publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
Continuando com a apresentação do poeta distinguido este ano no Dia das Letras Galegas, Lois Pereiro, aqui trazemos mais um punhado dos seus poemas, que estamos a descobrir convosco.
Sobre ele podem ler no blogue http://loispereiro.blogaliza.org .
Dyn-Amo e Steve Dwoskin ós trinta anos
A perfección era unha intuición fráxil
na que habitaba un virus definido
en cada movimento interpretado
polo discurso estético da pel
Talco e carmín
seducción subcutánea
a atrocidade orixinal das vísceras
furia xestual en cada un dos seus nervos
na sesión de strip-tease daquela noite
Confusamente a imaxe dos seus lavres
voando sobre Europa
A vida sucesión de luz e sombras
o segredo da perfección máis pura
somentes unha sombra de dúbida nun xesto
a lene distorsión nun dos seus movementos
en fuxidía expresión de terror lúcido
nos ollos e na boca
esa era a perfección definitiva.
Caíron logo os ollos os pezóns
e coa furia da súa visión súpeta
todo o que puido arrincar ledamente irada
coa única forza das súas propias mans
e o poder que posúe quen descobre a verdade.
Luz e sombras de amor resucitado (1995):
VII
(Tantos anos que non me observaba
unha pel distinta á miña, ou que non fose xa
parte dos meus ollos, explorada, coñecida
ou compartida...)
Vendo eses dous ollos latexantes
cal visión dunha imaxe entresoñada
no seu peito en perfecta simetría
cun interno tremor que me fascina
desexaría entrar nela e refuxiarme
no seu corpo secreto para sempre
protexido da morte
coa súa vida
féndeme o corpo un húmido arrepío
e bícame as vértebras con furia
nun vértigo de dor e de tenrura.
xuño, 95
Poemas da morte sobrevivida a forza de paixón e sabotaxes (1995)
Mala sorte
(Cunha bala calibre sete sesenta e cinco
no peto máis pequeno do vaqueiro, sei que
a miña vontade é decisiva para escoller
o momento e o lugar. E apálpoa cos dedos
a todas horas.)
E por primeira vez desde que souben
que aínda respiraba e seguía vivo
sei o que é sentir medo a non estalo
Interrompido na mellor escea
cando estaba soñando un soño dérmico
de paixón e beleza
cunha serea distancia literaria e sabia
Só ela podía ser tan inoportuna
groseira inculta e pouco delicada
chamándome despois de ter sobrevivido
á confortable atracción do fracaso
e saber dunha vez o que era a vida
amar e ser amado.
setembro, 95
The flowers of friendship faded
Friendship faded
Presentimos as horas do vrao
vivir de día
os futuros soños fríos
de amenceres de lúa con armarios transparentes de ollos fríos
asesinos de princesas durmidas
en moreas de bebidas inocentes
reises da explosión solitaria
nun día escuro do país acusados de querer ser
ananos e vivir na herba
apuntándovos coa morte en decadencia
dende o día do viaxe
ou fuxida sentimental
oubeando (a chamada do bosco que se me escondía)
o sonido
de senso desesperado
o sonido tráxico.
O éstase
en sorrisa vendo
como Piedad matabas aquil buraco escuro con forma de crime
onde o silenzo ule
a tormenta nostálxica e neurótica
(un centro neurótico pro
cun límite marcado nalgún sitio)
e non era a primeira vez
que o suicidio voaba no ceo da última paisaxe
Mary (buked and scorned)
xa o tiña visto
no ceo de California.
Leitura de 5 poemas de Lois Pereiro
(Declaración - Arturo Casas; Namorado outra vez - Antón Losada; Revisando os danos - Paco Macías;
Soir - Antón Patiño; Narcisismo - Antón Lopo)
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
Iniciámos a publicação de textos relativos aos autores que têm vindo a ser anualmente distinguidos no Dia das Letras Galegas: Rosalia de Castro (1963), Daniel Castelão (1964), Eduardo Pondal (1965).
Interrompemos, momentaneamente, aquela sequência para dar lugar ao distinguido este 17 de Maio de 2011: Lois Pereiro.
Luis Ángel Sánchez Pereiro, mais conhecido como Lois Pereiro, escritor e poeta galego, nasceu a 16 de Fevereiro de 1958, em Monforte de Lemos (Galiza), e faleceu, com 38 anos e doente, a 24 de Maio de 1996, na Corunha (Galiza).
Foi escolhido pela RAG para o Dia das Letras Galegas deste ano de 2011.
José Martinho Montero Santalha, presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), contou-nos como o poeta Lois Pereiro é mencionado num poema de Ricardo Carvalho Calero, em agradecimento aos dez poetas “de amor e desamor” pelo exemplar e dedicatória que lhe ofereceram.
Em vida publicou duas obras; Poemas 1981/1991 (1992) e Poesía última de amor e enfermidade (1995), tendo, após a sua morte, sido publicada Poemas para unha Loia (1997), que recolhe obras da época madrilena, publicadas na revista “Loia”.
Diz o seu irmão, Xosé Manuel Pereiro, que ao escrever os seus primeiros poemas declarou que nunca escreveria em castelhano.
Como não conhecia este poeta, de lírica punk dirão alguns e talvez não o enjeitasse o próprio, procurei na rede e aqui deixo dois dos poemas encontrados na Biblioteca Virtual Galega:
En doce versos falsos
1 | A miúdo botas negras e o seu xesto |
2 | na postura dun acto de violencia |
3 | pousadas coma un signo |
4 | na noite lostregada |
5 | esluída no refuxio |
6 | da procesión de euforia |
7 | na creación volcánica dun soño |
8 | na idea procreada |
9 | que non entraría en min |
10 | sen o pruído curioso |
11 | cravado sen molestias nos meus ollos |
12 | que van durmir o soño que non sinto. |
Poemas póstumos (1992-94)
Curiosidade
Saber que está un á morte
e o corpo é unha paisaxe de batalla:
unha carnicería no cerebro.
¿Permitirías ti, amor deserto,
que nesta fevre penitente abrise
a derradeira porta e a pechase
detrás miña, sonámbulo e impasible,
ou porías o pé
entre ela e o destino?
novembro, 92 |
As armas da paixão - um vídeo documental sobre a vida e a obra de Lois Pereiro
allowfullscreen>
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
Como parte da programação de homenagem a Ernesto Guerra da Cal, pelo centenário do seu nascimento, realizou-se, em Santiago de Compostela, no passado 17 de Maio, Dia das Letras Galegas, uma cerimónia pública que teve lugar junto ao monumento a Ricardo Carvalho Calero.
[Recorda-se que a Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), com o apoio doutras entidades cívicas, criou um sítio web Centenário Guerra da Cal que acolhe e solicita materiais sobre a vida, obra, época e legado intelectual do professor Ernesto Guerra da Cal.]
Além da recordação de Guerra da Cal e do seu papel fundamental em prol do português da Galiza, foram lidos poemas de Guerra da Cal, de Carvalho Calero e de Lois Pereiro (autor distinguido em 2011 pelo Dia das Letras Galegas).
Procedeu-se também à leitura dos manifestos - Manifesto pela Hegemonia Social do Galego e Manifesto da Fundaçom Meendinho "Galegas, galegos, enveredemos o caminho certo” -, de encorajamento da Galiza à participação e vivência plena no espaço da lusofonia.
Na sua simplicidade, também o Estrolabio recordou, no Sempre Galiza do passado dia 17 de Maio, Ernesto Guerra da Cal e o Dia das Letras Galegas e, nesse mesmo dia, Carlos Loures publicou um texto no qual sem contestar a valia da obra de Lois Pereiro (que não conhecia) lamentava que, por mais um ano, Ricardo Carvalho Calero fosse preterido, julgando incompreensível que a um homem como Carvalho Calero continuasse a ser denegada pela Real Academia Galega (RAG) a merecida homenagem e desde há dez anos proposta. Porquê?, repetia uma interrogação já antes formulada.
No dia seguinte, a 18 de Maio, Carlos Loures voltava à liça com novo texto, em diálogo com a interessante nota de Carlos Durão em A Nossa Língua e agradecendo a resposta avançada à interrogação que deixara.
Pelo seu interesse, e pela relação estabelecido entre os nomes de Carvalho Calero e de Lois Pereiro, transcrevemos abaixo o texto de José-Martinho Montero Santalha, presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP):
Carvalho Calero e Lois Pereiro
Os nomes de Carvalho Calero (Ferrol 1910 - Santiago de Compostela 1990) e Lois Pereiro (Monforte de Lemos 1958 - A Corunha 1996) apareceram relacionados quando há um ano a Real Academia Galega decidiu dedicar ao poeta monfortino o Dia das Letras Galegas do presente ano 2011: como é bem sabido, o nome de Carvalho Calero é um dos que mais frequentemente se propõem desde há já alguns anos entre os merecedores dessa homenagem anual da cultura galega.
No tempo da vida não teriam muita ocasião de coincidir Carvalho e Pereiro; mas, apesar da grande diferença de idade, faleceram com só seis anos de distância, o primeiro com 80 anos e o segundo muito prematuramente com menos da metade (38).
Carvalho cita Pereiro
No entanto, na obra poética de Carvalho Calero há uma alusão a Lois Pereiro, que não deixará de ser oportuno aduzir nestes dias em que lembramos o jovem poeta, segado pela doença quando ainda tanta vida (e tanta criatividade literária) lhe poderia ficar por diante.
Quando se publicaram na Corunha os dois volumes de antologia poética intitulados De amor e desamor (A Corunha 1984 e 1985), os autores -- dez poetas, entres os quais se achava Lois Pereiro -- enviaram a Carvalho um exemplar de cada volume, acompanhado, em ambos os casos, de uma dedicatória afectuosa. Estes exemplares conservam-se no Parlamento Galego, na «Biblioteca Carvalho Calero», e as suas fichas estão acessíveis em Internet (nas quais não deixa de indicar-se oportunamente que ambos incluem uma “dedicatória autógrafa dos autores”).
Carvalho Calero agradeceu a dedicatória do primeiro livro com um poema que dirigiu a Fernám Velho, citando nele os nomes dos dez poetas, na ordem em que aparecem na fotografia (magnífica, de Xurxo Lobato) incluída no início do volume. Aí é onde ocorre o nome de Lois Pereiro: “Palharês, Fernám Velho, / Mato Fondo, Valcárcel, / Ribas, Salinas Portugal, Pereiro, / Lino Brage, Xavier Seoane, / José Devesa” (versos 18-22).
Na realidade, o poema desenvolve-se fundamentalmente como um comentário literário à fotografia; mas não falta a referência metafórica ao mundo clássico (com as 9 musas e o pai Apolo, cujos amores os dez poetas conquistariam) e até a alusão biográfica à mocidade do próprio autor e aos seus afãs poéticos de aqueles tempos.
Eis o texto desse poema, que Carvalho incorporou logo ao seu livro Cantigas de amigo e outros poemas (1980-1985), publicado pela AGAL em 1986 (pp. 150-151):
"em ringleira de frente despregados, / dispostos à batalha:
Palharês, Fernám Velho, / Mato Fondo, Valcárcel, / Ribas, Salinas Portugal, Pereiro, /
Lino Brage, Xavier Seoane, / José Devesa, os dez da fama"
. Ligações
. A Mesa pola Normalización Lingüística
. Biblioteca do IES Xoán Montes
. encyclo
. cnrtl dictionnaires modernes
. Le Monde
. sullarte
. Jornal de Letras, Artes e Ideias
. Ricardo Carvalho Calero - Página web comemorações do centenário
. Portal de cultura contemporânea africana
. rae
. treccani
. unesco
. Resistir
. BLOGUES
. Aventar
. DÁ FALA
. hoje há conquilhas, amanhã não sabemos
. ProfBlog
. Sararau