Has dit que sóc poeta
Josep A. Vidal
Has dit que sóc poeta perquè saps que faig versos,
i sí, és cert, en faig. Consirós, cerco i lligo
els mots, l'un rere l'altre, i aixeco arquitectures
de mètrica insegura, maldestres i inconnexes,
amb rebles i artificis i retòrica abstrusa,
amb ritmes que coixegen i rimes vacil•lants.
Dogmàtics de la rima, matemàtics del metre,
buròcrates del ritme, acadèmics de res,
diran ínclits poetes, tot arrufant les celles
amb un gest de desdeny: "I és d'això, que en dius vers?"
Però, jo seguiré aplicant-me maldestre
a la feina obstinada de lligar mot amb mot,
i cercaré la rima com l'ocell cerca l'aire,
com l'arrel cerca l'aigua furgant en terra eixuta,
com cerca el riu el mar, com la pluja la terra,
com l'alè el moribund...
Com el meu cos el teu, jo assedegat de tu.
I em diré a mi mateix, una i altra vegada,
el nom de cada cosa com una lletania
per ordenar-me el món: la pedra, l'aigua, el foc,
el sol, la terra, l'aire... La vela al mar, la tarda...
I l'horitzó, tan lluny! –Una broma infinita,
la mar i el cel confosos, un rengle de muntanyes...
I el neguit incessant, la set insaciable...
Les pregoneses tèbies del teu si... La mirada
de l'infant, i les llàgrimes; les arrugues del vell,
i el pas del temps, i el buit... La tendresa, l'encís
del teu bes, i l'esclat del meu cos que s'afluixa
i es vessa en el teu cos, tremolós, que m'abraça...
La solitud, el plor, la cambra del malalt,
l'olor de resclosit, la tos, el ronc, l'esput,
la ranera impotent, els ulls esbatanats...
I el ventre afeixugat de la dona prenyada,
i els crits d'infants que juguen al celobert...
La suor del teu cos enganxada al meu cos,
i el teu alè i el meu fonent-se en la besada.
I l'instant que s'esmuny. I la mort, i l'absència...
Potser tenen raó i es soroll de xaranga,
però, no puc estar-me'n.
Els mots em fan present el temps inabastable,
cada instant que hem viscut,
el moment que s'esmuny entre els meus dits com l'aigua,
com la sorra i la pols; com un foc que s'apaga,
com l'infant que vaig ser
-aquell que cavalcava corsers imaginaris,
i encenia fogueres de fullaraca als vespres
i les veia apagar-se amb un estremiment-,
com la veu, com el bes, com la mirada...
Com la mà dels amics que he vist marxar per sempre
i el teu pas amb el meu al caient de la tarda.
Chamaste-me poeta...
Chamaste-me poeta, pois sabes que faço versos,
e, sim, é verdade que os faço. Com rigor, construo
e ligo as palavras, uma após outra, ergo arquitecturas
de insegura métrica, desconexas e trôpegas,
com desperdícios, artifícios e retórica abstrusa,
com ritmos que coxeiam e hesitantes rimas.
Dogmáticos da rima, matemáticos do metro,
burocratas do ritmo, académicos de coisa nenhuma,
dirão os ínclitos poetas, franzindo o cenho,
com um gesto de desdém: “É a isto que chamas versos?”
Porém, continuarei a entregar-me, trôpego, mas teimoso,
à ingente tarefa de ligar palavra com palavra,
procurando a rima como o pássaro procura os ares,
como a raiz procura a água escavando a terra enxuta,
como o rio demanda o mar e a chuva a terra,
e o moribundo o alento…
Como o meu corpo procura o teu, de ti sedento.
E, para mim mesmo, uma e outra vez direi
o nome de cada coisa, como uma litania
para ordenar o meu mundo: a pedra, a água, o fogo,
o sol, a terra, o ar…Uma vela aberta ao mar, a tarde…
E o horizonte, tão distante! Uma bruma infinita,
o mar e o céu confundindo-se, uma sucessão de montanhas…
E o anseio incessante, a insaciável sede…
A profunda quentura do teu seio…O olhar
do menino, as suas lágrimas; as rugas do velho,
a passagem do tempo, e o vazio… A ternura, o encanto
do teu beijo, e a explosão do meu corpo que se distende
e derrama no teu trémulo corpo que me abraça…
A solidão, o pranto, a cama do doente,
O bafo do quarto fechado, a tosse, o ronco, o escarro,
o estertor impotente, os olhos sem pálpebras…
E o ventre carregado da mulher grávida…
Os gritos das crianças brincando no pátio vizinho…
O suor do teu corpo colando-se ao meu corpo
e a tua respiração e a minha fundindo-se no beijo.
E o instante que foge. E a morte e a ausência…
Talvez tenham razão e seja o som da charanga,
mas é inevitável.
As palavras tornam presente o tempo inatingível,
Cada instante que vivemos,
o momento que se esvai como a água entre os meus dedos,
como o pó e a areia; como um fogo que se extingue,
a criança que já fui
- aquele que cavalgava imaginários corcéis,
e fazia fogueiras com as folhas secas,
vendo-as apagar-se com um estremecimento -,
como a voz, como o beijo, como o olhar…
Como a mão dos amigos que vi partir para sempre
e os teus passos com os meus ao cair da tarde.
(Versão portuguesa de Carlos Loures)
POEMA DE NATAL
Vinicius de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.