O Beijo do Raul Iturra é um belo texto, faz-nos pensar nesse gesto que se tornou tão trivial e a que pouca importância damos nos dias de hoje. Curiosamente, hoje fui passear para as margens do Rio Tejo e lá estavam mil jovens aos beijos. Beijos ao Sol de Lisboa, um dia como só há em Lisboa, com a luz tão especial devida ao espelho das águas calmas do "mar da palha".
Logo pensei na Primavera que faz com que as hormonas andem furiosamente fora de controlo; tentei lembrar-me do meu primeiro beijo que nunca esquecemos mas do qual frequentemente não temos memória nenhuma, tão insípido ele é ; lembrei-me das mulheres "mignonnes", gráceis, que se beijam com delicadeza e das mulheres "valquírias" que se beijam com ardor (convem trazer uma garrafa de oxigénio a tiracolo...)
O beijo abre e fecha as portas do amor e da paixão. Ao primeiro beijo logo se adivinha o futuro do romance, a química tem que lá estar senão adeus, não há segundo. Dizem que para alguns (no qual me incluo) o cheiro é que estraga tudo, mesmo escondido atrás de fortes perfumes cada um de nós tem o "seu cheiro" e beijo sem cheiro adeus, não há segundo. Será?
O que eu vejo é os adolescentes beijar como se o mundo fosse acabar amanhã, tal o ardor e a entrega, desconfio que não há lugar nem para a química nem para o cheiro, embora eles não saibam mas o tempo vais-lhe ensinar isso que o beijo é coisa estimável como o GPS da paixão, orienta, acelera, retarda, acalma, rompe...
Até os actores e actrizes inventaram o chamado "beijo técnico" que se dá perante as câmaras de cinema e televisão e, que, frequentemente, é tão técnico que leva a divórcios. Quantos romances entre gente do cinema começaram e acabaram "à luz da ribalta"? Isto faz pensar que a técnica não é importante, é mais a química e o cheiro, pois de "técnica" estão eles cheios de cursos e mestrados.
Depois há o beijo da "tia" assim a dar para o ar "uam, uam" muito querida, muito tudo, mas que envergonha o beijo dado com carinho, eu faço tudo para parecer muito moderno e dou beijos nas mãos das senhoras, isto é, encosto a mão da "lady" à minha cara tudo para fugir ao cheiro que, já se viu, tem dado cabo da minha vida afectuosa...
Alguma coisa havia de ter a culpa toda e, cá está, é o beijo, em vez de beijar andei a cheirar. Olha lá, não tivesse metido o nariz onde não era suposto ser chamado!
Luis Moreira
As aves
acolheram-se
da chuva forte que caía
na concavidade
do grande rochedo calado
tiritando
num vôo rápido
a ave pousou no peito do homem
Lá no rochedo ficaram as outras...
PS: Poema escrito aos 16 anos na minha primeira grande paixão não correspondida, tal como todas as outras...
Lá na escola comercial onde andava, tive um professor de português e francês que tinha uma relação comigo de amor-ódio. Ele achava que eu não estudava nada e que tinha todos os defeitos, menos um. Tirava dezassete a português, nota que ele não dava a mais ninguém.
Eu andava perdido pela Maria Luísa que namorava com todos, menos comigo. E vinguei-me num concurso de poesia. A turma da Luísa ( cuja professora era a mulher do meu professor) tinha executado uma bela imagem de Nossa Senhora e, então, a ideia do concurso era fazer um poema sobre a imagem.
E, eu ganhei. Aí vai:
Encontramo-nos
tu bela, simples, humilde
eu altivo, mau, vaidoso
afastamo-nos
tu bela, simples, humilde
eu modesto, bom sem vaidade !
E, vai daí, com os olhos a lacrimejarem, o Dr. Alberto Fialho Júnior, vá de gritar aos quatro ventos que aquela era uma das mais belas descrições de "amor", que era mesmo isso, o "amor" tornava-nos melhores e, no mesmo passo, vá de explicar porque é que eram tão diferentes o "amor" e a "paixão". O primeiro "dá", o segundo "tira". Quem tem amor quer que a pessoa objecto do seu amor seja o mais feliz possível, quem está apaixonado só pensa nele mesmo, para nada lhe interessando o bem estar do ser objecto da sua paixão.
O único senão é que a Luísa só olhou para mim já eu era pai...
Luis Moreira
São Valentim, arrisca um olhar maroto aos namorados que se riem do nada, enquanto abana o ramo de crisálidas roxas, chamando a atenção à
cachopa que sem jeito mostra num repente a brancura das suas generosas coxas ...
São flores de meio-dia que vivem um tempo inteiro mais que o amor, arrisca S. Valentim enquanto faz figas para que a cachopa diga sim..
Suspira, enquanto gotas de suor , benzidas, lembram S. Valentim que tudo lhe é permitido menos o amor...
S. Valentim namora, dá-se à brincadeira mas não lhe é permitido arranjar companheira...
O vento faz ondular o mar e o trigo mas nem num nem noutro S. Valentim encontra abrigo...
Quem fez de ti, tal prisioneiro, dás o nome ao dia e não encontras companheiro...
S. Valentim aos molhos por causa de ti choram os meus olhos...
Não te chegam as alegrias da paixão, mas saberás se o amor cabe, redondo, no teu coração?
S. Valentim, S. Valentim, por causa de ti este namoro não tem fim...
Encontro-me na frescura do seu aroma, escondo-me na cor do seu jardim, mas perco-me em dia de S. Valentim...
Que força é essa S. Valentim que por mais que sofras parece não ter fim...
Ainda agora aqui cheguei e deste S. Valentim já me fartei...
Tocam os sinos na minha aldeia, é dia de S. Valentim, trocam-se flores, prendas e juras de amor, porque regas tu estas plantas que se vão transformar em lágrimas de dor?
S. Valentim, S. Valentim, por causa de ti o meu amor disse sim...
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