Carlos AntunesO Jorge Fagundes foi sempre um homem muito solidário, antes e depois do 25 de Abril. Foi um dos advogados que mais presos políticos defendeu no Tribunal Plenário antes do 25 de Abril: presos do Golpe de Beja, maoístas da FAP, militantes clandestinos do PCP, não descriminando nenhum anti-fascista pela sua tendência ideológica.
Depois do 25 de Abril, foi o grande organizador da defesa dos presos do PRP. Convidando amigos advogados de todo o país, montou uma defesa extraordinária deste grande processo político. Foi ele que se encarregou pessoalmente da minha defesa e da Isabel do Carmo.
Já em liberdade, e porque tínhamos escritório na mesma rua, face a face, almoçávamos praticamente todos os dias. Tinha um humor fantástico e aproveitava o convívio do almoço para contar histórias inesquecíveis, muitas delas ligadas aos tribunais. Se o Sporting perdesse num domingo, a segunda-feira era sempre dia de luto. E como ele dizia , não era caso para menos...
A sua posição de grande e reconhecido advogado não o impedia de assumir responsabilidades políticas com grande coerência. Foi convidado para ser director do jornal Página Um, em 1976, cargo que assumiu com toda a coragem, mesmo quando choviam os processos jurídicos contra o jornal e contra ele como director. Sem alardes, era um homem com uma grande coerência revolucionária.
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Nota: Logo que soubemos do falecimento de Jorge Fagundes, solicitámos ao Carlos Antunes, grande amigo de Fagundes, um depoimento. Depoimento que só hoje nos é possível apresentar.
Jorge Fagundes nasceu em 3 de Outubro de 1936 em Lisboa. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, exerceu docência na Faculdade de Direito e no Instituto de Serviço Social. Neto de Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher a exercer o direito de voto em Portugal, antes de 25 de Abril de 1974, defendeu numerosos presos políticos no Tribunal Plenário. Defendeu activistas políticos como Isabel do Carmo, Carlos Antunes e Saldanha Sanches. Militou no MDP/CDE e, depois de 1974, no Partido Revolucionário do Proletariado. Entre 1974 e 1976, foi presidente da Federação Portuguesa de Futebol. O funeral sai hoje, 5ª-feira, 8 de Julho, às 10.45H da sede da Ordem dos Advogados para o cemitério dos Olivais.
Estrolabio, que em breve dedicará a Jorge Fagundes um texto desenvolvido, lamenta a perda de um amigo, de um corajoso lutador pela Democracia e apresenta os seus pêsames à família enlutada.