Quarta-feira, 9 de Fevereiro de 2011

A revolta no mundo árabe e a situação internacional - por João Machado

Será motivo para espanto a agitação existente?

Nos últimos dias têm avultado na comunicação social notícias sobre a agitação em países árabes contra os governos constituídos. Primeiro foi a Tunísia, a seguir o Egipto, também têm ocorrido problemas (e alterações) no Iémen e na Jordânia. Possivelmente vão alastrar a outros países. Há notícias de espanto e surpresa, sentidos não só na própria comunicação social, mas também nos países da Europa, nos EUA, na China, perante estes acontecimentos. Mesmo Israel, com todo o seu poderio e sofisticados meios de intervenção, que procura manter os países vizinhos (e não só) sob permanente vigilância, sempre à procura de eventuais ameaças, parece ter sido apanhado desprevenido.

Permitam-me que manifeste, por minha vez, o meu espanto por estes espanto e surpresa tão generalizados. Acho realmente espantoso (perdoem a insistência) que não tenha sido prevista toda esta agitação. E penso que se vai estender a outros países. Porquê? Há realmente vários factores que contribuem para essa agitação, e que ao fim e ao cabo são do conhecimento geral. Vou tentar explicar.

Estamos numa época em que, apesar das grandes restrições impostas, o isolamento das pessoas diminuiu drasticamente, pelo menos no que respeita à informação. Esta muitas vezes é inexacta, e quase sempre manipulada para se adequar aos interesses dos proprietários dos vários órgãos que a transmitem, sejam organismos públicos ou os grandes grupos económicos. Contudo, não se pode negar que é abundante, e que chega a todas as partes do mundo, mesmo a zonas onde a população vive com grandes carências em muitos aspectos da sua vida diária. Se por vezes contraditória, dela ressaltam inequivocamente alguns factos, como a existência de diferentes modos de viver entre os vários países, zonas geográficas e classes sociais. Muito relacionado com este, é a exaltação de casos de sucesso individuais, nos diferentes campos de actividade, sem obviamente se referirem aos aspectos sombrios das vidas das pessoas em questão. Em todas as épocas houve desejo de mudança, nomeadamente dos mais jovens. Hoje em dia esse desejo é muito generalizado.

Outra razão é a situação social e política dominante em muitos países. Nos chamados países árabes a percentagem de jovens na população total é elevada, e estes não vêem possibilidades de ver satisfeitas as suas ambições, mesmo as mais básicas, mesmo quando conseguem qualificações de bom nível. As classes médias estão a ser afectadas terrivelmente pela crise financeira. O problema do desemprego é premente e o desejo de emigrar enorme, como comprovam os dramas da emigração, clandestina ou não. As mulheres continuam a ser oprimidas, mas o grau das suas aspirações é cada vez maior. A existência de muitos emigrantes no estrangeiro favorece a entrada de ideias novas. Mas por seu lado, as camadas governantes são cada vez mais elitistas e fechadas, e os governos escolhidos por processos pouco democráticos (ou nada democráticos), com grande influência de potências exteriores, nomeadamente dos EUA e aliados, com relevo para Israel.

A questão religiosa identifica-se cada vez mais com os problemas globais, a nível nacional ou regional. Deste modo, crescem o fanatismo e o desejo de alcançar rapidamente mudanças drásticas no estado de coisas vigente. Mas ao mesmo tempo parece aumentar também o número de movimentos laicos desejosos de uma mudança. A história recente desta parte do mundo explica claramente porque é que estes movimentos, embora de natureza variada, aspiram a mais democracia, a melhorias na situação do povo, e a uma presença mais forte na cena internacional.

Repito: é espantoso que não se tenha previsto esta agitação. Essa falta de previsão tem contudo uma explicação óbvia: o enorme desdém do Ocidente (este nome ainda tem razão de ser?) e de todos os países desenvolvidos (incluindo a China e a Índia) pela vontade e pela situação em que vivem a maioria das populações árabes (e não só). Esse desdém está claramente na origem do esquecimento do facto elementar de que todos nós temos aspirações, e as populações árabes também. Até pelo seu passado histórico, estas desejam desempenhar outro papel no mundo. E, claro, ter uma vida com outra qualidade.

As perspectivas para o futuro estão cada vez mais complicadas. Os EUA, Israel, a União Europeia já mandaram recados sobre as fórmulas políticas que desejam ver implantadas nos países onde reina a agitação. Não notei se a China também o fez, mas é provável que sim. A conclusão que se impõe é a de que é tempo de os governantes do Egipto, da Tunísia, dos outros países, passarem a ser escolhidos pelos cidadãos dos respectivos países, sem restrições impostas pelas grandes potências, pelos negócios de petróleo ou pelo fanatismo religioso (islâmico, ou outro). Só se vai poder caminhar para um equilíbrio maior e melhor, ao nível regional e mundial. E ver as populações árabes (e não só) melhorarem o seu nível de vida, e ter mais participação na condução dos seus países.

 

 

publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por Luis Moreira às 12:05
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