Quarta-feira, 23 de Março de 2011

A juventude, a variável de ajustamento dos desajustamentos dos outros por Júlio Marques Mota


A autonomia dos jovens ao serviço da igualdade: síntese de um relatório

 

A juventude é, em  França, pouco autónoma. Depende mais que noutros países  das solidariedades familiares, o que os poderes públicos incentivam, não somente quanto à vida de estudante mas igualmente para os primeiros anos de vida activa, anormalmente marcados pelo desemprego, pela precariedade, pelos rendimentos modestos. Ora o apoio familiar é um factor importante de desigualdades e não pode garantir uma real emancipação em direcção à  juventude. O relatório que publica Terra Nova, coordenado por Guilhaume Allègre , Alain Marceau (1) e Maud Arnov (1), propõe uma inversão de perspectiva em proveito de uma política de autonomia dos jovens. Contém nomeadamente duas grandes medidas, duas grandes propostas : “um capital formação” que garante um rendimento universal de apoio à vida estudante e um subsídio de inserção para os jovens que andem à procura do primeiro emprego, hoje sem recursos.

 

O aumento do tempo de vida traduziu-se pela  criação de uma terceira e depois  de uma quarta  idade da vida e pelo aumento do tempo de formação inicial  e, por conseguinte, pelo aumento também do tempo de juventude, que se pode definir como o período de tempo  que separa o fim da escolaridade obrigatória do acesso à independência financeira e residencial. Estas duas idades, o período de formação obrigatória e o outro, o que se segue até se chegar à independência financeira,  são caracterizadas pela dependência financeira devida ao afastamento do mercado de trabalho. Mas enquanto que a terceira idade é assumida  pela via  de segurança e solidariedade social, a dependência financeira ligada à formação inicial e às dificuldades de integração no mercado de trabalho, são em muito grande parte, assumidas  pelas respectivas famílias.

O aumento da duração do tempo  de  estudos era portador de uma dupla promessa: a da emancipação, pelo acesso  de uma  parte  crescente de cada geração a um nível de saber anteriormente reservado a  uma elite; a da modernização de uma economia que passa a dispor de uma mãodeobra cada vez mais qualificada. E permitiu o aparecimento de uma nova idade da vida, a juventude, idade das escolhas, das etapas decisivas da vida e da construção de si-mesmo.

A promessa de ontem parece hoje bem estragada. Desde há  quinze anos que a taxa de acesso de uma classe de idade ao fim do secundário  e aos estudos superiores estagna, relegando a França para bem longe da frente do  pelotáo  das  nações mais avançadas. O objectivo de alongamento dos estudos é ele mesmo  reposto em causa: este objectivo geraria uma baixa das exigências escolares, a desqualificação dos jovens diplomados e não conduziria a nenhuma democratização real. A autonomia dos jovens não está  ainda para breve. A obsessão do desemprego pesa ao longo de todo o percurso sobre a sua própria construção . Pais, angariadorers de mão-de-obra, instâncias de decisão políticas e os próprios jovens partilham o modelo do percurso rectilíneo  em que em cada ano se  marca um progresso num itinerário perfeitamente coerente, coroado por uma inserção profissional bem sucedida.

 

publicado por Luis Moreira às 20:00
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Sábado, 12 de Março de 2011

Geração parva ou a juventude como a variável de ajustamento dos desajustamentos dos nossos mercados, dos nossos governos, por Júlio Marques Mota

 Júlio Marques Mota

Promessa cumprida. Até dia 12, uma peça por dia que nos ajude a reflectir em conjunto sobre a crise actual e com particular relevo sobre os problemas da juventude que estará na rua  no dia 12 de Março.

 

Dois textos produzidos no âmbito de uma Fundação de tendência socialista, de influências muito próximas de Lionel  Jospin, último primeiro-ministro socialista em França,  dois textos da Fundação Terra Nova, são o nosso trabalho de hoje, o último desta série. Textos que em Portugal não veríamos nenhuma Fundação  próxima do PS a produzi-los nos tempos que correm, sob  o domínio  político de José Sócrates, Mariano Gago,  Maria Helena André, das diversas  Maria de Lurdes Rodrigues ou outros. O recente caso de Ernesto Paiva, meu camarada de Secção de Educação em Coimbra quando outrora discutíamos  a sério Educação, é  disso um bom exemplo.
Não nos queremos alongar . A leitura destes textos, de todos os textos aliás, publicados sobre a égide do dia 12, mostram-nos à evidência que em Portugal,  em Espanha, em França , na Alemanha ou algures, vejam-se os quadros da OCDE por nós reproduzidos,  a realidade é a mesma: os jovens são a variável de ajustamento de todos os desajustamento que os diversos governos e de diversos quadrantes políticos executaram ao serviço da tirania dos mercados. Tantos países, tantos governos, tantas cores diferentes, o mesmo problema impõe que se reveja o que há de comum entre todos eles e o que há de comum é que os nossos eleitos continuam a bem servir quem os não serve bem, os ingratos, continuam a servir e garantir  a dinâmica dos mercados financeiros  e a sua lógica dos bónus de milhões  face  a tanta gente que já anda  sem  tostões.

 

O exemplo  recente da subida dos preços dos produtos alimentares,  o trigo e o milho, por exemplo,  as praças de Tunis, do Cairo, de Tripoli e outras cheias de  gente que em comum tinham o facto de  ou estar desempregado ou de se estar esfomeado, a queda a seguir dos preços dos produtos alimentares,  a perturbação  dos mercados do petróleo e a subida vertiginosa do seu preço a seguir,  exactamente como em 2008, mostra que durante quase três anos depois de declarada a situação crise, nada de concreto se fez para colocar os mercados financeiros ao serviço da economia , antes pelo contrário continua a ser esta e os nossos eleitos, afinal, que ao serviço daqueles se continuam a prestar. 

Os nossos filhos, os nossos netos,  estarão na rua, dia 12 de Março. Estejamos pois à sua altura, saibamos apoiá-los, saibamos ouvi-los, saibamos depois defendê-los, o que até aqui concretamente não temos feito, são os votos de um professor em fim de linha como protesto contra a política da ignorância que tem sido levada a cabo  pelo actual executivo, que fará brevemente, por este caminho assim será, das Universidades, um campo de professores adjuntos ou a tempo parcial, para o ensino das generalidades a que se referia talvez o Director da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. Mas uma pergunta aqui deixo: neste caso qual é a missão da Universidade?

 

Saibamos pois neste dia de luta de gente jovem  pelo futuro de um país que é o nosso, saibamos ao menos nesse dia estar com aqueles que talvez pela primeira vez descem  à rua a  exigir que como gente sejam tratados, saibamos pois nesse dia estar com  uma geração que de modo nenhum merece ser de parva considerada e que por esta via talvez passe a compreender  que o direito ao futuro, esse, também se conquista. Serão talvez os primeiros passos nesse sentido,  para muitos deles.
Sobre esta questão, o presidente da Fundação Terra Nova é bem explicito e passamos a citar:

 

 

É necessário uma revolução copernicana das políticas públicas. Com prioridade, uma política de investimento social nas gerações futuras: nos mais pequenos, na educação, na universidade, na política activa de primeiro emprego, na fiscalidade e na política social para jovens … Investir no nosso capital humano é um imperativo humanista mais ainda que um  imperativo económico.
O governo e o povo conservador consideram que os jovens não têm o seu lugar na rua. Que os partidos de oposição são irresponsáveis ao apoiá-los a manifestarem-se. Mas seremos todos nós, os adultos, que seremos os  irresponsáveis se não os ouvirmos. Porque uma sociedade que, como Cronos, devora os seus filhos  é uma sociedade que se está a suicidar. “
Obrigado a todos aqueles que me acompanharam na leitura dos textos editados. E é tudo.

Coimbra,  10 de Março de 2011.

Júlio Marques Mota

publicado por Luis Moreira às 20:00
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Terça-feira, 15 de Fevereiro de 2011

Emprego e Desemprego na Juventude Portuguesa (1)– por Júlio Marques Mota

Carta enviada a diversos jornais  sobre o texto abaixo relativo ao desemprego na juventude  portuguesa e à  ausência de mecanismos de controle e de apoio  aos nossos jovens licenciados. Os documentos falam por si e que haja  alguém neste país  que fale por eles, pelos nossos estudantes e  a favor deles. Vale a pena  relê-los de novo agora na versão integral.

O presente trabalho aqui apresentado,  fruto de circunstâncias e de vários azares de outros muito mais novos que eu e cujas situações aqui se retratam,  foi concluído a 12 de Fevereiro. Quis o acaso também que no dia 13 o jornal Público venha com  uma grande reportagem sobre a geração  actual de licenciados. Coisas independentes, portanto. Neste meu texto de acasos e azares feito e sem nenhuma pretensão a querer ter, creio que num detalhe, pelo  menos nesse, vem dar uma outra dimensão à muito boa reportagem sobre a geração a que se refere o trabalho dos Deolinda: aqui e agora  é mesmo necessário  ir para além do espelho de Alice, não basta estar-lhe junto, atingir o seu limite, não, é necessário ir para além dele, é necessário ir para dentro da realidade que os apontamentos pelos alunos a mim deixados nos dão a entender:  quando se fala de licenciados recentes agora empregados  não se fala do ajustamento ou do desajustamento entre o que da  formação que é adquirido e o posto de trabalho que foi conseguido. E disso também é preciso saber. Se é o que pensamos, se o que os documentos nos mostram tende a ser geral,  não tenhamos então dúvidas, estamos a arrasar  uma grande parte desta geração que para nada disto está preparada. e possivelmente e por essa mesma razão a deixá-la depois irrecuperavelmente desamparada. E é também aqui que Bolonha se transforma num verdadeiro desastre.


Tomo a liberdade senhores jornalistas  de vos propor que partam o espelho de Alice e nos devolvam à luz da realidade e das  nossas consciências o que  de trágico a esse nível  se estará a passar e ao mesmo tempo também a silenciar.

De como vai o mercado de trabalho para os licenciados deste país, para os licenciados de Bolonha, pois estes casos  referem-se a três  jovens recém-licenciados, e uns embaraçados comentários que se lhes seguem.

Um documento em duas partes portanto. Na primeira parte colocamos testemunhos de vários licenciados a entrarem no mercado de trabalho, o seu primeiro contacto com o mundo dos empregadores. Uma segunda parte que consta de uns comentários desajeitados por causa da  brutalidade do que  nos testemunhos anteriores é exposto. Face a  estes depoimentos, face à violência não visível ao público  a que cada um dos nossos estudantes, indefesos, está sujeito,  nunca senti tanta dificuldade  em escrever, apenas tinha vontade de não me mexer, ficar parado, a olhar, de olhar vazio para o ecrã do computador. Leiam, vejam, indignem-se. Sublinhe-se que vários nomes de empresas, mesmo subcontratadas, são fictícios, apenas mantivemos os nomes correctos quando  se trata de empresas bem conhecidos do público.

A) Vias de desemprego, os relatos

Primeiro  Candidato a  emprego

Empresa  Ganhar Desafios pertencente ao Grupo KF

Actividade Comercial - Comercial porta a porta, door-to-door.

Venda de telefones Optimus Remuneração de base - ZERO; Apenas comissões variáveis portanto com as vendas.

Deslocações de serviço. No meu carro  pessoal  e caso  fosse com outros colegas nas suas viaturas teria de dar 5€ ao proprietário da viatura por dia.

Preparação para actividade : Depois da entrevista  tive um dia de formação no terreno, para dar a minha resposta final

Resultado desta oferta de emprego:

Não,  não aceitei, porque os métodos de venda que presenciei  não me pareceram  eticamente recomendáveis . Como ideia: grande maioria do nosso público-alvo contactado, eram pessoas acima dos 65 anos de idade. Pessoas fragilizadas, sem qualquer hipótese de defesa, com baixas reformas, a viver em aldeias bastante afastadas dos centros urbanos, às quais eram ocultadas informações importantes, ou eram fornecidas falsas informações.)

Segundo candidato a emprego, uma outra empresa,

Empresa de recrutamento  Os Talentosos, e o local  de trabalho era a  Portugal Telecom

Actividade : Comercial door-to-door, sobre  venda de  telefones, internet e televisão

Na entrevista de selecção foi-me devidamente explicado  que antes da resposta final iria ter um dia de formação no terreno.

Na hipótese de aceitar , a minha remuneração seria da seguinte forma, a partir somente do segundo mês, pois havia um mês para formação profissional:

SMN (pago pela empresa de recrutamento) + subsídio de  refeição e comissões (pagas pela PT)

Aceitei, uma vez que tudo me pareceu profissionalmente muito limpo  em que se  apresentavam  todas as condições dos serviços. E devemos sublinhar que o público-alvo contactado era bastante amplo.

1º mês era de formação profissional

- frequentar curso de formação profissional nas instalações da PT, 8h por dia.

- caso ocorra algum imprevisto (alheio à empresa de recrutamento) que impeça a frequência (a minha) ou que implique alteração de local ou horário do curso, não me seria conferido a qualquer título o direito de indemnização

- a minha admissão ficaria dependente do meu aproveitamento até ao final do mês de formação.

-apesar de poder ficar com um contrato de trabalho a 6 meses, este seria mensalmente sujeito a reapreciação face  à quantidade  de  contratos de serviços vendidos e seria despedido   se esta ficasse abaixo dos objectivos previamente marcados. E assim se transforma um contrato de 6 meses renováveis em contrato mensal renovável.

- até ao final da formação não poderia desempenhar trabalho subordinado

- seria pago um valor inferior a 3€/hora, que apenas seria processado se obtivesse  bom aproveitamento e se permanecesse na empresa  pelo um período mínimo de um mês após a conclusão do curso.

Este mês de formação profissional, na realidade consistiu em ir para o terreno no carro da empresa vender  porta a porta, door-to-door, como  se eu já fosse um comercial normal.

 

publicado por Carlos Loures às 18:00

editado por Luis Moreira às 18:05
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Sábado, 15 de Janeiro de 2011

A juventude é um lugar estranho

 


 

 

 

 

 

Carlos Loures

Paul Nizan, o escritor e filósofo francês, em «Aden Arabie» punha a eterna questão da juventude em termos introspectivos e pessimistas - «Eu tinha vinte anos. Não deixarei ninguém dizer que é a mais bela idade da vida». Nizan, mesmo aos velhos, que em sonhos regressam todos os dias à sua juventude, idealizando-a já que não a conseguem reviver, recorda-lhes a terrível angústia dos vinte anos – a protecção que nos acompanhou até ao fim da adolescência terminou, abrindo-se agora o mundo para uma paisagem nebulosa, onde se esfumam as convicções da criança e a experiência do adulto é quase nenhuma. Ou seja, abre-se uma porta para o desconhecido. A isto junta-se a revolta por nada ser como o desejaríamos, num mundo dominado pelos velhos (pelos que têm mais de trinta anos). Para creditar o pessimismo de Nizan, aprecie-se o número de jovens que, por volta dos vinte anos, se suicidam. 

Bernard Shaw, o escritor irlandês, prémio Nobel de 1925, dizia que a «juventude é uma coisa maravilhosa», acrescentando cinicamente, «só é pena ser desperdiçada nos jovens». Herbert Asquith, um político britânico do princípio do século XX, disse quase a mesma coisa, mas de uma maneira mais prosaica: «A juventude seria uma idade ideal se chegasse numa fase mais tardia da vida». Shaw, obviamente, através de um dito espirituoso, faz uma afirmação igualmente profunda: os jovens vivem a juventude, mas não têm nem tempo nem distância para a poder apreciar. Apenas o nostálgico filtro da idade permite avaliar tudo o que a juventude teve de bom.

«Nos olhos do jovem arde a chama, nos olhos do velho brilha a luz», disse o grande escritor francês Victor Hugo. É um lugar-comum o atribuir-se esse ardor indomável à juventude e a luz da sabedoria à velhice. Como se não houvesse jovens néscios, preguiçosos e cobardes e velhos estúpidos e ignaros. Adulando a juventude, os velhos, ou melhor, a sociedade, procuram instrumentalizá-la, aproveitando o seu entusiasmo e energia, canalizando-o para os seus objectivos. Positivos ou negativos (geralmente, negativos)

Guevara, que nunca chegou a ser velho, dizia: «o alicerce fundamental da nossa obra é a juventude». Mussolini foi, na história recente, um dos primeiros a aperceber-se do enorme potencial de energia gratuita que a juventude, no seu conjunto, contém. Não é por acaso que o hino fascista se chamava «Giovinezza» (juventude), dizendo no seu saltitante estribilho: «Giovinezza, giovinezza,/Primavera di bellezza…» A Opera Nazionale Balilla, arregimentando os jovens e enquadrando-os politicamente, foi uma das forças primordiais do regime. Os bandos de adolescentes de camisa e cafetã negros, empunhando matracas, aterrorizavam, batiam, matavam. Entravam num café e quem não fizesse de imediato a saudação fascista sujeitava-se a ser espancado e por vezes os rapazes só paravam quando o «infractor» estava desfeito, morto. É que os jovens têm certezas e dificilmente aceitam que se possa pôr em dúvida as suas convicções. Hitler, com as suas «hitlerjugend» seguiu as pisadas do italiano no aproveitamento da juventude. Não poucos foram os pais denunciados pelos filhos que punham o ideal e o führer acima da família, como lhes era ensinado. Franco, não se fez rogado e criou as suas «juventudes», os jovens camisas azuis, dispostos a abdicar da vida e do amor em prol da «causa» - «Cara al sol com la camisa nueva,/que tú en rojo bordaste ayer /me hallará la muerte si me lleva/y no te volvo a ver…» 

Em Portugal, Salazar, embora tentando fugir dos arroubos fascistas (porque mais do que fascista, ele era salazarista), não resistiu à pressão dos entusiastas e criou a Mocidade Portuguesa: «Lá vamos que o sonho é lindo,/Torres e torres erguendo,/Clarões, clareiras abrindo/Alva de luz imortal…» Os movimentos comunistas não perderam também essa energia. Na União Soviética, na China Popular, na Jugoslávia de Tito, na Cuba de Fidel, não se desperdiçou esse caudal de força, esse pilar, como lhe chamou o Che.

Usa-se muito nos partidos políticos o lugar comum - «a juventude é o futuro», como se isso fosse uma coisa importante. Porque o que é importante é saber que futuro vai haver, em que mundo os jovens vão viver amanhã., em suma, que futuro lhes vamos legar. O futuro não é necessária nem garantidamente melhor do que o presente. Joseph Joubert alimentou também o mito com uma frase célebre: «Nos homens apenas há de bom os seus jovens sentimentos e os seus velhos sentimentos». Benjamin Disraeli, um primeiro – ministro da rainha Vitória considerou «A juventude de uma nação é a depositária da posteridade». Bonitas palavras para nada dizerem.

Há também os que afirmam, como Samuel Ullman, que «a juventude não é uma época da vida, é um estado espírito». Claro que, sob diversas variantes, esta frase é extremamente agradável aos que já não são jovens. O grande arquitecto norte-americano Frank Lloyd Wright disse o mesmo por outras palavras - «A juventude é uma qualidade e não uma questão de circunstância». Na realidade, há velhos com espírito jovem (veja-se Manoel de Oliveira). Pablo Picasso dizia: «Precisamos de muito tempo para nos tornarmos jovens». Não que seja mentira, mas estamos, neste caso, não a falar de idades, mas de graus de inteligência, de vivacidade, de entusiasmo. Que, claro, não são sentimentos exclusivos dos jovens. 

O maniqueísmo típico dos jovens leva-os a considerar todos os velhos caducos e ultrapassados, e entre os velhos abundam os aforismos sobre a inépcia dos jovens. No fundo, como sempre que se generaliza, erra-se, porque nem a juventude é sempre impetuosa e ardente, nem a velhice é sempre sábia e iluminada. Um estúpido é um estúpido, tenha a idade que tiver. O contrário é igualmente verdade. Neste sentido, Blaise Pascal reconheceu que «quando somos jovens ajuizamos mal as coisas e quando somos velhos também.» e Ambrose Gwinett Bierce, um jornalista americano do princípio do século XX, afirmou que «se chama experiência a quando renunciamos dos erros da juventude para os substituir pelos da velhice».

«Se pudesse voltar à juventude, cometeria todos os erros que cometi. Só que os cometeria mais cedo», disse Tallulah Bankhead, a actriz americana dos anos 40 do século passado, num registo bem-humorado e lúcido. De facto, aos velhos nada de melhor resta do que reconciliarem-se com o seu «eu» de décadas atrás e aos jovens, se me estivessem a ler, recomendaria prudência. Porque, como também disse Francis Bacon, «os desatinos da juventude são conspirações contra a velhice e pagam-se caro ao anoitecer as loucuras praticadas pela manhã». 

Ouviram, meninos? Tratem-me bem.

publicado por João Machado às 16:00
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