No passado dia 8 de Março celebrou-se o Dia Internacional da Mulher. Os dias ou anos internacionais não são, em geral, celebrações. São, pelo contrário, modos de assinalar que há pouco para celebrar e muito para denunciar e transformar. Não há natureza humana assexuada; há homens e mulheres.
Falar de natureza humana sem falar na diferença sexual é ocultar que a “metade” das mulheres vale menos que a dos homens. Sob formas que variam consoante o tempo e o lugar, as mulheres têm sido consideradas como seres cuja humanidade é problemática (mais perigosa ou menos capaz) quando comparada com a dos homens. À dominação sexual que este preconceito gera chamamos patriarcado e ao senso comum que o alimenta e reproduz, cultura patriarcal. A persistência histórica desta cultura é tão forte que mesmo nas regiões do mundo em que ela foi oficialmente superada pela consagração constitucional da igualdade sexual, as práticas quotidianas das instituições e das relações sociais continuam a reproduzir o preconceito e a desigualdade. Ser feminista hoje significa reconhecer que tal discriminação existe e é injusta e desejar activamente que ela seja eliminada. Nas actuais condições históricas, falar de natureza humana como se ela fosse sexualmente indiferente, seja no plano filosófico seja no plano político, é pactuar com o patriarcado.A cultura patriarcal vem de longe e atravessa tanto a cultura ocidental como as culturas africanas, indígenas e islâmicas.
Para Aristóteles, a mulher é um homem mutilado e para São Tomás de Aquino, sendo o homem o elemento activo da procriação, o nascimento de uma mulher é sinal da debilidade do procriador. Esta cultura, ancorada por vezes em textos sagrados (Bíblia e Corão), tem estado sempre ao serviço da economia política dominante que, nos tempos modernos, tem sido o capitalismo e o colonialismo.
3.ª Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque
A Situação das Mulheres e das Crianças
no Iraque Ocupado
Lisboa, 26 Março 2011, 15h30
Associação 25 de Abril (Rua da Misericórdia, 95)
IRAQUE. 8 anos depois
Programa
Abertura da sessão
Apresentação do grupo de jurado
Intervenção inicial:
Iraque. 8 anos depois
, por Eduardo Maia Costa, jurista
Depoimento:
A situação das mulheres e das crianças no Iraque ocupado
, por
Haifa Zangana, escritora e activista iraquiana
Deliberação do grupo de jurados
Jurados
(membros confi
rmados)
Alípio de Freitas (professor)
Ana Benavente (ex-SE Educação, ex-deputada)
Ana Gaspar (professora, Sindicato Professores Grande Lisboa)
Diana Andringa (jornalista)
Eduarda Dionísio (professora)
Fernanda Mestrinho (jurista, jornalista, Ass. Port. de Mulheres Juristas)
Helena Carrilho (advogada, CGTP)
Isabel do Carmo (médica)
Isabel Lourenço (tradutora)
João Loff Barreto (advogado)
José Charters Monteiro (arquitecto)
José Gonçalves da Costa (juiz-conselheiro jubilado do STJ)
Jorge Figueiredo (economista)
Judite Almeida (professora, Sindicato Professores Norte)
Luanda Cozetti (cantora)
Margarida Vieira (Associação Abril)
Maria José Morgado (magistrada, Procuradora-Geral Adjunta)
Natacha Amaro (Movimento Democrático de Mulheres)
Regina Marques (Movimento Democrático de Mulheres
Extractos do depoimento de Haifa Zangana
Num passado recente as mulheres iraquianas eram das mais
emancipadas da região, com um elevado nível de educação e presentes em
todas as esferas da vida profissional, onde desempenharam um papel activo e
contribuíram para o progresso da sociedade. Hoje, estão empurradas para um
canto, apertadas entre o esforço de sobreviver à destruição provocada pela
guerra e as políticas feudais e sectárias (em nome da religião) promovidas pela
classe política instalada no poder desde 2003.
Um fenómeno novo no Iraque é o casamento temporário. Um homem
casa com uma mulher na presença de uma figura religiosa e especifica por
quanto tempo vai durar o casamento, podendo ir desde algumas horas até
muitos anos. É um contrato a termo, onde um homem paga a uma mulher um
pequeno dote. A maioria das mulheres que aceitam casamentos temporários
fazem-no apenas por necessidades materiais. Esta prática é vista como uma
forma de prostituição religiosa.
O deputado Mohamed al Dainy declarou, em 2007, que houve 190
queixas feitas por mulheres contra as forças de segurança e de defesa
iraquianas por agressões sexuais. Nenhum procedimento adequado foi
seguido para punir os agressores e evitar que tais crimes sejam repetidos. Este
número é apenas a ponta de um iceberg.
Um relatório da UNICEF de Abril 2008 indicou que 1 500 crianças
estavam sob custódia das forças oficiais iraquianas e dos EUA. Em
alguns casos, são mantidas presas no mesmo espaço dos adultos, expondo-as
a mais riscos de agressão e abuso. Relatórios dos meios de comunicação sobre
a prisão para crianças de Al Karkh revelam uma longa lista de maus tratos,
abusos e violações.
Testemunhos de tortura relatados pela AI ao longo de anos incluem
violação e ameaça de violação, espancamentos com cordas e mangueiras,
choques eléctricos, suspensão pelos membros, perfuração do corpo com
berbequins, asfixia com sacos e plástico, e quebra de membros
Os ocupantes culpam os “insurgentes” da morte de civis,
especialmente mulheres e crianças. Mas um estudo recente de
investigadores britânicos e suíços, com dados fornecidos pelo grupo de direitos
humanos Iraq Body Count, descobriu que, de Março 2003 a Março 2008, a
maior parte das mortes de mulheres e de crianças, entre os civis mortos por
certos tipos de armas, foi provocada pelas “forças da coligação”, em particular
por ataques aéreos das forças de ocupação.
Em 2006/7 crianças de Bagdad e dos arredores tinham de passar
sobre cadáveres no caminho para a escola. Viram corpos serem comidos
por cães vadios. Recolheres obrigatórios repentinos e explosões de violência
afectam as crianças, que têm de viver passando de um grande trauma para o
seguinte. Muitas crianças têm de suportar o abandono da casa, a separação
dos seus amigos e do meio que lhes é familiar para enfrentarem um futuro
incerto como ‘refugiados’ sem rendimentos ou apoio adequado.
Calcula-se que 43% dos iraquianos vivem numa pobreza abjecta. As
crianças são nestes casos postas a trabalhar em vez de irem à escola, outras
tornam-se pedintes nos locais públicos e nos mercados. Estas crianças
trabalham longas horas e não têm nenhuma protecção contra a exploração e
os abusos. Nenhuma protecção contra a exposição a doenças sociais como a
prostituição infantil e o uso de drogas. Este problema particular é
especialmente agudo para as crianças ‘refugiadas’ nos países vizinhos do
Iraque.
MEMÓRIAS DE PADRES INTERESADOS - ENSAIO DE ETNOPSICOLOGIA DE LA INFANCIA
(Continuação)
Muchas veces los hijos jóvenes, olvidan de que el adulto mayor no es un adulto viejo, es sólo más viejo que ellos, que, en estos días, no es ningún escándalo. Especialmente si nuestra mente está entrenada para pensar, escribir, enseñar, asociar ideas e investigar nuevas hipótesis. Somos los intelectuales los que más duramos. Nuestra madre estaba formada en matemáticas y lenguas, pero su mayor trabajo siempre fue administrar una casa con mucha familia y servidumbre[171], como he narrado en otro libro mío. Nuestras hijas, que pertenecen a otra cultura, piensan siempre que no somos capaces de organizar nuestras obligaciones y quieren que vivamos como ellos viven, forma de vida fundamentalmente diferente a las nuestras. Necesitamos de nuevos libros, de distracciones en filmes en DVD, música en CD y otras harturas que ellos aún no acumulan. Creo que el secreto está en ganar el respeto de nuestros descendientes desde su edad más tierna, sin desviarnos un milímetro de nuestra ética, para no ser culpados de no saber el todo y la nada de la vida. Es apenas una idea.
Iba quedando atrás una idea, que mi mente de investigador no descansa si no la entiende ya. ¿Por qué en Chile la Navidad es también llamada Pascua, si la Pascua es, en Europa, ese origen de la hoy América del Norte y de la América Latina, Pascua es la conmemoración de la muerte y resurrección del denominado verbo encarnado, Cristo? Parece que la Navidad es llamada Pascua, en Chile, por causa de una flor que nace en esa época[172]. La flor es llamada Pascua en la Cordillera de los Andes, y en Chile es también llamada Corona del Inca[173]
Gloria, mi mujer, nuestra hijas Camila y Eugenia, sus maridos y descendientes, ya pueden saber en qué país de luchadores anda este papá, marido y abuelo. Es mi orgullo contar la Historia de Portugal a otros, porque, en mi caso, la sé de memoria. Nuestra reivindicatoria Camila ya tiene una base de apoyo para sus luchas y para consolarse, ella e Felix Ilsley, nuestro yerno, de lutos temporarios, que es el propósito de este texto. No deseo, ni por eso, que nuestra hija pase a ser como esa hermana de nuestra madre, su abuela paterna Florentina Maria Redondo de Iturra, nuestra tía Ana Luisa, que lloró a su primera hija que nació y falleció de inmediato, Pilar, que tiene una tumba especial y que la tías ha llorado siempre. Ni por el caso de haber tenido más cinco hijos después, se consoló de la pérdida de Maria del Pilar, o Pilarcita como todos la llamaban. Es claro como el agua para mi, que una madre sufre por un hijo perdido, porque los hijos somos para entrar en la eternidad mucho después de nuestros padres, y mucho más, que la entrada en la eternidad de los abuelos. Es evidente que el dolor de nuestros descendientes es grande, porque hasta los abuelos perdemos a Ben. Puede ser que siempre lo recuerde, pero, como dice mi comadre Mariana Giacaman Valle y mi hermana Blanquita, o cortamos el luto, otro tipo de cordón umbilical, o nos sería imposible nunca criar a los hijos que, estoy muy seguro, vendrán después.
Passavam o dia a fazer e a desfazer as curtas trancinhas que lhes enchiam a cabeça toda e eu não entendia nada do que elas diziam. Pareciam de outro país e não me ligavam nenhuma.
Com o meu espanto de miúda, não percebia quem elas eram, tão diferentes de toda a gente que conhecia. Nunca tinha visto ninguém com aquele aspecto. Não era por serem pretas – e elas eram mesmo muito pretas – porque eu já estava farta de ver pessoas com a cor da pele diferente da minha. Mas aquelas tinham uma roupa diferente e, sobretudo, achava estranhíssimo haver quem passasse os dias a pentear-se e a despentear-se. E os meus olhos abertos, ficavam parados nelas, assim como sempre ficam os olhos das crianças quando se deparam com acções estranhas que não percebem.
Disseram-me que eram da Guiné.
Ainda não havia guerra mas aquele hospital chamava-se “do Ultramar” e era para lá que vinha tratar-se toda a gente dessas zonas do mundo que eu não fazia a menor ideia que eram colónias. Sabia lá eu, com aquela idade, o que eram colónias!
E, devido a essa estranheza, pouca gente falava comigo. As enfermeiras tinham mais que fazer. Só me restava o João, o miúdo de Angola que queria os meus bolos.
Quem me ia visitar, enchia-me de bolos, mas eu não gostava de bolos. Queria era os livros de histórias que se esqueciam de levar. E aí ficava eu enjoada só de olhar para aquelas desprezíveis coisas que desejava que tivessem levado de volta. Quem as comia era o João. Mas, primeiro, tinha que ir à rua ver se a minha mãe já lá vinha. E ela, às vezes, não vinha porque as minhas irmãs ainda eram mais pequenas do que eu e tinha que tratar delas.
O João comia os bolos na mesma. E eu, para me vingar, cantava em altos berros “A Rosinha dos Limões”, enquanto as mulheres da Guiné faziam e desfaziam as trancinhas e falavam continuamente naquela incompreensível língua.
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