Quarta-feira, 20 de Abril de 2011

Os jovens começam mal por Louis Chauvel

Nota de abertura - por Julio Marques Mota

Um texto duro, mais um, sobre a situação da geração em precariedade que não será apenas esta, a que agora veio para rua a 12 de Março, aqui ou algures, mas igualmente as que se lhe seguirão se não conseguirmos travar esta marcha infernal para a destruição civilizacional a que os nossos neoliberais de hoje nos querem condenar.

 

Sobre a juventude, triplamente desqualificada, diz-nos o autor agora aqui reproduzido:

 

“Observamos uma tripla desqualificação. Uma desqualificação escolar, primeiramente, a juventude sendo agora de classe média do ponto de vista dos diplomas, está abaixo da classe operária do ponto de vista dos rendimentos. Para além do valor dos diplomas, a desqualificação é também intergeracional, com uma multiplicação esperada das trajectórias sociais descendentes relativamente aos seus pais.

 

É também sistémica, dado que, com a queda das novas gerações, são os seus direitos sociais futuros que são postos em causa: o seu desenvolvimento humano hoje, a sua capacidade a criar e formar os seus filhos amanhã, e as suas reformas depois de amanhã. Trata-se por conseguinte de uma regressão do sistema social na sua totalidade, e não simplesmente de uma regressão de indivíduos isolados. Para além do mais, uma frustração geral atinge toda a gente face à acumulação das promessas não cumpridas: a do regresso ao pleno emprego graças à partida para a reforma dos primeiros-nascidos na geração do baby-boom, de melhores empregos pelo crescimento escolar, num contexto onde o trabalho por si só já não permite garantir a possibilidade de habitar, de viver numa casa. De tudo isto resulta uma fúria, ou mesmo uma certa raiva, que se detecta claramente na juventude de 2010 e que o movimento sobre as reformas paradoxalmente canalizou

 

Então, que fazer? Em parte, a solução é conhecida. O ensino é uma questão vital. O estado de pobreza da universidade “low cost” à francesa assusta os nossos colegas estrangeiros: assinamos desta forma a desqualificação científica do nosso país. Mas isto não é ainda suficiente: para que serve formar de forma correcta os jovens quando estes não encontrarão emprego?

 

A invenção do trabalho quase gratuito (os estágios), maciçamente subvencionados pelos pais com mais dinheiro, não foi suficiente e, depois de trinta anos de incúria, é necessário também restabelecer os antigos jovens de 1985 que tenham errado a sua entrada na vida. Esta política de regresso ao pleno-emprego é a primeira prioridade da política geracional de que temos necessidade.”

 

Lá diferente de cá, a juventude não ficou silenciosa quando se prolongou a idade limite de passagem à reforma plena, percebeu claramente que eram também os seus direitos, não só os dos seniores, que estavam em jogo, veio para a rua e as Universidades pararam. Lá, como cá,  temos as Universidades “low cost” impostas pela reforma do ensino superior exigida por Bruxelas, a dita reforma de Bolonha, ou das formações curtas, a hipotecar, mais um elemento, a juventude na construção do seu futuro;  lá, como cá, assinala-se a desqualificação científica de um país mas lá, diferentemente de cá, os professores manifestaram-se fortemente. Lá como cá, imperou de forma brutal a lei da precariedade. Muitas semelhanças  e algumas diferenças.

 

É imperativo como primeira resposta à precariedade geracional a política do pleno-emprego, e disto ninguém de bom senso tem dúvidas. E enquanto se vão anulando ou neutralizando todos os mecanismos que à realização deste objectivo nos possam conduzir, iremos entretanto assistir brevemente ao elogio destas políticas fortemente responsáveis pela situação de precariedade intensa de que a juventude é agora vitima, como quase toda a gente de trabalho, aliás, através de um doutoramento Honoris Causa, que irá ser atribuído por uma das mais prestigiadas universidades portuguesas a um dos mais emblemáticos responsáveis pela tripla desqualificação acima citada, desqualificação a que dão o pomposo nome de modernização das sociedades. Veja-se ou ouça-se o nosso primeiro- ministro ou o homenageado,  em alternativa, ou ainda, se disto temos dúvidas, os discursos universitários que serão proferidos, a confirmar ou não o “low cost” do ensino superior, também em Portugal, a que se refere o autor agora e aqui publicado.

Coimbra, 18 de Março de 2011.

Júlio Marques Mota

 

Texto

Os jovens começam mal

 

Louis Chauvel

 

Nas sociedades envelhecidas, a surdez face aos problemas sociais das próximas gerações, as gerações futuras, pode tornar-se um verdadeiro problema. Mas trata-se mais de um sintoma do que da causa profunda do mal, e isto não tem nada de novo. O que é, porém, novo, tem a ver com a dimensão da recusa em procurar perceber este fenómeno como problema e que se está a ampliar. A minha experiência, doze anos depois da primeira edição de Destino das gerações, permite-me estabelecer a seguinte confirmação: desde 1998, não temos feito rigorosamente nada enquanto que o sabíamos. De cada vez que há um período de atenuaação, este dá-nos a ilusão de situação normalizada mas, realmente, a situação tem-se é degradado .

 

 

 

publicado por Luis Moreira às 20:00
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Sexta-feira, 8 de Abril de 2011

Os jovens começam mal por Louis Chauvel

enviado por júlio Marques Mota

 

Nota de abertura

Um texto duro, mais um, sobre a situação da geração em precariedade que não será apenas esta, a que agora veio para rua a 12 de Março, aqui ou algures, mas igualmente as que se lhe seguirão se não conseguirmos travar esta marcha infernal para a destruição civilizacional a que os nossos neoliberais de hoje nos querem condenar.

 

Sobre a juventude, triplamente desqualificada, diz-nos o autor agora aqui reproduzido:
“Observamos uma tripla desqualificação. Uma desqualificação escolar, primeiramente, a juventude sendo agora de classe média do ponto de vista dos diplomas, está abaixo da classe operária do ponto de vista dos rendimentos. Para além do valor dos diplomas, a desqualificação é também intergeracional, com uma multiplicação esperada das trajectórias sociais descendentes relativamente aos seus pais.

 

É também sistémica, dado que, com a queda das novas gerações, são os seus direitos sociais futuros que são postos em causa: o seu desenvolvimento humano hoje, a sua capacidade a criar e formar os seus filhos amanhã, e as suas reformas depois de amanhã. Trata-se por conseguinte de uma regressão do sistema social na sua totalidade, e não simplesmente de uma regressão de indivíduos isolados. Para além do mais, uma frustração geral atinge toda a gente face à acumulação das promessas não cumpridas: a do regresso ao pleno emprego graças à partida para a reforma dos primeiros-nascidos na geração do baby-boom, de melhores empregos pelo crescimento escolar, num contexto onde o trabalho por si só já não permite garantir a possibilidade de habitar, de viver numa casa. De tudo isto resulta uma fúria, ou mesmo uma certa raiva, que se detecta claramente na juventude de 2010 e que o movimento sobre as reformas paradoxalmente canalizou

 

Então, que fazer? Em parte, a solução é conhecida. O ensino é uma questão vital. O estado de pobreza da universidade “low cost” à francesa assusta os nossos colegas estrangeiros: assinamos desta forma a desqualificação científica do nosso país. Mas isto não é ainda suficiente: para que serve formar de forma correcta os jovens quando estes não encontrarão emprego?

 

A invenção do trabalho quase gratuito (os estágios), maciçamente subvencionados pelos pais com mais dinheiro, não foi suficiente e, depois de trinta anos de incúria, é necessário também restabelecer os antigos jovens de 1985 que tenham errado a sua entrada na vida. Esta política de regresso ao pleno-emprego é a primeira prioridade da política geracional de que temos necessidade.”

 

Lá, diferente de cá, a juventude não ficou silenciosa quando se prolongou a idade limite de passagem à reforma plena, percebeu claramente que eram também os seus direitos, não só os dos seniores, que estavam em jogo, veio para a rua e as Universidades pararam. Lá, como cá,  temos as Universidades “low cost” impostas pela reforma do ensino superior exigida por Bruxelas, a dita reforma de Bolonha, ou das formações curtas, a hipotecar, mais um elemento, a juventude na construção do seu futuro;  lá, como cá, assinala-se a desqualificação científica de um país mas lá, diferentemente de cá, os professores manifestaram-se fortemente. Lá como cá, imperou de forma brutal a lei da precariedade. Muitas semelhanças  e algumas diferenças.

 

É imperativo como primeira resposta à precariedade geracional a política do pleno-emprego, e disto ninguém de bom senso tem dúvidas. E enquanto se vão anulando ou neutralizando todos os mecanismos que à realização deste objectivo nos possam conduzir, iremos entretanto assistir brevemente ao elogio destas políticas fortemente responsáveis pela situação de precariedade intensa de que a juventude é agora vitima, como quase toda a gente de trabalho, aliás, através de um doutoramento Honoris Causa, que irá ser atribuído por uma das mais prestigiadas universidades portuguesas a um dos mais emblemáticos responsáveis pela tripla desqualificação acima citada, desqualificação a que dão o pomposo nome de modernização das sociedades. Veja-se ou ouça-se o nosso primeiro- ministro ou o homenageado,  em alternativa, ou ainda, se disto temos dúvidas, os discursos universitários que serão proferidos, a confirmar ou não o “low cost” do ensino superior, também em Portugal, a que se refere o autor agora e aqui publicado.

Coimbra, 18 de Março de 2011.

Júlio Marques Mota

 

Texto

Os jovens começam mal
Louis Chauvel

 

Nas sociedades envelhecidas, a surdez face aos problemas sociais das próximas gerações, as gerações futuras, pode tornar-se um verdadeiro problema. Mas trata-se mais de um sintoma do que da causa profunda do mal, e isto não tem nada de novo. O que é, porém, novo, tem a ver com a dimensão da recusa em procurar perceber este fenómeno como problema e que se está a ampliar. A minha experiência, doze anos depois da primeira edição de Destino das gerações, permite-me estabelecer a seguinte confirmação: desde 1998, não temos feito rigorosamente nada enquanto que o sabíamos. De cada vez que há um período de atenuaação, este dá-nos a ilusão de situação normalizada mas, realmente, a situação tem-se é degradado .

 

 

 

 

publicado por Luis Moreira às 23:00
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Sábado, 19 de Março de 2011

A precariedade organizada ao nível do tecido industrial em França por Júlio Marques Mota

 
1 - a gestão do pessoal

 

1.1 - sociedades de mão de obra

 

Não há riqueza nem força que não seja a dos homens. Esta frase de Jean Bodin  é aplicável bem particularmente ao caso de  SICT que obtêm  a sua força, se não a sua riqueza, das competências dos seus assalariados. No entanto, bloqueados entre os seus dadores de ordens  e o código do trabalho, não têm a tarefa fácil para gerir os seus recursos humanos. Os SICT devem continuamente fazer evoluir as competências dos seus assalariados para lhes  permitir  fazer face às mutações consideráveis, como o desenvolvimento sustentável, as principais evoluções tecnológicas ou os novos mercados, com os quais se  confrontam  e que exigem um desempenho tecnológico e um controlo acrescido dos projectos. A estes  desafios acrescenta-se agora aquele que é  constante, os ganhos permanentes de competitividade. Ainda aqui, o modelo económico escolhido pelos SICT tem muita importância quanto á sua exposição.
 

Perante as flutuações dos encargos  e à  compressão das suas margens, as que privilegiam o modelo da assistência técnica e em que o essencial dos custos é constituído pela sua massa salarial, não têm outra escolha para assegurar a sua perenidade que não seja a de proceder a  incessantes movimentos de expansãocontracção  para adaptar os seus efectivos ao seu caderno  de encomendas, quando sobre este pouco mais se tem que uma visibilidade de muito curto prazo.. A alternativa para elas é, com efeito, simples:

 

• ou aceitam manter os seus assalariados em sobrecarga  e  assumem um risco financeiro que pode rapidamente tornar-se insuportável tendo em conta as condições impostas pelos dadores de ordens ;
• ou  separam-se deles para limitar os estragos, despedem-nos, mas devem então viver  com todos os constrangimentos que resultam do código do trabalho em matéria de despedimento.

 

No entanto nenhum das duas soluções é satisfatória. No primeiro caso, correm  o risco de desaparecer, e com elas o seu "knowhow". No segundo caso, a situação é desastrosa:

 

•  no plano humano, para os que são vítimas e que vivem este mal este despedimento;
• mas também para as SICT elas mesmas que, assim fazendo, se separam de competências que elas contribuíram para se formarem, que financiaram e que teriam toda a  vantagem em manter.
• para a imagem do sector junto dos jovens diplomados, que procurarão com cuidado evitá-lo;
• para os que vêm mesmo assim trabalhar e que são objecto de contratações apressadas  e de formações reduzidas em período  de retoma, para tapar  mais rapidamente os buracos mais imediatos  mas cujo  salário não acompanha  os esforços  que se lhes pedem;
• por último, para a colectividade nacional, que é o grande perdedor nesta procura de óptimos económicos  locais feita  por uns  e por  outros o que conduz a um  desperdício geral  e a um empobrecimento da capacidade nacional de inovação,  muito longe  da situação óptima global.

 

Para os SICT, as  mais frágeis , não existe outra solução à equação posta pelos dadores  de ordens que não seja o vergar as costas  e trabalhar à perda, esperando dias melhores que  nunca vêm. Para manter uma actividade quando estão à beira  do abismo, algumas não  hesitam em  praticar um método de  efeitos anti-competitivos devastadores . Para se aguentarem, dada a falta de tesouraria uma vez os salários pagos, deixam de pagar as suas despesas  sociais e os seus impostos. Conseguem assim baixar  significativamente o seu ponto morto e  conseguem mesmo oferecer aos seus clientes uma tarifa inferior ao preço do mercado, no entanto já baixo.  Podem assim recuperar em termos de  tesouraria sobre  as costas  da colectividade nacional. Comportando-se desta maneira,   provocam  graves estragos no conjunto da profissão dando razão aos compradores, porque é, em seguida,  difícil fazer subir o preço do mercado. Quanto ao Estado,  cedendo um pouco facilmente  à chantagem dos  despedimentos, torna-se cúmplice destas práticas.

 

1.2 - Despedimentos

 

publicado por Luis Moreira às 20:00
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Quarta-feira, 16 de Março de 2011

Juventude e desemprego: uma forma de olhar para esta realidade - 3

(Continuação)

 

1.3.  Os jovens em emprego: empregos frequentemente de curta duração  e às vezes de fraca qualidade

 

Quando estão em situação de emprego, os jovens estão frequentemente mais tempo do que os seus  pais estiveram  em situação de  empregos precários, de fraca qualidade. Perto dos três quartos das contratações dos jovens com menos de 25 anos efectuam-se sob a forma de contrato de  duração determinada. Para os jovens de  menos de 30 anos, um emprego em cada quatro será do tipo CDD  (contra menos de um sobre seis para o conjunto da população activa).  Por outro lado,  5%  dos de menos de 30 anos  são temporários contra apenas 2%  no  conjunto da população nesta situação. O emprego  de duração determinada   também se refere ao emprego público, com 38% dos jovens com menos de 30 anos a  trabalharem  no sector público na situação de terem um contrato temporário ou um contrato ajudado, contra 14%  para o conjunto dos assalariados da função pública.

 

É necessário contudo ter conta que muitos contratos em alternância se fazem  sob a forma de CDD:  nem todos os empregos em CDD são pois  empregos “de fraca qualidade”.

 

 

 

 

 

 

 

 

1.4.  A inserção no emprego é frequentemente marcada por ida e voltas frequentes  entre emprego e desemprego.

 

     As fases de inserção dos jovens no mercado  o emprego são caracterizadas por   múltiplas entradas e saídas do emprego   

Devido ao acesso maioritário a empregos de  duração determinada, as fases de inserção dos jovens no mercado do emprego são caracterizadas por uma forte “mobilidade”, com entradas  e saídas do emprego mais numerosas que para os outros activos. 

 

 

 

O turn-over é definido aqui como a média das probabilidades de entrada e de saída do emprego quando   se  está  respectivamente no desemprego ou em situação de  emprego.  Fonte: inquérito Emprego, cálculos DG-Tesouro.

 

Mas se as passagens pelo desemprego são mais frequentes para os jovens, são em contrapartida  menos longas do que para os assalariados mais velhos. Assim, apenas 4% dos desempregados dos  15 aos  29  anos tinham em 2009 uma antiguidade no desemprego de mais de 3 anos (e 6% entre os 25-29 anos),  enquanto que eram 13% entre os desempregados de 30 para 49 anos nessa situação.

 

 

As taxas de entrada e saída do emprego são mais fortes para os jovens, e os períodos  de desemprego são mais curtos. Vários factores podem para isso estar a contribuir:

 

-  a proporção importante dos empregos curtos (CDD, temporários) no conjunto dos empregos ocupados pelos jovens traduz-se mecanicamente em passagens mais frequentes pelo desemprego ;

-  a fase de inserção sobre o mercado de trabalho é,  para o jovem, um período de procura de um emprego em adequação com as suas expectativas  e também um período de confrontação com as expectativas dos  empregadores; o ajustamento entre as esperas dos  jovens  e  as dos empregadores pode em parte explicar a frequência das mudanças de empregos;

-  menores constrangimentos ligados à vida pessoal  (família, alojamento…) podem igualmente explicar uma mobilidade mais importante que para activos mais velhos.

 

É necessário cerca de dois anos para que  uma geração veja a sua taxa de emprego e a sua taxa de desemprego estabilizar-se.

 

Medida a partir dos inquéritos Generation do Cereq, a taxa de emprego a seguir à conclusão  da formação aumenta rapidamente: atinge 50% cerca de três meses após o fim da formação inicial, seguidamente estabiliza-se num patamar cerca de um ano e meio depois do  fim da formação. A duração ao fim da qual este patamar é atingido depende da conjuntura económica, mas esta última influencia pouco o nível final da taxa de emprego. 

 

Paralelamente, a taxa de desemprego dos jovens em função do tempo passado desde o fim da formação inicial decresce rapidamente  no decorrer destes dois últimos anos . Medida em  2007 a partir do inquérito Emprego, esta taxa é de 25% para as pessoas que saíram  desde  há menos de um ano da sua formação inicial, seguidamente diminui em seguida de modo  rapidamente dado que é de 18%  para as pessoas saídas desde há um até  dois anos, e é de 12,5% para as que saíram  desde há  2 a  3 anos. Além disso, o decrescimento prossegue-se mas a um ritmo mais reduzido.  A taxa de desemprego dos  jovens  permanece  ligeiramente superior à da  do conjunto da população, mesmo 10  anos após o fim da formação inicial. 

Esta evolução ilustra que a inserção profissional é relativamente rápida para a grande  maioria dos jovens (menos de dois anos), mas que para alguns deles a inserção permanece duravelmente difícil.

 

 

 

O acesso ao primeiro emprego é relativamente rápido, mas o acesso ao emprego duradouro pode  levar  vários anos   

De acordo com o inquérito do Cereq sobre a geração 2004, “pelo menos metade dos jovens acedem ao seu primeiro emprego em menos de três meses após o fim da sua formação inicial. No entanto, uma parte significativa dos  diplomados e dos titulares de um CAP  ou de um BEP leva mais tempo  mais a encontrar um primeiro emprego.

 

 Só em 30% dos casos  é que este primeiro emprego não é um CDI.  E 38% dos primeiros empregos são CDD, 19% dos contratos de trabalho temporário  e 9%  são  contratos ajudados. Em 20% dos casos, trata-se de contratos a tempo parcial. 

 

(Continua)

publicado por Carlos Loures às 20:00

editado por Luis Moreira às 19:52
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Segunda-feira, 14 de Março de 2011

Juventude e Desemprego: uma forma de olhar para esta realidade - 1 por Júlio Marques Mota

  

INTRODUÇÃO

 

 

Enquanto   que os efeitos da crise sobre o emprego estão ainda bem visíveis, com uma taxa de desemprego que, mesmo tendo diminuído  ligeiramente, atingiu os  9,3% no 3º trimestre de 2010, ou seja 2,2 pontos a mais do que no ponto baixo do primeiro trimestre de 2008 (7,1%), a situação dos jovens sobre o mercado de trabalho aparece nitidamente mais  degradada, dado que a taxa de desemprego dos jovens dos 15 aos 24 anos passou sobre o mesmo período de 17,7% para 24,2%.

Estes números recentes confirmam a que  ponto a situação dos jovens no mercado do emprego é sensível à conjuntura económica. Estes lembram também, em comparação com os do conjunto da população, que a inserção dos jovens  no emprego é um processo complexo, frequentemente sinónimo  de desemprego e de precariedade.

 

Neste contexto, a questão  do emprego dos jovens aparece naturalmente como uma questão  prioritária para os parceiros sociais e para o Governo que anunciou a sua intenção de lançar novas acções em prol do emprego dos jovens.

 

 

 

A taxa de desemprego dos jovens (menos de 25 anos) está em  França a um nível elevado desde o final  dos anos 70. Desde esta data, com efeito, a taxa de desemprego dos menos de 25 anos representa cerca de dobro  da taxa de desemprego do conjunto da população, às vezes mais em período de recessão  ou de crescimento fraco ; nunca desceu abaixo dos 15% desde 1982;  está  hoje, em período de crise, a um nível nunca atingido anteriormente (24,2% no terceiro trimestre 2010).

 

 

 

 

 

O simples gráfico acima dá já a ideia dos dois  fenómenos  características do desemprego dos jovens:

- o nível de desemprego dos jovens não deixa  de estar relacionado  com o nível de

desemprego do conjunto da população ;

- o desemprego dos jovens é caracterizado por uma sensibilidade à conjuntura

económica  mais marcada que o resto da população : aumenta mais  rapidamente que o dos outros activos em período de recessão  ou de fraca taxa de crescimento  e diminui também  mais rapidamente em período de retoma  económica

 

 

 

 

 Os gráficos seguintes dão uma visão esclarecedora da situação dos jovens perante a formação inicial e o mercado de trabalho, de acordo com a idade e o sexo.

 

 Actividade e estudos iniciais por idade e por sexo em 2009

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Falar da taxa de desemprego dos jovens de maneira geral e compará-la com a taxa de desemprego dos mais de 25 anos sem estar a tomar mais precauções, é pois querer assumir  o risco de passar ao lado da especificidade dos  jovens, ou seja,  de um estado de transição entre a formação inicial e   o trabalho; é também assumir  o risco de considerar que os cerca de 11 milhões de jovens  de idade entre os  15 e os  24 anos na França formam um grupo homogéneo, sem distinções de percursos escolares, de origens (sociais, geográficas ou étnicas), ou sem distinção de idade de chegada ao  mercado de trabalho, o que é evidentemente um non-sens.

 

 A primeira necessidade para descrever o desemprego dos jovens  é portanto dever ter em conta  de modo mais detalhado a realidade da situação dos jovens face  ao emprego e à  multiplicidade das trajectórias de inserção profissional.

 

 

(Continua)

publicado por Carlos Loures às 20:00

editado por Luis Moreira às 10:59
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Sexta-feira, 11 de Março de 2011

Porque é que os jovens têm razões para se manifestar por Júlio Marques Mota


NOTA da Fundação Terra Nova

 

Desde o início do ano escolar, no mês  de Setembro, as jovens gerações juntaram-se ao cortejo das manifestações. O dia de terça-feira, 26 de

 

Outubro, marca uma etapa nova na sociologia do conflito: os jovens estarão sozinhos em cena, a responderem à chamada feita pela  Unef e por Sul-Etudiants.

 

A maioria finge surpreender-se com a presença dos estudantes na rua. Todos têm, no entanto,  todas as razão do mundo para se  manifestarem.

 

1 Os jovens, as vítimas da reforma dos regimes de  passagem à reforma

Discute-se muito: o recuo  da idade de partida para a reforma das pessoas mais velhas  vai agravar o desemprego dos jovens

O mercado de trabalho na França está  degradado. Adaptou-se à crise excluindo do mercado de trabalho as suas duas extremidades geracionais, os jovens e as pessoas mais velhas. A taxa de emprego dos jovens (menos de 25 anos) é de  31%, a  das pessoas mais velhas  (mais de 55 anos) é de 38%, e que são  das  taxas  mais baixas da Europa. Na ausência de uma política voluntariosa de melhoria do mercado de trabalho, o retrocesso da idade de partida para a  reforma vai aumentar o desemprego.

 

O desemprego das pessoas mais velhas, certamente. Dois terços  dos franceses estão no desemprego quando liquidam  a sua reforma.. É o que explica a grande diferença no sector privado entre a idade de cessação de actividade, 58 anos, e a idade de liquidação da reforma, 61.6 anos. Estatisticamente, para estes franceses, a manutenção durante muito mais tempo em actividade significa a manutenção no desemprego: a reforma transforma “os  jovens reformados” em “velhos desempregados”.

 

Mas igualmente o desemprego dos jovens. Certamente, não há nenhuma relação directa: não se substitui posto a posto um  torneiro fresador  que parte para a  reforma por um jovem diplomado saído da universidade. Mas as relações existem. Relações mecânicas em certos sectores, como na administração: com a regra da não-substituição de um funcionário sobre dois, a contratação de um jovem é condicionada pela partida de duas pessoas muito mais velhas. Ou no meio médico: o numerus clausus impõe que qualquer entrada seja garantida sobre uma saída. Relações mais difusas existem: os constrangimentos de massa salarial na  empresa fazem com que as contratações sejam  condicionadas globalmente pelas partidas.

 

Este debate foi particularmente mal colocado. Se a questão é  “a melhoria do emprego das pessoas mais velhas  provoca ela  a degradação do emprego dos jovens? ”, então a resposta é  claramente não. Todos os economistas  o  dizem: as duas coisas vão a par.  Num mercado de  trabalho degradado, os dois sofrem. Num mercado de trabalho são, os dois integramse  bem, os dois ganham. Mas a questão  é diferente: a reforma dos regimes de passagem à reforma vai agravar o desemprego dos jovens? A resposta é sim. Com a reforma, o desemprego dos jovens, como o das pessoas mais velhas, vai aumentar.

 

Discute-se muito quanto ao impacto da reforma sobre o desemprego dos jovens. Mas estranhamente, discute-se menos muito  a questão central: quem é que vai pagar a reforma dos sistemas de  reformas?
A esquerda e os sindicatos martelaram-no, e têm razão: são os assalariados modestos. O actual regime de passagem à reforma  está  marcado com o selo da injustiça social.

 

Mas não o quiseram entender, é também injusta para as jovens gerações. Vão pagar três vezes.

 

Vão contribuir mais, com o recuo da idade legal. Um recuo  de que se verão globalmente os seus efeitos somente  a partir de 2018, por conseguinte para os menos de 50 anos de hoje.

 

Vão receber reformas mais baixas. Devido à subida em força  dos regimes de pensões de reforma dos governos  Fillon  e Balladur, que se estendem até 2020. Mas também devido às suas dificuldades crescentes para validarem  os seus trimestre de contribuições. A duração de seguro validada a 30 anos não deixou  de diminuir de geração,  desde a   geração  de 1950. Para esta último, a duração validada era de 40 trimestres em média, enquanto que, para a geração 1974, é mais apenas de 31 trimestres. Uma parte deve-se ao alongamento do tempo de  estudo, e é uma boa coisa.

 

Mas mais da metade (5 em  cada 9 trimestres) deve-se  às dificuldades de inserção dos jovens na França.
Cereja em cima do bolo, as jovens gerações são  espoliadas do  benefício do Fundo de Reserva das reformas que lhes era destinado. O Fundo foi criado para assegurar a realização intergeracional  e aliviar as gerações de activos entre 2020 e 2040: trata-se dos jovens de hoje, as gerações de agora, em que  houve  menor crescimento demográfico,  que deverão financiar as reformas de “ papy boomers”. O Fundo devia ser extinto a partir de 2020, a fim de limitar os aumentos de contribuições sobre estas gerações. O governo decidiu absorver os  34 mil milhões de euros para assegurar a melhoria financeira a curto prazo: assim tiram aos activos de amanhã para dar aos reformados de hoje…

 

2 Os jovens, as primeiras vítimas das políticas públicas

 

 

ONT RAISON DE MANIFESTER, 26 de Outubro de 2010. 

publicado por Luis Moreira às 20:00
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Quarta-feira, 9 de Fevereiro de 2011

A revolta no mundo árabe e a situação internacional - por João Machado

Será motivo para espanto a agitação existente?

Nos últimos dias têm avultado na comunicação social notícias sobre a agitação em países árabes contra os governos constituídos. Primeiro foi a Tunísia, a seguir o Egipto, também têm ocorrido problemas (e alterações) no Iémen e na Jordânia. Possivelmente vão alastrar a outros países. Há notícias de espanto e surpresa, sentidos não só na própria comunicação social, mas também nos países da Europa, nos EUA, na China, perante estes acontecimentos. Mesmo Israel, com todo o seu poderio e sofisticados meios de intervenção, que procura manter os países vizinhos (e não só) sob permanente vigilância, sempre à procura de eventuais ameaças, parece ter sido apanhado desprevenido.

Permitam-me que manifeste, por minha vez, o meu espanto por estes espanto e surpresa tão generalizados. Acho realmente espantoso (perdoem a insistência) que não tenha sido prevista toda esta agitação. E penso que se vai estender a outros países. Porquê? Há realmente vários factores que contribuem para essa agitação, e que ao fim e ao cabo são do conhecimento geral. Vou tentar explicar.

Estamos numa época em que, apesar das grandes restrições impostas, o isolamento das pessoas diminuiu drasticamente, pelo menos no que respeita à informação. Esta muitas vezes é inexacta, e quase sempre manipulada para se adequar aos interesses dos proprietários dos vários órgãos que a transmitem, sejam organismos públicos ou os grandes grupos económicos. Contudo, não se pode negar que é abundante, e que chega a todas as partes do mundo, mesmo a zonas onde a população vive com grandes carências em muitos aspectos da sua vida diária. Se por vezes contraditória, dela ressaltam inequivocamente alguns factos, como a existência de diferentes modos de viver entre os vários países, zonas geográficas e classes sociais. Muito relacionado com este, é a exaltação de casos de sucesso individuais, nos diferentes campos de actividade, sem obviamente se referirem aos aspectos sombrios das vidas das pessoas em questão. Em todas as épocas houve desejo de mudança, nomeadamente dos mais jovens. Hoje em dia esse desejo é muito generalizado.

Outra razão é a situação social e política dominante em muitos países. Nos chamados países árabes a percentagem de jovens na população total é elevada, e estes não vêem possibilidades de ver satisfeitas as suas ambições, mesmo as mais básicas, mesmo quando conseguem qualificações de bom nível. As classes médias estão a ser afectadas terrivelmente pela crise financeira. O problema do desemprego é premente e o desejo de emigrar enorme, como comprovam os dramas da emigração, clandestina ou não. As mulheres continuam a ser oprimidas, mas o grau das suas aspirações é cada vez maior. A existência de muitos emigrantes no estrangeiro favorece a entrada de ideias novas. Mas por seu lado, as camadas governantes são cada vez mais elitistas e fechadas, e os governos escolhidos por processos pouco democráticos (ou nada democráticos), com grande influência de potências exteriores, nomeadamente dos EUA e aliados, com relevo para Israel.

A questão religiosa identifica-se cada vez mais com os problemas globais, a nível nacional ou regional. Deste modo, crescem o fanatismo e o desejo de alcançar rapidamente mudanças drásticas no estado de coisas vigente. Mas ao mesmo tempo parece aumentar também o número de movimentos laicos desejosos de uma mudança. A história recente desta parte do mundo explica claramente porque é que estes movimentos, embora de natureza variada, aspiram a mais democracia, a melhorias na situação do povo, e a uma presença mais forte na cena internacional.

Repito: é espantoso que não se tenha previsto esta agitação. Essa falta de previsão tem contudo uma explicação óbvia: o enorme desdém do Ocidente (este nome ainda tem razão de ser?) e de todos os países desenvolvidos (incluindo a China e a Índia) pela vontade e pela situação em que vivem a maioria das populações árabes (e não só). Esse desdém está claramente na origem do esquecimento do facto elementar de que todos nós temos aspirações, e as populações árabes também. Até pelo seu passado histórico, estas desejam desempenhar outro papel no mundo. E, claro, ter uma vida com outra qualidade.

As perspectivas para o futuro estão cada vez mais complicadas. Os EUA, Israel, a União Europeia já mandaram recados sobre as fórmulas políticas que desejam ver implantadas nos países onde reina a agitação. Não notei se a China também o fez, mas é provável que sim. A conclusão que se impõe é a de que é tempo de os governantes do Egipto, da Tunísia, dos outros países, passarem a ser escolhidos pelos cidadãos dos respectivos países, sem restrições impostas pelas grandes potências, pelos negócios de petróleo ou pelo fanatismo religioso (islâmico, ou outro). Só se vai poder caminhar para um equilíbrio maior e melhor, ao nível regional e mundial. E ver as populações árabes (e não só) melhorarem o seu nível de vida, e ter mais participação na condução dos seus países.

 

 

publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por Luis Moreira às 12:05
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Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2011

Cartas em andamento - por Ethel Feldman

 

 

 

Coordenação de Augusta Clara de Matos

Cartas em andamento

por Ethel Feldman

 

Quem dera que a felicidade fosse feita dessa vontade que tenho em não existir. Depois tu sorris e eu esqueço tudo que aprendi.

Já passavam das dez da manhã quando acabei de ler. Não me lembro ao pormenor, como vim parar aqui. Quando os militares tomaram o poder substituíram a censura pela leitura selectiva. Sem eira nem beira fui colocada no ministério da cultura.
- Major, não arranja um trabalho para a minha filha?

O pobre coitado que tinha acabado de mudar de patente ficou embatucado. A memória de um favor por pagar visitava delicadamente o presente.

- Claro que sim. A revolução precisa de jovens que estejam ao lado da liberdade.
Pois foi assim que me tornei leitora profissional. Milhares de cartas por ler!
A vida é feita de regras e a que me foi destinada era só uma: - LER!

Bastava ler, dobrar a carta e colocar de novo no envelope. Em seguida ia para um caixote das CARTAS LIDAS.

Era uma jovem responsável, apoiante da revolução. Foi num ápice que li todas as cartas. Um velho funcionário aconselhou-me a voltar a colocar as cartas já lidas no caixote das CAIXAS POR LER, pois se me mostrasse desocupada seria despedida.
Lembro-me de ter sorrido. Sempre senhora da verdade corri ao gabinete do major.

- Major as cartas já foram lidas. Devo responder?
- Todas? Se não há mais cartas sou obrigado a mandá-la embora…

Quem me dera que a felicidade fosse feita dessa vontade que tenho em não existir.
Depois tu sorris e eu esqueço de tudo o que aprendi

(Porque agora a ladainha da velha? Porque esta dor que rompe o som?)

- Mas Major hão-de vir mais cartas para ler. Devo responder às que já li?
- Seu trabalho é de leitura. Ninguém escreve à espera de uma resposta. E se esperar, paciência – temos mais o que fazer. Continue lendo. Quando deixarem de escrever acaba o seu trabalho.

No corredor Sebastião sorria só com o olhar.
- Eu avisei. Coloque as cartas lidas no caixote das cartas por ler, se quiser este emprego…

Passaram 20 anos e o meu sorriso perdeu-se pelo caminho. Não sei quantas voltas já dei ao caixote.

Há cartas que sei de cor. Outras o tempo tratou de engolir o texto. Passados seis meses o major foi colocado noutro lugar, mas eu já me habituara à rotina das caixas.
Ninguém se preocupou – o trabalho quando bem feito não deve ser alterado. Já tinha encontrado uma metodologia que rentabilizava o circuito. Quem precisa de mudar quando tudo parece tão perfeito?

Hoje eram dez e eu já tinha lido tudo. Amanhã vou acompanhar o corpo de Sebastião. Morreu de morte natural – foi o que li na carta que a esposa enviou aos colegas. Esta vai para o caixote das CARTAS LIDAS.


Quem me dera que a felicidade fosse feita dessa vontade que tenho em não existir.
Depois tu sorris e eu esqueço de tudo o que aprendi

(Sempre a ladainha da velha. A mesma dor que rompe o som – todos os dias!)
publicado por Carlos Loures às 14:00

editado por Luis Moreira às 17:24
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Terça-feira, 11 de Janeiro de 2011

Uma tragédia portuguesa em NY

Por dirigir , ao tempo, uma empresa que financiava eventos de "fashion", moda, passagem de modelos, fui convidado para um "bar livre" numa das discotecas mais conhecidas de Lisboa. E, lá fui, com alguma curiosidade, para tentar perceber o que alimenta aquilo.

 

As pessoas são as que conhecemos das revistas, jornais e televisões, as habituais que vivem das fotos "casuais", da entrevista mil vezes repetida, entrevistam-se umas às outras, é chamado o "operador da televisão" para filmar "um grupo expontâneo", esconde-se o e quem não interessa ou não é conhecido, e assim por diante, uma vida virtual, sem ponta de vida e alegria.

 

Lembro-me de dois casos que acompanhei durante a noite já que não podia segui-los todos. Um era um rapaz ao tempo muito conhecido por haver ganho um concurso popular e profundamente estúpido. O pobre do rapaz que depois da efémera fama, andou por hospitais psiqiátricos e que agora voltou a tratar das galinhas era, físicamente, pequeno e magríssimo, tímido, não falava com ninguém nem ninguém lhe dava qualquer importância. Uma tragédia anunciada, via-se claramente que o rapaz não aguentaria a pressão da vida a que aspirava e que o melhor mesmo seria voltar para a sua terra natal.

 

Outro caso, era de uma miúda que não teria mais de vinte anos, líndissima, cheia de poses de quem tirou cursos de modelo, pé à frente, braços caídos, ombros descaídos "à Angelina Jolie", mostando sempre o melhor perfil. Procurava febrilmente fotógrafos, enfim, andava ali como um passarinho para a primeira "pitão" que reparasse nela. E, foi certinho, lá apareceu um figurão, com um fotógrafo a tiracolo e logo ali arranjou uma sessão fotográfica, com a miúda a ter os seus quinze minutos de fama. Lá para as 2/3 horas da manhã, com os copos e amparada pelo "figurão"  vi -a sair  para entrar numa grande bomba e o resto adivinha-se.

 

Há quem ofereça o céu e a terra para ir para a cama com um(a) jovenzinho(a) destes,  lindo(a)s e ingénuo(a)s, cegos pela ambição, vão muito além do que suportam, e depois não são capazes de viverem com o que foram obrigados a fazer. A seguir vem o alcool, as drogas e, com  muito azar à mistura, a revolta num quarto de hotel longe da terrinha. A tragédia anunciada que desta vez tomou dimensão inusitada, concretizou-se no pior lugar. Longe da família, num país onde há prisão perpétua, onde é necessário muito dinheiro (muito mais do que cá) para ter um advogado decente, o pobre do rapaz desgraçou a vida dele atrás de um sonho que só se anuncia para muito poucos.

 

O assassinado é um ser humano e, como tal, lamento muito sinceramente, a sua morte brutal. Também a ele aconteceu o que normalmente acontece a quem vive "no fio da navalha", mas não posso deixar de dizer que lamento muito mais a desgraça do rapaz. Também cada um de nós em certa faze da nossa vida, nos vinte anos, as circunstâncias nos empurraram para situações que a família ou os amigos, ou a escola, nos ajudaram a evitar.

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Domingo, 26 de Dezembro de 2010

A geração "nem - nem"

Luis Moreira
Chamaram-lhe a geração rasca, por ser preguiçosa, meter-se nos copos, ficar em casa dos pais até aos 40 anos, não estudar, não procurar trabalho, enfim, não fazer nada. O que não se esperava é que fosse a geração "sem alternativas".


A geração anterior está bem instalada, emprego para a vida, esperar pela reforma, não há renovação no emprego, quem tem trabalho chama-lhe seu, não sai nem que seja mau trabalhador, nem se já não corresponde às exigências da função. Pior, obrigam-nos a trabalhar até mais tarde.


Também, até há pouco tempo, era a chamada "geração dos 500 euros", não dava para grande coisa mas sempre acalentava a possibilidade de ter um projecto de vida, estudar e trabalhar era norma, ia-se ganhando experiência, contactos, capacidades.


Mas a ganância e a desregulação dos mercados destruiram a economia, milhões de postos de trabalho deixaram de ser preenchidos, o investimento caíu abruptamente, e os jovens, mesmo com capacidades, não têm futuro.


Curiosamente há trabalho para as artes e ofícios, gente com menos graus académicos mas que "sabem fazer", arrancam com o seu próprio negócio e ganham a vida. Canalisadores, carpinteiros, mecânicos, informáticos "hardware", são cada vez mais os jovens que criam o seu próprio emprego, para não falar dos que saem das grandes cidades e se instalam no interior do país onde a concorrência é bem menor.


Mas há um mar de oportunidades na agricultura e na actividade marítima que precisam do apoio inicial do estado, e que potencialmente podem criar muitos postos de trabalho, bem como na reequalificação urbana que segundo a CIP ( Confederação Industrial Portuguesa) pode criar 500 000 postos de trabalho ao longo de cinco anos.


Destruiu-se a produção, somos uma sociedade de serviços em que poucas actividades têm vantagens competitivas, há que voltar a fazer o que sabemos fazer, actividades tradicionais onde temos "Know how" e matérias primas. (fileira da floresta - celuloses, carpintaria, biomassa, cortiça - texteis, agricultura- floricultura, vinho, azeite, fruticultura, verdes - actividades marítimas, Turismo, modernas tecnologias...)


E, há um principio básico, não pode ser mais favorável ficar em casa a receber subsídios do que trabalhar e ganhar uma miséria. A competitividade não pode nem deve assentar na exploração de mão de obra barata! Sem esta premissa estamos a qualificar jovens para irem procurar vida lá fora ou termos gente subaproveitada, cuja preparação académica custa muito dinheiro a todos nós.
publicado por Luis Moreira às 13:00
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