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Charles Oliver Hinton & Minnie Ann Oliver North 1893 (foto de casamento) -- Tawas City, Iosco County, Michigan, EUA |
Carla Romualdo
Há uns tempos descobri na internet um livro que me pareceu de grande interesse: “Histórias Verdadeiras de Noivas por Correspondência na Fronteira” (“Hearts West: True Stores of Mail-Order Brides on the Frontier”, lançado em 2005, nos Estados Unidos, e da autoria de Chris Enss.
Não estivesse eu a atravessar uma cura de desintoxicação da compra compulsiva de livros e já me tinha posto a fazer contas ao câmbio do dólar para mandá-lo vir. Sendo assim, resigno-me apenas a imaginá-lo. A resenha que li interessou-me: histórias reais de casamentos acordados por correspondência no velho Oeste americano. E, ao que parece, há lá de tudo: casamentos felizes que duraram décadas mas também desilusões que levaram a moça a regressar ao fim de uma hora com o seu prometido.
Imaginem-se, caros leitores masculinos, algures no selvagem Oeste, garimpeiros sujos e solitários, à espera do golpe de sorte que vos vai fazer descobrir o Eldorado. Quando regressam para o vosso pardieiro, já noite escura, encontram quatro paredes frias e manchadas pelo fumo do tabaco, uma caçarola suja, ainda com a crosta da refeição anterior, uma cama gelada na qual nem as ceroulas de lã vos impedirão de tiritar. E para quê tanto esforço árduo se, ainda que venham a fazer fortuna, não terão com quem partilhá-la? Que fariam, amigos leitores, num cenário destes?
Sentavam-se à luz de um coto de vela e garatujavam um anúncio. “Mineiro solitário e honesto, com boas perspectivas, procura esposa para partilhar fortuna”. E depois era esperar pelas respostas e concertar os encontros que poderiam mudar a vossa vida para sempre.
E com a chegada das noivas por correspondência, as cidades enlameadas do Oeste começaram, pouco a pouco, a mudar. Para além dos bares e dos bordéis que já existiam (ninguém disse que não havia mulheres por lá, apenas faltavam “esposas”), construíram-se casas familiares, escolas, teatros, bibliotecas, lojas, igrejas. A civilização, tal como a conhecemos. Para a maioria, o El Dorado nunca apareceu mas a vida dos garimpeiros adoçou-se bastante.
Tal método de casamento parece irracional à luz dos nossos valores actuais? Desumano? Um acordo comercial despojado de romantismo? Meus amigos, se dizem isso é porque não assistiram a um divórcio feio. Aposto que nenhum dos casamentos feitos naquelas circunstâncias e que tenha acabado mal teve um final tão feio como os casamentos em que a paixão deu lugar ao ódio. Aqueles em que as pessoas sabem demasiado bem o que fazer e dizer para magoar o outro e não se inibem de fazê-lo até à saciedade.
Leio regularmente e com o maior dos interesses a secção dos classificados de jornal normalmente designada como “Outros” e na qual cabem coisas tão díspares como a venda de uma auto-grua de lança telescópica ou o anúncio do homem de ciência que procura um sócio capitalista para desenvolver uma tecnologia de leitura das auras que permitirá conhecer a resposta a todos os mistérios que atormentam a Humanidade desde que esta surgiu sobre a face da Terra.
É nessas páginas que normalmente se publicam os anúncios que levam por título “Cavalheiro”, e nos quais os ditos cavalheiros, habitualmente maiores de 60 anos e quase invariavelmente “com situação económica estável” procuram senhoras de idade semelhante, sem vícios nem compromissos, para relação séria. São os nossos garimpeiros de hoje, estes a quem talvez as paixões já tenham oferecido uns quantos fracassos amorosos, e que se resignaram a confiar no acaso, e a esperar a esposa que lhes toque na rifa e venha, com mão suave e decidida, bater-lhes à porta de solitários empedernidos.