Sábado, 28 de Maio de 2011

COM FÚRIA E RAIVA, de Sophia de Mello Breyner Andresen

 

 

 

 

 

 (1919 - 2004)

 

 

 

Com fúria e raiva acuso o demagogo

E o seu capitalismo das palavras

 

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada

Que de longe muito longe um povo a trouxe

E nela pôs sua alma confiada

 

De longe muito longe desde o início

O homem soube de si pela palavra

E nomeou a pedra a flor a água

E tudo emergiu porque ele disse

 

Com fúria e raiva acuso o demagogo

Que se promove à sombra da palavra

E da palavra faz poder e jogo

E transforma as palavras em moeda

Como se fez com o trigo e com a terra 

 

 

 

 

(Junho de 1974)

 

 



 

(Retirei este poema de Os Poemas da Minha Vida, de Miguel Veiga, que este seleccionou em 2004, para a colecção editada pelo jornal Público).

publicado por João Machado às 10:00
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