Segunda-feira, 21 de Março de 2011

Zona euro: uma organização deficiente por Júlio Marques Mota 3

Zona euro: uma organização deficiente

A zona euro teria podido ser menos atingida que os Estados Unidos ou que o Reino Unido pela crise financeira. Os sistemas financeiros nesta zona são mais arcaicos. As famílias estão na zona euro claramente menos envolvidas nos mercados financeiros. O euro teria podido ser um factor de protecção contra a crise financeira mundial. A taxa de câmbio fixa entre as moedas europeias eliminou um dos maiores factores da instabilidade. No entanto, não foi nada assim: a Europa foi mais duramente atingida e mais está prolongadamente afectada pela crise que o resto do mundo. Em 2010, o défice público global da zona euro (6% do PIB) é inferior ao dos Estados Unidos (11,%) ou ao do Reino Unido (10,5%). No entanto, praticamente todos os países da zona euro estão sob a pressão de Procedimento de défice excessivo. No entanto, ainda assim, os mercados continuam a especular contra certos países da zona, impondo-lhes taxas de juro insustentáveis, apesar da garantia do BCE e do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FESF).

 

Esta situação explica-se pelas próprias modalidades da União Monetária. As instâncias europeias estão centradas, desde a criação do euro, sobre o respeito do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) que devia impor aos países constrangimentos nas suas finanças públicas que não têm nenhum significado económico. Não foram capazes de impulsionar uma estratégia coerente na zona. Desde a criação do euro, os desequilíbrios aumentaram entre os países do Norte (Alemanha, Áustria, Países Baixos, países escandinavos), que contiveram os seus salários e as suas  procuras internas assim como acumularam excedentes externos, e os países do Sul (Espanha, Grécia, Irlanda), que conheciam um crescimento vigoroso, impulsionado por taxas de juro baixas relativamente à taxa de crescimento e que acumulavam défices externos.

De 1999 para 2007, os mercados não se preocuparam com o aumento das disparidades da taxa de inflação na zona. Em Junho de 2007, as taxas de juro a 10 anos iam de apenas de 4,5% na Alemanha a 4,65% para a Grécia e para a Itália.

Durante a crise, o forte aumento das dívidas e dos défices públicos não provocaram aumentos das taxas de juro de longo prazo à escala mundial, antes pelo contrário, estas baixaram, os mercados estimavam que as taxas monetárias (a curto prazo) continuariam a ser baixas e durante muito tempo, uma vez que a depressão era tal que não havia risco de inflação ou de sobreaquecimento.

A partir daí, a partir de meados de 2008, os mercados deram-se conta de uma falha na organização da zona euro. Enquanto que os governos dos outros países desenvolvidos não podem declarar-se em situação de falência porque podem sempre ser financiados pelo seu Banco Central, se necessário pela criação monetária, os países da zona euro renunciaram a esta possibilidade. O BCE está proibido de refinanciar os Estados e o artigo 125 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia proíbe a solidariedade financeira entre os Estados-Membros. De imediato, o financiamento dos países da zona euro depende dos mercados financeiros e isto não está assegurado. A especulação pôde desencadear-se sobre aos países mais frágeis da zona: Grécia, Espanha, Irlanda, os países que tinham conhecido um forte crescimento antes da crise, mas que deviam alterar o seu modelo de crescimento. A crise financeira é transformada numa crise da zona euro.

O desenvolvimento da especulação sobre a dívida dos países desenvolvidos é paradoxal e perigoso. Desde 1945, nenhum país desenvolvido ficou numa situação de não cumprimento sobre a sua dívida pública. Os mercados especulam sobre um risco que nunca se materializou. Certamente, a situação alterou-se, dado que a independência dos bancos centrais (e em especial do BCE) poderia conduzir a situações inéditas onde o Banco central recusaria vir em socorro do Estado do seu país em dificuldade. Mas esta situação nunca se produziu; a crise de 2007-2008 tem, pelo contrário, mostrado a capacidade dos Bancos centrais em intervir em caso de perigo. Como imaginar que um Banco central não intervenha para socorrer o seu país, como o fez para salvar os bancos?

publicado por Luis Moreira às 23:00
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Quarta-feira, 2 de Fevereiro de 2011

Trabalhar mais, para ganhar o quê? - por Robert Castel

 

 

No momento em que a escassez de empregos é sabiamente mantida, onde a precariedade ganha o terreno e onde, trivialmente, o trabalho se reduz a um custo, o sociólogo Castel interroga-se sobre a justificação do seu sacrossanto “valor” tanto em voga e ao gosto da direita, com se mostra com a eleição do candidato Sarkozy.

Desde há uma dezena de anos que se tem estado a produzir uma transformação considerável e inesperada na representação da função e na importância do trabalho na sociedade francesa. Em meados dos anos 1990 floresciam os discursos sobre o trabalho " valor em via de desaparecimento" , ou mesmo sobre o " fim do trabalho". Traduziam a opinião - errada mas na moda - que o trabalho perdia a sua importância como pedestal privilegiado da inserção dos indivíduos na sociedade.

Paralelamente, o debate público era animado por reflexões mais sérias sobre a possibilidade de lutar contra o desemprego reduzindo a duração do trabalho a fim de melhor reparti-lo. Reflexões mais sérias porque o pleno emprego não se mede pela duração do trabalho, nem a sua produtividade pelo tempo passado a trabalhar. Não é por conseguinte insensato pensar que, no âmbito de uma melhor organização do trabalho, tendo em conta os ganhos de produtividade e os progressos tecnológicos, se poderia trabalhar menos trabalhando melhor, como o atesta a história do capitalismo industrial.

Qualquer que seja a sua pertinência, estes debates desapareceram completamente da cena pública. Assiste-se, pelo contrário, a uma extraordinária sobrevalorização do trabalho feita através de uma ideologia liberal agressiva que encontra a sua tradução política directa nas orientações da actual maioria, com o presidente da República à cabeça. A virulência da crítica às leis ditas " Aubry" sobre a redução do tempo de trabalho após a mudança de maioria em 2002 roçou, por vezes, a histeria. " A França não deve ser um parque de divertimentos" , declarava durante o verão de 2003 Jean-Pierre Raffarin, então primeiro ministro. A França tornou-se a lanterna vermelha da Europa, ela atola-se no declínio porque os Franceses não trabalham bastante: a campanha presidencial foi dominada por esta apologia do trabalho, e a habilidade com a qual Nicolas Sarkozy a orquestrou foi, para muitos, a razão do seu sucesso.

Todos se lembram dos slogans que incitam ao trabalho, e que trazem consigo a promessa que trabalhar mais é, ao mesmo tempo, o meio para melhorar o seu poder de compra e também o meio para realizar o seu dever de cidadão e ajudar a França a reencontrar o lugar que merece no concerto das nações. Isto, evidentemente, para todos os que querem bem trabalhar, que têm a coragem para tal. Esta celebração do trabalho com efeito é acompanhada da estigmatização de todos os que não trabalham. É a suspeita que pesa sobre os desempregados de serem " desempregados por vontade própria" , sobre os quais se vai multiplicar os controlos e as pressões para que aceitem todo e qualquer emprego. É também a condenação dos " assistidos" , como os beneficiários do RMI, acusados de serem parasitas que vivem às custas da França que se levanta cedo.

Estas posições, de resto populares, poderiam parecer se não aberrantes, pelo menos paradoxais, dado que uma das características da situação actual está precisamente no facto de que o trabalho falta e que o pleno emprego já não se assegura mais, desde há trinta anos. Contudo, é neste contexto que o estímulo incondicional ao trabalho assume todo o seu verdadeiro sentido.

É necessário com efeito pensar em conjunto as três componente da situação presente: primeiramente, há o não-emprego, isto é uma escassez de postos de trabalho disponíveis sobre o mercado de trabalho susceptíveis de assegurar o pleno-emprego; deuxio, há uma sobrevalorização de trabalho de que resulta, com efeito, um imperativo categórico, uma exigência absoluta de trabalhar para ser socialmente respeitável; em terceiro lugar, existe esta estigmatização do não-trabalho assimilado à ociosidade culpada, à figura tradicional do " mau pobre" vivendo às custas dos que trabalham.

Estas três dimensões funcionam de uma maneira complementar para impulsionar uma política que pode conduzir à actividade plena sem que isso signifique o regresso ao pleno emprego Todos devem e poderiam trabalhar se se baixa o limiar de exigência que comanda o acesso ao trabalho. É necessário por conseguinte trabalhar ainda que o trabalho não assegure as condições mínimas de uma certa independência económica. É assim que o cidadão se transforma em " trabalhador pobre" , figura que está em vias de ganhar raízes na nossa paisagem social. De modo nenhum é conveniente ou gratificante ser,  um " trabalhador pobre", qualquer que seja o ponto de vista. Contudo é melhor que ser um " mau pobre" , um miserável parasita assistido.

Desenha-se assim uma estratégia que, no limite, poderia reabsorver o desemprego ganhando progressivamente terreno através da multiplicação de formas degradadas de trabalhar. Poder-se-ia assim restaurar uma sociedade de actividade plena (palavra de ordem da OCDE) sem que se possa falar de sociedade de pleno emprego, se se entende- por emprego um trabalho relativamente seguro da sua duração (superioridade do CDI), firmemente enquadrado pelo direito do trabalho e coberto pela protecção social. O processo está em curso. De contratos ajudados em serviços pontuais à pessoa passando pela aumento rápido das formas ditas " atípicas" de empregos que representam hoje mais de 70% das contratações, põe-se em prática uma larga gama de actividades que institucionalizam a precariedade como um regime de cruzeiro no mundo do trabalho. A insegurança social está de regresso, e um número crescente de trabalhadores vive de novo " diariamente a jornada" , como se dizia antigamente.

O novo regime do capitalismo que se instala desde há trinta anos após a saída do capitalismo industrial não está em condições de assegurar o pleno-emprego. A prova: a existência de um desemprego de massa e a precarização das relações de trabalho. Mas não é isto que ele visa, e os que o realizam atiram-se pelo contrário ao estatuto do emprego denunciando os custos que este representa e os obstáculos que põe ao livre desenvolvimento da concorrência a nível do planeta.

Em contrapartida, este capitalismo pretende alcançar a actividade plena para maximizar a produção das riquezas, que continua a depender do trabalho. A China oferece neste momento o exemplo de um fantástico desenvolvimento económico em grande parte devido ao facto do custo do trabalho aí ser muito baixo, porque as garantias ligadas ao emprego estão raramente associadas às actividades que se exercem livremente.

Não estamos na China, mas a França está empenhada numa dinâmica de subida de importância em diferentes tipos de actividades, aquém do pleno emprego. Estas formas de sub emprego são geralmente pouco atractivas e elas não asseguram as condições de base necessárias para ter uma vida decente. Concebe-se por conseguinte que pressões se devem exercer para fazer aceitar estas formas de trabalho: é necessário absolutamente que trabalhes para escapar ao desprezo que está ligado ao mau pobre. É finalmente tanto sobre uma chantagem de ordem moral como sobre um raciocínio económico que assenta a orquestração actual da incondicionalidade do valor trabalho pelas autoridades que nos governam.

É necessário continuar a defender o valor trabalho, porque ainda não se encontrou alternativa consistente ao trabalho para assegurar a independência económica e o reconhecimento social numa sociedade moderna. Mas também é necessário lembrar que há trabalho e trabalho. O trabalho é essencial como apoio da identidade da pessoa através dos recursos económicos e dos direitos sociais a que dá acesso. Pelo contrário, a instituição de formas degradadas de emprego em nome da exigência de trabalhar custe o que custar e a ganhar seja o que for, tem conduzido também à degradação do estatuto de trabalhador e, finalmente, à degradação da qualidade de cidadão. Não basta " reabilitar o trabalho" , como se propõe fazê-lo o presidente da República: seria necessário respeitar a dignidade dos trabalhadores.

(Fonte: Robert Castel, Travailler plus, pour gagner quoi?,Le Monde, 9 de Julho de 2008)

A seguir: Depois da crise, que revoluções? - por Jean-Claude Milner

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira às 15:18
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Terça-feira, 4 de Janeiro de 2011

Educação: Ainda as boas escolas

Desta vez é a Professora da Universidade de Coimbra, Helena Freitas, que coloca questões muito pertinentes quanto à qualidade das escolas públicas ( estatais e privadas). (Público 29 /12/2010)

 

"A situação obriga à ponderação dos valores que nos podem fazer crescer enquanto sociedade".

 

"Não valerá a pena avaliar e reflectir sobre os modelos de organização e gestão que permitem às escolas privadas um tal sucesso'"?

 

Assumindo que frequentou escolas públicas e que optou para a sua filha por uma escola privada, Helena Freitas, reconhece merecimento tanto na sua escola como na escola que a filha frequenta, sendo redutor analisar a questão da qualidade ao facto das escolas serem estatais ou privadas. O que mereceu atenção na opção foram os padrões de exigência, rigor e qualidade de ensino. Há, na discussão pública que se tem desenrolado, um claro estigma em relação à escola privada - porventura mais acentuado se se tratar de escola conotada com a Igreja Católica - como se fosse  um usurpador do erário público, subentendendo-se que apenas as escolas estatais têm legitimidade para terem o apoio financeiro do Estado.

 

Está assim, centrado o debate, não na qualidade do ensino ministrado, mas na dicotomia público versus privado, o que é injusto para ambas as partes. Para além das questões que se observaram quando o estado necessitou da colaboração das escolas privadas para prestar o serviço a que é obrigado, não pode a meio do caminho dar por finda essa colaboração sem atender aos interesses de todos os agentes envolvidos (alunos, professores, famílias...) ou limitar uma colaboração que se revelou de grande eficácia.

 

Acresce que os números conhecidos são favoráveis à escola privada no que diz respeito ao custo por aluno e os rankings das escolas, ao fim de dez anos comparáveis, mostram a evidência das melhores classificações serem ocupadas, sistematicamente, por escolas privadas.  Não parece essencial discutir se efectivamente "haverá maior eficácia na gestão destas escolas privadas? Não valerá a pena avaliar e reflectir sobre os modelos de organização e gestão que permitem a estas escolas um tal sucesso"?"

 

"Aproveite-se, pois, para reflectir sobre os casos de sucesso do ensino público leccionado nessas escolas de gestão privada, na qualidade do ensino aí leccionado e nos resultados obtidos.Esta informação é do domínio público e reflecte um trabalho notável na promoção da qualidade do ensino público em Portugal, que deve ser tido em conta num processo de avaliação e revisão da colaboração que tem vigorado".

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Sexta-feira, 14 de Maio de 2010

A importância da contradição nas organizações do futuro

António Mão de Ferro


Será possível que o homem e a mulher encontrem o tão ambicionado equilíbrio entre segurança e aventura? A inquietação do homem e da mulher sempre existiram. Hoje, mais do que nunca, é preciso encontrar condições que ajudem a suprir ou atenuar a sua intranquilidade e o stress que isso lhes causa, permitindo-lhes que se afirmem sem restrições. Tarefa difícil, se se tiver em conta que o ser humano gosta de agredir e dificilmente se concebe que consiga viver num mundo, onde “todos se amem uns aos outros” sem rivalidades.

Virá o primitivo do homem e da mulher ao de cima em determinadas situações, evidenciando as suas características de batoteiros? Por um lado estabelecem leis, por outro procuram escapes inocentes ou não, para as trapacear. Existirá um desejo secreto de substituir a segurança pela glória e aventura?

Quando se conseguir encontrar um meio que permita ao ser humano assegurar a tranquilidade e a paz, será uma monotonia. Encontrar um equilíbrio no quadro de um grau de segurança essencial para a vida em sociedade, com possibilidade de aventura e contestação compatíveis com o mundo civilizado, é o grande desafio a vencer pelos gestores das empresas. É importante que partindo do adquirido se recrie o existente, se valorize e reconheça a cultura da organização, mas que se evite que as regras se constituam como o principal obstáculo a ultrapassar e não permitam rasgos individuais dos colaboradores, que não se sujeitam ao rebanho.

As organizações do futuro só conseguirão responder aos desafios, se conseguirem criar espaços que permitam que o ser humano manifeste as suas contradições, possibilitando a existência de génios e os seus rasgos individuais e consigam materializar os seus efeitos, nos resultados da comunidade de trabalho, tal como acontece numa bem sucedida equipa de futebol
publicado por Carlos Loures às 18:00
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