Terça-feira, 7 de Junho de 2011

Sempre Galiza! – Lois Pereiro: poeta galego-punk ou vice-versa (2)

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho


 

 

 

 

 

Continuando com a apresentação do poeta distinguido este ano no Dia das Letras Galegas, Lois Pereiro, aqui trazemos mais um punhado dos seus poemas, que estamos a descobrir convosco.

 

Sobre ele podem ler no blogue http://loispereiro.blogaliza.org .

 

 

 

 

 

Dyn-Amo e Steve Dwoskin ós trinta anos

 

A perfección era unha intuición fráxil

na que habitaba un virus definido

en cada movimento interpretado

polo discurso estético da pel

Talco e carmín

seducción subcutánea

a atrocidade orixinal das vísceras

furia xestual en cada un dos seus nervos

na sesión de strip-tease daquela noite

Confusamente a imaxe dos seus lavres

voando sobre Europa

A vida sucesión de luz e sombras

o segredo da perfección máis pura

somentes unha sombra de dúbida nun xesto

a lene distorsión nun dos seus movementos

en fuxidía expresión de terror lúcido

nos ollos e na boca

esa era a perfección definitiva.

Caíron logo os ollos os pezóns

e coa furia da súa visión súpeta

todo o que puido arrincar ledamente irada

coa única forza das súas propias mans

e o poder que posúe quen descobre a verdade.

 

 

 

 

 

Luz e sombras de amor resucitado (1995):


VII

 

(Tantos anos que non me observaba

unha pel distinta á miña, ou que non fose xa

parte dos meus ollos, explorada, coñecida

ou compartida...)

 

               Vendo eses dous ollos latexantes

               cal visión dunha imaxe entresoñada

               no seu peito en perfecta simetría

               cun interno tremor que me fascina

               desexaría entrar nela e refuxiarme

               no seu corpo secreto para sempre

               protexido da morte

               coa súa vida

 

               féndeme o corpo un húmido arrepío

               e bícame as vértebras con furia

               nun vértigo de dor e de tenrura.

 

xuño, 95

 

 

Poemas da morte sobrevivida a forza de paixón e sabotaxes (1995)

 

Mala sorte

 

(Cunha bala calibre sete sesenta e cinco

no peto máis pequeno do vaqueiro, sei que

a miña vontade é decisiva para escoller

o momento e o lugar. E apálpoa cos dedos

a todas horas.)

 

E por primeira vez desde que souben

que aínda respiraba e seguía vivo

sei o que é sentir medo a non estalo

 

Interrompido na mellor escea

cando estaba soñando un soño dérmico

de paixón e beleza

cunha serea distancia literaria e sabia

 

Só ela podía ser tan inoportuna

groseira inculta e pouco delicada

chamándome despois de ter sobrevivido

á confortable atracción do fracaso

e saber dunha vez o que era a vida

amar e ser amado.

 

setembro, 95

 

 

 


 

 

The flowers of friendship faded

Friendship faded

 

Presentimos as horas do vrao

vivir de día

os futuros soños fríos

 

de amenceres de lúa con armarios transparentes de ollos fríos

asesinos de princesas durmidas

en moreas de bebidas inocentes

reises da explosión solitaria

nun día escuro do país acusados de querer ser

ananos e vivir na herba

apuntándovos coa morte en decadencia

dende o día do viaxe

ou fuxida sentimental

oubeando (a chamada do bosco que se me escondía)

o sonido

de senso desesperado

o sonido tráxico.

 

O éstase

en sorrisa vendo

como Piedad matabas aquil buraco escuro con forma de crime

onde o silenzo ule

a tormenta nostálxica e neurótica

                                                   (un centro neurótico pro

cun límite marcado nalgún sitio)

e non era a primeira vez

que o suicidio voaba no ceo da última paisaxe

Mary (buked and scorned)

xa o tiña visto

no ceo de California.

 

 

 

Leitura de 5 poemas de Lois Pereiro

(Declaración - Arturo Casas; Namorado outra vez - Antón Losada; Revisando os danos - Paco Macías;

Soir - Antón Patiño; Narcisismo - Antón Lopo)

 

 

publicado por Pedro Godinho às 11:00
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Terça-feira, 31 de Maio de 2011

Sempre Galiza! – Lois Pereiro: poeta galego-punk ou vice-versa

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho


 

Iniciámos a publicação de textos relativos aos autores que têm vindo a ser anualmente distinguidos no Dia das Letras Galegas: Rosalia de Castro (1963), Daniel Castelão (1964), Eduardo Pondal (1965).

 

Interrompemos, momentaneamente, aquela sequência para dar lugar ao distinguido este 17 de Maio de 2011: Lois Pereiro.

 

 

 

Luis Ángel Sánchez Pereiro, mais conhecido como Lois Pereiro, escritor e poeta galego, nasceu a 16 de Fevereiro de 1958, em Monforte de Lemos (Galiza), e faleceu, com 38 anos e doente, a 24 de Maio de 1996, na Corunha (Galiza).

 

Foi escolhido pela RAG para o Dia das Letras Galegas deste ano de 2011.

 

 

 

José Martinho Montero Santalha, presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), contou-nos como o poeta Lois Pereiro é mencionado num poema de Ricardo Carvalho Calero, em agradecimento aos dez poetas “de amor e desamor” pelo exemplar e dedicatória que lhe ofereceram.

 

Em vida publicou duas obras; Poemas 1981/1991 (1992) e Poesía última de amor e enfermidade (1995), tendo, após a sua morte, sido publicada Poemas para unha Loia (1997), que recolhe obras da época madrilena, publicadas na revista “Loia”.

 

Diz o seu irmão, Xosé Manuel Pereiro, que ao escrever os seus primeiros poemas declarou que nunca escreveria em castelhano.

 

 

 

Como não conhecia este poeta, de lírica punk dirão alguns e talvez não o enjeitasse o próprio, procurei na rede e aqui deixo dois dos poemas encontrados na Biblioteca Virtual Galega:

 

 

 

En doce versos falsos 


1

A miúdo botas negras e o seu xesto
(abandonadas do corpo que as esixe)

2

na postura dun acto de violencia
(sen a expresión real do asasinato)

3

pousadas coma un signo
(de furia e de nostalxia)

4

na noite lostregada
(esvaíndose da morte sen imaxe)

5

esluída no refuxio
(doutra visión que medra)

6

da procesión de euforia
(sabendo que hai un drama elaborado)

7

na creación volcánica dun soño
(coma orixe do desespero agudo)

8

na idea procreada
(dun par de botas negras)

9

que non entraría en min
(pola porta dun mundo que me invade)

10

sen o pruído curioso
(que agora me traspasa)

11

cravado sen molestias nos meus ollos
(tan cegos coma o teu útero estéril)

12

que van durmir o soño que non sinto.

 

 

  

 

Poemas póstumos (1992-94)

 

Curiosidade

 

 Saber que está un á morte

e o corpo é unha paisaxe de batalla:

unha carnicería no cerebro.


¿Permitirías ti, amor deserto,
que nesta fevre penitente abrise
a derradeira porta e a pechase
detrás miña, sonámbulo e impasible,
ou porías o pé
entre ela e o destino?

 

novembro, 92



  

 

 

 

As armas da paixão - um vídeo documental sobre a vida e a obra de Lois Pereiro

 

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publicado por Pedro Godinho às 11:00
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Terça-feira, 24 de Maio de 2011

Sempre Galiza! - Letras Galegas: Guerra da Cal, Carvalho Calero, Lois Pereiro

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

 

 

 

Como parte da programação de homenagem a Ernesto Guerra da Cal, pelo centenário do seu nascimento, realizou-se, em Santiago de Compostela, no passado 17 de Maio, Dia das Letras Galegas, uma cerimónia pública que teve lugar junto ao monumento a Ricardo Carvalho Calero.

 

 

[Recorda-se que a Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), com o apoio doutras entidades cívicas, criou um sítio web Centenário Guerra da Cal que acolhe e solicita materiais sobre a vida, obra, época e legado intelectual do professor Ernesto Guerra da Cal.]

 

 

 

Além da recordação de Guerra da Cal e do seu papel fundamental em prol do português da Galiza, foram lidos poemas de Guerra da Cal, de Carvalho Calero e de Lois Pereiro (autor distinguido em 2011 pelo Dia das Letras Galegas).

 

Procedeu-se também à leitura dos manifestos -  Manifesto pela Hegemonia Social do Galego e Manifesto da Fundaçom Meendinho "Galegas, galegos, enveredemos o caminho certo” -, de encorajamento da Galiza à participação e vivência plena no espaço da lusofonia.

 

 

 

Na sua simplicidade, também o Estrolabio recordou, no Sempre Galiza do passado dia 17 de Maio, Ernesto Guerra da Cal e o Dia das Letras Galegas e, nesse mesmo dia, Carlos Loures publicou um texto no qual sem contestar a valia da obra de Lois Pereiro (que não conhecia) lamentava que, por mais um ano, Ricardo Carvalho Calero fosse preterido, julgando incompreensível que a um homem como Carvalho Calero continuasse a ser denegada pela Real Academia Galega (RAG) a merecida homenagem e desde há dez anos proposta. Porquê?, repetia uma interrogação já antes formulada.

 

No dia seguinte, a 18 de Maio, Carlos Loures voltava à liça com novo texto, em diálogo com a interessante nota de Carlos Durão em A Nossa Língua e agradecendo a resposta avançada à interrogação que deixara.

 

Pelo seu interesse, e pela relação estabelecido entre os nomes de Carvalho Calero e de Lois Pereiro, transcrevemos abaixo o texto de José-Martinho Montero Santalha, presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP):

 

Carvalho Calero e Lois Pereiro

 

Os nomes de Carvalho Calero (Ferrol 1910 - Santiago de Compostela 1990) e Lois Pereiro (Monforte de Lemos 1958 - A Corunha 1996) apareceram relacionados quando há um ano a Real Academia Galega decidiu dedicar ao poeta monfortino o Dia das Letras Galegas do presente ano 2011: como é bem sabido, o nome de Carvalho Calero é um dos que mais frequentemente se propõem desde há já alguns anos entre os merecedores dessa homenagem anual da cultura galega.

 

No tempo da vida não teriam muita ocasião de coincidir Carvalho e Pereiro; mas, apesar da grande diferença de idade, faleceram com só seis anos de distância, o primeiro com 80 anos e o segundo muito prematuramente com menos da metade (38).

 

Carvalho cita Pereiro

 

 

No entanto, na obra poética de Carvalho Calero há uma alusão a Lois Pereiro, que não deixará de ser oportuno aduzir nestes dias em que lembramos o jovem poeta, segado pela doença quando ainda tanta vida (e tanta criatividade literária) lhe poderia ficar por diante.

 

Quando se publicaram na Corunha os dois volumes de antologia poética intitulados De amor e desamor (A Corunha 1984 e 1985), os autores -- dez poetas, entres os quais se achava Lois Pereiro -- enviaram a Carvalho um exemplar de cada volume, acompanhado, em ambos os casos, de uma dedicatória afectuosa. Estes exemplares conservam-se no Parlamento Galego, na «Biblioteca Carvalho Calero», e as suas fichas estão acessíveis em Internet (nas quais não deixa de indicar-se oportunamente que ambos incluem uma “dedicatória autógrafa dos autores”).

 

Carvalho Calero agradeceu a dedicatória do primeiro livro com um poema que dirigiu a Fernám Velho, citando nele os nomes dos dez poetas, na ordem em que aparecem na fotografia (magnífica, de Xurxo Lobato) incluída no início do volume. Aí é onde ocorre o nome de Lois Pereiro: “Palharês, Fernám Velho, / Mato Fondo, Valcárcel, / Ribas, Salinas Portugal, Pereiro, / Lino Brage, Xavier Seoane, / José Devesa” (versos 18-22).

 

Na realidade, o poema desenvolve-se fundamentalmente como um comentário literário à fotografia; mas não falta a referência metafórica ao mundo clássico (com as 9 musas e o pai Apolo, cujos amores os dez poetas conquistariam) e até a alusão biográfica à mocidade do próprio autor e aos seus afãs poéticos de aqueles tempos.

 

Eis o texto desse poema, que Carvalho incorporou logo ao seu livro Cantigas de amigo e outros poemas (1980-1985), publicado pela AGAL em 1986 (pp. 150-151):

 

[«Mensagem de agradecimento a Fernám Velho 
para os poetas de amor e desamor»]

Tu, Miguel Anjo Fernám Velho,
com o teu aspecto de estudante alemão ou russo,
dos tempos de Heine ou de Puchkin,
em Gottinga ou Moscovo,
dominas pela tua estatura
no grupo fotográfico da linha de poetas
de amor e desamor,
que me enviam os seus versos com palavras irmãs;
se bem Salinas Portugal ou Júlio Valcárcel,
se mais se estalicassem, poderiam,
se quadra, competir contigo
em qualidade de altas antenas receptoras.

Em todo o caso, porque te vejo mais a ti,
envio-te esta carta de graças, telegráfica
amostra de obriga, e leda expressão de amizade
para os dez, como estais
em ringleira de frente despregados,
dispostos à batalha: Palharês, Fernám Velho,
Mato Fondo, Valcárcel,
Ribas, Salinas Portugal, Pereiro,
Lino Brage, Xavier Seoane,
José Devesa, os dez da fama, os dez
dedos do Deus da Nossa Terra,
do Anjo da Nossa Guarda, o Velho
Anjo da Guarda dos Galegos,
que fala em verso, e com o seu verso escreve
as ringleiras da história.

Obrigado. Desejo
que os nove homens do grupo
conquistem cada um o amor e os braços
de uma das nove musas, cada um cada a sua,
e Pilar Palharês os do mesmíssimo
Apolo, pai daquelas, padroeiro
nosso. Não tenho a menor dúvida
de que aquelas e aquele hão-se de render
à beleza e à força e à paixão destes versos
de amor e desamor que agora leio,
devolto a aqueles tempos em que eu mesmo sabia
amar e desamar
liricamente, como
vós, ainda que menos.

Miguel Anjo, antena a quem envio
esta emissão de dívida,
eu, devedor dos dez,
dos dez agradecido amigo e camarada,
retransmite, Miguel, esta mensagem
de Ricardo Carvalho Calero aos nove amigos.

 

 

 

               "em ringleira de frente despregados, / dispostos à batalha: 

Palharês, Fernám Velho, / Mato Fondo, Valcárcel, / Ribas, Salinas Portugal, Pereiro, / 
               Lino Brage, Xavier Seoane, / José Devesa, os dez da fama"


publicado por Pedro Godinho às 11:00
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