Sexta-feira, 8 de Julho de 2011

"A liderança sionista colaborou com os piores perseguidores dos judeus durante o século XIX e o século XX, incluindo os nazis" - por Stylianos Tsirakis*

 

(Publicado na Revista Teoria & Debate)

 

 

Ralph Schoenman foi director-executivo da Fundação pela Paz Bertrand Russel, papel através do qual conduziu negociações com inúmeros chefes de Estado. Foi também fundador e director da Campanha de Solidariedade ao Vietname e director do Comité "Quem Matou Kennedy?". Tem sido co-director do Movimento de Solidariedade de Trabalhadores e Artistas Americanos. ?

 

T&D - No seu livro The Hidden History of Zionism (A História Oculta do Sionismo),  descreve quatro mitos sobre a história do sionismo. Gostaríamos que explicasse um pouco seu livro.

 

Schoenman - O meu trabalho na Fundação Bertrand Russel foi importante por me dar a chance de documentar fatos da formação do Estado sionista de Israel. Em cursos e palestras que proferi em mais de uma centena de universidades americanas e europeias, pude constatar que as pessoas não sabiam, não tinham conhecimento da história do movimento sionista, dos seus objectivos e de vários factos. Nessas ocasiões deparei com concepções equivocadas sobre a natureza do Estado de Israel e foi isso que impulsionou o meu trabalho de escrever o livro, The Hidden History of Zionism, no qual abordo o que chamo "os quatro mitos" que têm moldado a consciência nos Estados Unidos e na Europa sobre o sionismo e o Estado de Israel.

 

T & D - Quais são esses quatro mitos?

 

Schoenman - O primeiro mito é o da "terra sem povo para um povo sem terra". Os primeiros teóricos sionistas, como Theodor Herzl e outros, apresentaram para o mundo a Palestina como uma terra vazia, visitada ocasionalmente por beduínos nómadas; simplesmente, uma terra vazia, esperando para ser tomada, ocupada. E os judeus eram um povo sem terra, que se originaram historicamente na Palestina; portanto, os judeus deveriam ocupar essa terra. Desde o começo, os primeiros núcleos de colonos, promovidos pelo movimento sionista, foram caracterizados pela remoção, pela expulsão armada da população palestina nativa do local onde essa população vivia e onde essa população trabalhava.

 

T & D - Quais os outros três mitos?

 

Schoenman - O segundo mito que o livro pretende discutir é o mito da democracia israelita. A propaganda sionista, desde o início da formação do Estado de Israel, tem insistido em caracterizar Israel como um Estado democrático no estilo ocidental, cercado por países árabes feudais, atrasados e autoritários. Apresentam então Israel como um bastião dos direitos democráticos no Oriente Médio. Nada poderia estar mais longe da verdade. Entre a divisão da Palestina e a formação do Estado de Israel, num período de seis meses, brigadas armadas israelitas ocuparam 75% da terra palestiniana e expulsaram mais de 800 mil palestinianos, de um total de 950 mil. Eles os expulsaram através de sucessivos massacres. Várias cidades foram arrasadas, forçando assim a população palestina a refugiar-se nos países vizinhos, em campos de concentração e de refugiados. Naquele tempo, no período da formação do Estado de Israel, havia 475 cidades e vilas palestinas, que caíram sob o controlo israelita. Dessas 475 cidades e vilas, 385 foram simplesmente arrasadas, deixadas em escombros, no chão, apagadas do mapa. Nas 90 cidades e vilas remanescentes, os judeus confiscaram toda a terra, sem nenhuma indenização. Hoje, o Estado de Israel e seus organismos governamentais, tais como o da Organização da Terra, controlam cerca de 95% da terra palestina. Pela legislação existente em Israel, é necessário provar, por critérios religiosos ortodoxos judeus, a ascendência judaica por linhagem materna até a quarta geração, para poder possuir terra, trabalhar na terra ou mesmo sublocar terra. Como eu digo sempre, nas palestras em que apresento meus pontos de vista, em qualquer país do mundo (seja Brasil, EUA, onde for), se fosse necessário preencher requisitos parecidos com esses, ninguém duvidaria do carácter racista de tal Estado; seria notória a existência de um regime fascista. A Suprema Corte em Israel tem ratificado que Israel é o Estado do povo judeu e que, para participar da vida política israelita, organizar um partido político, por exemplo, ou ter uma organização política, ou mesmo um clube público, é necessário afirmar que se aceita o caráter exclusivamente judeu do Estado de Israel. É um Estado colonial racista, no qual os direitos são limitados à população colonizadora, na base de critérios raciais. O terceiro mito do qual falo em meu livro é aquele criado para justificativa da política de Israel, que se diz baseada em critérios de segurança nacional. A verdade é que Israel é a quarta potência militar do mundo. Desde 1948, os EUA deram a Israel US$ 92 bilhões em ajuda direta. A magnitude dessa soma pode ser avaliada quando observamos que a população israelense variou entre 2 a 3 milhões nesse período. Se o governo americano dá algum dinheiro para países como Taiwan, Brasil, Argentina, e a aplicação desse dinheiro tiver alguma relação com fins militares, a condição é que as compras desse material têm que ser feitas dos EUA. Mas há uma excepção: as compras de material bélico podem ser feitas também de Israel. Israel é tratado pelos EUA como parte de seu território, em todos os assuntos comerciais. O que motivaria uma potência imperialista a subsidiar tanto um Estado colonial? A verdade é que Israel não pode mesmo existir sem a ajuda americana, sem os US$ 10 bilhões anuais. Israel é, portanto, a extensão do imperialismo na região do Oriente médio. Israel é o instrumento através do qual a revolução árabe é mantida sob controle. É, portanto, o instrumento através do qual as ricas reservas do Oriente Médio são mantidas sob o controle do imperialismo americano. É também um meio através do qual os regimes sanguinários dos países árabes são mantidos no governo, graças ao clima de tensão gerado por uma possível invasão israelita. O quarto mito a que me refiro no livro, que tem influenciado a opinião pública mundial, refere-se à origem do sionismo, à origem do Estado de Israel. O sionismo tem sido apresentado como o legado moral do holocausto, das vítimas do holocausto. O movimento sionista tem como que se "alimentado" da mortandade coletiva dos 6 milhões de vítimas da exterminação nazi na Europa. Esta é uma terrível e selvagem ironia. A verdade é bem o oposto disso. A liderança sionista colaborou com os piores perseguidores dos judeus durante o século XIX e o século XX, incluindo os nazis. Quando alguém tenta explicar isso para as pessoas, elas geralmente ficam chocadas, e perguntam: o que poderia motivar tal colaboração? Os judeus foram perseguidos e oprimidos por séculos na Europa e, como todo povo oprimido, foram empurrados, impelidos a desafiar oestablishment, o statu quo. Os judeus eram críticos, eram dissidentes. Eles foram impelidos a questionar a ordem que os perseguia. Então, o melhor das mentes da inteligência judia foi impelido para movimentos que lutavam por mudanças sociais, ameaçando os governos estabelecidos. Os sionistas exploraram esse fato a ponto de dizer para vários governos reacionários, como o dos mares na Rússia, que o movimento sionista iria ajudá-los a remover esses judeus de seus países. O movimento sionista fez o mesmo apelo ao kaiser na Alemanha, obtendo dele dinheiro e armas. Eles se reivindicavam como a melhor garantia dos interesses imperialistas no  Médio Oriente, inclusive para os fascistas e os nazis.

 

T & D - Como se deu essa colaboração dos sionistas com os nazis?

 

Schoenman - Em 1941, o partido político de Itzhak Shamir (conhecido hoje como Likud) concluiu um pacto militar com o 3º Reich alemão. O acordo consistia em lutar ao lado dos nazis e fundar um Estado autoritário colonial, sob a direção do 3º Reich. Outro aspecto da colaboração entre os sionistas e governos e Estados perseguidores dos judeus é o facto de que o movimento sionista lutou ativamente para mudar as leis de imigração nos EUA, na Inglaterra e em outros países, tornando mais difícil a emigração de judeus perseguidos na Europa para esses países. Os sionistas sabiam que, podendo, os judeus perseguidos na Europa tentariam emigrar para os EUA, para a Grã- Bretanha, para o Canadá. Eles não eram sionistas, não tinham interesse em emigrar para uma terra remota como a Palestina. Em 1944, o movimento sionista refez um novo acordo com Adolf Eichmann. David Ben Gurion, do movimento sionista, mandou um enviado, de nome Rudolph Kastner, para se encontrar com Eichmann na Hungria e concluir um acordo pelo qual os sionistas concordaram em manter silêncio sobre os planos de exterminação de 800 mil judeus húngaros e mesmo evitar resistências, em troca de ter 600 líderes sionistas libertados do controle nazi e enviados para a Palestina. Portanto, o mito de que o sionismo e o Estado de Israel são o legado moral do holocausto tem um particular aspecto irónico, porque o que o movimento sionista fez quando os judeus na Europa tinham a sua existência ameaçada foi fazer acordos, e colaborar com os nazis.

 

*Stylianos Tsirakis é arquitecto. Revista Teoria&Debate nº 5 - POSTADO POR GEORGES BOURDOUKAN http://blogdobourdoukan.blogspot.com/

 

 

 

 
publicado por Carlos Loures às 17:00

editado por João Machado às 02:08
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Domingo, 26 de Junho de 2011

Como escrever um artigo sobre a "realidade" israelo-palestiniana - por Michel Collon (traduzido e enviado por Octopus)

Para um jornalista, falar do médio-oriente deve ser feito com   grande prudência para não chocar a opinião pública, sobretudo se se trata de   Israel. Com grande humor, Michel Collon deixa aqui algumas regras para evitar   de se ser acusado de ter uma opinião tendenciosa.

 - Não esquecer que são sempre os árabes que atacam, Israel   apenas se defende e sempre como retaliação.

- Quando as forças armadas matam civis árabes fá-lo sempre em   legitima defesa. Quando civis israelitas são mortos chama-se a isso  terrorismo. 

- Os israelitas não raptam civis palestinianos, capturam-nos.   Não esquecer de referir a necessidade de segurança para explicar esses   raptos.

- Inversamente, os palestinianos e libaneses não estão   habilitados a capturar israelitas. Se o fazerem, deve ser utilizado a palavra   rapto.

- Não dever ser mencionado o número de prisioneiros   palestinianos (11000, dos quais 300 crianças) capturados actualmente. Se,   apesar de tudo, os referir, qualifique-os de terroristas ou supostos   terroristas.

 - Utilize o menos possível o temo palestiniano, prefira o   termo árabe, que é o utilizado oficialmente pelo governo israelita para designar   os habitantes não-judeus nos dois territórios.

- Quando mencionar o "Hezbollah" acrescente sempre a   expressão: apoiado pela Síria e o Irão. Mas quando falar de Israel, é   escusado acrescentar que é apoiado pelos USA e a Europa. Pode fazer crer que   se trata de um conflito desequilibrado.

- Não utilize o termo "territórios ocupados" mas sim   territórios contestados. A esse propósito é preferível dizer Judeia-Samaria   em vez de Cisjordânia.

- Nunca lembrar as várias resoluções da ONU ou convenções de   Genebra desfavoráveis a Israel. Mesma coisa para as condenações do Tribunal   de Justiça da Haia... Isso pode perturbar o leitor, telespectador ou auditor.

- É preferível não dizer armada israelita, mas sim uma
  qualificação mais simpática de Tsahal.

- É de bom tom deixar entender que o "Hamas" é um   grupo terrorista que não reconhece o Estado de Israel. Sobretudo não referir   o reconhecimento feito em 2002.

- Não referir que Israel sempre se recusou fixar as suas   fronteiras e não reconhece a Palestina.

- A palavra colonato deve ser banida dos seus textos, utilize o   termo implantações.

- Para afirmar a simetria do conflito, nunca deve ser evocado o   expansionismo israelita, diga sempre que são dois povos que disputam um mesmo   território.

- No caso em que tenha que evocar os projectos de   desenvolvimento nuclear iranianos, não vale a pena insistir sobre o arsenal   nuclear militar israelita... Sobretudo não assinale que é a 6ª potência   mundial nesse domínio.

- Se deve falar da rejeição palestiniana de aceitar as condições   israelitas para por fim às hostilidades, acrescente sempre que "Israel   considera que já não existe qualquer parceiro para negociar o processo de   paz"... Se possível utilize um tom de lamentação.

- Se tiver de citar o "muro de separação", nunca diga   que este foi erguido sobre terras palestinianas anexadas, não esqueça é de   mencionar que ele foi erguido para acabar com os atentados terroristas... E   sobretudo não refira que o Tribunal Internacional de Justiça ordenou o seu  desmantelamento.

- Ao falar dos opositores a Israel nunca utilize as palavras   resistentes ou militantes... Fale sempre em activistas. Mesmo que estes se   manifestem unicamente pela paz, eles devem ser qualificados de   pro-palestinianos.

- No caso de haver uma nova operação para furar o bloqueio de   Gaza, utilize expressões como "estes navios de pretensos   pacifistas" ou "acto de provocação".... e sobretudo evite os   comentários do estilo "bloqueio ilegal de Israel, condenado pela   ONU".

- Se tiver a oportunidade, afirme que Israel é a única   democracia do Médio-Oriente. Evite, claro de acrescentar que essa qualidade   só se aplica à população branca e judia do país.

- Não faça qualquer critica à vontade do actual governo de   transformar o termo Israel em Estado Judeu, o que exclui os 20 % da sua   população muçulmana. Evite sempre as referência religiosas.

- Como os israelitas falam melhor francês que os árabes,   deixe-os falar frequentemente. assim poderão explicar-nos melhor as regras   anteriores e afirmar assim a sua neutralidade jornalística.

Nota importante: Nos casos em que certos colegas seus   infringissem estes regras, deverá prevenir os responsáveis do meio de   comunicação. É um dever de cidadão de sinalizar todas as derivas   antissemíticas.

 http://www.michelcollon.info/Comment-ecrire-un-article-sur-la.html?lang=fr

 

 

publicado por Carlos Loures às 13:00

editado por João Machado às 12:36
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Sexta-feira, 6 de Maio de 2011

Finalmente um país para a Palestina? por Luis Moreira

 

 

A Fatah e o Hamas apertaram as mãos e entenderam-se para constituirem governo, condição essencial para apresentarem nas Nações Unidas o reconhecimento oficial do Estado Palestiniano.

 

 

O governo de Israel não gosta apelida o Hamas de movimento terrorista e apela à Fatah que escolha o "caminho da Paz", leia-se das negociações a dois .Acontece que as negociações de Washinton se goraram porque a extrema direita israelita exigiu que os colonatos avançassem após ter terminado o período "não construção".

 

Não é possíveL haver conversações a sério quando, ao mesmo tempo, um dos lados está a ocupar o território à outra parte, construindo mais colonatos. A resposta da Fatah foi juntar-se ao Hamas e avançarem para um governo nacional, juntando os dois territórios, a Faixa de Gaza e a Cisjordânea.

 

Mas o Hamas tem que renunciar à guerrilha e reconhecer o Estado de Israel para que o reconhecimento internacional do Estado Palestiniano tenha hipóteses. Pelo lado da Fatah a grande exigência é que o acordo de reconhecimento mútuo se faça na base das fronteiras territoriais de 1967 .

 

Entre a população de Israel e da Palestina há uma maioria cada vez mais visivel e activa que exigem a paz e a boa vizinhança dos dois estados "

Uma multidão dava vivas na rua, no exterior do edifício onde Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestiniana, com sede em Belém, selava com um aperto de mão a Khaled Meshaal, o líder do movimento islamista Hamas, que controla a Faixa de Gaza, o acordo mediado pelo novo Governo egípcio."

 

Claro que o que está a acontecer na zona, especialmente com o novo governo Egípcio as condições estão, finalmente, a reunirem-se para a existência de dois territórios e dois países com Jerusalém como capital comum.

 

Oxalá as "biologicamente puras ideologias" dos "bem intencionados" activistas não ponham umas pedras no caminho da paz!

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Quarta-feira, 27 de Abril de 2011

Israel e Palestina - dois povos dois estados

 Com o devido agradecimento ao Esquerdanet

 

Dezenas de intelectuais, artistas e personalidades públicas israelitas participaram de uma manifestação, quinta-feira, em Tel Aviv, em defesa da criação de um Estado Palestiniano de acordo com as fronteiras de antes da guerra de 1967. Artigo de Ilan Lior, Haaretz.
As personalidades que participaram no protesto de quinta-feira fazem um apelo “a todos os que buscam a paz e a liberdade para todos os povos para que apoiem a declaração de um Estado palestiniano e actuem para estimular os cidadãos dos dois Estados a manter relações pacíficas com base nas fronteiras de 1967”.

 

Dezenas de intelectuais e personalidades públicas israelitas realizaram um protesto, quinta-feira à tarde, em frente à Sala da Independência de Tel Aviv, no boulevard Rotshschild, onde David Ben-Gurión pronunciou a declaração do Estado de Israel em Maio de 1948. Os participantes do acto, entre eles 17 ganhadores do Prémio Israel - o maior galardão israelita no campo das artes, ciências e letras -, expressaram o seu apoio à criação de um Estado palestiniano de acordo com as fronteiras de antes da guerra de 1967.  


Os manifestantes também planeiam assinar a sua própria declaração por escrito para expressar o seu apoio e convidaram o público em geral a unir-se a eles na assinatura do documento. “O povo judeu surgiu na terra de Israel, onde forjou o seu carácter. O povo palestiniano está a crescer na Palestina, onde se forjou seu carácter”, afirma o documento.

 

“Fazemos um apelo a todos os que buscam a paz e a liberdade para todos os povos para que apoiem a declaração de um Estado palestiniano e actuem para estimular os cidadãos dos dois Estados a manter relações pacíficas com base nas fronteiras de 1967 (...) O fim total da ocupação é um requisito fundamental para a libertação dos dois povos”, prossegue a declaração.

 

Os promotores da manifestação insistem que ela não é um protesto simbólico, mas faz parte de um processo mais amplo que conduza a uma legítima alternativa à política actual de Israel. “A nossa iniciativa não é uma demonstração de ingenuidade”, disse Sefi Rachlevsky, um dos organizadores do acto e colunista do jornal Haaretz. “Em lugar de ser o primeiro a estender a sua mão e apoiar a independência palestiniana, Israel está a trabalhar contra ela. Isso não é apenas um desastre moral, como também pode provocar uma catástrofe na qual se Israel se isolará e se transformará em uma espécie de África do Sul”.  

 

O ponto de vista sionista

 

“Israel age desta maneira com a falsa ilusão de que pode continuar com o seu comportamento colonialista, que se baseia no racismo antidemocrático que contradiz a própria declaração de independência”, acrescentou Rachlevsky.

Estou a falar desde um ponto de vista sionista”, explicou o professor Yehuda Bauer. “O sionismo propõe-se como objectivo a preservação de um lar nacional judeu com uma maioria judia sólida. Este era o sonho da esquerda, da direita e do centro do sionismo clássico. Mas a continuidade da ocupação garante a anulação do sionismo, ou seja, descarta a possibilidade que o povo judeu possa viver na sua terra com uma maioria forte e o reconhecimento internacional. Em minha opinião, isso torna claramente anti-sionista o actual governo de Israel”.

 

Bauer considera a criação de um Estado palestiniano nos moldes das fronteiras de 1967 como “a realização do nacionalismo judeu genuíno que existirá em paz na região e dentro da comunidade internacional”.

 

Tradução de Katarina Peixoto

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Segunda-feira, 11 de Abril de 2011

Israel/Palestina - um estado e um pesadelo para Israel

 

 

 As autoridades Palestinianas estão cada vez mais a deixar cair a solução que sempre defenderam - duas nações, dois estados,- e a                        perceberem que a solução "um só Estado, dois povos" é a mais poderosa ameaça ao estado de Israel! 

 

Perante uma solução "África do Sul" - uma pessoa ,um voto - que todos defenderão - e a democracia no seu melhor , as posições que há anos os dois povos andam a defender e que não levaram a paz, podem dar uma volta de 360º graus.

 

"Round after round of failed peace talks and a simultaneous increase in illegal Jewish settlements have left the Palestinians desperate for an alternative solution. The one-state approach has therefore evolved from a mere threat to a serious option for many Palestinians."

 

A ideologia é cega como mais uma vez se comprova, o que era inaceitável para ambos os lados por razões diferentes é agora uma boa solução para quem a ostracizava e passou a ser um perigo para quem a defendia! Um estado para os dois povos assente na democracia - uma pessoa, um voto.

 

Despite both peoples’ majority preference for separation - an Israeli state, and a contiguous Palestinian state in the West Bank and Gaza - support for the one-state option is seen to be on the rise.

 

A poll released in April 2010 by the Jerusalem Media and Communication Centre, for example, found 34 per cent support for a bi-national state, up from 21 per cent in June 2009. An October 2010 poll from the Palestine Center for Policy and Survey Research found 27 per cent support for a one-state option, up from 23 per cent in May 2009.

 

In 2003, Muammar Qadafi wasone of the first Arab leaders to publicly endorse a one-state solution, which he named 'Isratine' [a combination of the words 'Israel' and 'Palestine']. Qadafi argued that a two-state option would create unacceptable security hazards for Israel on the one hand, and would do little to address the issue of the Palestinian refugees on the other.

 

The 'Isratine' proposal may have seemed far-fetched at the time; however, with the recent Israeli announcements of yet more illegal settlement construction in the West Bank, and given the current status of the so-called peace process, Qadafi's vision of a single state for Palestinians and Israelis seems ever the more imminent.

 

Enquanto que os que sentem na pele os horrores da guerra lutam por uma solução, os "bem intencionados" do costume - bem comidos e melhor bebidos - atiçam os espíritos colocando-se numa postura de irredutibilidade que não leva a lado nenhum.

 

Exterminar um dos dois povos ! No radicalismo só muda a posição relativa, como dois irmãos siameses ligados pelas costas, a visão que tem é sempre no sentido contrario à do outro. Depois de separados chegam a uma visão de conjunto.

 

Acresce que demograficamente esta solução é muito favorável à Palestina, pois a geração palestina é muito mais jovem e por isso mais rapidamente cresce em número.

 

 

 

 

 

 

 

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Sábado, 19 de Fevereiro de 2011

Israel e a Palestina

 

 

 

 

 

 

 

continuação...

 

David Gurion foi o primeiro presidente, do estado de Israel que foi abandonado por terra, ar e mar pelos britânicos, enquanto um exército árabe atravessava a fronteira da Transjordânia, e do sul avançaram soldados egípcios. Era esperado que logo que os cinco países árabes circundantes se juntassem e organizassem o seu apoio conjunto aos Palestinianos, Israel seria varrida do mapa.

 

As Nações Unidas enviaram um "pacificador", o conde Folk Bernadotte, sueco, que conseguiu um cessar fogo de um mês,mas que  foi assassinado for judeus terroristas pertencentes ao grupo Irgun. Enquanto a indignação corria mundo israel, montado em armamento Checolováquio e de outras nações comunistas, derrotava os egípcios e outras nações árabes. Avançou Ralph Bunche, um oficial sénior das Nações Unidas, afro-americano a comandar uma equipa de brancos. Conseguiu a paz e um Prémio Nobel mas não serviu de muito.

 

No espaço de poucos meses Israel conseguira expandir-se para além do território que lhe fora atribuído pelas Nações Unidas e não tinha qualquer intenção de retirar as suas tropas. Os países árabes pensavam que face à diferença de forças um dia a derrota Israelita seria certa. Mas as armas vinham em força da União Soviética. 726 000 palestinianos fugiram e viviam em campos de refugiados e que foram rapidamente substituídos por mais judeus vindos de todo o mundo. A Palestina árabe tinha sido convertida numa maioria judaica num ápice!

 

Pensava-se que uma "mistura" de origens e de ideologias de tal monta, traria problemas insolúveis, mas a verdade é que o território ocupado desenvolveu-se de uma foma acelerada, com os partidos trabalhista e socialista tendo a maioria no parlamento. Muitos pensaram que o novo estado seria ultra-religioso, mas existiam todas as cambiantes políticas da opinião pública judaica no parlamento.

 

Mesmo que a nação de Israel não tivesse lá sido implantada, o médio oriente teria, da mesma forma, enfrentado uma tensão crescente. Era, ao tempo, o maior produtor de petróleo e constituia um cenário de rivalidade cada vez mais furiosa entre os dois colossos mundiais. Os US tinham acolhido mais Judeus que qualquer outra nação o que levou a que depois de 1948 se tornasse o maior financiador de Israel, enquanto os árabes aceitaram a União Soviética como sua protectora.

 

Quando, uma geração antes, o Plano Balfour fora aprovado, a Palestina era o local ideal para a criação do estado judaico, porque muito do seu território era formado por deserto e leitos  de rios secos. Agora é uma torrente que ninguém segura!

 

PS: com Geoffrey Blainey "Uma breve história do século xx"

publicado por Luis Moreira às 11:41
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Sexta-feira, 18 de Fevereiro de 2011

Israel - o ínicio

 

Luis Moreira

 

 

 

Em 1896 um jornalista veniense, Theodoro Herzl, promoveu pela primeira vez o movimento sionista e a esperança de uma nação distintamente Judaica. A questão era: que nação iria avançar e oferecer-lhes um espaço?

 

Arthur James Balfour, um conservador político britânico, adivinhando o ocaso da sua vida política, anunciou o muito aguardado plano de uma nação para todos os Judeus do mundo - a Declaração de Balfour . O plano teria como objectivo, acenar aos Judeus Russos com um território na Palestina, ao jeito de uma medalha, se conseguissem persuadir as autoridades russas a não interferir na Primeira Guerra Mundial. Os Franceses logo apoiaram a ideia. Ainda o Reino Unido não tinha a posse de qualquer território na Palestina e já Balfour, como ministro dos negócios estrangeiros oferecia a Lord Rothschild, um financiador de projectos naquele território "uma nação para o povo Judaico". Não ter nenhum território na Palestina era um pequeno problema porque o Império Otomano estava perante uma derrota eminente após o que a Palestina ficaria na posse da França ou do Reino Unido.

 

A Palestina tinha feito parte da Síria, era um território muito pouco desenvolvido (havia um único carro em toda a região). Com o Reino Unido a governar e com a chegada de mais Judeus provenientes da Rússia, a Palestina floresceu. Montou-se um sistema hidroeléctrico e linhas telefónicas, foi construído o porto de Haifa, a nova cidade de Telavive foi fundada em cima das dunas e a Universidade Judaica foi inaugurada pelo próprio Balfour. Mas, no conjunto, o território continuava a ser árabe e não judaico. Telavive, pela primeira vez, dava aos judeus uma calma de vida de quem faz parte da maioria. Golda Meir, judia que nascera na Rússia e que em criança fugira com seus pais para os Estados Unidos, social-democrata que viria a ser primeira ministra, admitia que era "sem piedade" que via os bairros judeus crescerem. Mesmo assim, havia uma proporção de um judeu para três muçulmanos, na Palestina britânica.

 

Mas o plano de Balfour tinha uma falha e não era pequena. A sua declaração afirmara que os islamitas e os outros povos da região "já tinham direitos religiosos e civis" que deveriam ser respeitados, mas o direito que os muçulmanos queriam ver respeitado era o de serem dominantes na terra a que chamavam sua e moldar a sua vida diária segundo os ensinamentos de Alá. Outro direito que reclamavam era o controlo de Jerusalém e dos lugares sagrados para o Islão, Judaísmo, e Cristianismo.

 

Balfour não se deu conta que o seu plano teria implicações muito graves. A chegada de judeus era um fluxo muito superior à chegada de árabes e, as nações árabes á volta, não viam com bons olhos a nova situação apesar das enormes ajudas financeiras e de tecnologia que os países ocidentais lhes asseguravam. Tentou-se que o fluxo de judeus não tomasse aquelas proporções, mas, depois de 1945 a Organização Sionista Mundial exigiu que um milhão de judeus espalhados pela Europa  e por outros territórios, fossem admitidos na Palestina.

 

Depois de conhecidos os detalhes do Holocausto, milhões de pessoas em todo o mundo apoiavam a criação de uma pátria judaica na Palestina! Entretanto, muitos judeus, perante a incapacidade das Nações Unidas de resolverem o problema , desceram à clandestinidade e passaram a uma fase de luta armada com atentados contra as autoridades britânicas que ainda controlavam o território.

 

Cerca de noventa mil soldados britânicos controlavam o território, um esforço tremendo para um país devastado pela guerra e que estava a retirar-se da Índia um território há muito a viver na órbita britânica. Porque haveriam de continuar na Palestina onde os seus interesses eram muito menores? Como pano de fundo crescia a guerra fria entre os US e a Rússia que, nesses tempos, anexava os territórios circundantes que viriam a constituir a ex-União Soviética. O petróleo aguçava os apetites dos dois gigantes. O medo que o comunismo tomasse conta do médio oriente não foi suficiente para manter os britânicos no território.

 

Nas Nações Unidas por 35 países a favor ( entre os quais estavam a Rússia e os US) e 32 contra, aprovou-se a constituição de dois estados, com Jerusalém como zona neutra, bem como Belém, local do nascimento de Cristo. Mas os árabes não aprovaram este plano.

 

Um mês depois nascia o Estado de Israel!

 

(continua)

 

( com Geoffrey Blainey - uma breve história do século XX )

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Domingo, 16 de Janeiro de 2011

Esplanada da praia - por Carlos Loures

 

 

 

Numa tarde de sábado, em Abril de 1988 (é a data que pus no final do poema – Abril/68) estava sentado numa esplanada de uma praia da linha de Cascais. Lembro-me que fazia uma temperatura elevada para a época e bebia cerveja enquanto observava as pessoas que colhiam os últimos raios de sol daquele belo dia. Sentia-me bem. Depois comprei o Diário de Lisboa, que ainda se publicava e publicou por mais um ano ou dois, folheei-o, li as notícias e lá se foi a sensação de beleza e de tranquilidade…

 

 

 

Ah, meu amigo, o que é o coração do homem!

 

(Goethe)

 

Sim, na verdade

o coração do homem é assim,

espalha-se no vento,

escreve gritos na paisagem,

viaja no silêncio, enfim,

é assim –

é veleiro e astronave

em permanente viagem,

o coração do homem.

Coração, é um modo de dizer,

é uma expressão nada científica,

por sinal, que serve para definir

o local, o território misterioso

onde habitam o amor, o afecto,

o ódio, o medo e a coragem.

Onde mora também

A capacidade de sentir

os oceanos que golpeiam

o peito da humanidade.

Dizemos coração,

talvez por ser mais simples situar

num simples órgão

tudo aquilo que em nós transcende

o bisonho animal

que nos domina e vigia.

Por exemplo,

é Abril e é sábado,

estou aqui na esplanada da praia,

a cerveja está fresca,

a temperatura é amena,

o mar é azul, as pessoas são bonitas,

o céu é um lago de serenidade.

Tudo é tranquilo e belo.

Porém, compro o jornal da tarde

e a tranquilidade

quebra-se logo,

como um vidro frágil agredido

pela fúria selvagem

de um martelo à solta.

O meu coração viaja até à Palestina,

à África Austral, à América Latina,

onde a ânsia animal de dominar,

destrói a vida,

oculta o Sol,

impede o amor…

O meu coração,

muito habituado a caminhar,

abandona o corpo sentado na esplanada,

a cerveja, o mar azul,

o céu sereno, as gaivotas;

viaja até onde a morte é lei,

o passado e o futuro

se defrontam em áridas colinas

revolvidas por obuses.

Se queres que te diga,

A tarde deixou de ser tranquila

e primaveril,

a cerveja sabe-me a sangue

e no sangue passa-me a circular

vitríolo.

Nesta tarde de Abril,

em que tudo estava a correr

tão bem,

antes que me esqueça,

pergunto-me:

terá sido a  cerveja

que me caiu na fraqueza,

ou terá sido o coração

que me subiu à cabeça?

publicado por Carlos Loures às 12:00

editado por Luis Moreira às 02:13
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Sexta-feira, 14 de Janeiro de 2011

O livro - Palestina por Tariq Al-Khudayri

Luis Moreira

 

O caminho da Paz é dificil e muitas vezes é interrompido por acções e eventos que se diria constituirem apenas más opções ou até má sorte. Claro que há também muita gente interessada em impedir esse caminho

 

Na Conferência de Madrid foi adoptado um principio político importante para a resolução do conflito israelo-palestiniano, "territórios em troca de paz" o que quer dizer que Israel devolveria aos seus legítimos donos os territórios árabes ocupados e os países árabes garantiriam a paz e a segurança a Israel.

 

Apesar deste acordo a primeira intinfada continuou, com as pedras palestinianas a enfrentarem os blindados israelitas, devido à falta de confiança entre as partes. No entanto houve desenvolvimentos muito positivos que levaram ao acordo de Oslo, em Washington, em 1993, quando Isaac Rabin era primeiro-ministro de Israel e possuía uma visão concreta e capacidade de implementação do que foi acordado, só que os extremistas israelitas não lhe deram tempo e foi assassinado antes de concretizar a paz verdadeira.

 

Netanyahu, o primeiro-ministro seguinte encarregou-se de introduzir alterações radicais no acordo alcançado, trocando "territórios em troca de paz" por "segurança em troca de paz", querendo dizer com isto que Israel garantia segurança aos palestinianos em troca destes não atacarem Israel,  em suma a palavra "território" desapareceu .

 

Barak e a sua indecisão, refugiou-se em zigue-zagues, no método progressivo na busca de soluções até que perdeu as eleições para Ariel Sharon , abrindo-se assim, as portas do inferno com o extremismo da sociedade israelita. Quando Sharon mostrava algum interesse na paz foi acometido do avc que o mantem há cinco anos em coma.

 

Voltou-se ao principio "segurança para Israel...paz para Israel...territórios para Israel " e os árabes só têm que obedecer pois perante a capacidade bélica que ultrapassa toda a capacidade militar de todos os países árabes juntos não há resposta possível nesse plano. 30 000 mortos do lado palestiniano e milhares de feridos, do lado israelita mais de um milhão de pessoas voltaram aos seus países de origem tendo mais de 80% dos colonatos sido abandonados. Cada colono que resta é guardado por cinco soldados israelitas e a fuga de capitais e o encerramento de muitas fábricas são alguns dos prejuízos do lado israelita.

 

A extrem-direita israelita apresenta o "slogan" dos problemas geográficos para impedir qualquer hipótese de negociação política, enquanto que a extrema esquerda apresenta o perigo demográfico como via para chegar a uma solução com os palestinianos.

 

As negociações em curso são uma hipótese real de se chegar à paz, assim os USA o queiram, já reconheceram o direito a um Estado Palestiniano, vários países já reconheceram o Estado Palestiniano  e o caminho da paz vai fazer-se como única solução para o conflito. Oxalá os "puros" da esquerda e da direita não deitem gasolina para cima do fogo!

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Quarta-feira, 10 de Novembro de 2010

Em terras de Belém (

Eva Cruz



Em terras de Belém
Presépio de sangue
Estrelinha apagada
Magos sem rumo
Jesus nascido
P´ra nada.

Na coroa os espinhos
Nas mãos as chagas
Cristo perdido
Entre os homens
O Gólgota erguido.

Um muro de ódio
Feito de mortos
Feito de corpos
Cristo de novo crucificado
Mártires lado a lado
Eternos heróis
Rebentados de pólvora
Atada à cintura
Um muro erguido
Entre a fome
E a fartura.

Ergue-se a lua
Em forma de crescente
À Palestina sem terra
Resta apenas
O céu do Oriente.
publicado por Carlos Loures às 08:00
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Terça-feira, 2 de Novembro de 2010

Israel - Memória e responsabilidade histórica

Rui de Oliveira

Na habitual crónica de Esther Mucznik (E.M.) num Público de Agosto passado há uma curiosa reflexão sobre a memória do holocausto e o facto de a maioria dos grandes memoriais (museus e projectos educativos) na Alemanha só ter surgido nos últimos vinte anos, o que a leva a concluir que foi preciso o desaparecimento da geração da guerra para haver comemorações (interrogação acessória seria indagarmos se também entre nós o bloqueio da rememoração antifascista sofre do mesmo mal ?...). Daí E.M. afirmar a certeza de que “a memória só se torna colectiva e consensual quando politicamente inócua … ou seja quando se transforma em memória cultural”.

Contudo o mais curioso da crónica é a “confissão” recolhida da directora do campo de Dachau durante os últimos 30 anos a quem perguntaram : “serve todo este trabalho de memória de lição para o futuro ?” “Não sei”, respondeu, “éramos ingénuos quando clamávamos ‘nunca mais!’… mas não temos alternativa…”. Esta dúvida sincera quando associada ao dado de que 45 por cento dos visitantes do museu judaico de Berlim respondeu afirmativamente à pergunta “Crês que no teu círculo de amigos há pessoas com preconceitos contra os judeus?” pode levar alguns menos “rousseaunianos” a concluir simplisticamente que a espécie humana é má e que não há volta a dar-lhe – tente-se educá-la mas sem grandes esperanças. No entanto uma outra leitura é possível numa perspectiva histórica e essa deve confrontar não só os dirigentes de Israel, como a generalidade dos judeus.

Há certamente uma responsabilidade recente do comportamento das chefias israelitas face aos povos do Médio Oriente e em particular aos palestinianos, para justificar uma falta de simpatia ampla que engloba, porventura injustamente, a generalidade dos chamados “filhos de David”. Aquele comportamento deve ser denunciado e combatido (e está a sê-lo) sem qualquer dúvida. Mas justificar-se-ia também que a comunidade judia se interrogasse se a sua conduta de povo alegadamente “eleito” (embrião detestável do fanatismo religioso), o seu fechamento como comunidade (ilusão perigosa duma “pureza” étnica), a sua atitude de protecção excessiva dos seus membros (na sociedade americana isso é chocante, com todos os vícios das “seitas” ocultas) não contribuiu e continua a contribuir para uma difícil, senão impossível, pacificação com a restante sociedade. E aqui fica a homenagem a todos, como o recém-desaparecido Tony Judt, que souberam, apesar de judeus, distanciar-se, criticando, da deriva sionista.

Não quereria encerrar esta reflexão motivada pela crónica daquela intelectual judia tão cheia de constatações e perplexidades que cremos sinceras sem lembrar que também noutros campos, nomeadamente o islâmico (e o papel “nocivo” da religião volta aqui a preponderar), se verificam idêntico sectarismo e semelhante afirmação de falsa supremacia – só que aos olhos “ocidentais” o preconceito e o ódio, neste caso, aparecem como mais naturais …
publicado por Carlos Loures às 21:00
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Sábado, 2 de Outubro de 2010

Boaventura de Sousa Santos no Estrolabio - Réquiem por Israel?


Está ocorrendo na Palestina o mais recente e brutal massacre do povo palestino cometido pelas forças ocupantes de Israel com a cumplicidade do Ocidente, uma cumplicidade feita de silêncio, hipocrisia e manipulação grotesca da informação, que trivializa o horror e o sofrimento injusto e transforma ocupantes em ocupados, agressores em vítimas, provocação ofensiva em legítima defesa.

As razões próximas, apesar de omitidas pelos meios de comunicação ocidentais, são conhecidas. Em novembro passado a aviação israelense bombardeou a faixa de Gaza em violação das tréguas, o Hamas propôs a renegociação do controle dos acessos à faixa de Gaza, Israel recusou e tudo começou. Esta provocação premeditada teve objetivos de política interna e internacional bem definidos: recuperação eleitoral de uma coligação em risco; exército sedento de vingar a derrota do Líbano; vazio da transição política nos EUA e a necessidade de criar um facto consumado antes da investidura do presidente Obama. Tudo isto é óbvio mas não nos permite entender o ininteligível: o sacrifício de uma população civil inocente mediante a prática de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade cometidos com a certeza da impunidade.

É preciso recuar no tempo. Não ao tempo longínquo da bíblia hebraica, o mais violento e sangrento livro alguma vez escrito. Basta recuar sessenta anos, à data da criação do Estado de Israel. Nas condições em que foi criado e depois apoiado pelo Ocidente, o Estado de Israel é o mais recente (certamente não o último) ato colonial da Europa. De um dia para o outro, 750.000 palestinos foram expulsos das suas terras ancestrais e condenados a uma ocupação sangrenta e racista para que a Europa expiasse o crime hediondo do Holocausto contra o povo judeu.

Uma leitura atenta dos textos dos sionistas fundadores do Estado de Israel revela tudo aquilo que o Ocidente hipocritamente ainda hoje finge desconhecer: a criação de Israel é um ato de ocupação e como tal terá de enfrentar para sempre a resistência dos ocupados; não haverá nunca paz, qualquer apaziguamento será sempre aparente, uma armadilha a ser desarmada (daí, que a seguir a cada tratado de paz se tenha de seguir um ato de violação que a desminta); para consolidar a ocupação, o povo judeu tem de se afirmar como um povo superior condenado a viver rodeado de povos racialmente inferiores, mesmo que isso contradiga a evidência de que árabes e judeus são todos povos semitas; com raças inferiores só é possível um relacionamento de tipo colonial, pelo que a solução dos dois Estados é impensável; em vez dela, a solução é a do apartheid, tanto na região, como no interior de Israel (daí, os colonatos e o tratamento dos árabes israelenses como cidadãos de segunda classe); a guerra é infinita e a solução final poderá implicar o extermínio de uma das partes, certamente a mais fraca.

O que se passou nos últimos sessenta anos confirma tudo isto mas vai muito para além disto. Nas duas últimas décadas, Israel procurou, com êxito, sequestrar a política norte-americana na região, servindo-se para isso do lobby judaico, dos neoconservadores e, como sempre, da corrupção dos líderes políticos árabes, reféns do petróleo e da ajuda financeira norte-americana. A guerra do Iraque foi uma antecipação de Gaza: a lógica é a mesma, as operações são as mesmas, a desproporção da violência é a mesma; até as imagens são as mesmas, sendo também de prever que o resultado seja o mesmo. E não se foi mais longe porque Bush, entretanto, se debilitou. Não pediram os israelenses autorização aos EUA para bombardear as instalações nucleares do Irã?

É hoje evidente que o verdadeiro objetivo de Israel, a solução final, é o extermínio do povo palestino. Terão os israelenses a noção de que a shoah com que o seu vice-ministro da defesa ameaçou os palestinianos poderá vir a vitimá-los também? Não temerão que muitos dos que defenderam a criação do Estado de Israel hoje se perguntem se nestas condições - e repito, nestas condições - o Estado de Israel tem direito de existir?


(in Carta Maior  12-01-2009)
publicado por Carlos Loures às 21:00
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Quinta-feira, 30 de Setembro de 2010

Israel – a recorrência da Shoah no discurso político

Carlos Loures

Circularam e circulam pela net e em e-mails fotografias de uma manifestação realizada em Londres pela comunidade muçulmana. Vêem-se manifestantes exibindo cartazes onde se diz entre outras coisas: «Matai aqueles que insultam o Islão», «Europa. Pagarás, a tua demolição está em marcha»; «O Islão dominará o mundo»; «Europa, pagarás. O teu 11 de Setembro vem a caminho»; «Prepara-te para o verdadeiro holocausto». Segundo se diz também nessas mensagens, tratava-se de uma manifestação pacífica. Habituei-me a acolher com cepticismo e cuidado estas informações que, muitas vezes mais não são do que desinformações. Lá estão as fotografias, com os cartazes escritos em inglês, mas todos sabemos como é fácil manipular fotografias. Verdade ou mentira, não há dúvida que entre os muçulmanos passa uma corrente de intolerância e ódio que nada contribui para que, quem não compartilha a sua crença, possa ao menos ser solidário com a sua legítima revolta.

Existem, mas são poucas, as vozes que nos defendam a causa palestiniana, por exemplo, com serenidade e isenção. Compreendo que seja difícil ser isento quando estamos a ser chacinados, vemos as nossas casas bombardeadas, as nossas crianças assassinadas, a nossa terra ocupada. É difícil, mas aos muçulmanos pede-se esse supremo acto de heroísmo. Do lado judaico existem , sempre existiram, essas vozes. Bem sei, que os judeus, embora em permanente perigo de extermínio à mínima distracção, estão numa situação diferente. Mas não se julgue que a posição dos israelitas é fácil. Entendo que a criação do Estado de Israel foi um erro da diplomacia britânica. No entanto, hoje a nação judaica é um facto consumado. Milhões de pessoas a povoam. A sua destruição, como propugnam os fundamentalistas islâmicos, seria um crime.

O crime que foi o dar o território dos palestinianos aos judeus, não se apaga com o crime de exterminar os israelitas. Entendo que a criação do Estado de Israel foi um erro da diplomacia britânica. No entanto, hoje a nação judaica é um facto consumado. Milhões de pessoas a povoam. A sua destruição, como propugnam os fundamentalistas islâmicos, seria um erro. Não se deve desistir da utopia de um estado em que judeus, muçulmanos, cristãos, ateus, convivam pacificamente. É uma utopia própria de quem vê o problema do exterior. Não agrada nem a judeus nem a palestinianos. Mas é a única solução digna de seres humanos.

Vem tudo isto propósito de duas das tais vozes vindas do lado hebraico, de dois livros, um que a professora israelita Idith Zertal (1944), professora de História e Filosofia Política na Universidade de Basileia, nascida antes da fundação do Estado num kibutz de Ein Shemer, ficou entusiasmada por finalmente ver traduzido em hebraico - a obra de Hannah Arendt (1906-1975) «Origens do Totalitarismo» - que li precisamente na sua edição espanhola, outro, um ensaio da própria professora Idith Zertal - «A Nação e a Morte», Falemos primeiro de Hannah Arendt.

Tendo nascido numa família hebraica de Linden (Hanôver), estudou Filosofia e Teologia em Königsberg (actual Kalinigrado) e trabalhou com Martin Heidegger na Universidade de Marburgo (uma relação que não foi apenas intelectual). Foi depois para Heidelberga, doutorando-se na respectiva universidade, em 1929, com uma tese, acompanhada por Karl Jaspers - «A experiência do amor na obra de Santo Agostinho».

Em 1933, com a chegada de Hitler ao poder, dada a sua condição de judia, foi proibida de publicar as suas obras e de ensinar. Por outro lado, o seu envolvimento com os movimentos sionistas, obrigaram-na a fugir das garras da Gestapo. Com seu marido, Heinrich Blütcher, foi presa em França. Fugindo e escondendo-se por diversos países da Europa, chegaria em 1941 aos Estados Unidos onde ensinou e escreveu.

Em 1951 publicou «Origens do Totalitarismo» que, quase seis décadas depois, surge, finalmente, traduzido em hebraico. De uma forma que à época era extremamente polémica, Arendt compara o estalinismo com o nazismo, considerando que o totalitarismo se instala explorando a «solidão organizada» das massas.

Publicaria em 1963 «Eichmann em Jerusalém» onde, contrariando as teses oficiais de que Eichmann era um monstro, Arendt demonstra que ele era um ser normalíssimo, um burocrata que foi cumprindo ordens com um grande zelo. As organizações judaicas considera-la-iam traidora, tanto mais que no seu livro aludia a cumplicidade de alguns judeus na prática dos crimes de extermínio. Arendt afinal apenas alertava para a necessidade de manter uma permanente vigilância para garantir a defesa da liberdade.

Hannah regressaria à Alemanha, onde contactaria o antigo professor Martin Heidegger, que, devido às suas concessões ao regime nazi, se encontrava afastado do ensino. Envolveu-se na reabilitação de Heidegger, o que contribuiu para que as associações judaicas a atacassem de novo. Da correspondência de Arendt com Heidegger saiu um notável livro de correspondência entre os dois – “Lettres et autres documents(1925-1975)”, Editions Gallimard, Paris.

Em tradução para o castelhano surgiu o livro de Idith Zertal com o título «La nación y la muerte. La Shoah en el discurso y la política de Israel», obra em que a autora fala de «um país de excessos e de paradoxos». Shoah é palavra hebraica para Holocausto. Não hesita em qualificar como maligna a ocupação dos territórios palestinianos, dizendo. «Governar outro povo de uma maneira tão brutal é devastador também para nós». E condena a omnipresença do Holocausto como explicação e justificação para tudo, inclusive para o facto, de usarem sobre outros uma violência brutal, assumindo apesar disso o papel de eternas vítimas.

«O vínculo entre a constituição do Estado e a Shoah e os seus milhões de mortos continua a ser indissolúvel… Desde 1948 e até à crise de 2000 não houve guerra que não tenha sido entendida, definida e conceptualizada na sociedade israelita de uma perspectiva relacionada com o genocídio», e utiliza como exemplo, por vezes obsceno, da matança sistemática perpetrada pelo regime nazi.

Usar e abusar da memória para, de forma descontextualizada, praticar actos condenáveis é a melhor forma de dar razão aos que querem ver destruído o Estado de Israel. Zertal traça no seu ensaio um minucioso percurso através das diferentes funções que o discurso político atribuiu ao intento de exterminar os judeus nos campos de concentração, começando em Israel com as intervenções de Bem Gurion no momento da fundação do Estado.

Essas funções contribuíram, por um lado, para interpretar a história dos judeus como uma sucessão de episódios que, desde os tempos mais remotos, prefiguravam a formulação da utopia sionista de finais do século XIX e a sua concretização em 1948. Mas, por outro lado, contribuíram também para aquilo que Shlomo Ben Ami define no prefácio como «a base ideológica de uma sociedade de vítimas com imunidade moral na sua confrontação com o mundo árabe e com o mundo em geral».

É aqui que Zertal conflui com Arendt, no conceito, por esta aplicado a Eichmann, da banalização do mal que leva homens normais a aceitar assassínios em massa. Por alguma coisa Israel tem um arsenal nuclear. Será para responder às pedras da Intifada?
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Terça-feira, 28 de Setembro de 2010

Um barco para encalhar em Gaza e em Washington

Luis Moreira

As negociações entre a Autoridade Palestiniana e o Estado de Israel defrontam-se com o primeiro grande problema, como aliás, já se sabia. A moratória que impede a construção de mais colonatos termina hoje. Este assunto é, tanto para os Israelitas como para os Palestinianos, absolutamente fundamental para que se encontre um caminho para a existência de dois estados. A moratória vai ser renovada?

Então de que se iriam lembrar os corajosos "amantes da paz" para ajudar as negociações? Enviar um barco para Gaza com a finalidade confessa de romper o bloqueio que os Israelitas fazem naquela região. Se passa, no caso dos Israelitas acharem que não vale a pena prejudicar as negociações, os extremistas vão cantar vitória, o que terá uma reacção muito negativa na opinião pública israelita; se não passa, aqui d'el rei que há um bloqueio ilegal a pessoas que só querem ajudar; e afastemos a possibilidade de haver mortos e feridos como bem há pouco tempo aconteceu.

Perante este cenário alguém tem dúvidas que há muita gente que com palavras mansas mais não quer que a injustiça se mantenha e os mortos e feridos se amontoem? Que a situação interessa a muita gente, que há muita gente que só tem poder nesta situação e não querem que mude? Que tudo farão ainda e sempre para que a guerra continue ? Da direita já sabemos que quer uma vitória unilateral Israelita, não há que estranhar.

Não se arranja um barco assim sem mais, custa muito dinheiro, quem paga? Há bem pouco tempo foram os Turcos, às voltas com a liderança na região. Perguntaram ao povo mártir da Palestina se está interessado em trocar uns quantos pacotes de arroz pela possivel paz que se negoceia em washinton?

Perante um assunto tão sério e onde tanta gente sofre, os observadores exteriores ao conflito deviam, se estão de boa fé, deixarem as ideologias de lado e manterem uma atitude reservada, tendente a contribuir para o que realmente interessa. A PAZ!
Tudo o resto são atitudes negativas para parceiro ver, entre um bem regado jantar e um último charuto.

PS: Já depois deste texto estar escrito, soube-se que o barco transporta Judeus de diversas nacionalidades e que a moratória não foi prolongada, embora com o pedido que as 2 000 casas autorizadas não sejam construídas. Há coincidências curiosas.
publicado por Luis Moreira às 13:30
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Domingo, 5 de Setembro de 2010

Hammas boicota negociações à bomba!

Luis Moreira

Sob a égide dos US, UE, e Rússia foi possível estabelecer um programa de negociações, tendo em vista chegar à paz na Palestina. O Hammas renunciou liminarmente essa possibilidade negando sentar-se à mesa e levou a efeito um atentado matando quatro Israelitas civis, uma das quais grávida.

O objectivo é óbvio e não vale a pena adocicar ou justificar este terror com outros terrores.O Presidente da Autoridade Palestiniana é um dos interlocutores nas negociações, aceitou sentar-se à mesa, num processo que dura há mais de um ano.Há pois, garantias, por pequenas que sejam para se tentar, ao menos tentar!

Uma das formas de manter o poder é "o quanto pior melhor", enquanto o "status quo" se mantem ninguem tira o poder a quem o tem, pois pode sempre oferecer a lua e o sol, porque sempre terá à mão um bode expiatório. Isto tambem serve, evidentemente, para os extremistas Israelitas.

Mas se mais provas fossem necessárias, esta infeliz e inútil matança, mostra à saciedade que não há outro caminho se não a paz, criando um Estado Palestino viável, independente e soberano, com a autoridade sobre a parte de Jerusalém em que se encontram os lugares sagrados muçulmanos.

Dois Estados, um território e dois povos com uma capital partilhada. Oxalá o bom senso prevaleça!
publicado por Luis Moreira às 13:30
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