sou
Qui sonne creux et faux sous la lime?
De la musique encore et toujours!
Que ton vers soit la chose envolée
Qu'on sent qui fuit d'une âme en allée
Vers d'autres cieux à d'autres amours.
Que ton vers soit la bonne aventure
Eparse au vent crispé du matin
Qui va fleurant la menthe et le thym...
Et tout le reste est littérature.
Dia Mundial da Poesia
(ilustração de Adão Cruz)
Luís de Camões Sonetos
Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada.
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co’a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
. Ligações
. A Mesa pola Normalización Lingüística
. Biblioteca do IES Xoán Montes
. encyclo
. cnrtl dictionnaires modernes
. Le Monde
. sullarte
. Jornal de Letras, Artes e Ideias
. Ricardo Carvalho Calero - Página web comemorações do centenário
. Portal de cultura contemporânea africana
. rae
. treccani
. unesco
. Resistir
. BLOGUES
. Aventar
. DÁ FALA
. hoje há conquilhas, amanhã não sabemos
. ProfBlog
. Sararau