(Continuação)Sobre este comportamento, Weber, sociólogo da religião, esteve bastante atento, dedicando-se ao seu estudo, com trabalho de campo em 1899, e publicação, em 1905, na Alemanha, de um livro, a que penso voltar após a análise de Lutero.
O conceito alma para os luteranos era um princípio central da sua fé, o corpo é apenas uma “gaiola” para a conter. Por isso, só a salvação de alma contava. Lutero acreditava na predestinação, influenciando os primeiros conversos.
No Século XIX, uma grande curiosidade sobre a prosperidade de luteranos e calvinistas surge na vida social. Todos os denominados protestantes (por terem protestado contra a confissão romana, levando-a a mudar no Concílio de Trento do Século XVI), enriqueciam para surpresa do resto da população que, começou de imediato, a pretender ser luterana, verificando-se, por esse motivo, uma grande passagem de cristãos romanos para luteranos.
Curioso do facto, Max Weber deu início ao seu trabalho de campo no Sul do Rio Elba. Trabalho que permitiu uma comparação de comportamentos entre protestantes e católicos. Nas conclusões, publicadas no livro A Ética protestante e o Espírito do Capitalismo (1904-1905), do qual Pierre Bourdieu virá mais tarde a divulgar excertos, Max Weber observa que os operários católicos gastam todo o pouco dinheiro que ganham em festas, bebedeiras, roupas e viagens não poupando nada, vivem na eterna miséria. Por seu lado, os operários luteranos, trabalham de manhã à noite, excepto aos Domingos, poupando todo o seu dinheiro, contrariamente aos católicos, e investindo-o em maquinaria, sementes e melhor terra, com vista a uma maior produção e a uma melhor venda nos mercados.
Mas se trazemos para este debate A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, considerada por muitos como a melhor obra de Max Weber, é para tentarmos compreender porque é que Freud leu Durkheim, sem nunca o citar, mas desconheceu o seu quase compatriota Weber. Um sociólogo capaz de entender o que muitos procuravam: o denominado “calling” ou vocação para ser trabalhador produtivo e assim entrar na era do capitalismo sem temor nenhum. Podemos, pois, afirmar, de acordo com Max Weber , que a ética protestante encoraja as trocas e investimentos com mais-valia. Assim, Weber, estudioso das religiões, encontra na versão protestante do cristianismo o apelativo para o investimento com mais-valia. Como anteriormente referimos, os cristãos protestantes não só poupam como investem para poupar. O motivo parece muito simples, a ideia da vocação para serem homens religiosos cujo primeiro dever é trabalhar, não para enriquecer, mas para proveito da Nação e da família nuclear e alargada.
Evidentemente que este tipo de análise não estava no modelo de inconsciente de Freud, nem no modelo de Durkheim, que soube estudar o sacrifício, o ritual e o mito, areias onde Weber não se movimentou. Aliás, Weber nunca foi lido por Marx, Freud ou Durkheim, sendo assim o criador solitário da Sociologia Alemã. O seu objectivo era a descoberta da riqueza das nações, como antes de si, em 1776 , o foi de Adam Smith, membro da confissão de Knox, da Igreja Presbiteriana, nascida da confissão Calvinista .
Notas: Ideias definidas na página web da Internet : http://www.google.com.br/search?hl=pt-PT&q=Luteranos+e+a+Salva%C3%A7%C3%A3o&aq=f&oq=
Os luteranos rejeitaram a predestinação já em Augsburg, em 1530, com a redacção da "confissão" efectuada pelo humanista Melanchthon.
Porém, essa é a doutrina fundamental de Lutero, e como mostramos no artigo sobre o filme, é a doutrina que ele defenderá até ao fim da sua vida. Não podia ser diferente, pois ao negar que o homem possa cooperar com a graça de Deus, nega-se que o homem possa ter méritos e portanto que possa ter liberdade de escolha entre o bem e o mal. O Sola Fidei leva necessariamente à predestinação. Com a negação da predestinação, os luteranos criaram uma aberração teológica (e lógica).
O anteriormente dito, não significa que não haja ainda hoje luteranos fiéis ao mestre que insistam na predestinação e nas demais doutrinas diabólicas do Lutero primitivo.
Actualmente, há um debate entre luteranos que acreditam ou não na predestinação. O texto de 05-04-2005, denominado: Lutero e a predestinação, diz: “Conversando com alguns protestantes vi que eles rejeitam a possibilidade de algo acontecer por acaso. (este grupo protestante com quem conversava, pois, os protestantes são desunidos em suas doutrinas) Segundo eles as coisas que acontecem em nossas vidas já foram providenciadas por Deus antes mesmo que nascêssemos, sendo assim se Deus, providenciou que eu me casasse com a Joaninha filha do Seu Rui que trabalha na venda da esquina (isto é somente exemplo), mais cedo ou mais tarde este casamento acontecerá (ainda que eu não queira), e eu terei quantos filhos Deus já tiver determinado que eu tivesse. Sendo assim eu não teria liberdade de escolher, com quem quero casar, nem quantos filhos quero ter! Como argumento me citaram a seguinte passagem bíblica: "Cada uma de minhas acções vossos olhos viram, e todas elas foram escritas em vosso livro; cada dia de minha vida foi prefixado, desde antes um só deles existisse." (Sl 138,16) Argumentei-lhes que Deus sabe o nosso futuro, mais isto não quer dizer que ele escolha o que devemos fazer ou não! Citei-lhes o exemplo do Rei Ezequias que estando doente foi avisado pelo profeta Isaías que em breve iria morrer. (Is 38,1)”.
Weber, Max, (1892) 1986 : «Enquête sur la situation des Ouvriers Agricoles a L’Est de L’Elbe. Conclusions Prospectives», publicado em Actes de la Recherche en Sciences Sociales, nº 65, Novembro de 1986, manuscrito de Weber publicado pelo director, fundador e director de la Revista citada, Pierre Bourdieu. O original foi publicado em 1892 pela primeira vez em : Schreiftent des Vereins für Socialpolitiken, tomo 55, Leipzig, Duncker und Humblot e reeditado em 1964 no texto de compilação de escritos de Max Weber por Eduard Baumgarten: Max Weber, Werk und Person em: BAUMGARTEN, EDUARD. Max Weber Werk und Person.
Tubingen: Mohr, 1964. 720 p. Mit Zeittafel und 20 Bildtafeln. Soft cover, em: http://www.antiqbook.nl/boox/bkw/9997.shtml
Um livro aproximado à compilação de trabalhos de Weber, da autoria de vários sociólogos, é: Max Weber, Textos Seleccionados, Editora Nova Cultura. 1997, São Paulo, 192 páginas, que pode ser lido em: http://www.scribd.com/doc/6618252/Max-Weber-Textos-Selecionados
“A fonte da sociologia weberiana está, em geral, localizada entre os debates metodológicos e teóricos do fim do Século XIX e começo do Século XX, e não nos problemas concretos da sociedade alemã. A análise dos motivos do comprometimento de Weber na criação da Sociedade Alemã de Sociologia, demonstram que não era prioritário nem a autonomia nem a instituição da sociologia como disciplina académica, mas sim a criação de um instrumento e de uma infra-estrutura necessários para a pesquisa dessa imensidão de problemas, mas à época foi considerado como sem objectivo prático. Este projecto sociológico está directamente ligado aos inquéritos sobre aspectos do universo rural que Weber realizou no contexto das suas pesquisas em sociologia política (Verein für Sozialpolitik). A sociologia rural, actualmente, parece ter-se esquecido da sociologia de Weber. No lado oposto, na sociologia urbana do Século XX, encontra-se filiação weberiana dentro do seu contexto.
A análise da temática urbana baseada na obra de Weber demonstrada quais os motivos e as razões da (quase) ausência da sociedade urbana contemporânea em estudos, enquanto temáticas sobre as povoações da Antiguidade, da Idade Meia e do Oriente têm passado a jogar um rol primordial (Antiquité, Moyen Age, Orient) nos inquéritos de Weber sobre as condições da emergência do capitalismo na empresa moderna”. O texto, em francês, traduzido livremente por mim para entender o inquérito mencionado, aplicado a sul do rio Elba, e por Pierre Bourdieu o ter escolhido, é: « La source de la sociologie webernienne est généralement localisée dans les débat méthodologiques et théoriques de la fin du XIXe et du début du XXe siècle et non dans les problèmes concrets de la société allemande. L’examen des motifs de l’engagement de Weber dans la création de la Société Allemande de Sociologie montre que ses objectifs prioritaires n’étaient ni l’autonomie ni l’institutionnalisation de la sociologie comme discipline académique, mais la création d’un instrument et d’une infrastructure pour mener de grandes enquêtes
« sans but pratique ». Ce projet sociologique est directement lié aux enquêtes, d’abord rurales,
que Weber a réalisées dans le cadre du Verein für Sozialpolitik, à l’exploitation politique
qu’il en a faite lui-même et à son échec pour imposer au Verein un programme et une méthodologie
D’enquêtes sans but pratique immédiat. La sociologie rurale a oublié la source rurale
de la sociologie de Weber. Par contre, dans la sociologie urbaine du XXe siècle, on peut rencontrer
L’affirmation d’une filiation webernienne. L’examen du thème urbain à travers l’œuvre de Weber montre que, et pour quelles raisons, la société urbaine contemporaine en est absente tandis que le thème de la ville (Antiquité, Moyen Age, Orient) joue un rôle primordial dans l’enquête de Weber sur les conditions d’émergence du capitalisme d’entreprise moderne », em : http://www.google.com.br/search?hl=pt-PT&sa=X&oi=spell&resnum=0&ct=result&cd=1&q=Max+Weber+Enqu%C3%AAte+sur+la+situation+des+ouvriers+agricoles+a+l%27Est+de+l%27Elbe&spell=1
Weber, Max, (1904-1905 em Alemão, nos em Archiv für Sozialwissenschft und Socialpolotik, J.V.B. Mohr, Tubinga, vols. XX e XXI) A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo encontra-se editado em castelhano pela editora Taurus, Madrid, a versão portuguesa é da Editorial Presença, 1983, traduzida por António Firmino da Costa. The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism é um livro (book) escrito por Max Weber, economista alemão (German economist) e sociólogo (sociologist), em 1904 e 1905, livro que começou por ser uma série de ensaios (essays). A edição original do livro, publicado para leitura, foi tratada por Marienne Weber nos anos 20 do século passado.
Para Weber o capitalismo (capitalism) desenvolveu-se quando os protestantes (Protestant), particularmente a ética calvinista (Calvinist ethic), influenciaram um largo número de pessoas envolvidas no trabalho da vida laica, criando e desenvolvendo as suas próprias empresas (enterprises) e, simultaneamente, a actividade comercial e a acumulação de riquezas (trade wealth) utilizadas para investimentos futuros nas suas empresas. O que Max Weber descobre é que a ética protestante foi a força por detrás de uma não planificada e coordenada acção massiva (mass action) que influenciou o desenvolvimento do capitalismo (capitalism). É uma ideia conhecida como a tese de Weber. O texto está em inglês, traduzido por mim de forma livre e com comentários no meio do texto original, guardando as palavras em língua inglesa para outras ligações na Internet. O original diz: “The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism is a book written by Max Weber, a German economist and sociologist, in 1904 and 1905 that began as a series of essays. The original edition was in German and has been released.
“Weber wrote that capitalism evolved when the Protestant (particularly Calvinist) ethic influenced large numbers of people to engage in work in the secular world, developing their own enterprises and engaging in trade and the accumulation of wealth for investment. In other words, the Protestant ethic was a force behind an unplanned and uncoordinated mass action that influenced the development of capitalism. This idea is also known as "the Weber thesis". Análise completa em: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Protestant_Ethic_and_the_Spirit_of_Capitalism
Adam Smith (provavelmente Kirkcaldy, Fife, 5 de junho de 1723 — Edimburgo, 17 de Julho de 1790) foi um economista e filósofo escocês. Teve como cenário na sua vida o atribulado século das Luzes, o século XVIII. A sua biografia em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Adam_Smith. No ano de 1776 escreveu: An inquiry into the nature and causes of the wealth of Nations, que pode ser lido em: http://www.adamsmith.org/smith/won-index.htm
Este texto pode ser lido em: http://classiques.uqac.ca/classiques/Weber/ethique_protestante/Ethique.html (Continua)
Raúl IturraC Ciclos3ª Parte, Capítulo I
Estas crianças crescidas, são o resultado das estratégias reprodutivas dos seus ancestrais, como vamos ver no capítulo 3. O seu saber, é manipulado ao contrário do ensinado pelos pais, pelos parentes. O seu saber é levado pela conjuntura dos tempos e das reacções dos seus pares. Eu insisto de que as crianças estão feitas para fugirem deles, das formas mais complexas possíveis. (Iturra 1997 c ). Em pequenos, da sua vista. Em adultos, da sua vigilância. Em adolescentes, da sua forma de aconselhar e controlar. Justo a altura em que eles querem entrar sós no mundo. Já o diz Daniel Sampaio: Vivemos em uma prisão (1998). A prisão da qual estas três jovens escapam de forma inteligente. Como o fazem os seus germanos e pares da sua geração. Quando conheci a estes todos, e a estas três, que são o elo de ligação que me permite falar das outras e dos outros, parecia que ião ser como as mães delas, como as mesmas mães delas. Como os mesmos pais delas. Bem define Klein (1932) que a rebeldia das crianças e a procura da sua autonomização. Bem é verdade que Klein nunca estudou este tipo de crianças. Boa discípula de Freud, ela dedica o seu tempo ao que ela pensava era o objecto científico, a burguesia urbana nor-europeia. Alice Miller é quem universaliza a teoria dreudiana, a partir do entendimento de ver a pequenada europeia do campo e da cidade, (1983ª e 1983 b), cujas historias de vida analisa a maneira de Georges Devereux (1985). É desses autores, que é possível retirar algumas ideias dos ciclos de vida que acompanham o tempo do saber. Victoria e os seus pares Picunche, vivem a tecer, semear, ir a escola, observar aos adultos que estão no meio de uma revolta social que acaba em ditadura. E o silêncio que ela aprende, é como o silêncio dos outros, resultado da desconfiança de passar a ser pessoas desaparecidas. Especialmente, porque ao pé deles, hoje, estava o irmão de mulher do ditador do Chile, feito proprietário das terras da antiga aristocracia espanhola e criolla - é dizer, pessoas nascidas mais tarde, no Reyno do Chile, como diz Ovalle (1646). Proprietário que tinha uma guarda especial, delatora, com fuzis, com espingardas, que não era recebido em casa nenhuma de antigos proprietários. De raros antigos proprietários que ficaram com terra nos anos setenta deste século. Esses que como tantos outros, não tiveram que sair. Famílias, também, que não iam receber Victoria, porque era filha de Inquilinos. E a hierarquia sempre existia no social, respeitada pelo grande número de habitantes de Pencahue. Eu próprio fui á casa dos proprietários da maior propriedade de terras do lugar, Rauquen. Fui bem recebido e até a falarmos em inglês, língua não oficial, mas muito natural para pessoas antigas em essa terra. Victoria e a nossa amiga e colaboradora de pesquisa, Técnica Veterinária de Talca, Alejandra Cárcamo, ficaram fora, ignoradas. Pelo qual eu rapidamente sai. Porque, as experiências de todos eles, é a de ser deitados fora, de tirarem o chapéu, de terem que lutar pela vida dura.
Isto é observado por estas crianças e, quando adultos, querem se comportar de forma diferente, ganhar o senhorio próprio dentro de uma sociedade mais igual. È verdade de que as vidas deles, estão acompanhadas de ditaduras. Como a de Espanha, por quarenta anos, como a de Portugal, por quarenta anos, e a mencionada de Chile, que quis chegar aos quarenta anos e elaborou um número indeterminado de leis que perduram para manterem o comportamento social e politico subordinado á lei militar. Há, porém, os ciclos definidos por mim em outros (1997 e a reedição dos mesmos em este capítulo, 1998), correlacionados a molécula natureza que o ser humano é como fisiologia. E há os ciclos que a Historia Social, incute no crescimento de todos eles. Estes três países, estiveram baixo a espingarda, sempre. Victoria, Pilar e Anabela e os seus pares, são resultados das espingardas sob as que os seus pais e ancestrais viveram. Espingardas de quatrocentos anos entre Picunche, de setecentos anos entre galegos, de transições continuadas que vários de nos temos definido no seminário de Paris em Lisboa, com Godelier (1991). Transições Sucessivas entre portugueses. Pelo menos, transições desde Mouzinho da Silveira em Portugal nos 1830, como analisam Míriam Halpern Pereira (1991). Semelhantes anos de 1830, na Espanha total, com a constituição que Fernando VII teve que assinar em 1812 e que andou a afectar Vilatuxe. Onde ficou um espírito rebelde, que acompanhou aos primeiros sindicatos contra a enfiteuses, que vigorava em todo o País. Esse Vilatuxe que correu, em 1868, com a guarda da Coroa Eleita, como vai ver no capítulo 3. E que eu fiquei a saber por documentos entregues a mim pelos investigadores locais da Galiza. As famílias rebeldes, ainda lá moram, com a sua memória a influenciar as Pilares locais. Como as rebeldias dos de Pencahue e de Vilaruiva, no seu tempo.
Os ciclos da Historia, constroem o crescimento, alimentam as estratégias da pequenada, de uma forma que elas nem sabem. Nem os seus pais conhecem. E que poucos cientistas locais, entre nós, são capazes de ver em elas. Só Sampaio (1998), Paula, Iturra (1994), Miller (1983 b) , e eu próprio (1997), na medida em que essas têm três historias têm influenciado a minha unitária vida pessoal e cientifica de observador participante. A criançada cresce a fugir dos pais, como metáfora desconhecida de eles, de fugir das forças invasoras da sua segurança, autonomia e independência. Alias, uma intervenção de essa autonomia e independência, exigida ao comportamento pela lei e os factos económicos, e aprendida como maneira de se comportar, de serem empresas eles próprios. Porque não é emprego o que, com o saber, procuram, actividade que os seus adultos pareciam fazer: calcular para optimizar (Iturra 1981 e 1988). Formalmente, os seus adultos tiveram que maximizar para ultrapassar a pobreza, analisado por Marx (1857), e retirado de ele para eu entender (1988 e 1998, versões modernas das Grundrisse), estrategizar a raridade, a escassez. Mas, no seu tempo, esses adultos optimizavam em frente de quem tinham que servir. Esta criançada que cresceu, estrategiza para optimizar para si próprios, com o emprego do risco tomado nas suas mãos, para si, perante uma geração adulta que não quis acreditar nas suas alternativas procuradas. Muito tiveram que lutar cada um dos três elos cujas vidas ligam para mim, a juventude de hoje. Crianças que observei no passado, manipularem o real herdado que os países referidos lhes apresentaram. Apresentaram de tal maneira, que eles quase que não acreditavam em si, e tiveram que procurar apoios fora de casa para entender como fazer. Apoios na persistência da sua informação e da sua amizade com pessoas de fora. Não e já só o ciclo natural, que coloca tempo ao saber. Não e apenas só o ciclo Histórico da sociedade global, que coloca tempo ao saber. É a própria época da pessoa, essa transição vivida enquanto se está a crescer, que coloca o tempo mais determinante a esse saber viver. Esse saber conviver. Uma interacção que aparece de forma diferente à vivida pelos seus adultos e que não faz deles adultos em réplica, como já referi em Coimbra faz anos (1987), ao proferir uma conferência sobre trabalho de campo, observação participante, metodologias que me têm ensinado a ver e entender que o tu calculas que tenho empregado como titulo hipotético, é a observação da experiência do adulto e do ciclo Histórico, que a antiga criança, cabe viver na sua vida adulta. Nos, os adultos maduros, é que devemos observar esse cálculo, para encurtar a distancia entre gerações. Para que o debate entre gerações seja frutífero, e os novos pequenos saibam reproduzir estratégias, que os adultos crescidos de hoje, pensam que já resolveram. Cada época histórica, tem uma diferença com a outra.
Cada um de nós tem sido feito pela fisiologia, pelo saber, e pela história entendida de maneira diversificada. Como é o diálogo entre Victoria, Rebeca, e Yeyé; entre Pilar, Hermínio e Esperanza; e de Anabela, António, Fernanda e as avós.
Assunto que passo a tratar. Com licença do leitor, que melhor me ouvia estas palavras, com um Mozart Kejel 331 (1778), ou um Schubert D 780 (1827). Para retomar o texto, musica que nunca era ouvida nos lares de Victoria, Pilar e Anabela, mas sim por Victoria, Pilar e Anabela. Parte do seu ciclo educativo. Ciclo educativo, que jamais ficava fechado, sem a ternura que a criançada podia ver nos seus adultos. Como Pilar e Anabela, ver esses olhos nos olhos dos seus pais, esses olhos nos olhos que foi Pilar capaz de ver para si em Alfonso, nas idades tenras do namoro. Namoro que, ainda, não tinha um Ezequiel de filho, a se interpor, naturalmente, entre a paixão de um pelo outro: o acordar cedo, a aleitação, as fraldas, o ensino de quais palavras sim e quais não. A criançada, durante o seu tempo de observar, só queria entender. Queriam e diziam. Queriam e diziam o quê. E a procura era pesada e forte, para chamar a atenção do progenitor, aos berros, se for preciso, como vou analisar no capítulo 5. Crianças minhas também, porque comigo aprendiam o que em casa não se falava, hoje adultos jovens, têm me enternecido profundamente, quando vejo olhar, ouvir e calar, porque ai falam as mãos, o brilho da cara, o abraço doce. Toda essa ternura reprodutiva, que acaba nos Exequieis, ou não, mas que atira os corpos, desejosos de estarem intimamente sós. Comportamento que ensina que ser homem é de uma maneira, e ser mulher, de outra. Quando o homem seduz, cala, beija, retira-se, anda para trás, possa uma mão no ombro...Em tanto que ela resiste, anda também para trás, levanta a voz, dá um olhar zangado, que, lentamente, passa a um olhar sorridente, de boas vindas, lento e persistente, insistente, profundo. Mais profundo e duradouro, do que o olhar do homem seria jamais capaz de produzir, jamais capaz de lançar, jamais capaz de esboçar. Porque como todos sabemos, a ternura masculina é ternura súbita, repentina, tímida para se prolongar. Como as danças andaluzas Como Hermínio, António e, no seu tempo, Clodomiro faziam á Esperanza, Fernanda e Yeyé, esses pais de Pilar, Anabela e Victoria. Os três elos que ligam a minha história, que nunca foram capazes de ver os olhos nos olhos dos ancestrais, porque é a intimidade que o produz, que a íntima união penetrada dos corpos produz, que o individual escorregar da doçura do centro do peito até as pernas, produz. Até o grito final da ternura. Ouvido nos quartos deles todos. E o gritar do bebe eventual, que faz todos eles quererem fugir de casa no seu dia. Para caírem na casa onde os seus bebes, empurram outros meninos.
O ciclo ao longo do tempo, sabe. Sabe entregar a relação íntima entre dois, diferentes ou iguais sociais, diferentes ou iguais genitais, diferentes ou iguais emoções. O ciclo ensina as crianças, que o desejo nasce porque se ama uma outra pessoa, do se próprio ou diferente sexo. O desejo sem amor, satisfeito a assassinado por nós, mata-se no minuto, e toca correr depois. A vestir. A pegar no cavalo. A fechar a porta do carro. Até nunca mais ver. A criançada que está no processo de crescer, sabe duas coisas, do ciclo histórico da sua cultura: de que a ternura de amar tem desejo; e de que a ternura de amar, tem magoa. Bem como desejo e mágoa vão com as pessoas, quando há um objectivo comum, o reprodutivo: filhos feitos, filhos a alimentar, trabalhar para alimentar os filhos. Hermínio gostava dizer que Esperanza era a bela das belas, que não havia mulher doce como ela era, nem tão ternurenta no ninho dos dois, cama ou palheiro. Era o motivo que o levava a passar ao galope do seu cavalo ao pé da janela da então rapariga, quando vinha de volta das mulheres públicas da vila, para a ferir. Para transferir a ferida, diria eu. Isso, comentava Esperanza, que ficava com raiva ao entender que cavalo e cavaleiro, vinham de aí. Mas, diz Esperanza, que todo perdoava: era e é tão formoso, de formas ou feições agradáveis, perfeito, deleitoso, que soava bem, harmonioso.
Hermínio, na presença de todos nós, nos seus fortes e lindos novos setenta e seis anos de ontem, hoje são oitenta e três, batia com a mão nas nádegas da mulher, que ri e lança um olhar coquete ao seu homem desde o seu sítio de mulher de setenta anos. Como António a Fernanda, que sempre responde, com um sorriso namorada: larga, pois, e comenta em silêncio com os olhos brilhantes de alegria. Eis porque que um o Pepe tem uma Mónica, e um Santiago, e uma Natividade, e um Hermínio, fruto dos seus amores com Neves, a sua mulher. E o Miguel, um Isaías, esse bebé que nasceu enquanto escrevo estas páginas. E, Pilar, o seu Ezequiel. E assim por diante. O ciclo do histórico, é feito pela abertura dos pais perante os filhos, pelo brincar afectivamente, enquanto as contas são debatidas. Pelo lembrar dos mais velhos, dos seus namoros de adolescentes. De todos os seus namoros, ternuras e apoios. É o cálculo emotivo, que eles observam, entendem, fazem. O cálculo que observam para saber como se faz no tempo.
Pierre Bourdieu em 1999. Existe um largo tipo de antropólogos, como narrei blogues anteriores de este sítio de debate que se têm interessado nas emoções dos adultos e a observação das crianças que vem… Interesse estuado especialmente no campo das análises feitas em trabalhos de campo com adultos. Porque todo antropólogo está preocupado com esse mundo dos seres crescidos, esse mundo das decisões, no entendimento deles. Meyer Fortes, ao estudar os Tallensi (1938 e 1987), na Ghana, dedica grande parte do seu tempo á relação do adulto com a criança, mas a sua observação centra-se nos adultos, passando a ser a criança, apenas uma escusa para o diálogo com o avô ou o pai. Semelhante estudo tem sido feito por Jack Goody (1977), que no seu mito do Bagre, vê a criança inserida entre esse número de adultos com os que relaciona principalmente. Malinowski (1922), só in passim, é que vê o comportamento dos pequenos. Fama tem tido Margareth Mead, na sua basta obra, de se preocupar da análise de raparigas da Samoa (1928) Um estudo directo e pormenorizado, é o feito por
Peter e Yona Opie (1979) nos seus livros. Na obra portuguesa, um numero de nos, tem tentado compreender a análise do que eu denomino Epistemologia da Criança primeiro, e Etnopsicologia de Infância a seguir, intermediado pelo saber criado para a Antropologia da Educação, bibliografia em anexo. É com pena que lembro dos nossos trabalhos com o Piere (Bourdieu) e equipa, ao longo dos do meu ensino com eles entre Cambridge e Paris, ou Lisboa e Paris, não foi bem sucedida: não tive a força de convencer ao Laboratoire d’Anthropologie Sociale para estudarmos crianças que assistem ás instituições que eles tratavam. Excepto Henry Bomvin e, perto de seu fim, a equipa toda que estudou crianças, com os resultados publicados no livro La misère du Monde, Seuil, 1993, Paris. Foi o único.
Vou tentar agora centrar a base da criança total.