MÃOS DE HOJE QUE FORAM DE SEMPRE
Na noite que já não é noite de madrugadas perpassa em doce silêncio por entre os dedos dormentes uma brisa dolente esquecendo as mãos na paz adormecida.
Por entre os frágeis dedos da quietude e do silêncio perpassa agora em suave melancolia o magro regato da secura da vida arrastando em seu leito rugoso a triste canção de um tempo sem cor nem movimento.
O lento gesto do abrir destas mãos de tantos anos vividas cai agora em pesado silêncio por entre as malhas da sombra no impiedoso vazio das mãos cheias de nada.
Foi-se embora a madrugada das manhãs perdidas no tempo em que o sol sorria entre os sonhos e as mãos cantavam a força da vida com ondas do mar por entre os dedos frementes.
No penoso abrir e fechar de mãos deste plangente gesto do fim do dia feito canção de tão gélido silêncio apenas a saudade se aninha em negro fundo para morrer sozinha.
Adão Cruz
(poema inédito escrito especialmente para esta fotografia)
O TATO E AS MÃOS
Suspensas e ensimesmadas
as mãos são pássaros vagantes
sem asas que voam entre
tatilidade e o quase nada
Os pássaros agora mãos
não sabem se os seres
táteis já agora são
não asas, puro chão.
As mãos agarram-se ao chão
tatilidade certa, mas sem garra
que essas asas mais que suas são
dos pássaros errantes.
Como perdidas asas no espaço
as duas mãos encontram o tátil
mais que chão,
abraçando-se em duas tatalidades,
não vôos, somente mãos.
Sílvio Castro
Com este belo poema de Sílvio Castro, encerramos a Exposição de José Magalhães.
Até breve.
ENTARDECER
1
O entardecer desorganiza
o nosso mundo,
exalta o canto
doloroso das aves
como apelo que flutua
no verde das árvores
de súbito acolhendo
os estranhos, espúrios
frutos da noite.
2
Já não tarda o entardecer:
as aves pressentem o lento
progredir das sombras, o vento
ausente que as sufoca, o único
irrepetível surpreender
das trevas.
Manuel Simões
(De "Micromundos",Lisboa, Colibri, 2005).
À meia-noite chegará o última das seis fotos desta exposição com um belo poema de Sílvio Castro
PLANA LA BOIRA ALS CAMPS
Plana la boira als camps,
i els perfils, els volums,
els colors i les formes
són ombres irreals,
presència intuïda
que cap sentit dibuixa.
Només el pensament els dóna nom.
I l'arbre, el tronc, les fulles i
les pedres,
coneguts,
s'alcen fets mot, presència
i forma sense cos,
fets només arbre i tronc, fets fulla i pedra,
deslliurats dels sentits, sense
atributs.
Com tu i com jo, dibuixos
impossibles,
idea i ombra, un concepte
imprecís...
I tanmateix tan certs com tu, com jo.
Josep Anton Vidal
Às 23:30 teremos aqui um poema de Manuel Simões. Não percam a sua leitura.
ATLAS ILUMINADO
.................................................
Um rosto velho, cansado
é manto de nevoeiro
que cobre a deriva louca
do veleiro que percorreu
o rio da nascente à foz
e chega a um mar de espanto
grito morto na garganta
- boca que perdeu a voz
que a água do rio venceu
na passagem destruída
sobre a ponte inexistente
muro entre o sonho e a vida
que nos coube em sorte a nós
........................................................
Carlos Loures
(Fragmento do poema inédito "Atlas Iluminado")
Às 23:00 chega o Josep Anton Vidal que com um belo poema acompanha uma excelente fotografia do José Magalhães.
FUTURO
O futuro na minha infância
estava inocente de derrotas e sofrimentos,
simplesmente porque a minha infância
não podia profetizar o futuro.
Sendo futuro embora,
a infância brinca com alegria isenta de manhas,
tomando-o por aliado, amigo, companheiro, irmão.
António Sales
Nota - Por um acidente de última hora, perdeu-se o poema que António Sales escreveu expressamente para esta fotografia do José Magalhães. Estamos há várias horas a tentar contactar este nosso colaborador, mas sem o conseguirmos. Optámos por usar este poema de António Sales que não está relacionado com a fotografia, mas nem por isso deixa de ser uma bom poema. Logo que nos seja possível, publicaremos esta foto e o poema que nela se inspira. Aos dois autores apresentamos os nossos pedidos de desculpa. Às 22:30 teremos um poema de Carlos Loures.
NÃO HÁ POETA
Não há poeta para a réstia de sol de um rosto engelhado de
luz não há poeta para o poema da eternidade num só momento.
Não há poeta para a singeleza do pensamento feito suspiro de
terra seca num beijo de primeira chuva na melodia do sol-pôr dormindo num
estuário de rugas cavadas de longas madrugadas.
Não há poeta para a liberdade de criar sem algemas a
majestade de um só verso feito sorriso de cristal não há poeta para tão serena
harmonia da assilabada amargura do peso do tempo.
Não há poeta para a nudez da vida perdida para lá de um
rosto apagado de ilusões não há poeta para uma réstia de sol pousada nos olhos
do silêncio entre a vida e a morte.
Adão Cruz
Atenção - às 22:00 horas chegará mais uma fotografia do José Magalhães, desta vez com um poema do António Sales
José F V Magalhães, nasceu em 1952. Escreve e fotografa desde a adolescência.
Fez diversas exposições de fotografia, individuais e colectivas, no Porto, Paços de Ferreira, Vila Nova de Gaia, Maia,
Mogadouro, Coimbra e Matosinhos.
“É um fotógrafo do romântico … um caçadorda tranquilidade, pese embora o seu estar irrequieto, desassossegado … flutua entre a escrita e a imagem, fotografa por prazer, escreve com prazer …”
(Luis Raposo, fotógrafo, na apresentação da exposição «Água e Palavras», Porto, Fevereiro 2010)
Apresentou um conjunto de seis trabalhos, intitulado “Momentos” no A Cup Of Tea, em Matosinhos, de 11 de Junho a 9 de Julho de 2011.
Hoje vamos ver esses seis magníficos trabalhos aqui no Estrolabio - uma fotografia de meia em meia hora.
Com um poema de Adão Cruz, às 21:30, teremos a primeira fotografia de "Momentos". Seguir-se-ão António Sales, Carlos Loures, Josep Vidal, Manuel Simões e Sílvio Castro.
e diz-nos:
No próximo dia 2 de Julho vamos, o Grupo F4, inaugurar um espaço denominado PORTA 22. O Porta 22 fica situado na rua do Ferraz, no Porto, com o número de polícia que o seu nome indica.
A par dessa inauguração vamos, este mesmo grupo F4, apresentar uma Mostra Colectiva de Fotografia.
Em anexo, envio-vos o convite para a inauguração e o panfleto da exposição.
Terei um enorme prazer em poder ver-vos por lá, na data indicada, a partir das 16h.
Não esqueçamos que na próxima segunda-feira, dia 20 de Junho, entre as 21 e as 24 horas, se realiza aqui no Estrolabio uma exposição de fotos de José Magalhães acompanhados de poemas de diversos poetas.
Eva Cruz Conta a lenda...
(Adão Cruz)
Já que ando em maré de lendas, aproveito esta para fazer o meu comentário ao resultado das eleições.
Gostaria de a fantasiar, mas a realidade não admite fantasias.
Conta a lenda que numa aldeia longínqua, no sopé do monte, onde o sol nasce cedo e cedo se deita, quando os animais falavam, os galos cantavam assim: Aqui passa-se fome, aqui passa-se fome!
Noutro lugar em frente, apesar de mais soalheiro e mais abrigado, onde os animais julgavam haver mais cereais ou ervas para comer, os galos respondiam com uma cantilena que ia dar ao mesmo: Aqui também, aqui também.
Perto havia uma azenha, movida pelas águas do ribeiro que corria no pequeno vale que dividia os dois lugares. O moinho compreendia a lamentação dos galos. Por falta de cereal, não caía, há muito, um grão da moega sobre as mós e debalde elas chiavam a moer em falso: Sempre assim foi, sempre assim foi.
Ora, isto era no tempo em que os animais falavam pelos homens, e os galos têm, ao que parece, menos miolos.
Gosto muito dos moinhos e retenho no ouvido a canção de água e pedra da minha infância mas gostava de escrever na flor da farinha: Isto há-de mudar, isto há-de mudar.
Na flor da farinha do seu imaginário, partilhando do mesmo sonho, o meu irmão, o Adão, escreveu, um dia, este lindo poema:
(José Magalhães)
Se eu soubesse dar às palavras que tenho dentro de mim o cantar deste regato
Se entre as pedras do meu leito saltitassem estas águas que me fizeram criança
Se fosse menino este chão que tenho dentro de mim numa caixinha de esperança
E de sonho fosse o moinho que mói o trigo da ilusão
não queria outro moinho para a farinha do meu pão.
De repente, as velhas mós começaram a rolar e a farinha a cair. Levadas pelo tempo e pelo vento as mãos pequeninas lá voltaram a escrever: Isto há-de mudar, isto há-de mudar.
Ia eu por ali a passar, subindo e descendo por uma ladeira acima, quando ouvi dois tiros. Pum!, Pum!. Horríveis, assustadores, medonhos.
Juntou-se muita gente, muita gente, muita gente, e eu também, ansioso, na esperança de ajudar a solucionar ou até mesmo resolver de uma vez o acontecido. Não se sabe se há mortos, feridos ou estropiados.
Os tiros, pum!, pum!, foram ouvidos a muitas léguas, e as gentes chegavam em catadupa.
O pum, pum dos tiros, terá chegado também aos ouvidos da autoridade que, lesta, enviou um agente para, de imediato, tomar conta da ocorrência.
Chegou o polícia e disse: - Está tudo preso!
- Menos eu, senhor guarda, eu não, disse eu.
- Então porquê?, retorquiu o agente da autoridade.
- Porque eu sei tudo!
- Sabe tudo?
- Sei sim senhor.
- Ora então conte lá!
- Olhe senhor guarda, disse eu pigarreando e aclarando a voz,
O FC PORTO GANHOU A LIGA EUROPA
Com muito orgulho escrevi no meu blogue pessoal sobre a vitória do FC Porto na Liga Europa e também sobre a magnífica equipa do SP Braga.
Para não estragar a festa (a minha) não me quis debruçar nesse escrito sobre os aspectos que me surpreenderam e dos quais não gostei.
Aconteceu no fim do jogo.
Já o árbitro tinha apitado para o fim do encontro e todos os elementos afectos ao FC Porto festejavam, quando acabou por acontecer o, para mim, impensável.
Os jogadores do SP Braga subiram as escadas para, um a um, receberem a medalha de finalista vencido. Apesar de tudo com um sorriso nos lábios, os jogadores do Braga lá foram receber a medalha, inchados com a sua presença numa final europeia. Todos eles vestidos com o seu equipamento amarelo de que se sentiam naturalmente orgulhosos.
Depois foi a vez dos elementos da equipa portista, encabeçados pelo seu presidente. Um a um lá subiram a escadaria em direcção ao sr Platini, para que ele lhes entregasse a medalha de finalista vencedor e ao último elemento e capitão de equipa, também a tão cobiçada taça.
As câmaras das televisões seguiam cada um dos elementos da comitiva azul e branca. Bem queria eu que fosse azul e branca, mas quase todos os jogadores traziam uns panos às cores a tapar o equipamento. Não percebi muito bem o que era até que segundos depois alguém exclamou a meu lado
- trazem as bandeiras dos países nas costas.
. Ligações
. A Mesa pola Normalización Lingüística
. Biblioteca do IES Xoán Montes
. encyclo
. cnrtl dictionnaires modernes
. Le Monde
. sullarte
. Jornal de Letras, Artes e Ideias
. Ricardo Carvalho Calero - Página web comemorações do centenário
. Portal de cultura contemporânea africana
. rae
. treccani
. unesco
. Resistir
. BLOGUES
. Aventar
. DÁ FALA
. hoje há conquilhas, amanhã não sabemos
. ProfBlog
. Sararau