Quinta-feira, 14 de Julho de 2011

15 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

(Conclusão)

 

Último acto

 

No dia seguinte ao do jantar em Kuntsevo, no Domingo,  dia 1 de Março de 1953, os seus convidados estranharam que Estaline, ao contrário do sempre fez, não lhes tivesse telefonado para comentar algum assunto ou para os convocar para alguma reunião. Foi  primeira vez em muitos anos que tal não aconteceu. Alarmada, a filha Svetlana, telefonou para a datcha. O oficial de serviço informou-a de que o pai ainda não se tinha levantado. À noite, o mesmo oficial, telefonou para Malenkov, Béria, Bulganine e Kruchtchev informando-os de que Estaline ainda não saíra do quarto, nem tocara a campainha para lhe levarem as refeições, com às vezes fazia. O homem temia que tivesse acontecido alguma coisa, mas não se atrevia a entrar. Imediatamente, dirigiram-se  os quatro a Kuntsevo. Vorochilov e Kaganovitch~foram também avisados. Chamam e, não havendo resposta, arrombam a porta: encontraram Estaline, completamnte vestido, caído sobre um tapete. Estava em coma.

 

Os médicos diagnosticaram hemorragia cerebral provocada pela arteriosclerose e por uma levada tensão arterial. Nos dias que se seguem, abriu por diversas vezes os olhos, mas não recuperou o conhecimento. Porém, no quarto dia teve um momento de lucidez. Uma enfermeira estava a dar-lhe de beber com uma colher, e Estaline apontou uma das muitas fotografias ampliadas que enchiam as paredes do quarto (as que tirou com Nadja num Verão feliz). Numa delas, uma menina alimenta um cordeiro com um biberão. É uma ironia. Em 5 de Março, a agonia recomeçou. Desfigurado, tentava respirar - foi uma terrível batalha contra a morte. Mas a luta iria terminar. Ergueu o braço esquerdo. Svetlana dirá depois que foi um último gesto de ameaça, como se tivesse querido amaldiçoar todos os presentes. Expira.

 

Às primeiras horas da manhã de sexta-feira, 6 de Março de 1953, subitamente, a Rádio Moscovo...

 

 

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 12/07/2011 às 00:47
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Quarta-feira, 13 de Julho de 2011

14 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

(Continuação)

 

Ainda a guerra

 

No dia 6 de Junho de 1944, teve início o desembarque aliado na costa da Normandia. Em Dezembro, Estaline assinou com De Gaulle um pacto de ajuda franco-soviético. Sobre Estaline dirá De Gaulle nas suas Memórias de Guerra (1944): «Unificar os Eslavos, aniquilar os Germânicos, expandir-se pela Ásia: eis os sonhos da pátria, os objectivos do ditador. Eram duas condições as prévias para o conseguir: modernizar o país e transformá-lo numa grande potência, isto é, numa potência industrial, saindo vencedor no caso de uma guerra mundial. A primeira condição estava já cumprida, embora com custos muito elevados em sofrimentos e perda de vidas humanas. Quando o conheci, estava prestes a cumprir a segunda condição, no meio de um cenário de túmulos e ruínas. Para sorte dele, tinha um povo tão cheio de vida e tão paciente, quem nem a mais dura servidão conseguia paralisar; um país tão farto em riquezas do subsolo que nem o mais extremo esbanjamento conseguia esgotar; alguns aliados sem os quais não teria vencido o inimigo, nem eles o teriam feito sem a sua ajuda».

 

Entre  4 e 11 de Fevereiro, realiza-se a Conferência de Ialta, na qual Estaline propõe a divisão da Alemanha. Ainda segundo De Gaulle nas suas Memórias de Guerra, Churchill terá dito sobre a Rússia e sobre Estaline: «No que se refere à Rússia, é um animal desajeitado e faminto desde há tempos. Hoje não o podemos impedir de comer, principalmente se tivermos em conta que é uma das vítimas mais afectadas. O que é preciso é que não coma tudo. Eu esforço-me por conter Estaline que, apesar do seu apetite voraz, não é um homem destituído de realismo».

 

 

Nos últimos anos, Estaline transformou-se num velho ao qual começavam a faltar as forças. Encontrava-se totalmente isolado num oceano de adulação e intriga. Estava prisioneiro do seu terrível e imenso poder. Levava, portanto, uma existência solitária. A sua residência habitual era a datcha de Kuntsevo, perto de Moscovo. Apenas se sentia bem, passeando nos sombrios pinhais e na floresta de abetos prateados que rodeiam Kuntsevo. no Verão gostava de trabalhar no jardim. No Inverno sentava-se a uma secretária junto de uma janela  e ali resolvia os seus assuntos, recebendo membros do Governo, oficiais e funcionários. Ia já muito pouco ao seu gabinete no Kremlin. Às vezes convidava velhos camaradas para jantar. Eram refeições de trabalho em que se discutiam assuntos políticos e se tomavam importantes decisões. Foi assim naquele jantar, em 28 de Fevereiro de 1953. Nesse sábado, Malenkov, Béria, Bulganine e Kruchtchev foram jantar a Kuntsevo. Estaline esteve sempre de bom humor. Depois, parecendo fatigado, despediu-se dos convidados e subiu ao seu quarto.

 

(Continua)

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 12/07/2011 às 00:42
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Terça-feira, 12 de Julho de 2011

13-- José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

(Continuação)

 

 

A guerra no horizonte

 

 

 

Entre Julho e Agosto de 1939, travaram-se combates entre forças soviéticas e japonesas na fronteira da República Popular da Mongólia. Entretanto, Hitler mostrou-se favorável a debater com Estaline a assinatura de um Pacto de Não-Agressão. Von Ribbentrop e Molotov negocearam em Mosovo a sua assinatura. entre Setembro e Novembro as tropas soviéticas ocuparam o Leste da Polónia, a Estónia, Letónia e Lituânia. Entre Novembro e Dezembro, o exército soviético ataca a Finlândia, sofrendo umelevado número de baixas.

 

 

Sob os olhares atentos de Von Ribbentrop e de Esialine, Molotov assina,

em 1939, o Tratado germano-soviético.

 

Em Março de 1940, foi assinado um pacto de paz entre a Finlândia e a União Soviética, pondo termo à guerra entre os dois países. Hitler convidou Estaline a avistar-se com ele em Berlim. Em Julho, Churchill propôs a Estaline a criação de «condições harmoniosas e úteis para ambas as partes.» Os estados bálticos foram integrados na União Soviética.

 

Em Abril de 1941, a URSS conclui um tratado de amizade com a Jugoslávia e outro de neutralidade com o Japão. Em 2 de Junho, as tropas alemãs invadiram o território soviético. Em Julho foi constituído o Comité de defesa do Estado do qual Estaline foi nomeado comandante-supremo. Em Setembro, a União Soviética aderiu à Carta Atlântica. Em Dezembro, Estaline ordenou a primeira contr-ofensiva soviética. Em Maio de 1942, foi assinado entre a URSS e a Grã-Bretanha um tratado bilateral de defesa contra a Alemanha e, em Junho, outro convénio com os Estados Unidos sobre a ajuda mútua na guerra contra a agressão alemã. Em Agosto, tem lugar a Conferência de Moscovo, em que participam Estaline, Churchill e Harriman.

 

Em 1943, terminóu  o cerco a Estalinegrado com a capitulação do Sexto Exército alemão sob o comando do marechal von Paulus. Em Março, Estaline é nomeado Comissário da Defesa e promovido ao posto de marechal. Entre 28 de Novembro e 1 de Dezembro desse ano de 1943, Estaline, Roosevelt e Churchill encontram-se na Conferência de Teerão. Decisões muito importantes são tomadas.

 

  

 

 

(Continuação)

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 09/07/2011 às 23:49
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Segunda-feira, 11 de Julho de 2011

12 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

(Continuação)

 

O terror

 

Em 1925 Trotsky demitiu-se de todos os seus cargos. Estaline aliou-se a Bukarine e a Tomsky contra a facção trotquista que, com razão, se reivindicava como herdeira da herança leninista. Porém, Estaline refazia a verdade e combatia os adversários com determinação e vigor -no seu texto Fundamentos do Leninismo denunciou publicamente a oposição criada por Zinoniev e, sobretudo, por Trotsky. Perante o plenário do Comité executivo do Komintern, combateu-a colocando-a sob o estigma da traição, como um germe de um novo partido que iria sabotar a unidade existente no seio do PCUS. Sem dar tempo aos adversários para respirar, denunciou logo depois a plataforma constituída pela oposição. Trotsky e Zinoniev foram expulsos do Partido e em Janeiro de 1928 Trotsky foi deportado para Alma-Alta.

 

 

Leon Trotsky

 

No entanto, até ao extermínio total dos opositores, Estaline não iria parar. Em Dezembro abriu a caça ao grupo de Bukarine. E, Novembro de 1929, Bukarine, Rykov e Trotsky reconhecem publicamente as suas "opiniões erradas. Trotsky foi expulso da União Soviética.

 

Por esta altura, Yacob, um filho de que Estaline nunca gostou, fez uma tentative frustrada de suicídio. O pai terá comentado: "Ora! Bem podia  ter disparado com melhor pontaria!".

 

Em Outubro de 1932, Estaline exigiu a condenação e a execução de um opositor - Ryutin.

 

Em Novembro desse ano, durante o banquete comemorativo do 15º aniversário da Revolução, perante dignitários do Partido, Estaline dirigiu-se com tal rudeza a Nadja que ela, envergonhada, humilhada e deprimida, saiu da sala. Nessa noite, pôs fim à vida com um tiro de revólver. Na análise que Estaline fez a este suicídio, fixou bem patente a sua peculiar (e patológica) maneira de encarar a realidade - nunca estabeleceu uma relação de causa-efeito entre o enxovalho a que submeteu Nadja. Considerava-a a sua "amiga mais íntima e leal" - o que significava que teria de aceitar todas as ofensas como manifestações de interesse - afirmou-o: aquele suicídio afigurava-se-lhe uma traição. Ninguém podia abandonar a cena sem sua autorização. E, agastado, nem sequer foi ao funeral da esposa. Contudo, durante muito tempo iria falar obsessivamente de Nadja, acusando-a sempre de o ter abandonado.

 

Em Abril de 1933, começou uma das mais violentas purgas do período estalinista - a depuração levada a cabo nas altas instãncias do Partido e dos sindicatos. Em Dezembro, Serguei Kirov foi assassinado e desencadeiam-se as purgas de Leninegrado e de Moscovo. Em 1935 desenrolou-se o processo contra Zinoniev, Kamenev e mais 17 "cumplices". Em 1936, nova vaga na depuração, baseada no controlo e "renovação" dos documentos do Partido . Em Agosto, o terror prosseguiu com o "primeiro processo de Moscovo": Zinoniev, Kamenev e os "cúmplices" foram condenados á morte e executados. Tomsky suicidou-se. Em 1937 foi aberto o segundo processo de Moscovo - os alvos eram agora Pyatakov, Radek e outros. Em Fevereiro Ordjonikidze suicidou-se. Em Junho foi a vez de altos cargos do Exército. Grande número de marechais e generais foram fuzilados. Discordar de Estaline era considerado alta-traição. Só um cérebro tinha direito a funcionar entre os mais de 200 milhões de soviéticos- o de José Estaline.

 

Em 1938 foi assinado o famoso Acordo de Munique. Procurando não entrar em rota de colisão com Hitler, as potências europeias, incluindo a União Soviética, abandonam a Checoslováquia à sua sorte, permitindo a sua invasão pelas tropas nazis. Em Março teve início o terceiro processo de Moscovo - os ex-aliados de Estaline, Bukarine e Rykov, entre outros, foram executados sob a acusação de pertencerem ao «bloco direitista e trotsquista». Trotsky viria a ser assassinado  em 1940, no seu exílio no México. A primeira fase da limpeza estava concluída. A velha geração de revolucionários, a incómoda intelligentsia,estavam liquidada. No Partido, nos sindicatos, nas forças armadas, os «percevejos» tinham sido eliminados. Tinham ficado os elementos «absolutamente leais e necessários».

 

 

(Continua)

 

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 09/07/2011 às 00:41
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Domingo, 10 de Julho de 2011

11 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

 

(Continuação)

 

A "guerra" com Trotsky

 

Em paralelo com a guerra civil, Estaline travava a sua primeira grande guerra no interior do partido - duas maneiras diferentes de conceber a luta pelo socialismo e também uma quesília pessoal - quem iria ser o herdeiro, o sucessor de Lenine? Em Janeiro de 1921, Estaline opôs-se ao projecto de Trotsky de tansferir a metodologia, a estrutura, a disciplina militar para os sindicatos  e para a classe operária. Ganhou este primeiro round e, no X Congresso dos Sovietes, foi eleito secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética.

 

Em Janeiro de de 1923, Lenine que havia sofrido já um primeiro ataque de apoplexia, acrescentou algumas notas ao seu testamento político. Os médicos proibiram-no de estar presente no XII Congresso. Nessas notas recomendava a destituição de Estaline, preocupado com a previsível divisão no interior do partido: «O camarada Estaline, ao transformar-se em secretário-geral, concentrou nas suas mãos um poder enorme e não tenho a certeza de que consiga utilizar sempre esse poder com a prudência suficiente...». E dizia noutra nota: «Estaline é demasiado grosseiro e este defeito, perfeitamente tolerável entre nós e nas nossas relações como comunistas, é inaceitável no lugar de secretário-geral. Assim, proponho aos camaradas que encontrem maneira de afastar Estaline do seu cargo e de nomear outro homem que seja em todos os sentidos o oposto de Estaline; isto é, mais tolerante, mais leal, mais educado e mais respeitoso para com os camaradas...». A causa próxima para esta nota terá sido a maneira brusca como Estaline, alguns dias antes, terá repreendido publicamente Krupskaia, esposa de Lenine. Lenine enviara um memorando a Estaline exigindo-lhe que apresente desculpas também públicas a Krupskaia - o que Estaline se apressou a fazer.

 

 

 

 

Assim, quando em 21 de Janeiro de 1924, Lenine morreu, as relações entre ambos eram praticamente de ruptura. No dia 24, Estaline jurou cumprir as determinações do «testamento» político de Lenine, mas desconhecia o seu conteúdo. Quando, perante o plenário do Comité Central o documento foi lido, Estaline, surpreendido, anunciou a sua demissão. Mas os delegados pediram-lhe que permanecesse no seu posto. As recomendções de Lenine foram sendo esquecidas e em Dezembro desse ano, depois de ter rebatido a concepção de Trotsky da "Revolução permanente", defendeu a tese da possibilidade da vitória do socialismo num só país. Foi aprovada  a nova constituição que cria a URSS, o tal texto que Louis Aragon, com exceso de fervor revolucionário, considerou obra literariamente superior à de Shakespeare, Rimbaud...

 

(Continua)

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado às 22:40
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Sábado, 9 de Julho de 2011

10 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

 

 

(Continuação)

 

A Revolução

 

Em 25 de Outubro (8 de Novembro) foi criado o primeiro governo soviético. Estaline foi eleito Comissário do Povo para as Nacionalidades. Em 29 de Novembro, Lenine e Estaline assinaram a Declaração dos Direitos dos Povos da Rússia. Já em 1918, no III Congresso dos Sovietes, Estaline apresentou uma proposta para a organização sob a forma federal das repúblicas russas. Em Maio casou com Nadja Alliluyeva. Participou activamente na redacção da Constituição soviética - o tal texto que Louis Aragon, com excesso de fervor revolucionário, considerou obra literariamente superior à de Shakespeare, Rimbaud... Documento que seria aprovado em Julho.

 

No Verão, eclodiu a guerra civil. Estaline assumiu a responsabilidade de garantir o aprovisionamento de víveres no Sul da Rússia. A experiência da guerra teria um profundo impacto em Estaline, pois ampliou-lhe o conhecimento sobre si mesmo, sobre as suas qualidades e também sobre as suas limitações. Pela primeira vez, enfrentava uma situação em que tinha de tomar decisões no terreno e já não defendê-las nas intermináveis reuniões políticas. As suas responsabilidades são muito elevadas. Descobriu que as enfrentava com frieza e objectividade e que quanto maiores eram mais o estimulavam.

 

O conflito ia envolvendo crescentes graus de brutalidade e de violência - séculos de civilização esfumavam-se. Prevalecia a condição animal - matava-se pela posse de um pão. Este regresso á barbárie, enraízou em Estaline uma inumanidade que iria  caracterizar o seu exercício do poder. Perante a grandeza dos objectivos que se queria atingir, as vidas humanas assumiam aos seus olhos um reduzido valor.

 

Entretanto, uma outra guerra começava para Estaline - a luta com Trotsky. Amanhã falaremos dessa questão. Hoje, deixo-vos com imagens de um filme de Serguei Eisenstein - Outubro. È um filme reaalizado em 1927 - a trilha sonora deste filme mudo é preenchida por andamentos da  Sinfonia nº 7  de Dmitri Chostakovitch.

 

 

(Continuação)
publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 08/07/2011 às 18:04
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Sexta-feira, 8 de Julho de 2011

9-- José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

(continuação)

 

1917

 

O tempo de exílio chegou finalmente ao fim. Estaline regressou à capital, uma Sampetesburgo onde reinava a confusão e o caos. Na Sibéria estivera longe da realidade da guerra. Mergulhava agora abruptamente nessa realidade. Os desastres na frente de combate aceleravam a degradação do regime imperial.

 

Após a calma forçada do exílio, Estaline voltava à sua actividade febril. Comparece perante a junta médica de recrutamento do Exército que o declarou inapto para o serviço militar devido à deformidade no braço. Assumiu a direcção da Pravda.

 

Em 15 de Março, o czar Nicolau II abdicou e a crise política agudizou-se.  Foi neste conturbado período que reencontrou a jovem Nadja, filha do seu amigo Sergei Alliluya. Nadja nascera em Baku e fora criada no Cáucaso, educada desde o berço no espírito revolucionário. Estaline conhecia-a desde criança, mas viera, após o tempo de exílio, encontrar uma formosa adolescente. Para Nadja, casar com um homem que se habituara a admirar desde a infância foi a concretização de um sonho e pareceu-lhe a forma mais elevada de servir a Revolução. Tinham vinte e dois anos de diferença, mas entre ambos gerou-se uma profunda afeição. Porém, os anos difíceis que se seguiram, como ácido maligno, corroeram esse sentimento levando Nadja ao suicídio.

 

Como se disse, estávamos em 1917. Estaline foi reeleito como membro do Comité Central do Partido Bolchevique. No I Congresso dos Sovietes, foi nomeado membro do Comité Executivo Central. Em Outubro, numa reunião decisiva do Comité Central, Estaline esteve entre os que votaram a favor de uma proposta de Lenine - convocar o levantamento armado.

 

No dia 25 de Outubro de 1917 (pelo calendário juliano; pelo calendário gregoriano seguido na maioria dos países, era o dia 7 de Novembro) eclodiu a Grande Revolução.

 

(Continua)

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado às 01:39
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Quinta-feira, 7 de Julho de 2011

8-- José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

(Continuação)

 

O derradeiro exílio -II

 

Quando chegou à colónia de exilados de Monastrikroe, esperava-o uma surpresa: para aqueles prisioneiros, mergulhados na cinzenta rotina de dias sempre iguais, a chegada de um membro do Comité Central era um acontecimento muito importante. mesmo excitante. Os exilados, com sacrifício, tinham-lhe arranjado boas provisões de comida poupadas das suas pobres refeições. Em vez da camarata, para ele conseguiram arranjar um quarto individual onde o camarada dirigente pudesse ler, escrever e tomar as importantes decisões. Porém o Koba entusiasta estava a dar lugar a um Estaline mais reflexivo, mais calculista. E amargurado. Não correspondeu às expectativas dos companheiros de exílio. Quando mais o cercavam de atenções e tentavam quebrar o seu isolamento e solidão, mais ele se fechava em si mesmo. Não mostrava interesse de falar com os outros. Uma desilusão.

 

Segundo sua filha Svetlana contou, "amava a Sibéria e sempre teve saudades do seu tempo de exílio, como se só tivesse caçado, pescado e passeado pela taiga". Não foi por desprezo que não correspondeu às atenções dos companheiros exilados. Por um lado, as relações afectivas não constituám uma parte dominante do seu carácter; na sua hierarquia de valores, os objectivos políticos estavam primeiro do que tudo; depois, precisava de solidão para reflectir sobre o futuro. Pressentia que estava sobre o limiar de uma nova época - na sua vida, na história da Rússia e na história do mundo. O futuro vinha aí...

 

Em Agosto de 1914, a Alemanha declarou guerra à Rússia. O povo uniu-se numa onda de fervor patriótico, diminuindo as tensões sociais e políticas. O apoio popular aos bolcheviques diminuiu e a Okrana, a polícia política do czar, aproveitou para desencadear uma vaga de prisões entre os activistas, privando o Partido de órgãos de liderança e provocando-lhe disfunções na estrutura funcional, com a cadeia clandestina de contactos quebrada em vário pontos.

No exílio, afastado dos terríveis acontecimentos da guerra, mas recebendo as notícias dos sucessivos desastres na frente de combate e da agitação social que volta a flagelar as cidades, Estaline sentia-se profundamente amargurado por estar longe do centro da acção, numa altura em que a sua presença era tão necessária.

 

A sua vida em Yenisei-Turjansk foi entrando na normalidade. Aos poucos foi fazendo amizades - com uma característica - com as pessoas que, como ele, provinham de famílias humildes, é afável e educado. Com os intelectuais que, perante a sua cultura autodidáctica e cheia de lacunas, o tratavam com paternalismo é agressivo, duro, intransigente. Menos culto, mas com uma intuição aguda e crítica, depressa se apercebia das fragilidades e pontos fortes de cada um: feita essa análise, atacava a fundo, humilhando, espezinhando, usando as debilidades e não hesitando em fazer valer a sua posição de membro do Comité Central. Um bom treino para o exercício do poder.

 

E chegamos ao ano de 1917.

 

 (Continua)

 

publicado por Carlos Loures às 21:00
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Quarta-feira, 6 de Julho de 2011

7-- José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

 

(Continuação)

 

O derradeiro exílio-I

 

Em Janeiro de 1912 realizou-se em Praga a conferência em que se deu a cisão total e definitiva no seio do Partido Social-Democrata, nascendo desta cisão o Partido Bolchevique. Koba foi proposto para o comité central. De regresso, reatou o seu trabalho clandestino em Baku, Tiflis e Sampetesburgo. Foi novamente preso e desterrado para a região de Narym. Voltou a evadir-se, passando uma temporada em Sampetesburgo para tomar parte na campanha das eleições para a quarta Duma.

 

No primeiro número do jornal Pravda, participou escrevendo o editorial. Deslocou-se depois a Cracóvia para se encontrar com Lenine. Em 1913 colocou pela primeira vez  o nome de Estaline num artigo. Publicou a obra O Marxismo e a Questão Nacionalista. Em Julho  foi deportado para a região de Turujansk.

 

 

 

Enquanto esperava  que o seu destino fosse decidido, Estaline sentia-se abatido, amargurado, mas decidido a continuar. As autoridades entretendo decidiram - iria ficar confinado num extremo da Sibéria. Foi com este sentimento de impotência que chegou à colónia de exilados de Monastrikroe, onde uma surpresa o aguardava.

 

(Continua)

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00
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Terça-feira, 5 de Julho de 2011

6 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

 

(Continuação)

 

Koba o agitador

 

Estávamos ainda em 1905.  Em Abril realizou-se em Londres o III - Congresso do Partido Social Democrata, que foi convocado pelos bolcheviques (ala maioritária). Embora os mencheviques (minoria) o tivessem denunciado como ilegal, o congresso fez-se, constituindo um passo em frente na decisão de Lenine de formar um partido revolucionário.Koba aderiu à facção bolchevique. Em Dezembro, munido de um passaporte falso, viajou para Tammefors, na Finlândia para assistir a uma conferência do partido na qual ficou decidido o levantamento armado e o boicote às eleições da Duma (parlamento), Foi uma viagem decisiva na qual, Estaline encontrou pela primeira vez Lenine. Quase vinte anos mais tarde dirá sobre este encontro: «Eu ansiava por ver a  “águia real” do nosso partido, o grande homem; e grande não apenas na política, mas também fisicamente, porque na minha imaginação, eu via Lenine como um majestoso e imponente gigante. Qual não foi, pois a minha decepção quando se me deparou um homem normal, de estatura inferior à média e em nada, literalmente em nada, diferente dos outros homens (…) Só mais tarde compreendi que a simplicidade e a modéstia de Lenine, a sua luta por passar despercebido, era uma das características mais destacadas como novo líder das novas massas, das massas simples e representativas da humanidade na sua essência.»

 

Estaline e Lenine no VIII Congresso

 

 

 

Em 1906, participou em Estocolmo no IV Congresso do partido. Escreveu artigos sobre o anarquismo, a questão agrária, a luta de classes e a revolução. Em 1907, assistiu ao V Congresso em Londres. Após um espectacular  assalto a um banco no centro de Tiflis, viu-se forçado a refugiar-se em Baku, onde iria desenvolver a sua actividade clandestina. Estava com quase trinta anos.

 

Pensa-se que terá sido em 1908 que nasceu o seu filho Yakob. Em Março desse ano foi preso e encarcerado na prisão de Bailov. Em Dezembro foi desterrado para Vologda e depois, em Janeiro de 1909, para a cidade de Solvychegodsk. Porém, conseguiu evadir-se, refugiando-se primeiro em Baku e depois em Tiflis.

 

Durante este período, escreveu artigos sobre a crise que o Partido atravessava, criticando duramente a direcção bolchevique instalada no exílio. Declarou-se a favor de uma mudança estratégica – o Partido enveredar pela luta legal no interior do país. Em 1910 actuava em Baku como representante do Comité Central. Foi novamente preso, sendo deportado para Solvychegodsk. Em 1911 viajou clandestinamente para Sampetesburgo, sendo preso e desterrado. Desta vez para Vologda.

 

Foram tempos difíceis.

 

(Continua)

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 04/07/2011 às 22:25
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Segunda-feira, 4 de Julho de 2011

5 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

(Continuação)

 


A faisca revolucionária

 

 

Estamos em 1905.

 

Por toda a Rússia se vive uma tensão insuportável. A chamada intelligentsia, os trabalhadores, os camponeses, as nacionalidades subjugadas, problemas que foram sendo ignorados ou suprimidos brutalmente ao longo da construção do império, transformam-se em matéria inflamável - a Rússia é um gigantesco barril de pólvora.

 

Os crimes políticos sucedem-se, fogos postos, actos de sabotagem... a violência aumenta de dia para dia, sobretudo nas zonas rurais. O czar e os ministro têm consciência de que o Estado está à beira do colapso e que a Rússia, de um momento para o outro se poderá transformar num vulcão avassalador. No ano anterior começara a guerra com o Japão e as humilhantes derrotas sofridas pelos exércitos russoa ante forças nipónicas  que à partida foram subestimadas, contribuem para aumentar a desmoralização generalizada que atravessa transversalmente toda a sociedade russa.

 

O filme de Sergei Eisenstein( 1898-1948) Couraçado Potemkine é eloquente quanto à violência dos confrontos entre manifestantes e «forças da ordem» naquele ano de 1905- Não resisto à tentação de aqui incluir a mais conhecida cena deste filme, o massacre na escadaria de Odessa, uma das mais famosas da história do cinema.

 

Este filme realizado em 1925 sobre a revolta de 1905, depressa alcançou grande popularidade. Embora este e outros dois filmes de Eisenstein tenham sido subsidiados pelo Estado, o realizador teve uma invulgar liberdade criativa. Quando realizou A Linha Geral, Estaline quis aconselhar Eisenstein a fazer modificações, pois segundo ele a obra não estava de acordo com o «realismo soviético». E começou logo por querer modificar título que segundo Estaline devia ser O Velho e o Novo. Eisenstein não aceitou a ingerência e foi para os Estados Unidos. Vejamos então a cena da escadaria de Odessa:

 

 

 

 

No dia 9 de Janeiro ocorreu a tragédia que passou à história como o «domingo vermelho» - a guarda czarista abriu fogo indiscriminadamente sobre homens, mulheres e crianças que se manifestavam diante do Palácio de Inverno, em Sampetesburgo.

 

E o nosso Koba?

 

Não pára. Este clima tenso, de confrontação social, constitui o ambiente ideal para o desenvolvimento das suas actividades - como jornalista e como agitador político.

 

 

(Continua)

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 03/07/2011 às 19:43
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Domingo, 3 de Julho de 2011

4 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

(Continuação)

 

Koba o revolucionário

 

Após ter saído do seminário, o jovem Estaline definiu um objectivo – desafiar e destruir o regime czarista. Seria um percurso acidentado. No Primeiro de Maio de 1900 participou na manifestação realizada em Tiflis. Pela primeira vez, falou em público, revelando-se um orador poderoso e incisivo.

 

Em 1901, o seu gabinete no observatório onde trabalha foi passado a pente fino pela polícia. Koba conseguiu escapar. No Dia da Festa do Trabalho, organizou uma manifestação de massas. Houve uma dura repressão – numerosos participantes foram presos e espancados pela polícia e pelos cossacos. Foi por esta altura que começou a escrever no jornal Brdzola (A Luta). Nos seus artigos fez uma defesa aberta da linha marxista ortodoxa.

 

Manifestação em Moscovo no ano de 1905

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Porém, na sua opinião, de todas as armas revolucionárias as mais eficazes eram as manifestações violentas, pois o derramamento de sangue tornava o povo mais forte e consciente, reforçando a sua militância e proporcionando-lhe mais um motivo para lutar. Animado por estes princípios, mudou-se para Batum, dedicando-se a tempo inteiro à agitação política.

 

Em 1902 foi detido, percorrendo várias prisões. Em 1904 conseguiu evadir-se indo refugiar-se em Tiflis. Foi também neste ano que se casou com Ekaterina Svanidze,  filha de um trabalhador do caminho-de-ferro e
irmã de um ex-seminarista, tal como ele. Ambos, sogro e cunhado, seriam seus companheiros no Partido.

 

Estaline nunca se iria referir a este casamento. No entanto, supõe-se que terá casado pela Igreja ortodoxa, pois Ekaterina era muito devota, nunca tendo aderido aos ideais revolucionários do marido, do pai e do irmão. Em 1910, em plena juventude, uma tuberculose pulmonar ceifou-a. Foi enterrada segundo o rito ortodoxo.

 

Mas voltemos atrás. Em 1905 por toda a Rússia se vivia um clima de tensão política e social. Disso falaremos amanhã.

 

(Continua)

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 01/07/2011 às 14:28
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Sábado, 2 de Julho de 2011

3 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

 

 

 

 

 

(Continuação)


Iosif, o pequeno seminarista

 

Em 21 de Dezembro de 1879, em Gori, pequena povoação a cerca de 50 quilómetros de Tiflis, na Geórgia, nasceu Iosif Djugachvili,  filho do então servo Vissarion e de sua mulher Ekaterina. Vissarion era um sapateiro iletrado, alcoólico e muito violento – existe aliás na tradição georgiana, a expressão “beber como um sapateiro”. O homem dava frequentes tareias na mulher e no filho. Conta-se que Iosif numa dessas cenas recorrentes, saindo em defesa da mãe, arremessou uma faca ao pai. Mais tarde, alguém dirá que terá sido este ambiente de ódio e de violência que modelou o carácter despótico de Estaline.

 

Em 1886, o pequeno Iosif contraiu varíola, enfermidade que o desfigurará para sempre. Quando melhorou, Vissarion não queria que o filho (com sete anos) fosse para a escola, pois pretendia que aprendesse o seu ofício e viesse a ser sapateiro como ele. Porém, desta vez, não levaria a melhor. Ekaterina ambicionava para Iosif a condição de sacerdote da Igreja Ortodoxa e, dando esperança a esse sonho, em 1888 o rapaz seria admitido na escola paroquial de Gori. Em 1890, Vissarion foi morto, esfaqueado numa rixa de bêbedos.

 

 

Em 1894 entrou no seminário de Tiflis. Nesse ano caiu  novamente doente – uma grave intoxicação no sangue 

iria impedir o desenvolvimento normal do ser braço esquerdo. Tinha quinze anos e datam desta época poemas de sua autoria, dos quais publicou alguns – foi, nesta idade, um leitor compulsivo e voraz, lendo, entre outros, Marx e Darwin.  Tornou-se ateu e assumiu um pseudónimo – “Koba o inflexível, inspirado num herói dos romances populares da Geórgia. Em 1898 aderiu a um movimento social-democrático.

 

 

Em 1898 aderiu a um movimento ecologista. Em Maio de 1898 filiou-se num partido social-democrata. Sua mãe, a doce e paciente Ekaterina, que morreria em 1936, quando o pequeno Iosif era já o todo-poderoso José Estaline, não aprecia aquela  grandeza e omnipotência a que o filho se guindou. Quando este lhe fez uma última visita, disse-lhe.  - Que pena não teres sido sacerdote!

 

(Continua)

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 01/07/2011 às 17:03
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Sexta-feira, 1 de Julho de 2011

2 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

 

 

 

 

 

 

(Continuação)

 

 

A última ceia

 

 

 

Numa tarde sábado, em 28 de Fevereiro de 1953, na sua datcha de Kuntsevo, Estaline convidou Malenkov, Béria, Bulganine e Kruchtchev para jantar. Ao longo de toda a refeição manteve-se de bom humor. Depois, despediu-se dos convidados e recolheu ao seu quarto. Sentia-se muito fatigado. Olhou em redor. Nas paredes havia grandes ampliações de fotos tiradas na Primavera e no Verão de 1929, nos seus anos de felicidade com Nadja.

Viu-se no espelho – uma sombra confusa apareceu-lhe diante dos olhos, iluminada como um ícone por elogios religiosamente fanáticos e distorcida por clamores de indignação e ódio. Um santo, o «pai da pátria socialista», um déspota perverso, o “maior criminoso da história”?

 

Richard Pipes, professor de História Russa da Universidade de Harvard, dirá que Estaline não tem talento de estadista e que a sua principal capacidade terá sido a de “penetrar no pior da natureza humana” e que com essa capacidade negativa terá mesmo induzido Hitler a desencadear a guerra. Muitos historiadores, marxistas inclusive, endeusam Lenine, remetendo para Estaline todo o odioso de algumas décadas em que uma nação vasta como um planeta passou de atrasada e agrícola a potência industrializada e moderna. Uma transformação
destas dificilmente se conseguiria através de métodos democráticos.

 

A sensação de fadiga aumenta.

 

Estende-se vestido sobre um tapete. À memória ocorrem-lhe imagens dispersas da sua vida que devotou inteiramente a duas causas – ao engrandecimento da sua pátria adoptiva, a Rússia, e ao marxismo-leninismo.

 

(Continua)



 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado às 17:03
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Quinta-feira, 30 de Junho de 2011

1 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

Subitamente na rádio Moscovo

 

Às primeiras horas da manhã de sexta-feira, 6 de março de 1953, a

Rádio Moscovo anunciou subitamente a morte de Estaline.

Uma enorme multidão começou a concentrar-se na Praça Vermelha. Chorando silenciosamente, comprimindo-se umas contra as outras, suportando o frio que subia da mistura de lama e neve que cobria o pavimento, as pessoas esperavam que o corpo fosse colocado na Sala das Colunas do Kremlin. A turba não cessou de aumentar e, ao fim da tarde dessa sexta-feira, a bicha ultrapassava já os quinze quilómetros. Dezenas de milhares de cidadãos soviéticos, de Moscovo e de regiões distantes, passaram perante a urna. Para arranjar lugar nesta fila imensa, atropelavam-se, espezinhavam-se. Diz-se que mais de mil e quinhentas pessoas morreram esmagadas.

 

 

De Vladivostoque, no remoto leste, até Leninegrado; de Arcangel a Astracã, portas e janelas exibiam bandeiras vermelhas com tarjas negras. Mesmo nos campos de trabalho, cheios de homens e mulheres que sofriam na carne uma dura repressão, há desolação e dor. Um estado com duzentos milhões de pessoas parecia sofrer de um sentimento colectivo de orfandade.

 

Em 1936, Louis Aragon, o grande poeta francês, considerou a Constituição estalinista que criara a União Soviética, uma obra acima das de Shakespeare, Rimbaud, Goethe e Puchkine, e Estaline um génio, um filósofo na acepção marxista do termo. Dele disse Milovan Djilas, o político e escritor montenegrino: “No caso de Estaline qualquer crime era possível, pois não existe nem um só que ele não tenha cometido. Seja qual for a medida que usarmos para o medir, merecerá sempre a glória – esperemos que eterna – de ser o maior criminoso da história.”

 

Foi Estaline um génio, como afirmou o autor de Os Sinos de Basileia ou um criminoso como disse o entrevistador de Conversations with Stalin:. Se foi um génio, que ecos restam dessa genialidade e que possam ser comparados a Romeu e Julieta, por exemplo? Se foi um criminoso, como explicar que o povo que oprimiu o chorasse, preferindo morrer espezinhado a deixar de lhe prestar uma última homenagem?

 

 

Numa série de pequenos artigos vamos tentar aprofundar um pouco o mistério de José Estaline.

 

 

(Continua)

 

----------------

*Este texto é, com algumas alterações, o que foi publicado em 1997 no livro Oitenta Vidas que a Morte não Apaga, antologia de biografias ficcionadas dirigida por Fernando Correia da Silva.

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 01/07/2011 às 14:18
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