Este desafio lançado pelo nosso Carlos Loures é um bocado, para não dizer muito, injusto. Como vou eu, pobre sapateiro estar à altura do Prof. Sílvio Castro? Claro que tambem tenho os livros da minha vida, corro é o risco de serem meras "paixões" e não passarem disso, não serem "grandes livros". Por isso só continuo se fizermos um acordo. Os livros que eu salvo em caso de ir para uma ilha sozinho, são só isso, são os de que gosto, independentemente de serem ou não "obras imortais".
Conversados sobre isto, aqui vai:
A Mensagem de Fernando Pessoa, porque quando a li fiquei com a convicção, que dura até hoje, que há um antes e um depois da sua leitura. O Memorial do Convento de Saramago, por nos dar uma visão intimista das glórias e das miudezas de homens e mulheres que por circunstâncias alheias ficaram na história.
A Peste, de Albert Camus, envio o leitor para o texto" Um livro que eu li: A Peste..." do João Machado, ele já disse o que eu não consigo dizer.
O Processo, de Franz Kafka, onde não há leis nem regras, ou se mudam ao sabor de quem manda, sem defesa possível, sem justiça possível.
Dr. Jívago, de Boris Pasternark, a grandeza, a paixão que elevam o ser humano a níveis nem sempre previsiveis.
Guerra e Paz, de Tolstoi, o amor em tempo de guerra e paz.
Jorge Luís Borges e Paulo Neruda , agarrava os que estivessem mais à mão. Podia ir à internet saber o nome de uns quantos livros mas na verdade não consigo escolher.
O Nome da Rosa , de Umberto Eco, os horizontes medievais, a religião feita prisão e entrave à cultura, o "livro" esse maldito que deve estar afastado dos seres fracos e indigentes. "
O Velho e o Mar ,de Ernest Hemingway, onde o nosso inimigo se pode transformar no único amigo que nos ouve,envolvidos nas mesmas circunstências que nos ultrapassam.
A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, o fim de um país pelos olhos de uma fotógrafa e de um cirurgião, o olhar revoltado sobre o fim de uma civilização.
E acabo com uma homenagem aos únicos dois amigos meus que são escritores. O Carlos Loures com a Sinfonia da Morte, que tanto me ensinou sobre o Regícidio e a política que nos haveria de trazer a República e o Rui Neves da Silva, com o seu Milicianos - os Peõesdas Nicas, um dos jovens que esteve na génese do movimento dos capitães por ter sido um dos poucos milicianos graduados em capitão.
Pietá, de Michelangelo ( Miguel Ângelo) di Ludovico Buonarroti. É a mais bela obra que alguma vez vi. E, já visitei, os mais famosos museus do mundo, extasiado perante obras primas de todos os tempos e de todas as correntes artísticas. Tive sorte desta vez, porque estava acompanhado por um professor de história que passa as férias em Portugal, em Serpa e em Mértola a trabalhar em arqueologia e que, perante a minha evidente comoção, me segredou. " o corpo de Jesus ainda está quente..."
Claro que percebi tudo. É mesmo essa emoção que aquela obra nos transmite, foi "criada" no exacto momento em que Cristo dá o último suspiro. O seu corpo ainda está quente e sua mãe ainda tem esperança que a vida não o abandone.
Tinha visto e sentido esta mesma emoção muitos anos antes, num pobre casebre, uma mãe protegia o filho ainda e sempre...
Coitado de mim, saiu-me isto:
Era
talvez a vida
que a mosca importuna
trazia
quando rápida ao acenar do lenço
da pobre mãe que sofria
fugia..
e eu
já estivera com ele
naquela posição
só que me animava a vida
que ele não tinha agora no caixão
Tão hirto e tão frio!
PS: poema escrito aos 16 anos quando um amigo meu morreu. Esta é a imagem da mãe que me atormentou por tanto tempo.
Enquanto houve um só caminho trouxeste-me até aqui, já passei as almas avisadas que se ficaram nas casas e que não quiseram chegar onde estou. Perante uma escolha que não quero fazer, pior, não sei fazer. Á minha frente vejo outras casas onde se acolhe quem, imprudente, fez uma escolha. Não têm caminho.
Para mim ficou a escolha, sem indicação, sem estrela cadente a indicar-me o caminho, os cometas já não rasgam este céu e os anjos não se fazem anunciar. Entregue a mim próprio , hesito, embora tenha quase a certeza que qualquer dos caminhos me leva atrás daquele monte. Que vou encontrar atrás daquele monte?
Interessa-me o caminho, o fim é o mesmo, "não vou por aí", mas por qual devo ir? Serão assim tão diferentes que mereça a angústia? E se fizer eu o caminho, caminhando? O que os separa não está na minha mão, o que vou encontrar não adivinho, sei que o fim é o mesmo, mas o caminho é diferente, porque o escolho ou porque não o posso modificar?
E se escolher um e ao primeiro cão que me salte às canelas, recúo e vou pelo outro? E, se neste, pelo medo escolhido, me saltam dois cães? Ou um cão em tudo igual ao primeiro? Se passo, este já o tornei diferente, sigo em frente até à primeira curva onde já não poderei recuar. E, logo a seguir à curva, terei horizontes, já estarei atrás do monte?
É o caminho ou é o sentido que procuro? Há caminhos prontos a serem percorridos ou há sentidos prontos a serem inventados?
"Nós estamos num estado comparável sómente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá ...vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par , a Grécia e Portugal".
A Cavaco Silva, basta-lhe uma regencia de exemplo, apontando soluções, objectivos, estar fora do Orçamento mas juntar os dois maiores partidos sempre dando a ideia que a sua tarefa é facilitar, aplanar caminhos...
Mas sabemos que não é assim, mais do que uma vez que ergueu a voz contra os megainvestimentos, chamou a atenção para a dívida pública, correu o país numa política de proximidade, enaltecendo a obra regional e local. Bateu-se e bate-se pelas empresas que produzem para exportação, nunca se lhe ouviu uma palavra sobre as grandes empresas públicas, porque está contra elas, mas que representam muitos milhares de pessoas a ganharem muito bem e que formam opinião. Nem uma palavra sobre a intervenção governamental nos bancos, teria tudo a perder e nada a ganhar, há por lá muitos amigos e antigos colaboradores e como era fácil de perceber, tornaram-se num buraco negro sem fundo onde já se enterraram muitos milhões. Ninguem se apresentou à privatização, os milhões necessários para tornar o BPN viável, travam veleidades.
A máquina de apoio à candidatura já está em marcha, sempre foi assim, manter tabus e gerir o tempo que corre a seu favor, sem pressas, vai apresentar formalmente a candidatura e vai dizer que só o faz agora porque não quiz prejudicar a governamentação, o melhor seria que o PS e o PSD se despachassem e acordassem até logo à noite, seria ouro sobre azul.
Cavaco, igual a si próprio, anda a aquecer os motores, fazer rodagem, não quer nada mas quer tudo, sempre lhe cairam os lugares no regaço, a bem da nação.
A poluição absoluta de cimento, carros, pessoas, no meio de prédios com 60 andares onde não corre brisa pequena ou grande, um inferno!
Milhares de lojas com milhões de produtos tudo se compra e vende num rodopio sem fim. Desde os produtos que obrigam a fechar as lojas quando se esta a negociar (pelo seu alto valor) ate aos produtos vendidos a peso, num afã febril. É mil vezes pior do que Macau, menos opulenta no que diz respeito aos hotéis e casinos. Nas verdejantes montanhas circundantes erguem-se prédios de 60 andares destruindo sem consciência o pouco da natureza que resta, não ha um palmo de terra a vista, tudo e aproveitado para construir.
Pontes juntam as margens da baia bem como tres túneis submersos com cerca de 12 km cada. E uma colmeia humana onde não ha uma réstea de paz e sossego, um pequeno jardim no centro da cidade quase que pede desculpa por ainda se manter por ali, embora esteja bem tratado e seja bonito. Há gente de todas as raças, os ingleses são frequentes, vem ver a memoria colonial, uma cidade que utilizaram para controlar o mar, numa estratégia que passava pelo controlo dos grandes caminhos marítimos como era este estreito onde se situa esta cidade.
Tudo e igual ou parecido, grande, muito, alto, enquanto os chinesess vivem e dormem em casas onde as três camas para a família tem que estar sobrepostas.
Para que tudo se complique, os trabalhadores franceses decidiram entrar em greve o que poderá impedir o meu regresso no dia aprazado.
Estou numa cidade,Xiang, com 11 milhões de pessoas, onde estão os famosos guerreiros de Terracota. Fomos recebidos de uma forma extraordinária, com uma festa na parte central do castelo existente, com figurantes,música e actores.Xiang, e a cidade onde está instalada a grande indústria militar .Antes de abandonar Beijing, visitámos o Palacio do Céu, mas bem mais importante que o palácio, sao os milhares de pessoas que as 7 horas da manhã se juntam nos jardins para fazer ginástica, dançar e jogar vários jogos.
Contrariamente ao que me pareceu nos primeiros dias, Pequim é uma cidade cheia de carros, com um capacete de nevoeiro permanente a que se junta a poluição, nao compreendo o fenómeno, dizem que o vento vem sempre do norte e que empurra o nevoeiro contra as altas montanhas que cercam a cidade o que faz que o capacete se instale sobre a cidade. A verdade é que eu vi Beinjig a brilhar ao sol!
O voo nas linhas aéreas internas chinesas durou 2 horas, agradável, com o comer muito mau, mas as pessoas de uma simpatia inexcedível, e notando-se perfeitamente que os jovens vestem à ocidental, são mais altos 10 centimetros que os pais e falam regularmente inglês.
Agora, enquanto estou a escrever, metade dos homens (e das mulheres) estão nas mãos de massagistas, mas cá o caçador de estrelas não se perde por tão pouco, está aqui no seu posto, mas estou de saída, pois tenho um convite para ir beber um copo a um bar. Ninguém é de ferro!
Até porque vamos ver o Portugal-Dinamarca que aqui é às 4 horas da manhã e não vale a pena ir à cama. Prometo que quando aí chegar vou dormir muito.
Já podem casar-se a partir de 2ª feira, a única dificuldade é a indisponibilidade das conservatórias.
Fora essa possibilidade, os nubentes podem casar-se desde que apresentem Bilhete de Identidade e paguem a taxa legal.Outro problema é a certidão de nascimento e uma certidão de capacidade matrimonial que nem sempre é obtida com a celeridade necessária.
Depois, vão ter muitos meninos e serem muito felizes e Portugal passa a constar entre os países mais adiantados e modernos do mundo! Claro que a maioria nem sequer pode sair de casa dos pais por não ter emprego e não poder pagar a renda, mas que interessa, a felicidade é algo de maravilhoso.
Entretanto a Plataforma Cidadania e Casamento acusa Sócrates de só receber alguns o que o torna " primeiro ministro de associações lésbicas,gays,bissexuais e transgéneros" eles que conseguiram 92 000 assinaturas a favor de um referendo sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Palpita-me que entre muitos destes que queriam um referendo estarão muitos dos que não querem referendo para o Tratado de Lisboa, mas enfim, não há como ser flexível nestas coisas.A felicidade é que importa e oxalá sejam tão felizes como o número crescente de divórcios dá a entender entre os heterosexuais,porque desenvolve a economia do país, puxando pela procura interna e criando emprego.
É o que se chama investimento de proximidade, tão próximo, que o D. José Policarpo já ameaçou o Cavaco Silva que ainda pode perder a eleição presindêncial por causa dos gays, não se sabe se é por ter cometido um pecado ou se é por os gays serem tantos que podem fazer inclinar a balança, ou se são os crentes que podem fazer uma romaria a Fátima pedir inclemência contra os ínvios.
O que eu sei é que me limito a transmitir as notícias e nada tenho a ver com o assunto não vá ser chamado a pagar ainda mais impostos!
A questão da Palestina não será resolvida pelas actuais gerações no poder, cresceram com o ódio, não há família que não chore um morto ou um estropiado. É uma questão de orgulho pessoal, já pouco contam os verdadeiros interesses da paz e dos povos. Antes morrer que recuar ou ser visto como perdedor, mesmo que ganhem todos.
As gerações mais novas, libertas desses constrangimentos, já conseguiram estabelecer pontos de entendimento, o que abre caminhos para a negociação e para a vivência em comum. Se querem ter uma vida fraterna, próspera e em paz vão ter que conviver uns com os outros, uma parte importante da população de Israel é de proveniência Palestina, têm a sua vida repartida pelas universidades Israelitas e a sua família trabalha em empresas do Estado de Israel. Não há volta a dar, a não ser o entendimento!
Mas se para quem vive no local é dificil, incompreensível se torna que pessoas longe do conflito, sem sofrer as sequelas da guerra, lance lenha para a fogueira meramente por razões ideológicas. Não dão um passo no sentido da paz, da compreensão do problema. Tudo se resume a quem está do nosso lado e a quem não está. Quem está ,ideologicamente, perto ou longe dos USA assim reage, sem cuidar de saber se tal posição ajuda ou aprofunda o problema.
Sempre contra Israel, sempre a favor dos palestinianos! Sempre contra os Palestinianos, sempre a favor de Israel.
Uma maravilhosa exaltação do homem corajoso e íntegro que foi José Luis Saldanha Santos.Prestamos a nossa homenagem a um homem que sempre admiramos, muitas vezes, embora, em barreiras diferentes, mas comuns no essecial. São palavras de Maria José Morgado, no elogio fúnebre a seu marido:
"Zé Luis: começámos esta tua última viagem (tu gostavas de viagens) na cama 56 dos serviços de cirurgia 1 do Hospital de Santa Maria. Lia-te poesia e um dia parámos neste poema da Sophia de Mello Breyner:
”Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A Força dos teus sonhos é tão forte,
Que tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias”.
Assim foi.
No teu visionário e intenso mundo, a voracidade de um cancro traiçoeiro não te consumiu a alegria, a coragem, a liberdade. Entraste pela morte dentro de olhos abertos. O mundo que habitavas era rico de ideias, de sonhos, de projectos, de honradez e carinho. Percebemos o que ia acontecer quando no fundo do teu olhar sorridente brilhava uma estrela de tristeza. Quando te deixava ao fim do dia na cama 56 e te trazia no coração enquanto descia a Alameda da Cidade Universitária a respirar o teu ar da Universidade, das aulas e dos alunos que adoravas, do futuro em que acreditavas sempre.
Foste intolerável com a corrupção, com os cobardes e oportunistas. Não suportavas facilidades. Resististe à sordidez, à subserviência, à canalhice disfarçada de respeitabilidade e morreste como sempre viveste - livre.
Uma palavra para aqueles que te acompanharam nesta última viagem: para os melhores médicos do mundo, para as melhores equipas de enfermagem e de apoio, num exemplo de inexcedível dedicação ao serviço médico público. Vivi com emoção diária o carinho com que te cuidaram.
Uma palavra de gratidão sentida para o Professor Luis Costa e para o Paulo Costa. E para um velho amigo de sempre o Miguel.
Também para Laura e para o Jorge e para a minha mãe e toda a família que nunca te deixou. Por fim uma palavra para aqueles amigos que inventaram uma barricada contra a morte no serviço de cirurgia 1, cama 56, e te ajudaram a escrever, a pensar, a continuar a trabalhar: o João Gama, o João Pereira e senhor Albuquerque, cada um à sua maneira.
Suspiraste nos meus braços pela última vez cerca da 1,15 da madrugada do dia 14 de Maio. Vai faltar-me a tua mão a agarrar na minha enquanto passeávamos e conversávamos.
Provavelmente uma saudade ridícula, perante a força do exemplo e da obra que nos deixaste e me foi trazido por todos aqueles que te homenagearam – a quem deixo a tua eterna gratidão.