Segunda-feira, 28 de Fevereiro de 2011

Chuva da minha nuvem - Adão Cruz

coordenação de Augusta Clara de Matos

 

 

 

Adão Cruz  Chuva da minha nuvem

 

 (ilustração de Adão Cruz)

 

 

 

Chuva da minha nuvem água da minha sede…

 

Com treze anos ou vinte somos a forma sublime uma espécie de sal e água.

 

Não somos a dimensão da vida mas criamos salinas nas margens do espaço.

 

O espaço era verde o espaço era verdade e a dimensão acertou o passo pelos passos da idade quando a idade nos diz que não há margens no espaço nem salinas de verdade.

publicado por Augusta Clara às 14:00
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Sábado, 26 de Fevereiro de 2011

Quase nuas - Adão Cruz

coordenação de Augusta Clara de Matos

 

 

 

 Adão Cruz  Quase nuas

 

 (ilustração de Adão Cruz) 

 

 

Quase nuas quase silêncio as palavras quase música fendem como lâminas as sombras dos dias ocultos.

 

Quase nuas quase silêncio as palavras quase música dizem a quem as ouve que há sol para lá da chuva.

 

Quase nuas quase silêncio as palavras quase música são água de quem as lê nas entrelinhas da secura.

 

Quase nuas quase silêncio quase cor as palavras quase música dizem a quem as sente que não há forma de ser por fora das palavras nuas.

 

publicado por Augusta Clara às 14:00
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Domingo, 15 de Agosto de 2010

O trigo e o joio


Adão Cruz


(Jesus disse: O Reino dos Céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo…).

“Nos braços ou à cabeça, são milhares os sacos de trigo que os peregrinos trazem e deixam em Fátima durante a missa internacional da Peregrinação do Migrante e Refugiado. A oferta, que se repete todos os anos no 13 de Agosto, destina-se ao fabrico das hóstias do Santuário e assegura parte da produção anual. No ano passado, ultrapassou as seis toneladas.

Os peregrinos, incluindo muitos milhares de emigrantes, saíram ontem de Fátima mais leves depois da missa de encerramento, ao final da manhã. No Santuário ficam algumas toneladas de trigo - 6440 quilos em 2009 e 5543 no ano anterior - que servem para fabricar parte das 20 mil hóstias e quase milhão e meio de partículas (hóstias pequenas) consumidas todos os anos no Santuário”.

Ao ler “Vaticano S.A.” de Gianluiggi Nuzzi, o mais recente livro sobre este tenebroso “Estado”, um livro impossível de contestar, dado que constitui a análise dos quatro mil ficheiros de Monsenhor Renato Dardozzi, que foi durante vinte anos conselheiro das figuras mais importantes na gestão do IOR (instituto de obras religiosas), o banco central da Igreja, fica-se estarrecido.

Durante trinta anos este cardeal Dardozzi foi guardando secretamente todo este material escaldante numa cave onde ninguém entrava. Sabe-se lá se na esperança de que tal mar de lava arrefecesse, ou se tornasse numa espécie de aforro para a libertação da sua consciência na hora da morte. Parece ter sido este o objectivo, dado que no final da vida, Dardozzi determinou que este arquivo se tornasse público.

Por mim, que tanto tenho lido sobre o Vaticano e a Igreja, nunca li nada que tanto afundasse a Igreja Católica na lama e na podridão. É inimaginável, quase inacreditável, ao ponto a que pode chegar uma instituição destas, em termos de falsidades, hipocrisia, fraudes e crimes financeiros, lavagens de dinheiro, crimes de toda a ordem, intrigas políticas, promiscuidades com o sub-mundo, concubinatos com tudo o que há de pior na área da corrupção, desde a máfia, a ministros e até primeiros-ministros, grandes empresários, bancos reais e inexistentes, empresas e instituições fictícias, agentes imobiliários, grandes famílias multimilionárias, governos corruptos e ditatoriais. O exemplo, entre muitos, da ENIMONT, o megasuborno, é elucidativo. Mas está longe de ser o principal. À frente de tudo, com todas as bênçãos papais, o misterioso comandante e estratega sem escrúpulos Monsenhor De Bonis.

O ISTITUTO PER LE OPERE DE RELIGIONE (IOR), banco central da Igreja Católica, é, incontestavelmente, por tudo o que se encontra testemunhado e documentado neste livro e em muitos outros, um antro de incomensuráveis crimes, com a excepcional vantagem de ser praticamente intocável e ter como capa, sempre, o rótulo de celeiro onde cai o trigo dos ingénuos, para alimentar os desvalidos e os famintos da terra. E não se pense que tudo isto é obra de meia dúzia de santos bandidos, secretamente fechados nos seus sagrados gabinetes, que se levantam a rezar e se deitam a cogitar na fraude do dia seguinte. Desde os papas, sem excepção, (tudo o que está escrito faz crer que a sua inocência é puro lirismo), descendo toda a cascata mais importante por aí abaixo, o Vaticano sabe bem quem é, o que é, o que faz e o que quer.

São Rios de dinheiro que passam, inexplicavelmente e impunemente, pelo IOR. As contas existentes nos documentos de Dardozzi são tão visíveis como contas de mercearia, embora ninguém saiba na maior parte das vezes como entram estes rios, como saem, onde vão desaguar, como voltam à nascente com caudal maior do que na foz, para chegarem novamente à foz em forma de cheia. Já em 1987, (pelo que se lê e está documentado), o que será agora (!) as somas de transacções, transferências, negócios secretos, depósitos em contas que se abrem e se fecham de um dia para o outro entre titulares com nomes fictícios, eram muitas vezes, imagine-se (!) da ordem dos biliões de euros (!)

Perante a notícia que li hoje de manhã, Peregrinos deixam toneladas de trigo para hóstias no Santuário, enquanto tomava tranquilamente o meu café, tive de intervalar a leitura com uns goles de sumo de laranja, a fim de impedir o vómito.
publicado por Carlos Loures às 11:00
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Domingo, 4 de Julho de 2010

Francisco Relógio no Terreiro da Lusofonia


Francisco Relógio é o artista plástico que hoje trazemos ao Terreiro da Lusofonia. Cores e formas de Portugal, portanto. Nasceu em Beja em 1926 e faleceu em Lisboa em 1997. Pelo final dos anos 40 estava ainda ligado ao movimento neo-realista, seguindo depois por uma linha mais ligada ao surrealismo. Senhor de um traço muito característico, talvez inspirado nas pinturas aztecas, Relógio foi, sobretudo um grande desenhador. Além da pintura, realizou belos cenários para diversas peças de teatro e cultivou também a cerâmica, o desenho e o azulejo. Existem vários painéis seus de azulejos em Lisboa, mas o mais conhecido é o que se encontra no edifício do Banco Nacional Ultramarino de Maputo (cuja fotografia podemos ver acima).

publicado por Carlos Loures às 08:00
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