Segunda-feira, 28 de Fevereiro de 2011

Pedro Oom (1926-1974) - por Carlos Loures

 

 

 

Há tempos atrás, num outro blogue, o Aventar, recordei o poeta Pedro Oom. Começava assim:

 

«Segundo reza a história, a Revolução de 25 de Abril de 1974 apenas provocou quatro mortos. Agentes da PIDE/DGS, aterrados com a multidão que gritava sob as janelas do quartel-general daquela polícia, dispararam sobre os manifestantes, matando quatro e ferindo muitos outros. A História está errada – foram cinco e não quatro os que morreram nesse dia devido à Revolução. A poucos metros do sinistro palácio da Rua António Maria Cardoso, no Largo de Camões, dois poetas seguiam, entre muitas outras pessoas que enchiam o largo naquela tarde de Primavera, as peripécias dos agentes da secreta que, saltando de telhado em telhado procuravam escapar de ser presos pela força de fuzileiros que invadira o edifício. Era o António José Forte e o Pedro Oom. O Pedro estava feliz e comentava para o Forte: «Nunca esperei ver uma coisa destas, os pides a fugir de nós!». Sorria, e de repente, sentiu-se mal cambaleou e caiu. O Forte, ajudado por algumas outras pessoas, estenderam-no sobre um banco do largo e tentaram reanimá-lo. Alguém foi rapidamente telefonar a pedir uma ambulância. Nada feito. O coração do Pedro não aguentou tanta alegria».

 

Pois bem, as coisas não se passaram assim, embora fosse deste modo que o episódio me foi contado (e, desta maneira, se fabricam as lendas). Uma amiga comum, Celeste Baeta, companheira do Adriano de Carvalho, do qual já aqui falei também, num comentário ao meu texto esclarecia que o poeta Pedro Oom terá morrido morreu, de emoção e de alegria, mas no dia 26 de Abril, às 14,30, quando no «Restaurante 13», festejava com uns amigos a queda do regime fascista. Ela estava presente. Aproveito para agradecer à Celeste o esclarecimento, evitando que continuasse a divulgar uma versão muito interessante e poética, mas falsa. Já aqui contei como o Francisco Fanhais, durante muito tempo antecedia a interpretação de uma canção com versos meus, contando que me despedira da minha mulher, dizendo-lhe «até já» e que, sendo preso pela PIDE no café onde fora, só voltei passados seis anos. Logo que o conheci pessoalmente, bastante depois do 25 de abril, esclareci-o – a prisão não fora de seis anos, mas sim de seis meses. A verdade é a grande inimiga das lendas!

 

Mas o que queria dizer sobre o Pedro, não é afectado pela diferença entre a verdade e a lenda da sua morte. Conheci-o em 1958 no Café Gelo, do Rossio. Quando, em 1959, organizei a revista Pirâmide, ele colaborou no primeiro número com o poema inédito “Um ontem cão” (que não transcrevo por ser muito longo). Estive depois uns anos sem o ver, pois saí de Lisboa. Voltámos a encontrar-nos em 1973. Encontrávamo-nos, num dia certo da semana, num restaurante da Rua João Crisóstomo, o Forte, a pintora Aldina, sua mulher, eu e a minha mulher, o Jaime Camecelha, o Pedro Oom, que éramos o núcleo duro do projecto, e mais alguns que apareciam com menos regularidade.

 

O Pedro só deixava revelar o poeta surrealista que o habitava quando falava. O seu aspecto era muito formal – roupa cuidada, gravata… Ninguém diria o que ia por aquela cabeça – a criatividade, as ideias inusitadas, mas de uma lógica impecável. E dizia todas aquelas inesperadas coisas., numa voz baixa, contida, com palavras muito correctas – só as ideias eram surpreendentes - a da comuna, por exemplo.

 

No Restaurante (Pelé, salvo erro) falávamos da queda do regime (tínhamos acesso aos comunicados que saíam das reuniões do MFA) e projectávamos criar uma comuna, uma espécie de falanstério. A ideia fora lançada pelo Pedro. Chegámos, eu e o Jaime num fim-de-semana, a ir ver terrenos no Ribatejo – iríamos todos viver para lá e seríamos auto-suficientes. Era um projecto que o Pedro pensara ao pormenor e de que um dia talvez aqui fale. Andávamos muito entusiasmados com a ideia.

 

Com a morte do Pedro Oom, o utópico projecto não voltou a ser debatido.

 

Pedro Oom nasceu em Santarém (24 de Junho de 1926). Inicialmente ligado ao neo-realismo, aderiu ao movimento surrealista. Foi o mentor da teoria do abjeccionismo, ao redigir, em 1949, o Manifesto Abjeccionista. Até 1974, os seus textos encontravam-se dispersos por jornais e revistas. Alguns desses textos poéticos, foram postumamente compilados em Actuação Escrita (1980) e em Histórias para Crianças Emancipadas, pequenos poemas ou relatos escritos com um insólito non sense próprio da poesia surrealista.

 

Como o poema «Pode-se escrever» que podemos ouvir, declamado por Mário Viegas.

 

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 12:00
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