Sábado, 15 de Janeiro de 2011

Manifesto de economistas aterrados - 4

FALSA EVIDÊNCIA N.º 5: É NECESSÁRIO REDUZIR AS DESPESAS PARA REDUZIR A DÍVIDA PÚBLICA

Mesmo que o aumento da dívida pública resultasse em parte do aumento das despesas públicas, reduzir as despesas não contribuiria necessariamente para a solução. Porque a dinâmica da dívida pública pouco tem a ver com a de uma família: a macroeconomia não é redutível à economia doméstica. A dinâmica da dívida depende na sua grande generalidade de vários factores: do nível do défice primário, mas também da diferença entre a taxa de juro e a taxa de crescimento nominal da economia.

Pois, se esta última taxa for inferior à taxa de juro, a dívida vai aumentar mecanicamente por causa do "efeito bola de neve": o montante dos juros explode e o défice total (incluindo os juros da dívida) também. Assim, no início de 1990, a política do franco forte, conduzida por Beregovoy, e mantida apesar da recessão de 1993-94, levou a uma taxa de juro mais elevada que a taxa de crescimento, o que explica o aumento da dívida pública da França durante esse período. É o mesmo mecanismo que explica o aumento da dívida, na primeira metade da década de 80, sob o impacto da revolução neoliberal e das políticas de altas taxas de juro conduzidas por Ronald Reagan e Margaret Thatcher.

Mas a própria taxa de crescimento económico não é, em si mesmo, independente das despesas públicas: a curto prazo, a existência de despesas públicas estáveis limita a dimensão das recessões (“estabilizadores automáticos”); a longo prazo, os investimentos e as despesas públicas (educação, saúde, investigação, infra-estruturas...) estimulam o crescimento. É errado dizer que todo e qualquer défice faz crescer, no mesmo montante, a dívida pública, ou que qualquer redução do défice reduz a dívida de igual montante. Se a redução do défice tem efeitos negativos sobre a actividade económica, a dívida tornar-se-á cada vez mais pesada. Os comentadores liberais sublinham que alguns países (Canadá, Suécia, Israel) realizaram cortes brutais nas suas contas públicas nos anos 90 e que conseguiram imediatamente uma recuperação económica, um forte crescimento. Mas isto só é possível se o ajustamento se referir a um país isolado, que ganhe rapidamente competitividade sobre os seus concorrentes. Mas, obviamente, esquecem os adeptos dos ajustamentos estruturais europeus que os países europeus têm como principais clientes e concorrentes os outros países europeus, uma vez que a UE é globalmente pouco aberta ao exterior. Uma redução simultânea e maciça da despesa pública dos países da UE só pode ter como efeito o agravamento da recessão e, portanto, um novo avolumar da dívida pública.

Para evitar que a recuperação das finanças públicas não venha a provocar um desastre social e político colocamos em debate duas medidas:

Medida n.º 10: Manter o nível de protecção social, ou mesmo melhorá-lo (subsídio de desemprego, de habitação…).

Medida n.º 11: Aumentar o esforço orçamental em matéria de educação, de investigação, de investimento na reconversão ambiental... para materializar as condições de um crescimento sustentável, capaz de induzir uma significativa diminuição do desemprego.

FALSA EVIDÊNCIA N.º 6: A DÍVIDA PÚBLICA TRANSFERE PARA OS NOSSOS NETOS OS ENCARGOS DOS NOSSOS EXCESSOS

É uma outra declaração falaciosa, que confunde a economia das famílias com a macroeconomia, segundo a qual a dívida seria uma transferência de riqueza em detrimento das gerações futuras. A dívida pública é, com certeza, um mecanismo de transferência de riqueza, mas, sobretudo, uma transferência dos contribuintes comuns para quem vive dos rendimentos.

De facto, com base na crença, raramente confirmada na realidade, de que baixando os impostos estimular-se-ia o crescimento e, no final de tudo, aumentar-se-iam as receitas públicas, os Estados europeus, depois de 1980, puseram-se a imitar os Estados Unidos, com uma política sistemática de minimização fiscal. A redução dos impostos e das cotizações sociais patronais multiplicaram-se (impostos sobre os lucros das empresas, sobre os rendimentos dos mais ricos e sobre o património, sobre as contribuições patronais para a segurança social...), mas o seu impacto sobre o crescimento económico manteve-se muito incerto. Estas políticas fiscais anti-redistributivas agravaram, assim, de forma cumulativa, as desigualdades sociais e os défices públicos.

Estas políticas fiscais forçaram os governos a endividarem-se junto dos detentores de mais elevados rendimentos e dos mercados financeiros para financiar os défices entretanto criados. É aquilo que poderia chamar-se um “efeito jackpot”: com o dinheiro economizado nos impostos, os ricos puderam adquirir títulos de dívida pública (que rendem juros), títulos esses emitidos para financiar os défices públicos causados pelos cortes de impostos... O serviço da dívida pública em França representa assim 40 mil milhões de euros anuais, quase tanto como as receitas do imposto sobre o rendimento. Um golpe tanto mais brilhante quanto, em seguida, se conseguiu convencer o público de que a dívida pública se devia aos funcionários públicos, aos reformados e aos doentes.

O aumento da dívida pública na Europa ou nos Estados Unidos não resulta de políticas keynesianas expansionistas ou de dispendiosas políticas sociais, mas sim de uma política que favorece as classes privilegiadas: as “despesas fiscais” (baixas de impostos e de cotizações patronais) aumentam o rendimento disponível daqueles que menos precisam, os quais, nessa sequência, podem aumentar ainda mais as suas aplicações financeiras, nomeadamente em Títulos do Tesouro, cuja remuneração de juros é paga pelos impostos cobrados a todos os contribuintes. Em suma, desenvolve-se um mecanismo de redistribuição em sentido inverso, das classes mais baixas para as classes de maiores rendimentos, através da dívida pública, cuja contrapartida vai sempre parar aos detentores de rendimentos privados.

Para endireitar de forma justa as finanças públicas na Europa e em França, colocamos em debate duas medidas:

Medida n.º 12: Voltar a dar um carácter fortemente redistributivo à fiscalidade directa sobre o rendimento (supressão de nichos privilegiados, criação de novas segmentações e aumento das taxas de imposto sobre os rendimentos...)

Medida n.º 13: Eliminar as isenções fiscais concedidas às empresas que não tenham efeitos suficientes em termos de emprego.

FALSA EVIDÊNCIA N.º 7: É PRECISO TRANQUILIZAR OS MERCADOS FINANCEIROS PARA SE PODER FINANCIAR A DÍVIDA PÚBLICA

A nível mundial, o aumento da dívida pública deve ser analisado em correlação com o processo de “financeirização” da economia. Ao longo dos últimos trinta anos, graças à liberalização total dos fluxos de capitais, a finança reforçou de forma significativa o controlo sobre a economia. As grandes empresas recorrem cada vez menos aos empréstimos bancários e cada vez mais aos mercados financeiros. As famílias vêem também uma parte crescente das suas economias escoar-se para a finança no âmbito dos sistemas de pensões, por via dos diversos produtos de aplicações financeiras, ou ainda, em certos países, através do financiamento da habitação (empréstimos hipotecários). Os gestores de carteiras de títulos, para diversificarem os riscos, procuram títulos de dívida pública para contrabalançar as dívidas dos particulares. Encontram-nos facilmente no mercado porque os governos empreendem políticas no mesmo sentido, que levam a um aumento dos défices: taxas de juro elevadas, reduções fiscais beneficiando especificamente os altos rendimentos, incitações maciças à poupança das famílias para favorecer os sistemas de pensões assentes em aplicações financeiras de capitalização, etc.

Ao nível da União Europeia, a “financeirização” da dívida pública foi inscrita nos Tratados: a partir de Maastricht, os Bancos Centrais foram proibidos de financiar directamente os respectivos Estados, os quais têm que recorrer aos mercados financeiros. Esta “repressão monetária” acompanha a “liberalização financeira” e tem exactamente o sentido oposto das políticas adoptadas depois da Grande Depressão dos anos 30, que foram de “repressão financeira” (restrições severas à liberdade de acção da finança) e de “libertação monetária” (com o fim do “padrão-ouro”). Trata-se de submeter os Estados que, supostamente, por natureza, são muito gastadores, à disciplina dos mercados financeiros que, supostamente, por natureza, são eficientes e omniscientes.

Como resultado desta opção doutrinária, o Banco Central Europeu não tem, portanto, o direito de subscrever directamente as emissões de títulos de dívida pública dos Estados europeus. Privados da garantia de poderem financiar-se sempre junto dos respectivos Bancos Centrais, os países do Sul foram, assim, vítimas de ataques especulativos. Certamente, passados alguns meses, apesar de sempre se ter recusado a fazê-lo em nome de uma ortodoxia inabalável, o BCE passou a comprar títulos de dívida pública dos Estados, às taxas de juro de mercado, para acalmar as tensões no mercado obrigacionista europeu. Mas nada nos diz que isso será suficiente, caso a crise da dívida se agrave e as taxas de juro de mercado dispararem. Pode ser então difícil manter esta ortodoxia monetária, que não tem base científica sólida.

Para resolver o problema da dívida pública, colocamos em debate duas medidas:

Medida n.º 14: Autorizar o Banco Central Europeu a financiar directamente os Estados (ou a exigir que os bancos comerciais subscrevam a emissão de títulos públicos), com taxas de juro baixas, libertando-se assim da canga com que os mercados financeiros os sufocam.

Medida n.º 15: Se necessário, reestruturar a dívida pública, por exemplo, limitando o peso do serviço da dívida pública a uma determinada percentagem do PIB, introduzindo uma discriminação entre os credores de acordo com o volume de títulos que possuem: os detentores de grandes volumes de títulos da dívida pública (pessoas ou instituições) devem consentir fazer uma distensão substancial do perfil da dívida, e até mesmo a sua anulação total ou parcial. É também necessário renegociar as taxas de juro exorbitantes dos títulos emitidos pelos países em dificuldade desde que a crise começou.

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira às 16:20
link | favorito
Sábado, 23 de Outubro de 2010

O Orçamento da crise em Portugal!

Rolf Damher


“A complexidade gera insegurança. A insegurança, por sua vez, gera medo. É desse medo que nos queremos proteger. Por isso o nosso cérebro filtra tudo o que é complicado, impenetrável e incalculável. O que resta é um aspecto parcial – aquilo que já conhecemos. Porém, como este aspecto parcial se encontra entrelaçado com o todo que não queremos ver, cometemos muitos erros – o fracasso é logicamente programado...são pequenos, cómodos e tão humanos erros de pensamento pelos quais, no melhor dos casos, só paga um e, no pior, todo o globo.

Não apreciei a mensagem abaixo referida que recebi, pelo seguinte: trata-se de duas falsas questões. Numa crise existencial como a actual crise portuguesa (e não só), a prioridade das prioridades é conceber, quanto antes, uma ESTRATÉGIA virada para frente que permita saír o país do atoleiro. As questões correctas são: qual pode ser o futuro projecto nacional que gera nova confiança e entusiasmo junto dos portugueses, motivando-os de novo e fazendo com que suportem as medidas duras porque sabem que melhores tempos se aproximam com o projecto de um novo desígnio? Em que poderá consistir esse novo e grande desígnio nacional? Quais são os verdadeiros pontos fortes do país que deverão ser exploradas “forte e feio”? Para onde é que Portugal se deverá virar para futuramente obter melhores resultados do seu comportamento sócio-económico?

E é disso que ainda não ouvi falar a ninguèm. Só falam do leite derramado O orçamento do estado, sem dúvida também importante, pode ser tratado pelos contabilistas. E todas as restantes medidas toma-se quando alguém com são juizo humano estiver de novo ao leme e o país em nova ascensão sócio-económica. Aliás, se a nova estratégia não for concebida e as forças não forem centradas nela atempadamente, todas as referidas medidas serão tomadas automaticamente – por falta de dinheiro. Mas isto poderá gerar grandes turbulências sociais associada à violência que deve ser evitado.

Orçamento do Estado

Todos os nossos governantes falam em cortes das despesas, mas não dizem quais, e aumentos de impostos, a pagar pela malta.
Não ouvi foi nenhum governante falar em:
. Redução dos deputados da Assembleia da República e seus gabinetes, profissionalizá-los como no estrangeiro.
. Reforma das mordomias na Assembleia da República como, almoços com digestivos a € 1,50.
. Acabar com os milhares de Institutos que não servem para nada e tem funcionários e administradores com 2º ou 3º emprego.
. Acabar com as empresas Municipais, com Administradores de milhares de euros mês e que não servem para nada.
. Redução drástica das Câmaras Municipais, Assembleias, etc.
. Redução drástica das Juntas de Freguesia.
. Acabar com o pagamento de € 200 por presença de cada pessoa nas reuniões das Câmaras e € 75 nas Juntas de Freguesia.
. Acabar com o Financiamento aos Partidos.
. Acabar com a distribuição de carros a Presidentes, Assessores, etc, das Câmaras, Juntas, etc que se deslocam em uso particular pelo País. No estrangeiro isto não acontece.
. Acabar com os motoristas particulares 20 h/dia.
. Acabar com a renovação sistemática de frotas de carros.
. Colocar chapas de identificação em todos os carros do Estado.
. Acabar com o vaivém semanal dos deputados dos Açores e Madeira e, respectivas estadias em Lisboa em hotéis cinco estrelas.
. Controlar o pessoal da Função Pública que nunca está no local de trabalho e que faz trabalhos nesse tempo, para o Estado.
. Acabar com os milhares de pareceres jurídicos, caríssimos.
. Acabar com as várias reformas por pessoa, do pessoal do Estado.
. Pedir o pagamento dos milhões dos empréstimos dos contribuintes ao BPN e BPP.
.E por aí fora. Recuperamos depressa a nossa posição.
. Já estamos cansados, fica assim.


publicado por Luis Moreira às 23:55
link | favorito
Sábado, 22 de Maio de 2010

Sócrates já faz parte do problema


Luís Moreira

Esta propaganda diária que diz que o país está a sair da crise (foi o primeiro diz o governo), que cresceu no último trimestre, que tem dinheiro para emprestar à Grécia, que tem dinheiro para os megainvestimentos, é muito prejudicial. Sócrates está em estado de negação, os membros do seu próprio governo desmentem-no, as trapalhadas são diárias e constituem profundas machadadas na já muito fragilizada credibilidade.

A Islândia, já em Outobro/Novembro, numa política de verdade, lançou um PEC sólido e duro com o objectivo de controlar as contas públicas. Meteu na prisão banqueiros e políticos, cortou na despesa de forma coerente, com especial incidência nas classes mais ricas, aliviou impostos no sentido de relançar a economia ajudando os que criam riqueza.

Aqui, ao contrário, temos um primeiro ministro que lança concursos para os quais não tem dinheiro, persiste na propaganda de uma situação que só ele vê, atira-se às classes mais desprotegidas, aumenta impostos retirando à economia o resto de meios que necessita para não cair em recessão.

E, com isto, perdem-se oito meses em relação à Islândia e aos outros países que começaram a trabalhar a tempo e horas, não mentindo aos seus povos, suavizando as medidas por terem sido tomadas com a situação ainda controlável.

Zapatero adia o TGV que o nosso governo inicia com a abertura e adjudicação do ramal Poceirão - Caia, à socapa adjudica nova autoestrada ao amigo Jorge Coelho.

Mas ninguem quer governar nestas condições, o Presidente tem um timing próprio, Passos Coelho deixa-se colar aos aumentos de impostos, Sócrates continua no filme que ele próprio realizou e de que é principal personagem.

Os banqueiros já se juntaram para dizerem em público o que Sócrates não quer ouvir em privado. Quem nos tira deste filme?
publicado por Luis Moreira às 10:00
link | favorito

.Páginas

Página inicial
Editorial

.Carta aberta de Júlio Marques Mota aos líderes parlamentares

Carta aberta

.Dia de Lisboa - 24 horas inteiramente dedicadas à cidade de Lisboa

Dia de Lisboa

.Contacte-nos

estrolabio(at)gmail.com

.últ. comentários

Transcrevi este artigo n'A Viagem dos Argonautas, ...
Sou natural duma aldeia muito perto de sta Maria d...
tudo treta...nem cristovao,nem europeu nenhum desc...
Boa tarde Marcos CruzQuantos números foram editado...
Conheci hackers profissionais além da imaginação h...
Conheci hackers profissionais além da imaginação h...
Esses grupos de CYBER GURUS ajudaram minha família...
Esses grupos de CYBER GURUS ajudaram minha família...
Eles são um conjunto sofisticado e irrestrito de h...
Esse grupo de gurus cibernéticos ajudou minha famí...

.Livros


sugestão: revista arqa #84/85

.arquivos

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

.links