(Publicado na Revista Teoria & Debate)
Ralph Schoenman foi director-executivo da Fundação pela Paz Bertrand Russel, papel através do qual conduziu negociações com inúmeros chefes de Estado. Foi também fundador e director da Campanha de Solidariedade ao Vietname e director do Comité "Quem Matou Kennedy?". Tem sido co-director do Movimento de Solidariedade de Trabalhadores e Artistas Americanos. ?
T&D - No seu livro The Hidden History of Zionism (A História Oculta do Sionismo), descreve quatro mitos sobre a história do sionismo. Gostaríamos que explicasse um pouco seu livro.
Schoenman - O meu trabalho na Fundação Bertrand Russel foi importante por me dar a chance de documentar fatos da formação do Estado sionista de Israel. Em cursos e palestras que proferi em mais de uma centena de universidades americanas e europeias, pude constatar que as pessoas não sabiam, não tinham conhecimento da história do movimento sionista, dos seus objectivos e de vários factos. Nessas ocasiões deparei com concepções equivocadas sobre a natureza do Estado de Israel e foi isso que impulsionou o meu trabalho de escrever o livro, The Hidden History of Zionism, no qual abordo o que chamo "os quatro mitos" que têm moldado a consciência nos Estados Unidos e na Europa sobre o sionismo e o Estado de Israel.
T & D - Quais são esses quatro mitos?
Schoenman - O primeiro mito é o da "terra sem povo para um povo sem terra". Os primeiros teóricos sionistas, como Theodor Herzl e outros, apresentaram para o mundo a Palestina como uma terra vazia, visitada ocasionalmente por beduínos nómadas; simplesmente, uma terra vazia, esperando para ser tomada, ocupada. E os judeus eram um povo sem terra, que se originaram historicamente na Palestina; portanto, os judeus deveriam ocupar essa terra. Desde o começo, os primeiros núcleos de colonos, promovidos pelo movimento sionista, foram caracterizados pela remoção, pela expulsão armada da população palestina nativa do local onde essa população vivia e onde essa população trabalhava.
T & D - Quais os outros três mitos?
Schoenman - O segundo mito que o livro pretende discutir é o mito da democracia israelita. A propaganda sionista, desde o início da formação do Estado de Israel, tem insistido em caracterizar Israel como um Estado democrático no estilo ocidental, cercado por países árabes feudais, atrasados e autoritários. Apresentam então Israel como um bastião dos direitos democráticos no Oriente Médio. Nada poderia estar mais longe da verdade. Entre a divisão da Palestina e a formação do Estado de Israel, num período de seis meses, brigadas armadas israelitas ocuparam 75% da terra palestiniana e expulsaram mais de 800 mil palestinianos, de um total de 950 mil. Eles os expulsaram através de sucessivos massacres. Várias cidades foram arrasadas, forçando assim a população palestina a refugiar-se nos países vizinhos, em campos de concentração e de refugiados. Naquele tempo, no período da formação do Estado de Israel, havia 475 cidades e vilas palestinas, que caíram sob o controlo israelita. Dessas 475 cidades e vilas, 385 foram simplesmente arrasadas, deixadas em escombros, no chão, apagadas do mapa. Nas 90 cidades e vilas remanescentes, os judeus confiscaram toda a terra, sem nenhuma indenização. Hoje, o Estado de Israel e seus organismos governamentais, tais como o da Organização da Terra, controlam cerca de 95% da terra palestina. Pela legislação existente em Israel, é necessário provar, por critérios religiosos ortodoxos judeus, a ascendência judaica por linhagem materna até a quarta geração, para poder possuir terra, trabalhar na terra ou mesmo sublocar terra. Como eu digo sempre, nas palestras em que apresento meus pontos de vista, em qualquer país do mundo (seja Brasil, EUA, onde for), se fosse necessário preencher requisitos parecidos com esses, ninguém duvidaria do carácter racista de tal Estado; seria notória a existência de um regime fascista. A Suprema Corte em Israel tem ratificado que Israel é o Estado do povo judeu e que, para participar da vida política israelita, organizar um partido político, por exemplo, ou ter uma organização política, ou mesmo um clube público, é necessário afirmar que se aceita o caráter exclusivamente judeu do Estado de Israel. É um Estado colonial racista, no qual os direitos são limitados à população colonizadora, na base de critérios raciais. O terceiro mito do qual falo em meu livro é aquele criado para justificativa da política de Israel, que se diz baseada em critérios de segurança nacional. A verdade é que Israel é a quarta potência militar do mundo. Desde 1948, os EUA deram a Israel US$ 92 bilhões em ajuda direta. A magnitude dessa soma pode ser avaliada quando observamos que a população israelense variou entre 2 a 3 milhões nesse período. Se o governo americano dá algum dinheiro para países como Taiwan, Brasil, Argentina, e a aplicação desse dinheiro tiver alguma relação com fins militares, a condição é que as compras desse material têm que ser feitas dos EUA. Mas há uma excepção: as compras de material bélico podem ser feitas também de Israel. Israel é tratado pelos EUA como parte de seu território, em todos os assuntos comerciais. O que motivaria uma potência imperialista a subsidiar tanto um Estado colonial? A verdade é que Israel não pode mesmo existir sem a ajuda americana, sem os US$ 10 bilhões anuais. Israel é, portanto, a extensão do imperialismo na região do Oriente médio. Israel é o instrumento através do qual a revolução árabe é mantida sob controle. É, portanto, o instrumento através do qual as ricas reservas do Oriente Médio são mantidas sob o controle do imperialismo americano. É também um meio através do qual os regimes sanguinários dos países árabes são mantidos no governo, graças ao clima de tensão gerado por uma possível invasão israelita. O quarto mito a que me refiro no livro, que tem influenciado a opinião pública mundial, refere-se à origem do sionismo, à origem do Estado de Israel. O sionismo tem sido apresentado como o legado moral do holocausto, das vítimas do holocausto. O movimento sionista tem como que se "alimentado" da mortandade coletiva dos 6 milhões de vítimas da exterminação nazi na Europa. Esta é uma terrível e selvagem ironia. A verdade é bem o oposto disso. A liderança sionista colaborou com os piores perseguidores dos judeus durante o século XIX e o século XX, incluindo os nazis. Quando alguém tenta explicar isso para as pessoas, elas geralmente ficam chocadas, e perguntam: o que poderia motivar tal colaboração? Os judeus foram perseguidos e oprimidos por séculos na Europa e, como todo povo oprimido, foram empurrados, impelidos a desafiar oestablishment, o statu quo. Os judeus eram críticos, eram dissidentes. Eles foram impelidos a questionar a ordem que os perseguia. Então, o melhor das mentes da inteligência judia foi impelido para movimentos que lutavam por mudanças sociais, ameaçando os governos estabelecidos. Os sionistas exploraram esse fato a ponto de dizer para vários governos reacionários, como o dos mares na Rússia, que o movimento sionista iria ajudá-los a remover esses judeus de seus países. O movimento sionista fez o mesmo apelo ao kaiser na Alemanha, obtendo dele dinheiro e armas. Eles se reivindicavam como a melhor garantia dos interesses imperialistas no Médio Oriente, inclusive para os fascistas e os nazis.
T & D - Como se deu essa colaboração dos sionistas com os nazis?
Schoenman - Em 1941, o partido político de Itzhak Shamir (conhecido hoje como Likud) concluiu um pacto militar com o 3º Reich alemão. O acordo consistia em lutar ao lado dos nazis e fundar um Estado autoritário colonial, sob a direção do 3º Reich. Outro aspecto da colaboração entre os sionistas e governos e Estados perseguidores dos judeus é o facto de que o movimento sionista lutou ativamente para mudar as leis de imigração nos EUA, na Inglaterra e em outros países, tornando mais difícil a emigração de judeus perseguidos na Europa para esses países. Os sionistas sabiam que, podendo, os judeus perseguidos na Europa tentariam emigrar para os EUA, para a Grã- Bretanha, para o Canadá. Eles não eram sionistas, não tinham interesse em emigrar para uma terra remota como a Palestina. Em 1944, o movimento sionista refez um novo acordo com Adolf Eichmann. David Ben Gurion, do movimento sionista, mandou um enviado, de nome Rudolph Kastner, para se encontrar com Eichmann na Hungria e concluir um acordo pelo qual os sionistas concordaram em manter silêncio sobre os planos de exterminação de 800 mil judeus húngaros e mesmo evitar resistências, em troca de ter 600 líderes sionistas libertados do controle nazi e enviados para a Palestina. Portanto, o mito de que o sionismo e o Estado de Israel são o legado moral do holocausto tem um particular aspecto irónico, porque o que o movimento sionista fez quando os judeus na Europa tinham a sua existência ameaçada foi fazer acordos, e colaborar com os nazis.
*Stylianos Tsirakis é arquitecto. Revista Teoria&Debate nº 5 - POSTADO POR GEORGES BOURDOUKAN http://blogdobourdoukan.blogspot.com/
Para um jornalista, falar do médio-oriente deve ser feito com grande prudência para não chocar a opinião pública, sobretudo se se trata de Israel. Com grande humor, Michel Collon deixa aqui algumas regras para evitar de se ser acusado de ter uma opinião tendenciosa.- Não esquecer que são sempre os árabes que atacam, Israel apenas se defende e sempre como retaliação.- Quando as forças armadas matam civis árabes fá-lo sempre em legitima defesa. Quando civis israelitas são mortos chama-se a isso terrorismo.- Os israelitas não raptam civis palestinianos, capturam-nos. Não esquecer de referir a necessidade de segurança para explicar esses raptos.- Inversamente, os palestinianos e libaneses não estão habilitados a capturar israelitas. Se o fazerem, deve ser utilizado a palavra rapto.- Não dever ser mencionado o número de prisioneiros palestinianos (11000, dos quais 300 crianças) capturados actualmente. Se, apesar de tudo, os referir, qualifique-os de terroristas ou supostos terroristas.- Utilize o menos possível o temo palestiniano, prefira o termo árabe, que é o utilizado oficialmente pelo governo israelita para designar os habitantes não-judeus nos dois territórios. - Quando mencionar o "Hezbollah" acrescente sempre a expressão: apoiado pela Síria e o Irão. Mas quando falar de Israel, é escusado acrescentar que é apoiado pelos USA e a Europa. Pode fazer crer que se trata de um conflito desequilibrado.- Não utilize o termo "territórios ocupados" mas sim territórios contestados. A esse propósito é preferível dizer Judeia-Samaria em vez de Cisjordânia.- Nunca lembrar as várias resoluções da ONU ou convenções de Genebra desfavoráveis a Israel. Mesma coisa para as condenações do Tribunal de Justiça da Haia... Isso pode perturbar o leitor, telespectador ou auditor. - É preferível não dizer armada israelita, mas sim uma |
A Fatah e o Hamas apertaram as mãos e entenderam-se para constituirem governo, condição essencial para apresentarem nas Nações Unidas o reconhecimento oficial do Estado Palestiniano.
O governo de Israel não gosta apelida o Hamas de movimento terrorista e apela à Fatah que escolha o "caminho da Paz", leia-se das negociações a dois .Acontece que as negociações de Washinton se goraram porque a extrema direita israelita exigiu que os colonatos avançassem após ter terminado o período "não construção".
Não é possíveL haver conversações a sério quando, ao mesmo tempo, um dos lados está a ocupar o território à outra parte, construindo mais colonatos. A resposta da Fatah foi juntar-se ao Hamas e avançarem para um governo nacional, juntando os dois territórios, a Faixa de Gaza e a Cisjordânea.
Mas o Hamas tem que renunciar à guerrilha e reconhecer o Estado de Israel para que o reconhecimento internacional do Estado Palestiniano tenha hipóteses. Pelo lado da Fatah a grande exigência é que o acordo de reconhecimento mútuo se faça na base das fronteiras territoriais de 1967 .
Entre a população de Israel e da Palestina há uma maioria cada vez mais visivel e activa que exigem a paz e a boa vizinhança dos dois estados "
Uma multidão dava vivas na rua, no exterior do edifício onde Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestiniana, com sede em Belém, selava com um aperto de mão a Khaled Meshaal, o líder do movimento islamista Hamas, que controla a Faixa de Gaza, o acordo mediado pelo novo Governo egípcio."
Claro que o que está a acontecer na zona, especialmente com o novo governo Egípcio as condições estão, finalmente, a reunirem-se para a existência de dois territórios e dois países com Jerusalém como capital comum.
Oxalá as "biologicamente puras ideologias" dos "bem intencionados" activistas não ponham umas pedras no caminho da paz!
Com o devido agradecimento ao Esquerdanet
Dezenas de intelectuais e personalidades públicas israelitas realizaram um protesto, quinta-feira à tarde, em frente à Sala da Independência de Tel Aviv, no boulevard Rotshschild, onde David Ben-Gurión pronunciou a declaração do Estado de Israel em Maio de 1948. Os participantes do acto, entre eles 17 ganhadores do Prémio Israel - o maior galardão israelita no campo das artes, ciências e letras -, expressaram o seu apoio à criação de um Estado palestiniano de acordo com as fronteiras de antes da guerra de 1967.
Os manifestantes também planeiam assinar a sua própria declaração por escrito para expressar o seu apoio e convidaram o público em geral a unir-se a eles na assinatura do documento. “O povo judeu surgiu na terra de Israel, onde forjou o seu carácter. O povo palestiniano está a crescer na Palestina, onde se forjou seu carácter”, afirma o documento.
“Fazemos um apelo a todos os que buscam a paz e a liberdade para todos os povos para que apoiem a declaração de um Estado palestiniano e actuem para estimular os cidadãos dos dois Estados a manter relações pacíficas com base nas fronteiras de 1967 (...) O fim total da ocupação é um requisito fundamental para a libertação dos dois povos”, prossegue a declaração.
Os promotores da manifestação insistem que ela não é um protesto simbólico, mas faz parte de um processo mais amplo que conduza a uma legítima alternativa à política actual de Israel. “A nossa iniciativa não é uma demonstração de ingenuidade”, disse Sefi Rachlevsky, um dos organizadores do acto e colunista do jornal Haaretz. “Em lugar de ser o primeiro a estender a sua mão e apoiar a independência palestiniana, Israel está a trabalhar contra ela. Isso não é apenas um desastre moral, como também pode provocar uma catástrofe na qual se Israel se isolará e se transformará em uma espécie de África do Sul”.
O ponto de vista sionista
“Israel age desta maneira com a falsa ilusão de que pode continuar com o seu comportamento colonialista, que se baseia no racismo antidemocrático que contradiz a própria declaração de independência”, acrescentou Rachlevsky.
“
Estou a falar desde um ponto de vista sionista”, explicou o professor Yehuda Bauer. “O sionismo propõe-se como objectivo a preservação de um lar nacional judeu com uma maioria judia sólida. Este era o sonho da esquerda, da direita e do centro do sionismo clássico. Mas a continuidade da ocupação garante a anulação do sionismo, ou seja, descarta a possibilidade que o povo judeu possa viver na sua terra com uma maioria forte e o reconhecimento internacional. Em minha opinião, isso torna claramente anti-sionista o actual governo de Israel”.
Bauer considera a criação de um Estado palestiniano nos moldes das fronteiras de 1967 como “a realização do nacionalismo judeu genuíno que existirá em paz na região e dentro da comunidade internacional”.
Tradução de Katarina Peixoto
As autoridades Palestinianas estão cada vez mais a deixar cair a solução que sempre defenderam - duas nações, dois estados,- e a perceberem que a solução "um só Estado, dois povos" é a mais poderosa ameaça ao estado de Israel!
Perante uma solução "África do Sul" - uma pessoa ,um voto - que todos defenderão - e a democracia no seu melhor , as posições que há anos os dois povos andam a defender e que não levaram a paz, podem dar uma volta de 360º graus.
"Round after round of failed peace talks and a simultaneous increase in illegal Jewish settlements have left the Palestinians desperate for an alternative solution. The one-state approach has therefore evolved from a mere threat to a serious option for many Palestinians."
A ideologia é cega como mais uma vez se comprova, o que era inaceitável para ambos os lados por razões diferentes é agora uma boa solução para quem a ostracizava e passou a ser um perigo para quem a defendia! Um estado para os dois povos assente na democracia - uma pessoa, um voto.
Despite both peoples’ majority preference for separation - an Israeli state, and a contiguous Palestinian state in the West Bank and Gaza - support for the one-state option is seen to be on the rise.
A poll released in April 2010 by the Jerusalem Media and Communication Centre, for example, found 34 per cent support for a bi-national state, up from 21 per cent in June 2009. An October 2010 poll from the Palestine Center for Policy and Survey Research found 27 per cent support for a one-state option, up from 23 per cent in May 2009.
In 2003, Muammar Qadafi wasone of the first Arab leaders to publicly endorse a one-state solution, which he named 'Isratine' [a combination of the words 'Israel' and 'Palestine']. Qadafi argued that a two-state option would create unacceptable security hazards for Israel on the one hand, and would do little to address the issue of the Palestinian refugees on the other.
The 'Isratine' proposal may have seemed far-fetched at the time; however, with the recent Israeli announcements of yet more illegal settlement construction in the West Bank, and given the current status of the so-called peace process, Qadafi's vision of a single state for Palestinians and Israelis seems ever the more imminent.
Enquanto que os que sentem na pele os horrores da guerra lutam por uma solução, os "bem intencionados" do costume - bem comidos e melhor bebidos - atiçam os espíritos colocando-se numa postura de irredutibilidade que não leva a lado nenhum.
Exterminar um dos dois povos ! No radicalismo só muda a posição relativa, como dois irmãos siameses ligados pelas costas, a visão que tem é sempre no sentido contrario à do outro. Depois de separados chegam a uma visão de conjunto.
Acresce que demograficamente esta solução é muito favorável à Palestina, pois a geração palestina é muito mais jovem e por isso mais rapidamente cresce em número.
continuação...
David Gurion foi o primeiro presidente, do estado de Israel que foi abandonado por terra, ar e mar pelos britânicos, enquanto um exército árabe atravessava a fronteira da Transjordânia, e do sul avançaram soldados egípcios. Era esperado que logo que os cinco países árabes circundantes se juntassem e organizassem o seu apoio conjunto aos Palestinianos, Israel seria varrida do mapa.
As Nações Unidas enviaram um "pacificador", o conde Folk Bernadotte, sueco, que conseguiu um cessar fogo de um mês,mas que foi assassinado for judeus terroristas pertencentes ao grupo Irgun. Enquanto a indignação corria mundo israel, montado em armamento Checolováquio e de outras nações comunistas, derrotava os egípcios e outras nações árabes. Avançou Ralph Bunche, um oficial sénior das Nações Unidas, afro-americano a comandar uma equipa de brancos. Conseguiu a paz e um Prémio Nobel mas não serviu de muito.
No espaço de poucos meses Israel conseguira expandir-se para além do território que lhe fora atribuído pelas Nações Unidas e não tinha qualquer intenção de retirar as suas tropas. Os países árabes pensavam que face à diferença de forças um dia a derrota Israelita seria certa. Mas as armas vinham em força da União Soviética. 726 000 palestinianos fugiram e viviam em campos de refugiados e que foram rapidamente substituídos por mais judeus vindos de todo o mundo. A Palestina árabe tinha sido convertida numa maioria judaica num ápice!
Pensava-se que uma "mistura" de origens e de ideologias de tal monta, traria problemas insolúveis, mas a verdade é que o território ocupado desenvolveu-se de uma foma acelerada, com os partidos trabalhista e socialista tendo a maioria no parlamento. Muitos pensaram que o novo estado seria ultra-religioso, mas existiam todas as cambiantes políticas da opinião pública judaica no parlamento.
Mesmo que a nação de Israel não tivesse lá sido implantada, o médio oriente teria, da mesma forma, enfrentado uma tensão crescente. Era, ao tempo, o maior produtor de petróleo e constituia um cenário de rivalidade cada vez mais furiosa entre os dois colossos mundiais. Os US tinham acolhido mais Judeus que qualquer outra nação o que levou a que depois de 1948 se tornasse o maior financiador de Israel, enquanto os árabes aceitaram a União Soviética como sua protectora.
Quando, uma geração antes, o Plano Balfour fora aprovado, a Palestina era o local ideal para a criação do estado judaico, porque muito do seu território era formado por deserto e leitos de rios secos. Agora é uma torrente que ninguém segura!
PS: com Geoffrey Blainey "Uma breve história do século xx"
Luis Moreira
Em 1896 um jornalista veniense, Theodoro Herzl, promoveu pela primeira vez o movimento sionista e a esperança de uma nação distintamente Judaica. A questão era: que nação iria avançar e oferecer-lhes um espaço?
Arthur James Balfour, um conservador político britânico, adivinhando o ocaso da sua vida política, anunciou o muito aguardado plano de uma nação para todos os Judeus do mundo - a Declaração de Balfour . O plano teria como objectivo, acenar aos Judeus Russos com um território na Palestina, ao jeito de uma medalha, se conseguissem persuadir as autoridades russas a não interferir na Primeira Guerra Mundial. Os Franceses logo apoiaram a ideia. Ainda o Reino Unido não tinha a posse de qualquer território na Palestina e já Balfour, como ministro dos negócios estrangeiros oferecia a Lord Rothschild, um financiador de projectos naquele território "uma nação para o povo Judaico". Não ter nenhum território na Palestina era um pequeno problema porque o Império Otomano estava perante uma derrota eminente após o que a Palestina ficaria na posse da França ou do Reino Unido.
A Palestina tinha feito parte da Síria, era um território muito pouco desenvolvido (havia um único carro em toda a região). Com o Reino Unido a governar e com a chegada de mais Judeus provenientes da Rússia, a Palestina floresceu. Montou-se um sistema hidroeléctrico e linhas telefónicas, foi construído o porto de Haifa, a nova cidade de Telavive foi fundada em cima das dunas e a Universidade Judaica foi inaugurada pelo próprio Balfour. Mas, no conjunto, o território continuava a ser árabe e não judaico. Telavive, pela primeira vez, dava aos judeus uma calma de vida de quem faz parte da maioria. Golda Meir, judia que nascera na Rússia e que em criança fugira com seus pais para os Estados Unidos, social-democrata que viria a ser primeira ministra, admitia que era "sem piedade" que via os bairros judeus crescerem. Mesmo assim, havia uma proporção de um judeu para três muçulmanos, na Palestina britânica.
Mas o plano de Balfour tinha uma falha e não era pequena. A sua declaração afirmara que os islamitas e os outros povos da região "já tinham direitos religiosos e civis" que deveriam ser respeitados, mas o direito que os muçulmanos queriam ver respeitado era o de serem dominantes na terra a que chamavam sua e moldar a sua vida diária segundo os ensinamentos de Alá. Outro direito que reclamavam era o controlo de Jerusalém e dos lugares sagrados para o Islão, Judaísmo, e Cristianismo.
Balfour não se deu conta que o seu plano teria implicações muito graves. A chegada de judeus era um fluxo muito superior à chegada de árabes e, as nações árabes á volta, não viam com bons olhos a nova situação apesar das enormes ajudas financeiras e de tecnologia que os países ocidentais lhes asseguravam. Tentou-se que o fluxo de judeus não tomasse aquelas proporções, mas, depois de 1945 a Organização Sionista Mundial exigiu que um milhão de judeus espalhados pela Europa e por outros territórios, fossem admitidos na Palestina.
Depois de conhecidos os detalhes do Holocausto, milhões de pessoas em todo o mundo apoiavam a criação de uma pátria judaica na Palestina! Entretanto, muitos judeus, perante a incapacidade das Nações Unidas de resolverem o problema , desceram à clandestinidade e passaram a uma fase de luta armada com atentados contra as autoridades britânicas que ainda controlavam o território.
Cerca de noventa mil soldados britânicos controlavam o território, um esforço tremendo para um país devastado pela guerra e que estava a retirar-se da Índia um território há muito a viver na órbita britânica. Porque haveriam de continuar na Palestina onde os seus interesses eram muito menores? Como pano de fundo crescia a guerra fria entre os US e a Rússia que, nesses tempos, anexava os territórios circundantes que viriam a constituir a ex-União Soviética. O petróleo aguçava os apetites dos dois gigantes. O medo que o comunismo tomasse conta do médio oriente não foi suficiente para manter os britânicos no território.
Nas Nações Unidas por 35 países a favor ( entre os quais estavam a Rússia e os US) e 32 contra, aprovou-se a constituição de dois estados, com Jerusalém como zona neutra, bem como Belém, local do nascimento de Cristo. Mas os árabes não aprovaram este plano.
Um mês depois nascia o Estado de Israel!
(continua)
( com Geoffrey Blainey - uma breve história do século XX )
Numa tarde de sábado, em Abril de 1988 (é a data que pus no final do poema – Abril/68) estava sentado numa esplanada de uma praia da linha de Cascais. Lembro-me que fazia uma temperatura elevada para a época e bebia cerveja enquanto observava as pessoas que colhiam os últimos raios de sol daquele belo dia. Sentia-me bem. Depois comprei o Diário de Lisboa, que ainda se publicava e publicou por mais um ano ou dois, folheei-o, li as notícias e lá se foi a sensação de beleza e de tranquilidade…
Ah, meu amigo, o que é o coração do homem!
(Goethe)
Sim, na verdade
o coração do homem é assim,
espalha-se no vento,
escreve gritos na paisagem,
viaja no silêncio, enfim,
é assim –
é veleiro e astronave
em permanente viagem,
o coração do homem.
Coração, é um modo de dizer,
é uma expressão nada científica,
por sinal, que serve para definir
o local, o território misterioso
onde habitam o amor, o afecto,
o ódio, o medo e a coragem.
Onde mora também
A capacidade de sentir
os oceanos que golpeiam
o peito da humanidade.
Dizemos coração,
talvez por ser mais simples situar
num simples órgão
tudo aquilo que em nós transcende
o bisonho animal
que nos domina e vigia.
Por exemplo,
é Abril e é sábado,
estou aqui na esplanada da praia,
a cerveja está fresca,
a temperatura é amena,
o mar é azul, as pessoas são bonitas,
o céu é um lago de serenidade.
Tudo é tranquilo e belo.
Porém, compro o jornal da tarde
e a tranquilidade
quebra-se logo,
como um vidro frágil agredido
pela fúria selvagem
de um martelo à solta.
O meu coração viaja até à Palestina,
à África Austral, à América Latina,
onde a ânsia animal de dominar,
destrói a vida,
oculta o Sol,
impede o amor…
O meu coração,
muito habituado a caminhar,
abandona o corpo sentado na esplanada,
a cerveja, o mar azul,
o céu sereno, as gaivotas;
viaja até onde a morte é lei,
o passado e o futuro
se defrontam em áridas colinas
revolvidas por obuses.
Se queres que te diga,
A tarde deixou de ser tranquila
e primaveril,
a cerveja sabe-me a sangue
e no sangue passa-me a circular
vitríolo.
Nesta tarde de Abril,
em que tudo estava a correr
tão bem,
antes que me esqueça,
pergunto-me:
terá sido a cerveja
que me caiu na fraqueza,
ou terá sido o coração
que me subiu à cabeça?
Luis Moreira
O caminho da Paz é dificil e muitas vezes é interrompido por acções e eventos que se diria constituirem apenas más opções ou até má sorte. Claro que há também muita gente interessada em impedir esse caminho
Na Conferência de Madrid foi adoptado um principio político importante para a resolução do conflito israelo-palestiniano, "territórios em troca de paz" o que quer dizer que Israel devolveria aos seus legítimos donos os territórios árabes ocupados e os países árabes garantiriam a paz e a segurança a Israel.
Apesar deste acordo a primeira intinfada continuou, com as pedras palestinianas a enfrentarem os blindados israelitas, devido à falta de confiança entre as partes. No entanto houve desenvolvimentos muito positivos que levaram ao acordo de Oslo, em Washington, em 1993, quando Isaac Rabin era primeiro-ministro de Israel e possuía uma visão concreta e capacidade de implementação do que foi acordado, só que os extremistas israelitas não lhe deram tempo e foi assassinado antes de concretizar a paz verdadeira.
Netanyahu, o primeiro-ministro seguinte encarregou-se de introduzir alterações radicais no acordo alcançado, trocando "territórios em troca de paz" por "segurança em troca de paz", querendo dizer com isto que Israel garantia segurança aos palestinianos em troca destes não atacarem Israel, em suma a palavra "território" desapareceu .
Barak e a sua indecisão, refugiou-se em zigue-zagues, no método progressivo na busca de soluções até que perdeu as eleições para Ariel Sharon , abrindo-se assim, as portas do inferno com o extremismo da sociedade israelita. Quando Sharon mostrava algum interesse na paz foi acometido do avc que o mantem há cinco anos em coma.
Voltou-se ao principio "segurança para Israel...paz para Israel...territórios para Israel " e os árabes só têm que obedecer pois perante a capacidade bélica que ultrapassa toda a capacidade militar de todos os países árabes juntos não há resposta possível nesse plano. 30 000 mortos do lado palestiniano e milhares de feridos, do lado israelita mais de um milhão de pessoas voltaram aos seus países de origem tendo mais de 80% dos colonatos sido abandonados. Cada colono que resta é guardado por cinco soldados israelitas e a fuga de capitais e o encerramento de muitas fábricas são alguns dos prejuízos do lado israelita.
A extrem-direita israelita apresenta o "slogan" dos problemas geográficos para impedir qualquer hipótese de negociação política, enquanto que a extrema esquerda apresenta o perigo demográfico como via para chegar a uma solução com os palestinianos.
As negociações em curso são uma hipótese real de se chegar à paz, assim os USA o queiram, já reconheceram o direito a um Estado Palestiniano, vários países já reconheceram o Estado Palestiniano e o caminho da paz vai fazer-se como única solução para o conflito. Oxalá os "puros" da esquerda e da direita não deitem gasolina para cima do fogo!
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