Mubarak resignou numa comissão constituída por militares e políticos quanto se pode perceber pelas notícias que pode acompanhar na Aljazeera .
Manter-se em funções até Setembro é tão só uma estratégia para ganhar tempo. Os últimos acontecimentos, com o aparecimento de grupos organizados de "apoiantes" de Mubarak mostra que é preciso estender o tempo, sacudir a pressão de países estrangeiros para quem Mubarak já não serve e, assim, conseguir fazer a transição liderando-a e deixar os próximos nos lugares de decisão.
A neutralidade dos militares vai tender a desaparecer, é da sua natureza, mais tarde ou mais cedo vão refugiar-se na hierarquia e, no topo, o que temos sempre são generais que têm muito a perder com a mudança, ainda por cima, democrática e com a "populaça" e o "poder a cair na rua". Curiosamente, foi também assim que no nosso 25 de Abril foi jogada a última cartada, Marcelo Caetano ao exigir entregar o poder a um oficial general, com o mesmo argumento de "o poder não cair na rua" deu íncio a todas as movimentações que tivemos no ano de brasa de 1975. Não foi sem surpresa que se viu Spínola nessa noite na televisão, o combinado era o capitão Salgueiro Maia no terreno e, Otelo na Pontinha, resolverem a questão de imediato.
Na Argélia, o presidente fugiu o que resolveu parte importante do problema, pese embora os extremistas religiosos logo se fazerem anunciar o que, as mulheres argelinas, as que conseguiram melhores e mais conquistas no mundo árabe, se apressaram a enxotar. Mas, no Cairo, o tempo está contra a democracia, um governo fantoche está em funções e se os militares deixarem a neutralidade, então os principais ingredientes estarão juntos para que a "normalidade" volte. É um perigo muito sério!
Os "apoiantes" de Mubarak, assassinos soltos das prisões e mercenários armados, logo se encarregaram de matar gente numa tentativa , conseguida, de "esfriar" o entusiasmo do povo generoso mas sem organização e sem os mesmos meios de ataque e de defesa. Em Alexandria, estes mercenários misturaram-se fardados ( o que e quem pode impedir estes mercenários de se fardarem como militares?) e, assim, dar o "toque" de violência necessário como convite à movimentação das forças militares e policiais.
Israel, já veio em socorro de Mubarak, apoiando o "moderado" que lhe convém, um Egipto de 84 milhões de pessoas com o maior exército em efectivos daquela zona, e que é um elemento dissuasor junto dos países irmãos no confronto com a nação Judaica.
Fixar uma data para a saída do ditador foi um golpe de mestre, é o verdadeiro dia D, Mubarak sai ou alguém o vai tirar da cadeira onde se senta contra a vontade do povo! Entretanto, os alvos começam a ser mais específicos como mostra a prisão e morte de jornalistas, o silenciar de outros e dos meios de comunicação, como as redes sociais.
Fiquem com a Aljazeera em directo.
Bigene
Bigene, no norte da Guiné, perto da fronteira do Senegal, foi a minha segunda e definitiva estadia. Como disse em artigo anterior, uma Dornier fora buscar-me a Canquelifá, trazendo-me para Bigene, onde a última companhia de farda branca aguardava a rendição.
A despeito das más recordações que esta companhia deixou, em termos de crimes sobre a população nativa, consegui fazer alguns bons amigos. E foram esses amigos que me contaram as atrocidades cometidas, especialmente por um capitão cujo nome não vejo necessidade de revelar, sobretudo a tantos anos de distância. Apenas refiro que era denominado “o assassino” de Bigene, e era, infelizmente, acolitado pelo médico.
Residia na povoação um comerciante de Braga, o Sr. Hilário, e um senhor já de alguma idade, Sr. Reis Pires, pai de dois rapazes atletas do Benfica. Ambos estes homens me contaram coisas de bradar aos céus que eu evito relatar. Apenas dois pequenos pormenores, que darão ideia da dimensão dos restantes crimes. Pouco depois de chegar, abeirou-se de mim um furriel com um colar de orelhas ao pescoço. O outro pormenor decorreu do facto de resolvermos cavar algumas trincheiras, após a saída da companhia, a fim de ligarmos os abrigos às casernas, aos quartos e à enfermaria, e encontrarmos restos humanos nas escavações, alguns deles só parcialmente decompostos.
Quando chegou a 1547, a minha companhia de origem, comandada pelo capitão Vasconcelos, um homem culto e bem formado, com o curso de Germânicas, de quem me tornei grande amigo, outra vida nasceu naquela gente e naquela povoação. Irei contando algumas coisas desta nossa vivência em Bigene, sector de Farim, coisas que me pareçam com algum interesse, mas sem preocupações cronológicas.
Bigene vista de avioneta. Em cima à direita as casernas dos soldados. Do lado esquerdo as nossas casas, e logo acima a pista de aterragem. A cerca de quatro quilómetros a norte, o Senegal. Mais ou menos à mesma distância, para a direita, Talicó, um dos grandes acampamentos dos guerrilheiros, e o corredor de Sambuiá por onde se faziam os seus abastecimentos.
A principal rua de Bigene. Antes da guerra tinha catorze casas comerciais que, segundo me contaram, exploravam os nativos até ao tutano. (tudo o que sei e me foi contado, mesmo pelos poucos comerciantes que ainda restavam, dava um livro). A principal fonte de rendimento era a cultura do arroz, do coconote e do amendoim (mancarra), que os navios Manuel Alfredo e Alfredo da Silva vinham carregar no rio Cacheu que ficava a três quilómetros. Do lado direito a secretaria e a messe. Do lado esquerdo os nossos quartos. Esta parede do lado esquerdo estava cheia de buracos de balas.
O “corpo clínico”. De barbas, o meu furriel enfermeiro “Pimentinha”, electricista de profissão, e que se transformou num belíssimo parteiro e não menos belíssimo puericultor. Atrás os maqueiros. O do lado direito, o Matos, era da Amadora.
De cócoras, o primeiro da esquerda, o Sr. Reis Pires, meu confidente de todas as desgraças que ali se passaram. Esta foto já é posterior à saída da minha companhia. Apenas eu fiquei (uma história interessante mas lixada, que eu contarei se tiver pachorra).
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