Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Dois sonetos de Luís de Camões traduzidos para catalão por Josep A. Vidal
Malgrat que amb retard, llegeixo aquesta notícia i no puc deixar d'afegir-me a l'homenatge a Camôes, gran entre els més grans de la poesia europea, l'obra del qual admiro sense reserves. Tot compartint la profunda vibració poètica de la interpretació que Amália Rodrigues fa de Camôes, reto homenatge al poeta amb aquesta versió catalana de dos dels seus sonets:
Records melangiosos, si voleu
Records melangiosos, si voleu
que fineixi ma vida en tal estat,
no visc pas del meu mal tan enganyat
que no n'esperi encara un mal més greu.
Fa ja molt temps que, constants, m'aveseu
a viure de tot bé desesperat;
ja tinc amb la Fortuna concertat
de suportar les penes que em doneu.
Fermada tinc al rem la paciència
per a quanta dissort la vida em guarda;
que frisi tant com vulgui el pensament,
que, si no hi ha cap altra resistència
per a tan alta i dura rodolada,
li pararé dessota el sofriment.
Lembranças saudosas, se cuidais
Lembranças saudosas, se cuidais
De me acabar a vida neste estado,
Não vivo com meu mal tão enganado,
Que não espere dele muito mais.
De muito longe já me costumais
A viver de algum bem desesperado;
Já tenho co'a Fortuna concertado
De sofrer os trabalhos que me dais.
Atado ao remo tenho a paciência,
Pêra quantos desgostos der a vida;
Cuide em quanto quiser o pensamento;
Que, pois não há i outra resistência,
Pêra tão certa queda de subida,
Aparar-lhe-ei debaixo o sofrimento.
El jorn que m'infantà mori i pereixi
El jorn que m'infantà mori i pereixi
que mai el temps no el vulgui tornar a dar;
que mai més torni al Món, i, si era el cas,
que un eclipsi, aquell jorn, el Sol cobreixi.
Que li falti la llum, que el Sol negregi,
que d'acabar-se el món doni senyals,
que el jorn engendri monstres, plogui sang,
que al propi fill la mare no conegui.
I que tothom colpit, per ignorant,
els ulls plorant, la cara empal•lidida,
pensi que el món ha estat ja destruït.
O gent poruga, feu fora l'espant,
perquè aquell jorn va donar al Món la vida
més dissortada que mai hom ha vist!
O dia em que nasci moura e pereça
O dia em que nasci moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar;
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o Sol padeça.
A luz lhe falte, o Sol se [lhe] escureça,
Mostre o Mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.
As pessoas pasmadas, de ignorantes,
As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o mundo já se destruiu.
Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!
Amália canta Camões Dura Memória
Luís Vaz de Camões Amor É Um Fogo Que Arde Sem Se Ver
Adão Cruz Porquê?
Porque é que sendo a nossa língua tão rica e tão versátil, deixando-nos exprimir, como nenhuma outra, de qualquer modo e feitio, permitindo toda uma comunicação inesgotável, desde a mais simples forma à mais sofisticada retórica, abrangendo uma dinâmica e uma capacidade inigualável de nos entendermos, há tanta gente a meter, abusivamente e inesteticamente nos seus textos, em reuniões e conversas, toda uma parafernália de galicismos, anglicanismos e frases inteiras de outras línguas, habitualmente inglês, metidas mais ou menos a martelo, absolutamente desnecessários e, na minha opinião, dando a quem os profere um ar de prosápia, bem longe da erudição que pretendem mostrar, e hoje apenas aceite pela banalidade da comunicação daqueles que não sabem nada de português. À parte um ou outro vocábulo, introduzido por necessidade de uma maior precisão que a palavra portuguesa por vezes pode não permitir, qual a razão para estar sempre a inglesar aquilo que pode e deve ser dito com precisão, beleza e elegância por palavras de português? Penso que uma das nossas maiores riquezas é a nossa fantástica língua. Arrepio-me, por vezes, quando leio aquilo que não queria ler, em tudo quanto é sítio falado e escrito.
O piano é o instrumento do pianista. A palavra é o instrumento de quem escreve e de quem fala. Em qualquer dos casos, nem o pianista se pode impor como virtuoso, se tocar mal, nem o que escreve se pode fazer acreditar, se escrever ou falar mal e com erros. Mesmo que a peça tocada seja muito boa ou o tema abordado na escrita seja de grande valor. Tenhamos profundo respeito pela língua, aprendamo-la o mais correctamente possível, e, sem margem para dúvidas, disporemos do mais útil e nobre instrumento de toda a nossa relação humana e social. Não temos o direito de a conspurcar, como hoje se faz a torto e a direito, por ignorância, indigência, snobismo ou exibicionismo, remetendo-a a um mero ingrediente de uma caldeirada anglo-portuguesa.
César Príncipe Dia de Camões
César Príncipe interceptou o Correio Diplomático entre Berlim e Lisboa. Trata-se do Ultimato do Segundo Mapa Cor-.de-Rosa. O primeiro, o Inglês, de 1890, levou à perda de soberania africana; o segundo, o Alemão, de 2011, implica a rendição da Antiga Metrópole. Há 121 anos, o País indignou-se: o Povo saiu às ruas, cobriu de crepes a estátua de Camões, os artistas compuseram o presente Hino Nacional, A Portuguesa, e até o rei, antes da capitulação, devolveu as condecorações ao Nosso Mais Velho Aliado. O incidente levou ao rubro o ardor patriótico, acelerou a queda da Monarchia e contribuiu para a implantação da República. Agora, após 100 anos de regime republicano, a troika da submissão correu a assinar o memorando do usurpador/ocupante/do Nosso Mais Recente Aliado. Nem sequer devolveu uma insígnia ou redigiu uma nota de desafronta. Espera-se que o povo comece a sair à rua, que os artistas recomponham o Hino e que Camões manifeste o seu pesar. Do Poder nada há a esperar que não seja subserviência, colaboracionismo, rendição.
Eis o e-mail, acabado de enviar por CP a Luiz Vaz de Camoens e que muito prezaríamos que algum(a) ilustre agraciado (a), tivesse a audácia e a honradez de ler na Cerimónia de Castelo Branco:
Tenho a informar-te que o 10 de Junho, consagrado como Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, vulgo Dia de Camões, passará a denominar-se, a partir de hoje, DIA DE TROIKAGAL.
(Por ordem de Angel Merkel, chanceler do IV Reich)
Amália Rodrigues canta Camões Com Que Voz
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais formosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Ũa graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E, pois nela vivo,
É força que viva.
Lembranças saudosas, se cuidais
De me acabar a vida neste estado,
Não vivo com meu mal tão enganado,
Que não espere dele muito mais.
De muito longe já me costumais
A viver de algum bem desesperado;
Já tenho co'a Fortuna concertado
De sofrer os trabalhos que me dais.
Atado ao remo tenho a paciência,
Pera quantos desgostos der a vida;
Cuide em quanto quiser o pensamento;
Que, pois não há i outra resistência,
Pera tão certa queda de subida,
Aparar-lhe-ei debaixo o sofrimento.
Um mover d'olhos, brando e piadoso,
sem ver de quê; um riso brando e honesto,
quase forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;
um despejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravíssimo e modesto;
ũa pura bondade, manifesto
indício da alma, limpo e gracioso;
um encolhido ousar; ũa brandura;
um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento;
esta foi a celeste fermosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento.
Este soneto de Camões é um dos que melhor representa a poesia da medida nova, assim chamada por ser feita sob a influência renascentista, e em contraposição à poesia da medida velha, inspirada na canção popular tradicional. O soneto foi introduzido em Portugal por Francisco Sá de Miranda (c.1490 - c.1558), após a sua longa estadia em Itália. Camões foi um grande cultor desta forma, denotando a influência de Petrarca (1304-74), quando aborda os temas do amor e da mulher, desviando-se por vezes ao utilizar fórmulas mais terrenas, diferentemente do italiano. Recorde-se também Alma minha gentil, que te partiste, que terá sido feito em honra da recém-falecida Dinamene. Outro tema que inspirou Camoes foram as grandes mudanças e o desconcerto do mundo, que se sentiam na vida da época, sendo exemplo Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
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