A nossa balança alimentar é essa que está no título, importamos 89% do que comemos! Como é possível?
Mas foi sempre assim, a nossa balança comercial foi sempre deficitária, sempre importamos mais do que exportamos e, fomos vivendo, primeiro com o ouro do Brasil e as especiarias da Índia, depois com as remessas dos emigrantes, a seguir com os fundos europeus, agora com os empréstimos que fazem a nossa dívida e, claro, como pano de fundo um país com metade da população a comer muito mal e mergulhado na pobreza e na doença.
O que falta a Portugal para produzir o suficiente para nos alimentarmos sem recorrer ao exterior? Temos produtos alimentares do melhor, uma gastronomia que sabe como poucas tirar partido dos produtos , um ambiente ameno propício ao cultivo de grande parte dos produtos, experiência e "saber fazer" na agricultura e pescas, um mar imenso ( vamos ficar com a segunda mais vasta zona de Mar de todo o Mundo logo atrás dos US) ...
Bem sabemos que as teorias à volta do livre comércio têm aberto caminho a produtos standardizados, de baixo custo mas sem qualidade. Onde estão as maças da minha avó louceira que enchiam de odor primaveril a sua cozinha? O que eu compro como maças é outro produto, não sabem a maçãs nem cheiram a maçãs.
Aumenta a procura e também a oferta de bens alimentares nacionais de qualidade, carne, peixe, fruta, hortículas, leite ( que os produtores, em fúria, deitam para a sargeta em frente das câmaras da televisão), produtos biológicos e, a aposta parece forte nos produtos nacionais, mas nada acontecerá se não formos capazes de fornecer a tempo e horas e nas quantidades e qualidades necessárias, como se queixam os grandes espaços de distribuição e venda.
Não estou a defender que não se importem os produtos que não temos condições naturais e de experiência humana para produzir, nada disso, defendo que a agricultura e as pescas deixem de ser o parente pobre das actividades económicas, que ser agricultor e pescador seja uma honra para quem investe e para quem trabalha. A reputação de quem investe e de quem trabalha nestes sectores primários da economia é um factor essencial ao desenvolvimento sustentado das actividades.
Não há terra livre para cultivo no centro e norte da Europa, famílias, por gerações são agricultores e pescadores e não querem ser outra coisa.Prova-o o facto das nossas terras abandonadas serem procuradas e compradas para serem trabalhadas por europeus que aqui encontram a sua forma de viver. Esse reconhecimento social é um factor fundamental para que Portugal se torne, progressivamente, mais capaz de alimentar o seu povo.
Há sempre quem, entre nós, encontre mil e uma dificuldades para darmos prioridades aos nossos produtos, mas a verdade é que eu andei na China, quinze dias a comer melancia e melão, que são as frutas que lá produzem em quantidade. Havia outras frutas de importação mas eram um luxo, nos hóteis de cinco e seis estrelas a melancia e o melão, todos os dias ao pequeno almoço sorriam para quem queria fruta...
E que tal começar pelo que comemos e produzimos e deixarmo-nos de "peneiras" em comer frutas exóticas quando ainda temos as melhores maçãs do mundo?
Há poucos dias dei aqui conta do falhanço do sistema de produção do regime Cubano que vai despedir 1.300.000 pessoas que trabalhavam como funcionários públicos. Espera-se que estas pessoas possam criar o seu próprio emprego e aumentar a produção de produtos e bens essenciais, mormente na agricultura e pescas.
Ontem correu a notícia que a investigação médica Cubana, após porfiados esforços ao longo de quinze anos conseguiu obter uma vacina terapêutica do cancro do pulmão, um dos cancros mais letais e que mais tem aumentado nos últimos anos, especialmente entre as mulheres, resultado do seu apego ao tabaquinho.
Não se pode ler estas duas notícias sem um sentimento de espanto. No mesmo país, não se produzem batatas, agriões e tomates, não se pesca peixe suficiente, mas a sua medicina é do mais avançado a nível mundial. Aqui está uma lição que as experiências dos países comunistas nos deixaram. A iniciativa privada é essencial, não só porque não há Estado que tenha capacidade de ocorrer às inúmeras actividades que uma economia saudável comporta, mas também porque a liberdade de iniciativa é uma componente fundamental da liberdade da sociedade civil.
Da mesma forma, mas de sentido contrário, a crise que assola os mercados ocidentais, desfazendo economias e empregos aos milhões, mostra bem que não se pode esperar da iniciativa privada que se autodiscipline no sentido do interesse geral.É o lucro que faz mover as pessoas e não o interesse geral, pelo que os Estados não podem deixar nas mãos dos mercados e dos especuladores as actividades que, pelo seu perfil estratégico, possam influenciar a vida de milhões de seres humanos.
A crise em que estamos mergulhados é o resultado, não só da ganância das pessoas, mas também do falhanço dos estados que não regularam, não supervisionaram. Que o estado se dedique às actividades que só ele pode, com independência, executar!
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