publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
Ricardo Carvalho Calero é um marco das letras galegas e tem, portanto, sido um dos frequentemente propostos para a homenagem anual da cultura galega que constitui a designação para o Dia das Letras Galegas. Tem, continuamente, sido preterido. Sem discutir o valor dos escolhidos, Carvalho Calero merece há muito a distinção que a RAG (Real Academia Galega) lhe continua a negar. Preteriu-o no passado, preteriu-o em 2011 e, anunciada que foi já a escolha para o próximo ano, voltou a preteri-lo para 2012.
Tão forte parece a embirração da RAG com Carvalho Calero que se vai começar a pensar que maior distinção é não ser escolhido por aquela. Não fosse uma das exigências para ser distinguido a de ser falecido e interessante seria ver o que diriam os próprios designados do "veto permanente" a Carvalho Calero.
No Estrolabio de 17 de Maio, Carlos Loures lamentava que, uma vez mais, a RAG tivesse denegado a Carvalho Calero a homenagem merecida e desde há dez anos proposta.
A 18 de Maio, Carlos Loures voltava à liça com novo texto, em diálogo com a interessante nota de Carlos Durão em A Nossa Língua e agradecendo a resposta avançada à interrogação que deixara.
A 24 de Maio, pelo seu interesse, e pela relação estabelecido entre os nomes de Carvalho Calero e de Lois Pereiro - o distinguido em 2011 -, transcrevemos o texto de José-Martinho Montero Santalha, presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP).
Conhecida que foi a escolha para 2012 do poeta e ensaísta Valentim Paz Andrade - também ele um defensor da unidade linguística galego-portuguesa e alguém que colaborou com Carvalho Calero na redacção do Anteprojecto do Estatuto da Galiza, apresentado em 1931 - soube-se da afirmação feita por um membro da RAG, Ramón Lorenzo, sobre Ricardo Carvalho Calero acusando-o, por defender a unidade linguística galego-portuguesa, de ter feito mal à língua galega: «eu sou contra de que se lhe dê o Dia das Letras Galegas porque há que ver o mal que lhe fizo este homem à língua. É isso que nom se quer ver. [...] é o culpável deste tremendo problema que tivemos com o galego»
Ricardo Carvalho Calero foi filólogo e escritor, nacionalista, teórico do reintegracionismo, professor universitário e o primeiro Catedrático de Língua e Literatura Galegas. Cidadão empenhado, foi co-fundador do Partido Galeguista, opositor da ditadura de Primo Rivera e do golpe fascista de Franco, de 1936, contra o qual combateu como voluntário pela República. O seu pensamento político correspondendo a um nacionalismo galego de esquerda.
Catedrático e especialista da língua, o seu prestígio fez dele, em 1980, uma escolha incontestada para a nomeação pelo Parlamento pré-autonómico galego como presidente da Comissão encarregada de elaborar um padrão escrito para o galego. O padrão proposto pela Comissão apresentava uma orientação reintegracionista, embora mantendo transitoriamente o uso duma ortografia ainda de influência espanhola.
No entanto, na sequência duma viragem do poder político, o apoio inicial à Comissão presidida por Ricardo Carvalho Calero é abandonado e atribuída a autoridade linguística a um instituto linguístico de Compostela de orientação isolacionista face ao português e cuja proposta de normativização, aprovada pela Junta da Galiza em 1982, estabelece um padrão contrário à unidade linguística galego-luso-brasileira e favorável à influência escrita do espanhol sobre o galego.
Na década de 80, Carvalho Calero será um dos principais críticos da orientação da nova política linguística das autoridades da Galiza, considerando o pretenso 'bilinguismo igualitário' dado desembocar "na monarquia de aquela das duas línguas que possuí maior potência social", que no caso galego não é outra que a privilegiada pelo poder durante séculos: o espanhol ('Bilinguismo e bigamia', in Uma Voz na Galiza, 1984).
Estará aqui a razão da "vingança" dos iluminados da RAG?
Para juntar ao debate, transcrevemos o texto "O meu Ricardo Carvalho Calero" de José Manuel Beiras, publicado no jornal Galiza Hoje, a propósito das declarações de Ramón Lorenzo sobre Carvalho Calero. José Manuel Beiras foi membro fundador do Partido Socialista Galego PSG), nos anos 60, seu secretário-geral nos anos 70, tendo participado na fundação em 1982 do Bloco Nacionalista Galego (BNG) do qual foi membro da Direcção, Presidente e deputado. Economista e escritor, membro da Real Academia Galega desentendeu-se com a presidência desta sobre da Lei de Normalização Linguística do Galego.
En recentes entrevistas motivadas polo seu merecido Premio Trasalba, o meu vello amigo e en tempos camarada de "noviciado" universitario, Ramón Lorenzo, referiuse con certa insistencia ao "gran mal que lle fixo á lingua" galega o profesor Ricardo Carvalho Calero no período auroral da Autonomía, mesmo até consideralo "o culpable deste tremendo problema que tivemos co galego" -por mor da lea antre "oficialistas" e "reintegracionistas" acontecida nos anos oitenta verbo da normativización do noso idioma. Coido eu que, tanto no plano sociolingüístico canto no ideolóxico e máis no político-institucional, están moi claras as causas, os causantes e os "culpábeis" dos andacios padecidos outrora e aínda arestora polo noso idioma, e que incluír nese bando a "don Ricardo" constitúe cando menos unha grave deformación da realidade. Porén, non quero -eiquí e agora- entrar en polémica. Si, en troques, ofrecervos a miña visión vivencial de aquil rexo, insubornábel e entrañábel loitador a prol da cultura, o idioma e os dereitos políticos soberanos do seu povo, e máis algunhas claves seica esquencidas da xestación do "problema Carvalho". Limítome a transcreber a seguida o que lles eu contara a Miguel Anxo Fernán Vello e Francisco Pillado hai xa un decenio, cando andabamos a elaborar o noso segundo libro de conversas. Veloeiqui.
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coordenação Pedro Godinho
Continuando com a apresentação do poeta distinguido este ano no Dia das Letras Galegas, Lois Pereiro, aqui trazemos mais um punhado dos seus poemas, que estamos a descobrir convosco.
Sobre ele podem ler no blogue http://loispereiro.blogaliza.org .
Dyn-Amo e Steve Dwoskin ós trinta anos
A perfección era unha intuición fráxil
na que habitaba un virus definido
en cada movimento interpretado
polo discurso estético da pel
Talco e carmín
seducción subcutánea
a atrocidade orixinal das vísceras
furia xestual en cada un dos seus nervos
na sesión de strip-tease daquela noite
Confusamente a imaxe dos seus lavres
voando sobre Europa
A vida sucesión de luz e sombras
o segredo da perfección máis pura
somentes unha sombra de dúbida nun xesto
a lene distorsión nun dos seus movementos
en fuxidía expresión de terror lúcido
nos ollos e na boca
esa era a perfección definitiva.
Caíron logo os ollos os pezóns
e coa furia da súa visión súpeta
todo o que puido arrincar ledamente irada
coa única forza das súas propias mans
e o poder que posúe quen descobre a verdade.
Luz e sombras de amor resucitado (1995):
VII
(Tantos anos que non me observaba
unha pel distinta á miña, ou que non fose xa
parte dos meus ollos, explorada, coñecida
ou compartida...)
Vendo eses dous ollos latexantes
cal visión dunha imaxe entresoñada
no seu peito en perfecta simetría
cun interno tremor que me fascina
desexaría entrar nela e refuxiarme
no seu corpo secreto para sempre
protexido da morte
coa súa vida
féndeme o corpo un húmido arrepío
e bícame as vértebras con furia
nun vértigo de dor e de tenrura.
xuño, 95
Poemas da morte sobrevivida a forza de paixón e sabotaxes (1995)
Mala sorte
(Cunha bala calibre sete sesenta e cinco
no peto máis pequeno do vaqueiro, sei que
a miña vontade é decisiva para escoller
o momento e o lugar. E apálpoa cos dedos
a todas horas.)
E por primeira vez desde que souben
que aínda respiraba e seguía vivo
sei o que é sentir medo a non estalo
Interrompido na mellor escea
cando estaba soñando un soño dérmico
de paixón e beleza
cunha serea distancia literaria e sabia
Só ela podía ser tan inoportuna
groseira inculta e pouco delicada
chamándome despois de ter sobrevivido
á confortable atracción do fracaso
e saber dunha vez o que era a vida
amar e ser amado.
setembro, 95
The flowers of friendship faded
Friendship faded
Presentimos as horas do vrao
vivir de día
os futuros soños fríos
de amenceres de lúa con armarios transparentes de ollos fríos
asesinos de princesas durmidas
en moreas de bebidas inocentes
reises da explosión solitaria
nun día escuro do país acusados de querer ser
ananos e vivir na herba
apuntándovos coa morte en decadencia
dende o día do viaxe
ou fuxida sentimental
oubeando (a chamada do bosco que se me escondía)
o sonido
de senso desesperado
o sonido tráxico.
O éstase
en sorrisa vendo
como Piedad matabas aquil buraco escuro con forma de crime
onde o silenzo ule
a tormenta nostálxica e neurótica
(un centro neurótico pro
cun límite marcado nalgún sitio)
e non era a primeira vez
que o suicidio voaba no ceo da última paisaxe
Mary (buked and scorned)
xa o tiña visto
no ceo de California.
Leitura de 5 poemas de Lois Pereiro
(Declaración - Arturo Casas; Namorado outra vez - Antón Losada; Revisando os danos - Paco Macías;
Soir - Antón Patiño; Narcisismo - Antón Lopo)
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coordenação Pedro Godinho
Iniciámos a publicação de textos relativos aos autores que têm vindo a ser anualmente distinguidos no Dia das Letras Galegas: Rosalia de Castro (1963), Daniel Castelão (1964), Eduardo Pondal (1965).
Interrompemos, momentaneamente, aquela sequência para dar lugar ao distinguido este 17 de Maio de 2011: Lois Pereiro.
Luis Ángel Sánchez Pereiro, mais conhecido como Lois Pereiro, escritor e poeta galego, nasceu a 16 de Fevereiro de 1958, em Monforte de Lemos (Galiza), e faleceu, com 38 anos e doente, a 24 de Maio de 1996, na Corunha (Galiza).
Foi escolhido pela RAG para o Dia das Letras Galegas deste ano de 2011.
José Martinho Montero Santalha, presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), contou-nos como o poeta Lois Pereiro é mencionado num poema de Ricardo Carvalho Calero, em agradecimento aos dez poetas “de amor e desamor” pelo exemplar e dedicatória que lhe ofereceram.
Em vida publicou duas obras; Poemas 1981/1991 (1992) e Poesía última de amor e enfermidade (1995), tendo, após a sua morte, sido publicada Poemas para unha Loia (1997), que recolhe obras da época madrilena, publicadas na revista “Loia”.
Diz o seu irmão, Xosé Manuel Pereiro, que ao escrever os seus primeiros poemas declarou que nunca escreveria em castelhano.
Como não conhecia este poeta, de lírica punk dirão alguns e talvez não o enjeitasse o próprio, procurei na rede e aqui deixo dois dos poemas encontrados na Biblioteca Virtual Galega:
En doce versos falsos
1 | A miúdo botas negras e o seu xesto |
2 | na postura dun acto de violencia |
3 | pousadas coma un signo |
4 | na noite lostregada |
5 | esluída no refuxio |
6 | da procesión de euforia |
7 | na creación volcánica dun soño |
8 | na idea procreada |
9 | que non entraría en min |
10 | sen o pruído curioso |
11 | cravado sen molestias nos meus ollos |
12 | que van durmir o soño que non sinto. |
Poemas póstumos (1992-94)
Curiosidade
Saber que está un á morte
e o corpo é unha paisaxe de batalla:
unha carnicería no cerebro.
¿Permitirías ti, amor deserto,
que nesta fevre penitente abrise
a derradeira porta e a pechase
detrás miña, sonámbulo e impasible,
ou porías o pé
entre ela e o destino?
novembro, 92 |
As armas da paixão - um vídeo documental sobre a vida e a obra de Lois Pereiro
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coordenação Pedro Godinho
Como parte da programação de homenagem a Ernesto Guerra da Cal, pelo centenário do seu nascimento, realizou-se, em Santiago de Compostela, no passado 17 de Maio, Dia das Letras Galegas, uma cerimónia pública que teve lugar junto ao monumento a Ricardo Carvalho Calero.
[Recorda-se que a Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), com o apoio doutras entidades cívicas, criou um sítio web Centenário Guerra da Cal que acolhe e solicita materiais sobre a vida, obra, época e legado intelectual do professor Ernesto Guerra da Cal.]
Além da recordação de Guerra da Cal e do seu papel fundamental em prol do português da Galiza, foram lidos poemas de Guerra da Cal, de Carvalho Calero e de Lois Pereiro (autor distinguido em 2011 pelo Dia das Letras Galegas).
Procedeu-se também à leitura dos manifestos - Manifesto pela Hegemonia Social do Galego e Manifesto da Fundaçom Meendinho "Galegas, galegos, enveredemos o caminho certo” -, de encorajamento da Galiza à participação e vivência plena no espaço da lusofonia.
Na sua simplicidade, também o Estrolabio recordou, no Sempre Galiza do passado dia 17 de Maio, Ernesto Guerra da Cal e o Dia das Letras Galegas e, nesse mesmo dia, Carlos Loures publicou um texto no qual sem contestar a valia da obra de Lois Pereiro (que não conhecia) lamentava que, por mais um ano, Ricardo Carvalho Calero fosse preterido, julgando incompreensível que a um homem como Carvalho Calero continuasse a ser denegada pela Real Academia Galega (RAG) a merecida homenagem e desde há dez anos proposta. Porquê?, repetia uma interrogação já antes formulada.
No dia seguinte, a 18 de Maio, Carlos Loures voltava à liça com novo texto, em diálogo com a interessante nota de Carlos Durão em A Nossa Língua e agradecendo a resposta avançada à interrogação que deixara.
Pelo seu interesse, e pela relação estabelecido entre os nomes de Carvalho Calero e de Lois Pereiro, transcrevemos abaixo o texto de José-Martinho Montero Santalha, presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP):
Carvalho Calero e Lois Pereiro
Os nomes de Carvalho Calero (Ferrol 1910 - Santiago de Compostela 1990) e Lois Pereiro (Monforte de Lemos 1958 - A Corunha 1996) apareceram relacionados quando há um ano a Real Academia Galega decidiu dedicar ao poeta monfortino o Dia das Letras Galegas do presente ano 2011: como é bem sabido, o nome de Carvalho Calero é um dos que mais frequentemente se propõem desde há já alguns anos entre os merecedores dessa homenagem anual da cultura galega.
No tempo da vida não teriam muita ocasião de coincidir Carvalho e Pereiro; mas, apesar da grande diferença de idade, faleceram com só seis anos de distância, o primeiro com 80 anos e o segundo muito prematuramente com menos da metade (38).
Carvalho cita Pereiro
No entanto, na obra poética de Carvalho Calero há uma alusão a Lois Pereiro, que não deixará de ser oportuno aduzir nestes dias em que lembramos o jovem poeta, segado pela doença quando ainda tanta vida (e tanta criatividade literária) lhe poderia ficar por diante.
Quando se publicaram na Corunha os dois volumes de antologia poética intitulados De amor e desamor (A Corunha 1984 e 1985), os autores -- dez poetas, entres os quais se achava Lois Pereiro -- enviaram a Carvalho um exemplar de cada volume, acompanhado, em ambos os casos, de uma dedicatória afectuosa. Estes exemplares conservam-se no Parlamento Galego, na «Biblioteca Carvalho Calero», e as suas fichas estão acessíveis em Internet (nas quais não deixa de indicar-se oportunamente que ambos incluem uma “dedicatória autógrafa dos autores”).
Carvalho Calero agradeceu a dedicatória do primeiro livro com um poema que dirigiu a Fernám Velho, citando nele os nomes dos dez poetas, na ordem em que aparecem na fotografia (magnífica, de Xurxo Lobato) incluída no início do volume. Aí é onde ocorre o nome de Lois Pereiro: “Palharês, Fernám Velho, / Mato Fondo, Valcárcel, / Ribas, Salinas Portugal, Pereiro, / Lino Brage, Xavier Seoane, / José Devesa” (versos 18-22).
Na realidade, o poema desenvolve-se fundamentalmente como um comentário literário à fotografia; mas não falta a referência metafórica ao mundo clássico (com as 9 musas e o pai Apolo, cujos amores os dez poetas conquistariam) e até a alusão biográfica à mocidade do próprio autor e aos seus afãs poéticos de aqueles tempos.
Eis o texto desse poema, que Carvalho incorporou logo ao seu livro Cantigas de amigo e outros poemas (1980-1985), publicado pela AGAL em 1986 (pp. 150-151):
"em ringleira de frente despregados, / dispostos à batalha:
Palharês, Fernám Velho, / Mato Fondo, Valcárcel, / Ribas, Salinas Portugal, Pereiro, /
Lino Brage, Xavier Seoane, / José Devesa, os dez da fama"
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
A Imperdível, a loja electrónica da Associação Galega da Língua (AGAL), celebra o dia das letras galegas oferecendo um desconto de 10% em todas as compras feitas neste 17 de Maio. Aproveitem os títulos disponíveis.
PGL - O vindouro dia 17 de maio, Dia das Letras Galegas, às 11h30 em Compostela, diante do monumento a Ricardo Carvalho Calero, terá lugar um ato comemorativo e de homenagem no centenário do nascimento do professor, investigador e poeta galego Ernesto Guerra da Cal (1911-1994).
Guerra da Cal foi sem dúvida o poeta galego que mais eco teve dentro e fora da Galiza, como testemunha a abundandíssima bibliografia transnacional e transcontinental a que deu origem a sua obra. Foi também o professor galego de mais prestígio internacional, autor da por muitos conceitos monumental Língua e Estilo de Eça de Queiroz, e duma viçosa obra devotada à nossa cultura, para a que viveu e pela que padeceu até morrer no exílio, consequente com as suas ideias e firmes ideais.
O ato incluirá a leitura de poemas de Guerra da Cal e de Lois Pereiro, grande poeta galego que também será lembrado. Após a homenagem realizar-se-á um roteiro de língua e história pelas ruas de Compostela, guiado pelo professor André Pena Granha, de participação livre e duração aproximada de uma hora.
A Fundação Meendinho elaborou para o dia das letras de 2011 a seguinte Petição GALEGAS E GALEGOS: ENVEREDEMOS O CAMINHO CERTO, que pode ser subscrita em http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=DLG2011:
A fala da Galiza, o português de Portugal, os português dos distintos estados lusófonos, forma um único diassistema internacional, conhecido entre nós popularmente como galego e internacionalmente como português
Ricardo Carvalho Calero
1- A Língua da Galiza é uma criação original coletiva do nosso povo, que nos faz ser o que somos ao nela vivermos socialmente como tais, pois por cima de qualquer outra cousa ela representa o espírito da nossa alma coletiva como povo diferenciado e original.
2- Portugal esse cerne da velha Galiza, estendeu a nossa língua polo mundo, fazendo dela uma das mais importantes línguas internacionais. A língua da Galiza é, nas palavras tradicionais do galeguismo, extensa e útil.
3- O povo galego na sua língua extensa e útil está e é no mundo, porém sem ela ficará morto.
4- Denunciamos que sob a pretensa normalização da língua da Galiza, sempre inacabada, as autoridades espanholas apresentam a língua nacional carente de qualquer sentido de utilidade e expurgada da sua dignidade e da sua condição de ser uma das línguas europeias de maior difusão internacional, usada em todos os continentes, que com a variedade própria das línguas internacionais é falada por centos de milhões de pessoas no mundo.
5- Enquanto se reforça continuamente o fator da utilidade e a correspondente necessidade da língua castelhana; para a língua da Galiza, o galegoportuguês ou português da Galiza as políticas reduzem-no, a um sentimento carente de utilidade e necessidade, o que a faz perceber como uma escolha na intimidade privada e sentimental, despida do que é a realidade das línguas: Uma criação coletiva que se vive socialmente e como tal é necessária e útil.
6- Na Língua da Galiza cria-se, edita-se, publica-se, como o que é, uma das línguas internacionais do mundo. Denunciamos com o amparo das leis europeias -repetidamente violadas polas autoridades espanholas- ante o nosso povo, os povos do mundo e de jeito especial os da lusofonia que compartimos- que a receção dos meios portugueses de todo tipo, especialmente as televisões segue absolutamente banido da Galiza ao norte do rio Minho, sob as práticas mais corruptas, falsas e vergonhosas.
7- Lembramos, que neste ano de 2011 cumpre-se o 1600 aniversário do nascimento -nas suas palavras- Gallaeciorum Regnum, que com o centro na velha e histórica capital da Galiza –Braga- foi o fermento para o povo galego como tal ser gerado, tanto no que respeita a Portugal, como à Galiza do estado espanhol, que acabou usufruindo esse nome -.
8- Os assinantes, queremos lembrar a todo o nosso povo, que a Galiza foi um reino livre com as suas pegadas na história do mundo e da velha Europa, pleno de sucesso, e que como tal viveu até que a terrível guerra de 15 anos (chamada naquela altura de doma e castração) a seguir a batalha de Toro de 1486, nos submeteu a Castela. Pensamos que é momento de tornarmos à rota certa e relacionarmo-nos com os nossos vizinhos sob os princípios do respeito e da fraternidade solidária.
9- Neste ano, centésimo do nosso grande homem das letras Ernesto Guerra da Cal, queremos destacar a sua figura que tem que ser um farol do agir polo caminho certo e seguro o nosso povo, compartindo esse farol com o do seu bom amigo o também professor Ricardo Carvalho Calero, ante cujo monumento nos achamos.
O Dia das Letras Galegas
O Dia das Letras Galegas começou a ser celebrado em 1963. Desde então, o dia 17 de Maio é dedicado à língua e à literatura galegas. A primeira data foi escolhida de modo a coincidir com a comemoração do centenário da primeira edição de Cantares Galegos, de Rosalía de Castro. Anualmente, a Galiza passou, assim, a homenagear um autor. Para poder ser considerado há que reunir três condições cumulativamente: ter uma obra literária relevante escrita em galego; ter falecido há dez ou mais anos; e, ser indigitado por, pelo menos, três membros da Real Academia Galega.
No Estrolabio, desde o início, demos um espaço à Galiza e às temáticas galegas – políticas, culturais e literárias – e continuaremos a fazê-lo. Criámos mesmo um espaço regular dedicado – Sempre Galiza! – publicado ás 3ªs e 6ªs, mas não exclusivo – as letras galegas, como outras da língua portuguesa, não estão limitadas por um calendário ou secção, espalham-se pelos várias entradas e secções.
Recentemente, iniciámos a publicação sucessiva de textos dos autores já escolhidos para um Dia das Letras Galegas [lista no fim], e fá-lo-emos para todos e cada um deles: de Rosalia de Castro (1963) a Lois Pereiro (2011).
E com eles outros autores galegos que nos cativem.
Aqui vos deixamos (é clicar e ler), como forma de nos associarmos a este 17 de Maio, a selecção dalgumas das entradas portu-galegas publicadas no Estrolabio:
Rosalía de Castro e o Rexurdimento galego
Rosalia de Castro, A Gaita Galega
Rosalia de Castro, Adeus, rios; adeus, fontes
Rosalia de Castro, Negra Sombra
Daniel Castelão: língua e nação
Daniel Castelão, Um conto triste
Daniel Castelão, Uma rua num porto distante
Daniel Castelão, Os velhos não devem enamorar-se e Lela
Eduardo Pondal, o bardo galego
Manuel María, a voz poética da consciência galega
Ernesto Guerra da Cal: 2011 centenário do nascimento
Jenaro Marinhas del Valle, O Assento
Sem esquecer, e com uma chamada de atenção especial, o texto do professor Carlos Durão, Síntese do reintegracionismo contemporâneo.
Síntese do reintegracionismo contemporâneo, por Carlos Durão
Continuem a ler, em galego ( = português da Galiza).
Desde 1963, cada ano subsequente, o Dia das Letras Galegas tem vindo a ser dedicado a um escritor em língua galega já falecido:
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
Depois de Rosalia de Castro, em 1963, e de Daniel Castelão, em 1964, o 3º Dia das Letras Galegas, em 1965, foi dedicado ao “bardo” Eduardo Pondal.
Eduardo Pondal nasceu a 8 de Fevereiro de 1835, em Ponteceso, e morreu em 8 de Março de 1917, na Corunha. Exerceu medicina durante um curto período mas abandonou a carreira médica e foi às letras que se dedicou.
Tendo embora também escrito em castelhano, como é o caso de Rumores de los pinos obra publicada em 1877 e que reune poemas em castelhano e galego, Eduardo Pondal orienta a sua escrita para a recuperação e exaltação da língua e cultura galegas e defesa da liberdade do povo galego.
É dele a letra do hino nacional galego, Os Pinos, musicado por Pascual Veiga, e que corresponde a partes do poema Queixumes dos pinos, de 1886, o qual ampliava e recuperava da versão bilingue dos pinos de 1877 as composições em galego e incluía outras antes em castelhano e reescritas em galego.
Hino Galego – Os Pinos (Os Pinheiros)
Que dim os rumorosos
na costa verdecente,
ao raio transparente
do plácido luar?
Que dim as altas copas
de escuro arume arpado
c’o seu bem compassado
monótono fungar?
Do teu verdor cingido
e de benignos astros,
confim dos verdes castros
e valeroso clam,
nom dês a esquecimento
da injúria o rude tono;
desperta do teu sono,
fogar de Breogám.
Os bons e generosos
a nossa voz entendem
e com arroubo atendem
ao nosso rouco som,
mas só os ignorantes
e férridos e duros,
imbecis e obscuros,
nom nos entendem, nom.
Os tempos som chegados
dos bardos das idades,
que as vossas vaguidades
cumprido fim terám,
pois, onde quer, gigante,
a nossa voz pregoa
a redençom da boa
naçom de Breogám.
A invocação da Galiza, que deve despertar e empreender o caminho da sua libertação, é feita de forma metafórica por referência à nação de Breogã, guerreiro mitológico celta e pai fundador da Galiza, e primeiro título do texto enviado por Eduardo Pondal a Pascual Veiga a solicitação deste.
Cultivando também a lírica, a poesia de Eduardo Pondal é fortemente épica, marcada pelo helenismo e celtismo em que canta o passado, lendas, mitos e gestas dos heróis céltico-galegos.
Essa dimensão está presente não só em Queixumes dos pinos mas também noutro extenso poema épico – Os Eoas – baseado na descoberta do continente americanos, a que Pondal atribuía grande importância mas do qual só publicou um primeiro rascunho em vida e depois só publicado como obra póstuma, em 2005.
Em Pondal encontra-se igualmente o apreço por Camões e afecto por Portugal, como país irmão e aliado desejado e com quem a Galiza partilha a língua, diferente duma Castela que lhes nega nação e língua:
que além Minho estão,
os bons filhos do Luso,
apartados
irmãos
nossos por um destino
invejoso e fatal.
Com os
robustos acentos,
grandes os chamarás,
verbo do grã
Camões
fala de Breogã!
Leitura dum poema de Eduardo Pondal
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
Daniel Castelão foi o nome escolhido para o 2º Dia das Letras Galegas (1964).
Artista, escritor e político é considerado um dos fundadores do nacionalismo galego.
Da produção de Daniel Castelão faz parte a peça de teatro ”Os velhos não devem enamorar-se”, para a qual, além do texto, Castelão cuidou também do lado visual tendo-se encarregado do desenho dos cenários, figurinos e máscaras.
Escrita na década dos anos trinta foi estreada no exílio, em 1941, em Buenos Aires, com a participação do actor galego Fernando Iglesias (“Tacholas”). Desde então é representada por muitos grupos de teatro galegos.
Da peça “Os velhos não devem enamorar-se” - ironia sobre o passar do tempo e o amor dos velhos pelas jovens -, faz parte a canção “Lela”, pensada como uma serenata estudantil à moda de Compostela na qual podemos encontrar semelhanças com os fados e baladas de Coimbra.
Lela
Están as nubes chorando
Por un amor que morreu
Están as ruas molladas
De tanto como chovéu
Lela, Lela
Lelina por quen eu morro
Quero mirarme
Nas meninas dos teus ollos
Non me deixes
E ten compasión de min
Sen ti non podo
Sen ti non podo vivir
Dame alento das tuas palabras
Dame celme do teu corazón
Dame lume das tuas miradas
Dame vida co teu dulce amor
Ouçamos Lela na adaptação do galego Carlos Núñez e voz da portuguesa Dulce Pontes.
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
Daniel Castelão foi o nome escolhido para o 2º Dia das Letras Galegas (1964).
Artista, escritor e político é considerado um dos fundadores do nacionalismo galego.
De entre os contos, sobre cousas da vida, incluídos nos dois livros de Cousas (1926 e 1929), escolhemos para hoje, com desenhos também de Castelão:
UNHA RÚA NUN PORTO LONXANO
Unha rúa nun porto lonxano do norte. As tabernas están acuguladas de mariñeiros e botan polas súas portas o bafo quente dos borrachos. Xentes de tódalas castes do mundo, cantigas a gorxa rachada, música de pianolas chocas, moito fedor a sebo...
Un mariñeiro que fala francés tropeza cun mariñeiro que fala inglés. Os dous fanse promesas de gran amistade, cada un no seu falar. E sen entenderse, camiñan xuntos, collidos do brazo, servíndose mutuamente de puntales.
0 mariñeiro que fala francés e maiío mariñeiro que fala inglés entran minha taberna servida por un home gordo. Queren perde-lo sentido xuntos para seren máis amigos. Quen sabe se despois de ben borrachos poderán entenderse!
E cando o mariñeiro que fala inglés xa non rexe co seu corpo, comenza a cantar:
Lanchiña que vas en vela,
levas panos e refaixos
para a miña Manoela.
0 mariñeiro que fala francés arregala os ollos, abrázase ó compañeiro e comenza tamén a cantar:
Lanchiña que vas en vela,
levas panos e refaixos
para a miña Manoela.
A-iu-jú-jú!! Os dous mariñeiros eran galegos.
0 taberneiro, gordo coma una ilamengo de caste, veu saí-los dous mariñeiros da taberna e pola súa faciana vermella escorregaron as hágoas. E dispois dixo para si nun laído saudoso:
Lanchiña que vas en vela,
Tamén o taberneiro era galego.
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
Daniel Castelão foi o nome escolhido para o 2º Dia das Letras Galegas (1964), vendo assim reconhecida a importância da sua obra para a língua galega.
Artista, escritor e político é considerado um dos fundadores do nacionalismo galego.
Entre a narrativa de Castelão encontra-se Retrincos, um conjunto de cinco relatos sobre a condição humano, publicado em 1934.
O RETRATO (de Retrincos)
Por amainala conciencia guindei co meu título de médico no fondo dunha gabeta, e busquei outra maneira de me valer. As xentes xa non sabían que eu era dono de tan tremenda licencia oficial; mais unha noite foron requiridos os meus servicios.
Era domingo. Melchor, o taberneiro, agardaba por min ó pé da porta. Deume as "boas noites" e rompeu a chorar, e por entre os saloucos saíanlle as verbas tan estruchadas que soamente logrou dicirme que tiña un fillo a morrer.
O pobre pai turraba por min, e eu deixábame levar, enfeitizado pola súa dor. Despois de todo eu era médico titulado e non podía negarme! E tiven tan fortes anceios de compracelo que sentín xurdir nos meus adentros unha grande ciencia...
Cando chegamos á casa de Melchor logrei arriarme das súas mans, e con finxido acoitamento confeseille que sabía pouco da carreira...
-Repara que hai moitos anos que non visito enfermos.
E entón Melchor, facendo un esforzo, díxome quedamente:
-O meu fillo xa non precisa de médicos. Eu xa sei que o coitado non pasa da noite. E váiseme, señor; ¡váiseme e non teño ningún retrato seu!
Ai, eu non fora chamado como médico; eu fora chamado como retratista, e no intre sentín ganas acedas de botarme a rir.
E por verme ceibe de xeira tan macabra díxenlle que unha fotografía era mellor ca un deseño, asegureille que de noite poden facerse fotografías, e botando man de moitos razonamentos logrei que Melchor largase de min á cata dun fotógrafo.
A cousa quedaba arrombada, e funme durmir, con mil ideas ensarilladas na chola.
Cando estaba prendendo no sono petaron na miña porta. Era Melchor.
- Os fotógrafos din que non teñen magnesio!
E díxomo tremendo de anguria. A face albeira, e os ollos coma dous tetos de carne vermella de tanto chorar.
Endexamais fitei a un home tan desfeito pola dor.
Pregaba, pregaba, e collíame as mans, e turraba por min, e o malpocado dicía cousas que me rachaban as entrañas:
- Considérese, señor. Dous riscos de vostede nun papel e xa poderei ollar sempre a cariña do meu neno. Non me deixe na escuridade, señor!
Quen teria corazón para negarse! Collín papel e lapis, e alá me fun con Melchor, disposto a facer un retrato do rapaz moribundo.
Todo estaba quedo e todo estaba calado. Unha luz cansa alumeaba, en amarelo, dúas facianas arrepiantes que ventaban a morte. O neno era o centro daquela pobreza da materia.
Sen dicir nada senteime a debuxalo que ollaban os meus ollos de terra, e soamente ó cabo dalgún tempo conseguín afacerme ó drama que fitaba e aínda esquecelo un pouco, para poder traballar afervoado, coma un artista. E cando o deseño estaba xa no seu punto a voz de Melchor, agrandada por tanto silencio, feriume con estas verbas:
- Pola alma dos seus defuntos, non mo retrate así. Non lle poña esa cara tan encoveirada e tan triste!
Confeso que ó volver á realidade non souben que facer, e púxenme a repasalas liñas xa feitas do retrato. O silencio foi esgazado novamente por Melchor:
- Vostede ben sabe como era o meu rapaciño. Faga memoria, señor, e debúxemo rindo.
De súpeto naceume unha grande idea. Rachei o traballo, ensumín o meu ollar nun novo papel branco e debuxei un neno imaxinario. Inventei un neno moi bonito, moi bonito: un anxo de retábulo barroco, a sorrir.
Entreguei o debuxo e saín fuxindo, e no intre de poñe-lo pé na rúa sentin que choraban dentro da casa. A morte viñera.
Agora Melchor consólase ollando a miña obra, que está pendurada enriba da cómoda, e sempre di coa mellor fe do mundo:
- Tiven moitos fillos, pero o máis bonito de todos foi o que me morreu. Velaí está o retrato que non minte.
Pontevedra, 1922
Como a sua escrita, os desenhos e caricaturas de Castelão são marcados pela crítica social.
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
Afonso Daniel Manuel Rodrigues Castelão nasceu a 30 de Janeiro de 1886, em Rianxo, Galiza, e morreu a 7 de Janeiro de 1950, em Buenos Aires, Argentina.
Artista, escritor e político é considerado um dos fundadores do nacionalismo galego.
Foi-lhe dedicado o 2º Dia das Letras Galegas, em 1964 (o 1º, em 1963, tendo sido dedicado à “gigante” Rosalia de Castro).
Aos três meses de idade emigrou para a Argentina de onde regressou à Galiza. Estudou Medicina na Universidade de Santiago de Compostela. Depois dum curso de doutoramento em Madrid, entre 1909 e 1910, especializou-se em obstretícia, em 1910, em Santiago de Compostela, após o que se instalou na sua terra natal, Rianxo.
Em 1926 foi nomeado académico da Real Academia Galega.
Em 1931 foi eleito deputado pela Organização Republicana Galega Autónoma (ORGA) para as Cortes Constituintes da Segunda República Espanhola e participou na constituição do Partido Galeguista.
Desterrado para Badajoz em 1934, foi novamente eleito deputado em 1936 na lista da Frente Popular e protagonista da campanha pelo sim ao Estatuto de Autonomia da Galiza, aprovado em plebiscito.
O golpe de estado franquista apanha-o em Madrid. Exilou-se no México, depois Nova Iorque e, finalmente, em Buenos Aires. Pertenceu ao governo republicano no exílio presidido por Giral (1946).
Em 1944 publicou Sempre em Galiza, ligando literatura e teoria do galeguismo, considerada uma obra capital do nacionalismo galego.
Foi o primeiro presidente do Conselho da Galiza, o governo da nação no exílio.
Ao longo da vida, teve também uma intervenção activa na vida cultural, literária e artística da Galiza e dos círculos galegos, deixando obra importante desde o desenho à narrativa, passando pelo ensaio.
Além da escrita, interessou-se pelo desenho e a pintura, em especial pela caricatura. Em 1908 expõs os seus desenhos pela primeira vez, em Madrid. Realizou diversas exposições, fundou e colaborou com várias publicações e fez múltiplas conferências.
Defendeu, em numerosas ocasiões, a importância da língua na identidade e a unidade linguística galego-portuguesa.
«Nengum idioma alheio -por ilustre que seja- poderá expressar em nome do nosso os íntimos sentimentos, as fundas dores e as perduráveis esperanças do povo galego; se ainda somos diferentes e capazes de existir, nom é mais que por obra e graça do idioma. Velaí porque o autor dum livro sempre será um patriota e porque os que refugam a nossa fala nom som dignos de chamar-se galegos, porque desprezam o cerne da democracia e cegam as melhores fontes de criaçom.»
«Nengum galego culto deve consentir que a fala do seu povo -umha fala de príncipes, que ainda é senhora em Portugal e Brasil- seja escrava no pátrio lar, sem direito a ir à escola nem a apresentar-se como igual do castelhano.»
«...a nossa língua está viva e floresce em Portugal, falam-na e cultivam-na mais de sessenta milhões de seres que, hoje por hoje, ainda vivem fora do imperialismo espanhol.»
«Desejo, ademais, que o galego se acerque e confunda co português»
«As palavras castelhanas, em boca de galegos, som quase sempre palavras envilecidas, incapazes de ressoarem na consciência dos autênticos galegos; pero tamém hai consciências envilecidas por complexos de inferioridade, só capazes de admiraçom anteposes decorativas e linguagens de teatro. E já é hora de dizer que Galiza será forte em Espanha quando se negue a falar castelhano e fale fortemente a sua língua. Um galego pode falar o castelhano com o mesmo interesse com que fala qualquer outra língua estrangeira; pero em quanto um galego fale o castelhano como língua própria deixa de ser galego sem que por isso chegue a ser castelhano.»
«Estamos fartos de ser umha colónia»
«Nom esqueçamos que se ainda somos galegos é por obra e graça do idioma.»
«O problema do idioma em Galiza é, pois, um problema de dignidade e de liberdade; pero mais que nada é um problema de cultura.»
publica-se às 3ªs e 6ªs
coordenação Pedro Godinho
Já aqui trouxemos Rosalia mais de uma vez, e voltaremos a trazê-la, que é leitura que merece. A sua importância para a literatura galega contemporânea também já foi por muitos explicada.
O Dia das Letras Galegas, celebrado a 17 de Maio, coincide, aliás, com a data da primeira edição dos Cantares Galegos de Rosalia de Castro, obra fundamental no ressurgimento da literatura em língua galega. Teve início em 1963, ano do centenário daquela primeira edição, e foi dedicado a Rosalia de Castro, como não podia deixar de ser. Cada ano é dedicado a um escritor em língua galega, já falecido.
Iniciando aqui a apresentação de textos dos vários escritores já distinguidos no Dia das Letras Galegas, só podíamos começar por Rosalia.
Pobre Galiza, não deves
chamar-te nunca espanhola
...
A GAITA GALEGA
Resposta ao eminente poeta D. Ventura Ruiz de Aguilera
I
Quando este cantar, poeta,
na lira gemendo entoas,
não sei o que por mim passa
que as lagriminhas me afogam,
diante de mim cruzar vejo
a Virgem-mártir que invocas,
cos pés cravados de espinhas,
coas mãos cobertas de rosas.
Em vão a gaita, tocando
uma alvorada de glória,
sons pelos ares espalha
que caem nas brandas ondas;
embalde baila contente
nas eiras a turba louca,
que aqueles sons, tal me afligem,
cousas tão tristes me contam,
que eu posso dizer-che
não canta, que chora.
II
Vejo contigo estes céus,
vejo estas brancas auroras,
vejo estes campos floridos
onde se arrulham as pombas,
e estas montanhas gigantes
que lá coas nuvens se tocam
cobertas de verdes pinhos
e de florinhas cheirosas;
vejo esta terra bendita
onde o bem de Deus transborda
e onde os anjinhos formosos
tecem brilhantes coroas;
mas, ai!, como também vejo
passar macilentas sombras,
grilhões de ferro arrastando
entre sorrisos de mofa,
em-que mimosa gaitinha
toque alvorada de glória,
eu posso dizer-che
não canta, que chora.
III
Falas, e o meu pensamento
mira passar temerosas
as sombras desses cem portos
que ao pé das ondinhas moram,
e pouco a pouco marchando,
frágeis e tristes e soias
vagar as naves soberbas
lá na imensidão traidora.
E, ai!, como nelas navegam
os filhos das nossas costas
com rumo à América infanda
que a morte com pão lhes doa,
desnudos pedindo em vão
à pátria misericórdia,
em-que contente a gaitinha
o pobre gaiteiro toca,
eu posso dizer-che
não canta, que chora.
IV
Pobre Galiza, não deves
chamar-te nunca espanhola,
que Espanha de ti se olvida
quando és tu, ai!, tão formosa.
Qual se na infâmia nasceras,
torpe, de ti se envergonha,
e a mãe que um filho despreza
mãe sem coração se mostra.
Ninguém por que te levantes
che alarga a mão bondadosa;
ninguém teus prantos enxuga,
e humilde choras e choras.
Galiza, tu não tens pátria,
tu vives no mundo soia,
e a prole fecunda tua
se espalha em errantes hordas,
mentres triste e solitária
tendida na verde alfombra
ao mar esperanças pedes,
de Deus a esperança imploras.
Por isso em-que em som de festa
alegre a gaitinha se ouça,
eu posso dizer-che
não canta, que chora
V
“Espera, Galiza, espera.”
Quanto este grito consola!
Pague-cho Deus, bom poeta,
mas é-che esperança louca;
que antes de que os tempos cheguem
de dita tão venturosa,
antes que Galiza suba,
coa cruz que o seu lombo dobra,
aquel difícil caminho
que o pé dos abismos toca,
quiçá cansada e sedenta,
quiçá que de angústia morra.
Pague-che Deus, bom poeta,
essa esperança de glória,
que de teu peito surgindo,
à Virgem-mártir coroa,
e esta recompensa seja
de amargas penas recônditas.
Pague-che este cantar triste
que as nossas tristezas conta,
que só tu,… tu entre tantos!,
das nossas mágoas se acorda.
Digna vontade dum génio,
Alma pura e generosa!
E quando a gaita galega
alô nas Castelas ouças,
ao teu coração pergunta;
verás que diz em resposta
que a gaita galega
não canta, que chora.
Cantares Galegos
Rosalia de Castro
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