Sou apenas a lágrima de ninguém
caída
Que em dia de nevoeiro
foi vertida
e pelo rio recolhida.
Ou o resto duma tela pintada
quadro de vida
Sombra de mim
Sonhada.
Sou o princípio e o fim... de nada
Obra inacabada
Que há-de ser pó... e semente
Sou um produto de gente
Aquilo que o mundo fez
E deixou germinar...
Para sempre
Cresceu com o tempo
À chuva e ao vento
Deu frutos
Em terra de ninguém
Carregado de versos e sonhos
Lavados com lágrimas de alguém
Fazemos parte desse mistério
sonhado
Fazemos parte da bruma
que criámos
Levantamos depois este véu
Há sombra dum sol brilhante
que nasceu
Somos um pouco sol e sombra
Dum sorriso meio louco
meio sério
Somos o resto da poeira
solta
Que assenta quase louca
No restolho deste mistério
Somos pedra da estátua feita
Escopro duro dos seus traços
Somos o busto já erguido
Nem perfeito nem definido
No meio de todos embaraços
Somos parte desse mistério
Sorriso meio louco, meio sério
(Adão Cruz)
Sobre os teus ombros nus
Cai um lindo xaile de fitas
Delicadas e sedosas
Discretas e silenciosas
Que nesse corpo ágil habita
Nesse teu corpo suave, esguio
Pendem longas e solenes fitas
E desses lábios, doce sorriso
Soltam-se palavras nunca ditas
E do cândido e sereno olhar
Se escapa o desejo de abraçar
Nunca um sorriso pintou melhor
Um rosto que o alimenta
Nunca um xaile tapou um corpo
Tão cheio de paixão sedenta
No xaile se escondem ternuras
Que só brilham nas noites escuras
Fez-se silêncio, deixou de nevar
Na serena e suave brancura
Nem uma fugidia ave
se vislumbra
Na soberba serrania
Onde o cinzento dia
Se levanta e se esfuma
Do manto que se contempla
Soltam-se raios de espanto
E no meio da brancura
Esvoaçam flocos de ternura
Que me prendem de encanto
Vergam-se ramos de neve pura
Vergam-se corpos com anos
de vida
E na alma fica perdida
Paisagem que foi de verdura
Solta-se a luz que vai morrendo
No silêncio da escuridão
Na serra tudo se contempla
Deus, vento, neve e solidão
(Adão Cruz)
São elas próprias feitas
de ansiosa serenidade
Feitas dum fresco sorriso
Que se levanta do lastro
da maternidade
À volta do qual tudo gira
Em permanente ansiedade
São infinitamente presentes
e solidárias
Mesmo na opacidade das tempos
Tomam a dianteira nas correntes
Da vogal viva da escrita
Fica a palavra livre, nunca dita
São ausentes sempre presentes
Como o sibilar zurzido do vento
Deslizam como água no leito
Com a simplicidade dum verso
Surge-lhe sempre o amor-perfeito
São elas próprias mulher e mãe
Presentes e protectoras de alguém
Guardarei para mim a parte
do teu silêncio
Onde me encosto e me detenho
Ouvindo o baloiçar das ondas
Num agitado pensamento
Murmúrio que não desvendo
Guardarei para mim
este momento terno e doce
Onde as coisas…
tomam os sons devidos
E na luz, junto das sombras
Repousam os meus sentidos
Guardarei para mim
os silêncios pronunciados
Guardados no esquecimento
E o sibilar da tua voz
Arrastado nas vibrações do vento
Guardarei para mim
a palavra demorada do teu silêncio
Paxiano
Vem por esse caminho fora
Enquanto o espaço é tempo
e o tempo alvorada
Mas vem terna, silenciosa
Que a tua hora é chegada
Escolhido foi este momento
Enquanto te ergues desse lastro
apagado
Vem que é chegado o tempo
de seres tu e só tu
Brilho que se levanta deste lado
Ergue-te para além do tempo
Na encosta do verde pinho
Depois de ti mais nada
Luz de fosca madrugada
Fogo de labareda apagada
Terno olhar d´alguém sozinho
Depois de ti… mais nada
Só o brilho da eterna madrugada
. Ligações
. A Mesa pola Normalización Lingüística
. Biblioteca do IES Xoán Montes
. encyclo
. cnrtl dictionnaires modernes
. Le Monde
. sullarte
. Jornal de Letras, Artes e Ideias
. Ricardo Carvalho Calero - Página web comemorações do centenário
. Portal de cultura contemporânea africana
. rae
. treccani
. unesco
. Resistir
. BLOGUES
. Aventar
. DÁ FALA
. hoje há conquilhas, amanhã não sabemos
. ProfBlog
. Sararau