Música e voz de Paco Bandeira
in sonetos perversos
Havendo o vento, pouca coisa há.
Um dedo açucarado se derrete
mexendo a minha vida como o chá
Sobram notas de chuva de um trompete.
ao dizer, sei lá porquê, sei lá?:
" É isso, a história quase se repete"
(tenho um gato cor de rosa como o Xá
e alimento-o a damasco e sorvete).
Eu sempre fiz aquilo que não quis
mas sempre o que tive de fazer
me deixou constrangido e infeliz
Hoje mesmo, farei o que puder.
E só coloco as mãos nos quadris
para abrir mais os olhos ao morrer.
in Sonetos Perversos
Também eu tenho um hobby: é viver
minuto após minuto a minha vida,
se possível do lado em que souber
que vale mais a pena ser vivida.
Já deixei de sonhar com andorinhas
e com o deus à venda nos prospectos.
Recuso-me a entrar em capelinhas
pois faço à transperência os meus projectos.
Sei bem que os incapazes me detestam
e nem os preguiçosos aguentam
comigo a funcionar a todo o gás.
Contudo, cada um vale o que vale.
Porquê ambicionar ser imortal
se nunca saberei se fui capaz?
Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.
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