«Orfeu e Eurídice» junta poesia e pintura
Do encontro de Graça Morais com Sophia de Mello Breyner, nasceu um livro «Orfeu e Eurídice» com 18 poemas de Sophia, cinco deles inéditos, e 18 pinturas de Graça Morais.
Eurydice perdida que no cheiro
E nas vozes do mar procura Orpheu:
Ausência que povoa terra e céu
E cobre de silêncio o mundo inteiro.
Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era o meu
O meu rosto secreto e verdadeiro.
Porém nem nas marés, nem na miragem
Eu te encontrei. Erguia-se somente
O rosto liso e puro da paisagem.
E devagar tornei-me transparente
Como morte nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente.
Ainda inspirado por este mito sugiram, entre outras, as seguintes obras:
Na literatura
Apollinaire - Bestiaire ou la Suite d’Orphée (1911).
Anouilh - Eurydice (1941)
Rainer Maria Rilke - Sonnets a Orpheus (1923)
No cinema
Jean Cocteau - Orphée ( 1950 )
Na música
Monteverdi – Orfeo ( 607)
Franz List – Orphée (1853-54)
Stravinsky - ballet Orpheus (1948)
Federico Cervelli (1625 – 1700), "Orfeo ed Euridice"
Fondazione Querini-Stampalia, Venezia (Italia)
O mito de Orfeu e Eurídice inspirou muitos outros autores, poetas e escritores e músicos. Deixo alguns exemplos.
A MORTE DE ORFEU
"Em vão as bacantes da Trácia procuram
consolá-lo. Mas Orfeu, fiel ao amor de
Eurídice, encarcerada no Averno, repeliu
o amor de todas as outras mulheres.
E estas, despeitadas, esquartejaram-no."
Houve gemidos no Ebro e no arvoredo,
Horror nas feras, pranto no rochedo;
E fugiras as Mênadas, de medo,
Espantadas da própria maldição.
Luz da Grécia, pontífice de Apolo,
Orfeu, despedaçada a lira ao colo,
A carne rota ensangüentando o solo,
Tombou... E abriu-se em músicas o chão...
A boca ansiosa em nome disse, um grito,
Rolando em beijos pelo nome dito;
"Eurídice", e expirou... Assim Orfeu,
No último canto, no supremo brado,
Pelo ódio das mulheres trucidado,
Chorando o amor de uma mulher, morreu...
Olavo Bilac
Orfeu é um personagem de um mito descrito de maneiras diferentes por poetas e vulgarizado em muitas lendas. Destaca-se como o músico por excelência, o que acalma as tempestades, encanta os animais, os homens e os deuses. Graças a esta magia da música, consegue obter dos deuses a libertação da sua esposa Eurídice, morta por uma serpente, quando fugia das tentativas sedutoras de Aristéo. Orfeu não consegue cumprir a condição imposta – a de não se voltar para trás e olhar Euridice, o que provoca o desaparecimento desta. Inconsolável, acaba os seus dias afastado das mulheres cujo amor desdenhava.
Orfeu é considerado o sedutor em todos os níveis do cosmo e do psiquismo. Há quem o veja como o símbolo do lutador que não é capaz de derrotar definitivamente o mal e que morre ele próprio vítima da sua própria insuficiência. Num plano mais superior representará a prossecução de um ideal que não se chega a atingir porque na verdade não se renunciou à vaidade e desejos vários. Assim, simbolizaria a falta de força da alma. Orfeu não consegue escapar à contradição entre as suas aspirações de atingir o sublime e a banalidade da vida e acaba por morrer não tendo tido a coragem de fazer uma escolha.
Esta história foi tema da ópera mais antiga registada, a de Euridice, de Jacopo Peri ( 1561-1633), compositor e cantor italiano do período de transição entre os estilos renascentista e barroco, e que é frequentemente considerado o inventor da ópera, com Dafne (cerca de 1597), e também a primeira ópera que sobreviveu até aos nossos dias, Euridice (1600).
Poucos anos mais tarde, este tema voltou a ser inspiração de uma outra ópera “L'Orfeo”, composta por Claudio Monteverdi sobre libreto de Alessandro Striggio.
Christoph Willibald Gluck (1714 -1787), compositor musical alemão, é visto como um dos compositores mais importantes da ópera da Era Clássica, e recordado particularmente pela ópera, Orfeu e Euridice. Gluck e seu libretista, Calzabigi, transformaram essa lenda na base de uma obra que almejava mais do que servir apenas de entretenimento, pretendendo ser um novo ideal operático. Gluck procurou reformular a encenação da ópera com uma visionária e consistente união de música, poesia e dança.
Esta obra, com sua música de irresistível e transcendente beleza, ajudou a expandir a ideia da potencial teatral de uma ópera. Mozart e Wagner encontram-se entre os sucessores de Gluck que admitiram abertamente suas influências.
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