Domingo, 24 de Abril de 2011

A luta armada contra a ditadura -3 - Debate com Carlos Antunes (BR), José Brandão (ARA) e Fernando Pereira Marques (LUAR).

(Conclusão)

 

CLE com as BR, como foram as primeiras acções?

 

CA - Nós preparámos a primeira acção com todo o rigor e depositávamos nessa acção - a destruição da base da NATO na Fonte da Telha, com uma grande esperança, mas acontece que resultou numa enorme frustração. Na televisão nas notícias desse dia, o Dutra de Faria, um prócere do regime, director da Agencia Nacional de Informação, dizia que Portugal era um pais com alguma singularidade, visto que aparecia um grupo a proclamar-se autor da destruição duma base na Fonte da Telha, mas que na verdade essa base não existia. Foi isso que nos conduziu oito dias depois a ter que destruir a bateria de canhões no Barreiro, que em termos estratégicos não tinha nenhuma estratégia, para lavarmos a nossa honra...

 

CLTodos sabemos, José, o grande impacto que teve na opinião pública a acção da  ARA emTancos. Porque é que, ao contrário das BR e da LUAR, que só se dissolveram após o advento do regime democrático, a ARA se dissolveu antes do 25 de Abril?

 

JB - A ARA suspendeu as suas actividades em Maio de 1973. Houve um debate interno sobre esta decisão. Havia dúvidas e a decisão não foi absolutamente evidente. Nessa altura, a ARA estava diminuída, com nove dos seus operacionais presos. Esse foi, naturalmente, um factor que pesou, mas não foi decisivo. Conforme palavras de Raimundo Narciso, «nessa altura era mais fácil recrutar novos elementos e fortalecer a organização. O argumento que mais pesou foi de carácter político.» Para a direcção do PCP foi uma boa oportunidade para pôr ponto final a uma actuação que nunca aceitara de bom grado. A repressão que se abatera sobre a ARA apenas atingira operacionais anónimos e não fizera qualquer mossa na estrutura directiva do Partido liderado por Álvaro Cunhal. Nenhum “histórico” que ocupava funções na luta armada foi preso nesta ofensiva contra a ARA em 1973. A este propósito, Raimundo Narciso tem a humildade de confessar que não sabe o que faria se tivesse sido preso (embora se tivesse preparado para não falar) e noutra admite que “chegaram ao fim os melhores ou os que tiveram a sorte de não terem sido presos”.

 

CLConcordas, Carlos? Tu viveste também esta fase ainda ligado ao PCP, creio que na qualidade de funcionário. Na tua opinião, como é que o PCP aceitou enveredar pela acção armada, embora a contragosto, com o José Brandão já explicou.

 

CA-.  Sim, efectivamente nesta segunda fase do PCP, a acção armada deixou de ser condenada, mas não era praticada, sendo mesmo sabotada. Só perante a nossa cisão, e a eminência da acção armada, é que foram obrigados, num curto período, a ter que fazer acções, através da ARA. Simplesmente, isso desencadeou um processo repressivo forte no PCP (não estava em condições orgânicas de poder coexistir como organização armada). Rapidamente e a pretexto que as condições de luta tinham mudado, parou com a acção armada. Desejou mesmo que com as Brigadas Revolucionarias acontecesse o mesmo, mas isso são outros contos...

 

CLJosé, concorda?

 

JBSim, o Carlos Antunes tem razão. Porém, não só pelos princípios que defendia, como pela sua prática, a ARA tinha um objectivo  claro na estratégia do PCP consignado na regra da insurreição popular armada. Era vista como um elemento potenciador da luta de massas e de desgaste do aparelho colonial e repressivo. Visava alcançar um forte impacto na consciência da população portuguesa e na própria opinião pública internacional. Todos estes objectivos só podiam ser levados a bom termo por uma organização não terrorista. Nunca atacou pessoas, nem bens que não estivessem ligados à política colonial e fascista.

 

CLJosé Brandão, houve algum momento especial durante a intervenção da ARA que queira partilhar connosco?

 

JBQuando um deputado pediu a pena de morte para os «terroristas» da ARA.

 

CLA pena de morte?

 

JBSim. Dois dias depois de uma operação da ARA o deputado Cazal-Ribeiro pediu na Assembleia Nacional «a maior severidade, implacável severidade, para a procura e o castigo dos autores do atentado da madrugada do dia 12, na doca de Alcântara, covarde como todos aqueles que trazem a marca da A.R.A. – organização comunista de tendência, ao que parece, maoista» … «A bandeira portuguesa tem de continuar a flutuar, embora isso pese àqueles que a renegam, do Minho a Timor se não queremos negar-nos a nós próprios…». Referindo-se depois a padres de Moçambique que não deixaram entrar a bandeira portuguesa numa igreja, aos «piratas do Santa Maria» Henrique Galvão e outros, a Miguel de Vasconcelos nos idos de 1640, e outros «renegados» como os da ARA, o deputado fascista sentenciou que todos «constituem uma página negra para a nossa história e são a excepção das nossas virtudes e da nossa raça: a negação dos nossos pioneiros – Santos, Mártires e Heróis!».

 

CLFernando, tens alguma recordação especial?

 

FPM - Um das operações ambiciosas e - ao contrário do que se diz – devidamente planeada que não teve êxito, foi a da ocupação temporária da Covilhã. O falhanço deveu-se a problemas técnicos, devido à falta de meios e a causas que aqui seria longo explicar, mais algumas circunstâncias fortuitas. A verdade é que houve várias prisões ( no entanto a enorme maioria dos envolvidos não foi localizada). Um desses presos foi, e isso claro que constituiu

 

rude golpe, o próprio Palma Inácio. Recordo, pois, como uma enorme humilhação para o regime e a PIDE, a sua fuga das celas privativas dessa polícia no Porto, na qual participei também como detido. Tratou-se de uma fuga só possível devido à enorme coragem desse querido companheiro recentemente desaparecido, pois ele estava submetido a uma rigorosa vigilância e sabíamos – eles o disseram – que havia ordens claras para o abater caso o Palma voltasse a tentar fazer o que em 1947 já fizera no Aljube. Acrescia que não havia apoio exterior, pelo que o sucesso dessa fuga foi absolutamente extraordinário. Recorde-se que a dimensão do facto sobre a imagem da polícia e do regime, está patente em, pela primeira vez ou mesmo única na História do fascismo, se ter posto a prémio a cabeça  de um militante. Anúncios nos meios de comunicação divulgaram que haveria uma recompensa de 50 contos a quem denunciasse ou conduzisse à prisão do Palma. Ter acompanhado de perto todo o processo que conduziu a essa fuga é uma das recordações mais emocionantes que tenho.

 

CLAlguma recordação mais forte, Carlos?

 

CANão. Todas a recordações da acção são memórias especiais. Estaria aqui horas a falar…

 

CL - Uma pergunta, talvez retórica, mas que não resisto à tentação de fazer. Quando

lutavam, arriscando a liberdade e a vida, era com o tipo de democracia que hoje temos que sonhavam? O sistema político que hoje vigora em Portugal, era o vosso objectivo? José Brandão.

 

JB-  Tenho para mim um sonho que não se esgota no tipo de democracia que hoje temos.

O sistema político que hoje vigora em Portugal, não é objectivo que satisfaça quem deseje uma sociedade mais justa e de maior humanidade social.

 

CLFernando?

 

FPM - Como já disse o objectivo principal da LUAR era o derrube do fascismo. E isso foi conseguido graças ao 25 de Abril e aos seus capitães. A institucionalização da Democracia, a sua consolidação, o fim da Guerra Colonial, a promulgação de uma Constituição das mais avançadas da Europa e do 

mundo constituíram grandes vitórias. Mas, na linha do que já disse, considerando os ideais expressos em vários documentos, interpretando o sentir de

 

muitos dos que foram meus companheiros  e na minha própria opinião, evidentemente que gostaríamos que uma outra democracia mais perfeita e uma outra sociedade mais justa tivessem sido construídas em Portugal. Todavia, a experiência e a idade levaram-nos a perceber que não se avança linearmente, que é lento o trabalho da velha “toupeira” – como dizia Marx -, e que, por isso, a História não acabou – como houve quem decretasse.Com avanços e recuos será possível mudar a sociedade e o mundo. Aliás, se não se caminhar neste sentido de mudança, a ferocidade do capitalismo desenfreado e a sofreguidão dos poderosos  virão a pôr mesmo em causa a vida neste nosso planeta e até o próprio planeta. Será que os povos não despertarão a tempo? Há que acreditar nesse despertar.

 

CLE tu, Carlos, o que dizes sobre o que se idealizava e sobre o que se tem hoje?

 

CA-  Nós lutávamos pelo socialismo e não por esta espécie de capitalismo selvagem. Não estávamos à espera desta caca, mas é necessário dizer que mesmo sabendo o que isto deu, continuaria a bater-me, não estou nada arrependido.

 

CLObrigado a todos. Creio que foi útil e esclarecedora a nossa conversa. Os leitores o dirão.

   

 

 

 

 

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Quarta-feira, 26 de Janeiro de 2011

Luta armada contra a ditadura (10) – por Carlos Loures

Logo no dia 16 de Fevereiro, Raul Proença e Jaime Cortesão, ligados à «Seara Nova» e à estrutura política e militar do movimento, foram demitidos, respectivamente, dos cargos de Director Geral e de Director dos Serviços Técnicos da Biblioteca Nacional. O mesmo aconteceu a muitos outros intelectuais. Em 26 de Março foi criado em Lisboa uma polícia política - a Polícia Especial de Informações, embrião da polícia política do Estado Novo sendo recrutados agentes da extinta Polícia a Preventiva de Segurança do Estado. Em 11 de Abril é criada uma Polícia Especial de Informações no Porto. Em 27 de Maio, o Governo  decretou a dissolução da Confederação Geral dos Trabalhadores. O órgão oficial da CGT, A Batalha, fora assaltado por manifestantes no dia 6 de Maio.

 

Em conclusão: a Revolução de Fevereiro de 1927 foi talvez de uma grande útiidade para o regime que, saído do golpe militar de 28 de Maio de 1926, se ia consolidando, pois lhe permitiu dar vários passos no sentido de instaurar um regime autoritário  que correspondia aos desejos de amplos sectores da sociedade, nomeadamente da Igreja Católica, e das classes possidentes, comerciantes e industriais. Havia também gente que, perfilhando o ideal republicano e democrático, entendia que era tempo de fazer uma pausa e arrumar a casa.

 

O movimento de Fevereiro de 1927 permitiu à Ditadura, como dizia, começar a criar um aparelho repressivo a todos os níveis, aparelho que iria constituir a pedra angular do Estado Novo. Considerando a Ditadura a única alternativa aos caos da Democracia, até alguns republicanos entenderam que este punho firme era a solução para os problemas nacionais. Os que apoiavam a Ditadura, a criação de um Estado autoritário e despótico, não perderam tempo - em a 9 de Fevereiro, ainda se trocava tiros em Lisboa, foi criada a Confederação Académica da União Nacional, o primeiro movimento civil de apoio à ditadura, criado por Vicente de Freitas. Embrião da União Nacional, o partido único que iria durar até 1969, quando Marcelo Caetano o crismou de Acção Nacional Popular, teve desde logo o apoio da imprensa de direita e, claro, da Igreja Católica.

 

No entanto, a Oposição teve também algumas vantagens. Em 12 de Março de 1927 foi criada em Paris a Liga de Defesa da República, integrando exilados políticos de diversas tendências – António Sérgio, Afonso Costa, Jaime Cortesão, entre muitos outros. Mas o chamado «Reviralhismo» não parou – logo em Junho de 1927, com o desacordo dos «liguistas», um grupo de oficiais exilados na Galiza, enviava clandestinamente a Portugal o capitão Jaime de Morais, para tentar chegar a um acordo com a União dos Oficiais Republicanos, dirigida pelo tenente-coronel Ribeiro de Carvalho e pelo comandante Cunha Aragão. Liderado pelo general Norton de Matos, foi criado um comité para uma novo movimento revolucionário.

 

E até à madrugada libertadora de 25 de Abril de 1974, nunca mais se deixou de conspirar e de tentar sacudir a opressão que se abateu sobre o País, suprimindo praticamente a República e instituindo um regime corporativista ao serviço das correntes políticas, sociais, económicas e religiosas mais reaccionárias.

Foi um árduo caminho por uma longa noite que terminou com a Revolução de Abril.

 

Terminou?

 

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Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2011

Luta armada contra a ditadura (8) – por Carlos Loures

(Continuação)

No Porto, permaneceram fiéis à Ditadura, elementos do Regimento de Infantaria 18, do Regimento de Cavalaria 9 e o Regimento de Artilharia 5 , instalado em Gaia, na Serra do Pilar. A GNR declarou-se neutral, declarando-se disposta a garantir o policiamento das ruas da cidade. Informadas do que se passava, as forças fiéis ao Governo, mais numerosas e dispondo de mais meios, iam, mesmo antes de receber reforços, preparando o cerco. Logo às primeiras horas de sedição, houve esporádicas trocas de tiros nas Ruas de Barros Lima e Montebelo (actual Avenida de Fernão de Magalhães); no Marquês de Pombal; na Praça dos Poveiros e no Largo do Padrão. Porém, os 12 feridos do primeiro dia de revolta atestam a brandura dos primeiros confrontos. Na madrugada do dia 3, a artilharia da Serra do Pilar entrou em acção. Dois obuses atingiram, na Rua de Gonçalo Cristóvão o quartel de Sapadores Bombeiros.

As forças governamentais, depois de algumas horas de desorganização, passaram a ser constituídas por uma parte reduzida do Regimento de Infantaria 18,, que tinha como comandante o coronel Raul Peres, o Regimento de Cavalaria 8 e o Regimento de Artilharia 5, este aquartelado na  Serra do Pilar. Na tarde do dia 3 de Fevereiro, sob o comando do coronel  João Carlos Craveiro Lopes, chefe do estado-maior da Região Militar e governador militar da cidade,  concentraram-se no quartel da Serra do Pilar e abriram fogo de artilharia contra os revoltosos. Na própria manhã de 3 de Fevereiro, o Ministro da Guerra, coronel Passos e Sousa, saiu de Lisboa num comboio com destino a Vila Nova de Gaia, onde chegou ao fim da tarde. Assumiu o comando das forças governamentais até então comandadas pelo coronel Craveiro Lopes.

Durante essa primeira manhã da sedição, chegaram aos revoltosos reforços vindos de Valença. Desembarcaram na estação da Boavista, na Avenida da França, e marchando pela Carvalhosa, Cedofeita, Clérigos, Praça da Liberdade,  Rua de 31 de Janeiro, atingiram a Batalha, onde se juntaram às forças rebeldes. O cerco ia-se apertando, no entanto. O navio "Infante de Sagres" aportou a Leixões com reforços. Em Valbom, tropas governamentais tinham atravessado o rio e dirigiam-se a marcha forçada para o centro do Porto. Os combates tornavam-se, de hora para hora, mais renhidos. Violentos tiroteios ouviam-se perto da Batalha, no Bonfim, em Santo André (Poveiros), Padrão, Campo de 24 de Agosto, Rua do Duque de Loulé, Fontainhas, S. Lázaro… No dia 4 de Fevereiro, e nos dias imediatos, juntaram-se aos revoltosos do Porto forças vindas de Penafiel, Póvoa do Varzim, Póvoa do Varzim, Famalicão, Guimarães, Valença, Vila Real, Régua e Lamego. Vinda de Amarante chegou mais artilharia, a qual foi posicionada perto de Monte Pedral. A artilharia da Figueira da Foz foi detida na Pampilhosa quando se dirigia para o Porto. Começaram a chegar notícias de adesão de diversas unidades: Viana do Castelo, Figueira da Foz e Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António. No entanto, a notícia mais esperada, a da adesão da guarnição de Lisboa não chegava e esses levantamentos locais foram jugulados rapidamente.

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Domingo, 23 de Janeiro de 2011

Luta armada contra a ditadura (7) – por Carlos Loures

 

Se esta série de textos sobre a resistência armada contra a ditadura tivesse uma organização cronológica, este deveria ter sido o primeiro artigo, pois refere-se à primeira reacção violenta contra a ditadura que, sob o pretexto de solucionar a situação caótica que as lutas entre os diversos partidos tinham criado no País – Portugal era designado na imprensa estrangeira como «o pequeno México» - aludindo-se às frequentes revoltas que agitaram o País nos dezasseis anos que durou a I República.

Menos de oito meses depois do pronunciamento de 28 de Maio de 1926, no dia 3 de Fevereiro de 1927, foi desencadeado no Porto um amplo movimento republicano e democrático, civil e militar, contra a Ditadura. A Revolta de Fevereiro de 1927, por vezes também referida como Revolução de Fevereiro de 1927, foi uma rebelião militar que ocorreu entre os dias 3 e 9 de Fevereiro de 1927. Na cidade foi instalado o posto de comando dos insurrectos e ali se travaram os principais recontros que se estenderam a partir do dia 5 a Lisboa.

Na génese do levantamento terá estado o «Grupo da Biblioteca Nacional». Alguns dos seus elementos tinham manifestado um sentimento de expectativa relativamente ao golpe militar de 28 de Maio de 1926, pois, como muitos outros cidadãos, entendiam ser preciso pôr ordem no caos que se vinha agudizando na vida política, económica e social do País. No entanto,  Ditadura Nacional, depressa começou a abandonar o seu carácter transitório de normalização da vida política nacional, como fora prometido, assumindo um carácter protofascista, com o apoio da Igreja Católica e de algumas franjas sociais e intelectuais. Houve quem depressa se apercebesse desse perigo e, menos de um mês depois do golpe, já o grupo onde pontificavam intelectuais como Raúl Proença e Jaime Cortesão, ambos ligados à «Seara Nova», conspirava activamente. Outro elemento da conspiração foi o general Adalberto Gastão de Sousa Dias, que se fizera notar na oposição ao putsch de 28 de Maio.

Se a conspiração começou em Lisboa, por que foi o Porto escolhido para desencadear a Revolta? Por diversas razões. O general Sousa Dias, indigitado comandante da revolta, estava internado, sob prisão no Hospital Militar do Porto; por outro lado, havia ali um forte núcleo de republicanos, incluindo comandantes e oficiais de unidades militares ali sediadas. Em Lisboa, os comandos das unidades eram de cooptação mais complicada, o núcleo de democratas sendo mais vasto, era menos coeso. Sendo o levantamento bem sucedido no Porto, logo as adesões da capital seriam mais fáceis, acreditava-se. Finalmente, uma razão simbólica – o 31 de Janeiro de 1891, data em honra da qual se pensava iniciar a rebelião nesse dia, em 31 de Janeiro de 1927. E no Porto. Ao general Sousa Dias, no comando, foram agregados o comandante Jaime de Morais, o capitão Sarmento Pimentel e o tenente João Pereira de Carvalho, Jaime Cortesão, capitão-médico à altura, pertencente ao núcleo duro da conspiração e que viera de Lisboa. Recorrerei com frequência às «Memórias do Capitão», de João Sarmento Pimentel.

Elemento de ligação entre os dois pólos, Raúl Proença viajou para o Porto  em 21 de Janeiro, colaborando no planeamento das operações. Sarmento Pimentel, aliciado pelo general Simas Machado, logo dissera que só aderia «se a revolução rebentasse simultaneamente no Porto e em Lisboa». Simas Machado concordou com essa opinião, prometendo transmiti-la e apoiá-la. Como vamos ver, a questão da simultaneidade ficou afastada logo à partida. A data, simbolicamente marcada para 31 de Janeiro, foi adiada para 3 de Fevereiro, ficando decidido que começaria no Porto e que 12 horas depois Lisboa se sublevava também. Sarmento Pimentel, Jaime Cortesão, o comandante Jaime de Morais e  José Domingues dos Santos assinaram a Proclamação Revolucionária que desencadeava formalmente o movimento.

De acordo com uma bem gizada ordem de operações, na madrugada de 3 de Fevereiro, o Regimento de Caçadores 9, saiu do quartel e começou a tomar posições em pontos estratégicos da cidade. Uma companhia da GNR aquartelada na Bela Vista em breve se lhe juntou. O Regimento de Cavalaria 6, de Penafiel, chegou também, embora sem a totalidade dos seus efectivos. De outras unidades da cidade que não haviam aderido ao movimento, foram chegando também oficiais, sargentos e praças que se identificavam com os objectivos do levantamento. Já no dia 4, chegou o Regimento de Artilharia de Amarante.

Dos respectivos quartéis os revoltosos dirigiram-se para a zona da Batalha, onde estavam as sedes do Quartel-General e do Governo Civil e onde ficava a mais importante estação do telégrafo. De acordo com o plano traçado, as posições no terreno começaram a ser ocupadas. Já no dia 4, no topo da Rua de 31 de Janeiro, na esquina com a Rua de Santa Catarina, foi colocada uma metralhadora, cobrindo as duas importantes vias do centro da cidade e vedando o eventual avanço das forças lealistas. Chamaram-lhe a "trincheira da morte".

Na fotografia acima vê-se a «trincheira». O oficial em pé e de capote é nem mais nem menos do que Emídio Guerreiro. Na manhã de 4, juntaram-se aos revoltosos o Regimento de Artilharia de Amarante, cujas peças de artilharia obrigaram as forças do Governo a refugiar-se no monte da Virgem, prosseguindo a flagelação das posições rebeldes. Ainda na manhã do dia 4, o Regimento de Cavalaria 8, vindo de Aveiro e leal ao Governo, conseguiu atravessar a Ponte de D. Luís sob o fogo rebelde, mas foi detido pelas barricadas que defendiam a Praça da Batalha. Outra metralhadora foi colocada por detrás da barricada erguida na junção das ruas de Cima da Vila e da Madeira. A Rua do Cativo estava coberta também por uma arma pesada, colocada à esquina do Hospital da Ordem do Terço. Também ao cimo da Rua do Corpo da Guarda, cobrindo o largo que época tinha o mesmo nome, foi montado um dispositivo idêntico. Duas peças de artilharia foram postas em prontidão na confluência da Alexandre Herculano  com a Rua de Entreparedes. Efectivos de infantaria 6, de Penafiel, e da GNR, ocuparam a Rua Chã.

Basicamente, este era o dispositivo de defesa que foi rapidamente montado no perímetro pré-definido. Passou-se à vertente política – Em nome do «Comité Revolucionário do Norte», foi enviado um ultimato ao presidente da República, general Óscar Fragoso Carmona. Dizia: «Forças revolucionárias de todo o Norte impõem demissão do Gabinete Militar que abusivamente quis governar em nome do Exército, desejando a sua substituição por um Governo Nacional republicano e o regresso à Constituição.»

(Continua)

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Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2011

A luta armada contra a ditadura (5) - por Carlos Loures

 

 

 

(Continuação)

Já aqui contei esta história, mas acho que faz sentido incluir uma nota de humor nesta série de textos em que, mais do que historiar, sumarizei os movimentos de luta armada contra a ditadura. A história da «Operação Papagaio» é muito curiosa, pois para além dos seus contornos anedóticos, mostra-nos que grande maioria dos intelectuais portugueses, mesmo os surrealistas dos quais não se esperavam grandes atitudes de resistência, estavam contra o regime, odiavam a ditadura e aspiravam pela liberdade.

Quando se fala de luta armada de civis contra o salazarismo, recorda-se a ARA e a sua espectacular ofensiva contra o aeródromo militar de Tancos, destruindo 28 aeronaves, aviões e helicópteros, ou as acções das Brigadas Revolucionárias contra as instalações da NATO ou ainda a LUAR, de Palma Inácio, com o seu audacioso plano de tomada da cidade da Covilhã. A  «Operação Papagaio», inconsequente, com o seu quê de chaplinesca, mal organizada, foi, no entanto, um espelho cruel de toda a resistência, a militar incluída até que as referidas organizações entraram em cena. Esta conspiração de poetas correu mal - outras organizadas por generais, com meticulosas "ordens de operações" e com unidades militares envolvidas, não correram melhor. Porém, quem queira levar um pouco mais longe a investigação sobre esta operação, deparará com uma enorme carência de fontes. E, as poucas que existem, apresentam algumas contradições entre si.

Luiz Pacheco em “Prazo de Validade” (Contraponto, 1998) dedica um capítulo à "Operação Papagaio". Tem muitas falhas, a começar pela data. Logo no começo do texto, diz que tudo aconteceu quinze anos antes da Revolução de Abril, o que situaria os acontecimentos em 1959. E isto não pode ser verdade. Em 1959,  ninguém daquele grupo foi preso  e nos dois anos seguintes também não. Segundo os meus dados, inclinar-me-ia para 1962 ou mesmo em 1963. Em Dezembro de 1961 saí de Lisboa e, à cidade onde trabalhava, chegou-me a notícia (salvo erro, através do jornalista Adriano de Carvalho) da prisão de alguns amigos escritores do café Gelo na sua maior parte.

Em Agosto tive as habituais férias. Passava-as com a família numa casita perto da Caparica. Não tinha carro (nem havia ainda a ponte) e uma manhã em que fui a Lisboa tratar de qualquer assunto, no regresso à Costa encontrei o Virgílio Martinho (1928-1994), o autor de «O Grande Cidadão», que morava em Almada ou nos subúrbios. Fizemos juntos a travessia no «cacilheiro» , onde apanhávamos os respectivos autocarros.

Foi o Virgílio que pela primeira vez me descreveu no que consistira a «Operação Papagaio», nome de código para uma tentativa de derrube da ditadura, feita por gente do chamado grupo do Gelo e do Royal – o António José Forte (1931-1988), o Renato Ribeiro, o Manuel de Castro (1935-1971) e o Mário Henrique-Leiria (1923-1980), que não pertencia ao grupo, mas era grande amigo de alguns dos seus elementos, como era o caso do Forte. Aliás, o Pacheco esqueceu o Mário-Henrique Leiria que, tanto quanto julgo saber, foi o elemento principal. Porque há uma outra fonte - a do nosso Fernando Correia da Silva, amigo íntimo do Mário Henrique-Leiria e que dele terá escutado a narração dos acontecimentos. O Fernando dá a operação como realizada o que comprovadamente é um equívoco (talvez da sua memória) – a operação abortou – aí o que o Martinho me contou e o que Pacheco diz no seu livro coincide totalmente. Quanto ao Forte, tendo sido seu colega na Fundação Gulbenkian, de onde saí em 1971, demo-nos até à sua morte, em 1988, almoçando juntos em regra uma vez por mês, além de vários passeios de fins-de-semana que demos juntos, eu, ele, a minha mulher e a sua, a artista plástica Aldina. Mas, tal como o Mário, o Forte não gostava de falar neste assunto. Se alguém aludia ao caso, ria-se e não adiantava a conversa.

 

publicado por Carlos Loures às 12:00

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Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2011

Luta armada contra a ditadura (4) – por Carlos Loures

A Revolução de 25 de Abril veio provar que tinham razão aqueles que defendiam que a ditadura só cairia pela força das armas. Porém, derrubada a ditadura pelo MFA, durante alguns meses, sobretudo até ao 11 de Março de 1975, o espectro de um contragolpe de direita foi uma permanente ameaça e uma preocupação constante para os antifascistas.

 

 

 

Quando em 28 de Setembro de 1974, sob a inspiração do marechal Spínola, um dos membros da Junta de Salvação Nacional, o general Galvão de Melo, apelou a uma manifestação da «maioria silenciosa» - referindo-se a uma suposta maioria dos cidadãos portugueses silenciada pelo terror imposto pelas esquerdas – temeu-se que as direitas, quer as estruturas civis quer as militares, tentassem a via golpista para restaurar a ditadura.

 

Fizeram-se barricadas, o povo veio para as ruas armado com podia – e a montanha pariu um rato - afinal a direita não se atreveu a deitar a cabeça de fora. Só no ano seguinte, em 11 de Março,  fez uma tentativa canhestra, rápida e consistentemente controlada pelo MFA, logo apoiado por manifestações populares que não deixaram dúvidas quanto ao que a maioria do povo português sentia. Aliás, como sempre acontece nestas coisas, a ameaça golpista de Spínola, deu lugar a um forte avanço das forças populares.

 

A direita, durante alguns tempos, manteve activas as suas estruturas armadas clandestinas, nomeadamente o MDLP e o ELP (o assassínio do padre Max e da estudante Maria de Lurdes, em 2 de Abril de 1976) terá sido uma das suas últimas acções violentas. Começava a aprender uma coisa – pela força não regressaria ao poder. Tinha de dançar a nova dança, aprender as regras do novo jogo, isto é, entrar nos partidos do poder e tomar o sistema democrático por dentro. O que, diga-se, fez com todo o êxito. Hoje, a Democracia é o habitat preferido pelas forças conservadoras.

 

E a esquerda revolucionária? Aqueles que tinham lutado de armas na mão contra o regime de Salazar e Caetano? Será que, em regime democrático, se justificava manter estes dispositivos armados em situação de prontidão? A ARA foi extinta logo em 1974. A LUAR, a primeira das organizações que levaram a cabo acções armadas foi extinta em 1978. Implantado o regime democrático, já não fazia sentido um movimento como o de Palma Inácio. E as Brigadas Revolucionárias? No final deste artigo, insere-se um vídeo com declarações de Isabel do Carmo e de Carlos Antunes sobre a formação das BR.

 

 

Numa sessão realizada em Constância em 5 de Março deste ano, Carlos Antunes, o principal operacional das Brigadas Revolucionárias e um dos fundadores do Partido Revolucionário do Proletariado, contou como teve, após o 25 de Abril,  dificuldade em desactivar aquela estrutura. Numa reunião em Riachos, Torres Novas, contou como, sabendo da intenção de a maioria dos elementos das Brigadas de continuarem a luta armada, numa jogada de antecipação, deu uma longa entrevista ao Expresso, que foi publicada em 11 de Maio, no dia em que se efectuava a reunião.

 

Nessa entrevista ao semanário, Carlos Antunes anunciava o fim das operações de sabotagem, pois em democracia não fazia sentido utilizar o mesmo tipo de acções violentas que se justificavam durante a ditadura. Apanhados de surpresa, os operacionais acabaram, após renhida discussão, por aceitar a decisão do seu comandante e acataram a ordem para entregar as armas e se integrarem na estrutura partidária legal. Como tributo à história das Brigadas, durante algum tempo o partido usou a sigla de PRP-BR.

 

Revelou também como uma acção prevista para o Santuário de Fátima (antes de 25 de Abril) acabou por ser posta de parte, pois era impossível levá-la a cabo sem que houvesse mortes – e um dos princípios das BR era não provocar vítimas: todos os actos de sabotagem que empreenderam, causaram elevados prejuízos mas não provocaram mortes (a não ser as de dois militantes das brigadas que ao colocarem um engenho explosivo em instalações militares em Lisboa, o fizeram inadvertidamente rebentar).

 

As Brigadas eram compostas sobretudo por marxistas e por católicos progressistas, incluindo sacerdotes e freiras. Carlos Antunes revela que se chegou a pensar em constituir uma Brigada totalmente feminina, integrando freiras dos conventos onde os brigadistas encontravam muitas vezes refúgio.  Diz o dirigente do PRP: »Algumas concordavam com o que fazíamos e como éramos contra matar pessoas…»

 

Esta preocupação de não causar vítimas entre a população foi comum às três organizações. Note-se que o assalto ao Banco de Portugal, levado a cabo por Palma Inácio, foi feito com réplicas de armas (havia, salvo erro, apenas uma pistola autêntica). A ARA manifestou sempre o mesmo cuidado, embora em 1970 se tenha verificado, quando do ataque à escola técnica da PIDE, em Lisboa, a morte acidental de um transeunte. Na história das Brigadas há também a lamentar duas mortes. Dois militantes que ao colocarem um engenho explosivo em instalações militares em Lisboa, este foi accionado por erro ou por acidente.  Preocupação que as organizações armadas de direita nunca tiveram.

 

Passados todos estes anos, é altura de fazer um balanço ao que foi e ao que representou a resistência armada contra a ditadura. Num debate que vamos iniciar com elementos operacionais das três organizações que, nos últimos anos do regime ditatorial, desencadearam esse tipo de luta – a LUAR, a ARA e as BR – vamos tentar, no seguimento desta simples sumarização das tentativas de golpe militar e dos actos violentos praticados ao longo dos 48 anos de ditadura, clarificar um pouco mais esse aspecto menos estudado da nossa história recente.

 

 

(Continua)

 

 

publicado por Carlos Loures às 12:00

editado por Luis Moreira às 00:25
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Quarta-feira, 19 de Janeiro de 2011

Luta armada contra a ditadura (3) – por Carlos Loures

(Continuação)

 

 

 

Numa reunião do comité central do PCP, realizada em Agosto de 1963, verificou-se uma grave dissidência entre a linha, estalinista, ortodoxa, a corrente maioritária, a de Álvaro Cunhal, e uma minoritária, liderada por Francisco Martins Rodrigues. Sendo insanável a divergência, este, acompanhado por outros elementos daquele órgão dirigente, abandonaram o partido, acusando a linha dominante de ser «meramente eleitoralista».

Em Abril de 1964, esse dissidentes criaram a FAP- Frente de Acção Popular, através

de cujo órgão de imprensa (o Luta Popular) defenderam a acção armada como única via de derrube do regime salazarista. Em 1965 os principais dirigentes e outros militantes foram presos pela PIDE. Porém seria a partir deste pressuposto, de que o regime só cairia pela violência e nunca pela luta legal, que iriam nascer organizações clandestinas como a LUAR e como as Brigadas Revolucionárias. Organizações que o PCP sempre acusou de serem «aventureiristas», «divisionistas» e «blanquistas».

 

Abro um parêntesis, para lembrar que «blanquismo» é um conceito proveniente do nome de Louis-Auguste Blanqui (1805-1881), político francês que defendia que a revolução socialista e a consequente tomada do poder, não seria obra das massas proletárias, mas sim de um grupo reduzido de conspiradores, bem organizados em estruturas secretas. Segundo Blanqui, a revolução seria consumada sob a forma de um golpe de estado. Na linguagem dos partidos comunistas ortodoxos, blanquismo é, portanto, um termo fortemente pejorativo.

 

Em 17 de Maio de 1967, um grupo  comandado por Palma Inácio, assaltou a dependência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, fugindo depois num pequeno avião e levando cerca de 30 mil contos. Em 19 de Junho desse mesmo ano, fundar-se-ia em Paris a Liga de Unidade e Acção Revolucionária – LUAR, onde militariam figuras como Hermínio da Palma Inácio, Emídio Guerreiro, Camilo Mortágua, José Augusto Seabra, Fernando Echevarria e Fernando Pereira Marques. Em 1968, a LUAR tentou tomar a cidade da Covilhã, falhando no entanto a operação. Palma Inácio, preso na sequência desta operação, fugiu das instalações da PIDE no Porto, protagonizando uma fuga espectacular e que emocionou os antifascistas.

 

Em 1970 surgiram as Brigadas Revolucionárias, criadas a partir de um núcleo de antifascistas ligados à Frente Patriótica de Libertação Nacional, sediada em Argel. As BR, que em Setembro de 1973 dariam lugar ao Partido Revolucionário do Proletariado, desencadearam diversas acções, tais como a sabotagem  nas instalações da NATO na Fonte da Telha em 7 de Novembro de 1971, uma data simbólica; dias depois foi destruída uma bateria de canhões no Barreiro. Em 1972 destruíram doze camiões Berliet do Exército e assaltaram os serviços cartográficos militares obtendo mapas que enviaram aos movimentos de libertação, em 1973, uma série de operações visando sobretudo instalações e infra-estruturas militares em Lisboa e no Porto. Em 1974 foi levada a cabo uma acção de sabotagem no Quartel-General de Bissau, destruindo o edifício do comando. Foi também praticada uma acção de sabotagem no navio «Niassa» no momento em que ia partir para a Guiné com um contingente de tropas. O navio foi evacuado, sem que houvesse vítimas, pois as BR tinham avisado a PSP uma hora e quinze minutos antes da explosão. Isabel do Carmo e Carlos Antunes foram as figuras mais carismáticas e mediatizadas do PRP, partido que durante o chamado PREC teve grande influência na esquerda militar, sobretudo junto de Otelo Saraiva de Carvalho, comandante do COPCON.

 

Já disse que, por princípio, o  PCP era contra este tipo de acções. No entanto, a partir da cisão de Francisco Martins Rodrigues, um número cada vez maior de militantes manifestava o seu apoio às operações da LUAR e das BR, embora o comité central continuasse a considerar essas organizações como aventureiristas e objectivamente fazendo o jogo do poder. Até que a pressão dos militantes, sobretudo dos mais jovens, foi insustentável e o Partido criou a Acção Revolucionária Armada (ARA), destacando para a organizar os membros do CC – Rogério de Carvalho e Raimundo Narciso, a que se juntaram Jaime Serra e Francisco Miguel. A ARA praticou diversas acções de sabotagem em instalações militares. A operação mais espectacular e eficaz foi (talvez não só da ARA, mas de toda a luta armada) foi, em 8 de Março de 1971, o ataque à base aérea de Tancos, destruindo 28 aeronaves e cortando as comunicações. Porém praticou outras acções, tais como em 1970 colocação de uma bomba no navio «Cunene», ao serviço das guerras coloniais, em 1971 destruição da central de comunicações nacionais e internacionais, em Lisboa, durante uma conferência da NATO, em 1972 vários actos de sabotagem visando instalações militares. Entre os elementos operacionais da ARA, encontram-se nomes como o do romancista, dramaturgo e jornalista Carlos Alberto Coutinho e o de José Brandão, historiador especializado no período entre o final da Monarquia e a I República.

 

Estas organizações clandestinas, cuja acção se desenvolveu entre o final dos anos 60 e a eclosão da Revolução de Abril, tiveram um papel muito importante, talvez mesmo decisivo, na queda da ditadura. Afinal, Francisco Martins Rodrigues tinha razão: uma ditadura violenta não cederia perante argumentos democráticos – apenas cairia pela força das armas. Salgueiro Maia, Otelo e os seus companheiros do MFA assestaram o golpe final no monstro apodrecido que entre clericais batinas, capelos doutorais e espadas de militares nascera 48 anos antes, gerado no tumulto caótico da I República.

 

(Continua)

 

publicado por Carlos Loures às 12:00

editado por Luis Moreira em 18/01/2011 às 01:05
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