Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010
Roteiro da Imprensa Operária e Sindical1836-1986Victor de SáEditorial Caminho, 1991
Século e meio de imprensa operária em Portugal.
A revelação de um património insuspeitado. Mais de dois mil títulos identificados neste volume.
Memória ordenada e sistematizada do que existe e do que se sabe ter existido.
Ordenação cronológica e Índices: alfabético, geográfico, socioprofissional, de números comemorativos, jornais clandestinos, boletins oficiais e outros.
Importante auxiliar para investigadores, historiadores, sindicalistas e sociólogos.
Trabalho de consulta indispensável nas bibliotecas dos estudiosos.
_________________
Seara Nova – AntologiaVolume ISottomayor Cardia (Organização)
Seara Nova, 1972O lançamento da Seara Nova em 1921 e basicamente, obra de três grandes figuras intelectuais: Jaime Cortesão, Raul Proença e Luís da Câmara Reys.
Director da Biblioteca Nacional, Cortesão era já figura de larga projecção literária e política.
A sua primeira intervenção política de certa importância parece ter ocorrido em 1908, nos primeiros dias de Fevereiro. Preparava-se a revolução republicana no Porto; colhidos de surpresa pelo regicídio, os dirigentes decidiram adiá-la para evitar confusões entre a instauração da República, que tinham por objectivo, e o atentado, a que eram estranhos. Em nome dos revolucionários do Porto, foi Jaime Cortesão incumbido de se deslocar a Lisboa, onde procurou Bernardino Machado, que lhe deu parecer desfavorável à ideia de uma revolução imediata.
____________________
Seara Nova – AntologiaVolume IISottomayor Cardia (Organização)Seara Nova, 1972Um alto funcionário duma às nossas colónias do Extremo Oriente escreveu-nos estas palavras revoltantes e desoladoras:
Meu amigo, quando aí lia e dizia que o País estava enfeudado à alta finança, não fazia ideia da realidade funda e grave que isto representa.
As Colónias estão vendidas ao B. N. Ultramarino que lhes nega o melhor do seu trabalho.
Estamos nas mãos deles. Dominam completamente.
No Conselho Colonial, tribunal que resolve em última instância todas as questões coloniais, manda completamente.
Os vogais das diferentes colónias são deitas pelos maiores contribuintes e estes são satélites ou empregados do Banco!
Uma calamidade!
Não vejo possibilidades de o País lhes sair das garras; mas sempre seria conveniente dizer isto ao público, aí, do alto da «Seara».
______________________
Quarta-feira, 22 de Setembro de 2010
Cena 3
Julgamento
Carmona – Eu, Oscar Fragoso Carmona, acusador público, declaro que estou aqui para cumprir o meu dever, como militar que sou, e só à lei e ao dever obedeço no exercício deste espinhoso cargo.
Berta Maia - Sr. Dr. Juiz, a minha dor é imensa e a minha revolta não tem nome. Sei que não me podem dar outra vez o meu querido marido, sei que nunca deixarei de sofrer pelo seu desaparecimento. Quero que este tribunal faça justiça, que liberte a memória de Carlos da Maia de qualquer mancha ou calúnia e que faça luz sobre o mistério desta noite e destas mortes que enlutaram tanta gente de bem.
É a minha esperança para que o ódio – que Deus me perdoe – adormeça no meu coração.
Dente D’Ouro - Vou perguntar eu, réu e criminoso, porque não soube o Governo guardar as moradias dos cidadãos ameaçados por facínoras que poderiam andar toda a noite a cometer crimes que ninguém surgiria para os evitar. Disso os acusarei; juro!
Carmona - Os acusados, os oficiais que realizaram o 19 de Outubro, não tiveram ligações com os assassinos, mas a verdade é que não tomaram as providências necessárias para que se evitassem, se não todos, pelo menos alguns dos crimes.
Berta Maia - Tu falarás, não hoje, neste Tribunal, mas mais tarde, tu falarás.
Carmona – Finalmente, em Fevereiro de 1923, acabámos o julgamento dos bárbaros crimes do 19 de Outubro de 1921. Abel Olímpio (o Dente de Ouro) Heitor Gilman e José Carlos, 10 anos de prisão maior e 20 de degredo, Mário de Sousa, Acácio Cardoso, Matías Carvalho, Palmela Arrebenta, José Maria Felix, Acácio Ferreira, 8 anos de prisão maior seguidos de 20 de degredo (redução de voz). Benjamim Pereira, Manuel Aprígio, Baltazar de Freitas...
Jaime Cortesão - (com um exemplar da Seara Nova) – O que vai sair daqui? Quem esperará ver nos ministérios que se seguirem outra coisa que não seja ministérios de simples expediente administrativo?
E isto quando a força das coisas e a própria lógica nos não levarem para uma ditadura militar, com toda a opressão do sistema militar e o predomínio dos interesses militares.
Nós, que fizemos o voto de dizer toda a verdade, levantamos a nossa voz de protesto e acusação. Fundámos a revista “Seara Nova” e acusamos os de ontem e os de hoje.
Os que já fizeram o mesmo e agora condenam os outros, e os que, para corrigir os erros passados, começam por seguir os métodos do passado. Acusamos os partidos da oposição, que conheciam o que se ia passar e nada fizeram para evitar a catástrofe.
Raul Proença – (c/ ex. Seara Nova) Na “ Seara Nova” acusamos os que fomentaram todas as desordens, os que fizeram silêncio sobre todos os desvarios demagógicos, que não tiveram uma palavra de condenação e de proscrição para os miseráveis que, dizendo-se seus partidários desmentiam todos os sentimentos de humanidade. Acusamos os potentados da finança (exploradores, especuladores, açambarcadores, falsificadores, inimigos do povo) que vivem de sugar todo o sangue da Nação pelas ventosas da sua ambição desmedida.
Jaime Cortesão e Raul Proença - Acusamo-nos a nós próprios, Jaime Cortesão e Raul Proença, por só agora termos tido este grito.